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NOÇÕES GERAIS DE RESPONSABILIDADE CIVIL

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ (páginas 36-42)

2 DO DANO MORAL

2.1 NOÇÕES GERAIS DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil tem suas raízes no direito romano, tendo como alicerce a vingança privada, onde se fazia justiça com as próprias mãos por meio da lei de Talião. 122

Conforme os ensinamentos de Maria Helena Diniz:

O vocábulo “responsabilidade” é oriundo do verbo latino respondere, designando o fato de ter alguém se constituído garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais.123 Assim, devido aos conflitos humanos em sociedade, surge a idéia de responsabilidade, na medida em que todo ato que acarreta em um prejuízo, em regra, deve ser indenizado. 124

122 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil. 4. ed. rev., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2006. 3 v., p. 10.

123 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: responsabilidade civil. 21. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v., p . 33.

124 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 1.

2.1.1 Conceito de responsabilidade civil

A responsabilidade civil consiste na obrigação que tem tanto a pessoa física quanto jurídica de indenizar os danos causados a outrem. 125

Conforme leciona Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

[...], conclui-se que a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às conseqüências do seu ato (obrigação de reparar).

Trazendo esse conceito para o âmbito do Direito Privado, e seguindo essa mesma linha de raciocínio, diríamos que a responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas. 126

Silvio Rodrigues define a responsabilidade civil como sendo a obrigação atribuída a uma pessoa, de reparar os danos causados à vítima, em razão de ato ilícito. 127

Neste sentido, Antônio Jeová Santos adverte que “não existe responsabilidade, dever de indenizar, se não houver dano, culpa e nexo causal”. 128

De outra feita, Maria Helena Diniz dispõe:

[..] poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou extrapatrimonial causado a terceiros em razão do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal. 129

125 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 1.

126 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p. 9.

127 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 4 v., p. 6.

128 SANTOS, Antonio Jeová da Silva. Dano Moral Indenizável. 3. ed. São Paulo: Editora Método, 2001, p. 83.

129 DINIZ, Maria HELENA. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 21. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 7 v., p. 34.

É, portanto, a responsabilidade civil, um meio de obrigar o infrator que causou prejuízos à outra pessoa, a reparar o dano sofrido pela vítima lesada, mediante o pagamento de uma indenização. 130

2.1.2 Requisitos da responsabilidade civil

A responsabilidade civil decorre de uma atividade danosa praticada por alguém que se vê obrigada a reparar os prejuízos oriundos de uma violação a uma norma jurídica preexistente. 131

Assim, para haver responsabilidade civil são necessários alguns requisitos como: ação ou omissão do agente, dano e nexo de causalidade.132

O agente pode provocar dano por ato próprio, por ato que esteja sob sua responsabilidade ou por coisas que estejam sob sua guarda. 133

Para existir responsabilidade é necessário, portanto, que o agente pratique evento danoso, agindo de maneira comissiva ou omissiva. 134

Ainda, não há responsabilidade sem dano, seja ele moral e/ou patrimonial, pois somente surge o dever de indenizar se causar prejuízo a alguém.135

Para que surja o dever de indenizar, é indispensável que exista uma ligação entre a conduta do agente e o dano sofrido pela vítima. 136

Portanto, se o dano for conseqüência de um ato exclusivo da vítima, não surge à obrigação de reparar o prejuízo, pois se quebra o nexo de

130 CHAVES, Benedita Inês Lopes. A tutela jurídica do nascituro, p. 109.

131 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p. 9.

132 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p.9.

133 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 14.

134 DINIZ, Maria HELENA. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 37.

135 DINIZ, Maria HELENA. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 37.

causalidade. 137

2.1.3 Da responsabilidade civil contratual e extracontratual

Quando uma das partes descumpre uma obrigação estipulada em contrato, diz-se que a responsabilidade civil é contratual. Entretanto, será extracontratual ou aquiliana quando o dano violar uma norma legal em razão de ato ilícito praticado pela pessoa que provocou prejuízo. 138

Na responsabilidade contratual há o inadimplemento por uma das partes contratantes e o conseqüente dever de reparar o prejuízo, estando prevista em nosso ordenamento jurídico nos artigos 389 e seguintes, 1056 a 1064 do Código Civil Brasileiro. 139

Já, a responsabilidade extracontratual encontra respaldo jurídico nos artigos 186 a 188 e 927 e seguintes, todos do Código Civil Brasileiro. 140

Noutras palavras, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho acentuam que:

Com efeito, para caracterizar a responsabilidade civil contratual, faz-se mister que a vítima e o autor do dano já tenham faz-se aproximado anteriormente e se vinculado para o cumprimento de uma ou mais prestações, sendo a culpa contratual a violação de um dever de adimplir, que constitui justamente o objeto do negócio jurídico, ao passo que, na culpa aquilianaI, viola-se um dever necessariamente negativo, ou seja, a obrigação de não causar dano a ninguém.141 Em síntese, na responsabilidade contratual há uma violação à norma prevista em contrato, enquanto que, na responsabilidade extracontratual há

137 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 42.

138 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 8.

139 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. p. 18-19.

140 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. p. 18-19.

141 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p. 18.

uma violação a uma norma legal. 142

2.1.4 Da responsabilidade civil subjetiva e objetiva

A responsabilidade subjetiva é aquela em que precisa ser comprovado a culpa ou dolo do agente causador do dano. 143

O principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva é a culpa, que é empregada em sentido amplo, abrangendo tanto a culpa stricto sensu quanto o dolo. 144

A culpa se caracteriza pela imprudência, negligência ou imperícia do autor do dano, enquanto, o dolo, verifica-se pela vontade consciente de praticar ato ilícito. 145

A teoria da responsabilidade subjetiva é mantida como regra geral no nosso ordenamento jurídico, conforme pode ser analisado no artigo 186 do Código Civil Brasileiro:146

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.147

Assim, a responsabilidade subjetiva depende do comportamento do agente que, se agir ilicitamente com dolo ou culpa, ficará obrigado a reparar o dano averiguado. 148

Convém lembrar a lição de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “A noção básica da responsabilidade civil, dentro da doutrina

142 FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade civil. 6. ed. rev., aum. e atual. São Paulo: Editora Malheiros, p. 38.

143 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil, p. 11.

144 FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade civil, p. 38.

145 DINIZ, Maria HELENA. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 41.

146 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p.13.

147 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Vade Mecum RT, p. 190.

subjetiva, é o princípio segundo o qual cada um responde pela própria culpa –

unuscuique sua culpa nocet”.149

Outrossim, não se pode falar em responsabilidade civil sem culpa, eis que esta é fundamento daquela, pois não havendo culpa, não há, em regra, responsabilidade. 150

Entretanto, há exceções que estão expressamente previstas em lei, como estabelece o parágrafo único do artigo 927 do Código Civil Brasileiro:

Art. 927. [...]

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.151

Nestes casos específicos, ter-se-á a responsabilidade civil objetiva, que tem seu fundamento na teoria do risco, surgida principalmente na França no final do século XIX, onde consiste justamente no dever de indenizar a vítima, por ato praticado pelo agente do dano ou sob sua responsabilidade, mesmo que este não tenha agido com culpa. 152

Sobre a teoria do risco, assevera Sílvio de Salvo Venosa:

A teoria do risco aparece na história do Direito, portanto, com base no exercício de uma atividade, dentro da idéia de que quem exerce determinada atividade e tira proveito direto ou indireto dela responde pelos danos que ela causar, independentemente de culpa sua ou de prepostos. O princípio da responsabilidade sem culpa ancora-se em um princípio de equidade: quem aufere os cômodos de uma situação deve também suportar os incômodos. O exercício de uma atividade que possa representar um risco obriga por si só a indenizar os danos causados por ela. 153

Logo, na responsabilidade objetiva não precisa ser demonstrado dolo ou culpa do autor do dano, bastando à existência do nexo de

149 GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de Direito Civil: responsabilidade civil, p. 14.

150 DINIZ, Maria HELENA. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 40-41.

151 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Vade Mecum RT, p. 233.

152 FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade civil, p. 145.

causalidade entre o dano e o ato praticado pelo agente, para surgir a obrigação de reparar o prejuízo sofrido pela vítima. 154

Assim, o elemento dolo e culpa não são requisitos para a sua caracterização, ficando o agente obrigado a reparar o prejuízo, independentemente da conduta adotada por ele, na medida em que tal responsabilidade é estabelecida por lei.155

No documento UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ (páginas 36-42)

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