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No nível micro: local de concretização do projeto político pedagógico

Por fi m, o nível micro, que atinge a unidade escolar, considerado tempo-espaço de elaboração, de concretização e de avaliação do projeto político-pedagógico integrado. Como espaço coletivo, a escola precisa ampliar o debate com a comunidade escolar, de forma a aprofundar a discussão para encontrar alternativas em termos de melhorias para o trabalho pedagógico. Nesse sentido, diante da perspectiva de implementação de um projeto pedagógico integrado que tenha como fi m a formação humana e a possibilidade de fazer uma escola integrada que, verdadeiramente, eduque a todos que a ela tenham acesso, é preciso construir uma sistemática de acompanhamento que

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supere a tarefa individualizada e solitária dos agentes envolvidos no processo educativo.

Para assumir esse compromisso, o caminho a ser percorrido pela escola deve pautar-se na concepção de planejamento participativo como uma estratégia de trabalho “que se caracteriza pela integração de todos os setores da atividade humana social, num processo global para solução de problemas comuns” (VIANNA, 1986, p. 23). Signifi ca, portanto, que é um processo político vinculado à decisão da maioria. A sua fi nalidade é obter uma participação colaborativa e consciente das maiorias a favor da implementação do projeto político-pedagógico do ensino médio integrado. Para tanto, a escola deve trilhar um caminho com diferentes movimentos.

Primeiro movimento: formação de uma equipe interdisciplinar constituída de representantes, tanto da formação geral quanto da formação profi ssional, técnicos administrativos, representantes estudantis e pedagogos para mobilizar os segmentos da escola, realizar encontros, ofi cinas pedagógicas, palestras, seminários, trabalhos de grupo, assembleias, audiências públicas, assessorias pedagógicas, para discutir a política estadual de ensino médio integrado, analisando suas bases teóricas, seus princípios, fundamentos, concepções de currículo integrado, de metodologia e de avaliação, e demais aspectos didático-pedagógicos.

Nessa perspectiva, Lopes (2007, p. 132), ao analisar uma experiência de projeto pedagógico na escola de educação profi ssional, afi rma que a diretoria de ensino, para cumprir a determinação legal, constituiu uma comissão multidisciplinar [...] “envolvendo professores, pedagogos e técnicos-administrativos com a intenção de mobilizar os segmentos da escola na proposta de elaboração do documento”.

Segundo movimento: caracterização da escola do ponto de vista legal, histórico, administrativo, pedagógico e cultural. A análise e a

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compreensão das características da escola podem ser norteadas por algumas indagações, tais como:

- Como compreendemos a sociedade atual?

- Como se caracteriza o contexto social em que a escola de ensino médio integrada deverá atuar?

- Qual a função social da escola no sentido de atender à tríplice intencionalidade da educação brasileira: desenvolvimento integral da pessoa; preparo para o exercício da cidadania e qualifi cação para o trabalho?

- A quem ela serve?

- Que tipo de clientela ela atende?

- Qual é o seu perfi l socioeconômico, cultural e educacional? - Que experiências ela propicia aos seus alunos?

- Qual é a projeção das necessidades profi ssionais de acordo com a demanda apresentada pelos setores econômicos e produtivos?

- Quais são as condições da escola, do ponto de vista de recursos fi nanceiros, pessoal, estrutura física, necessárias à elaboração, à implementação e à avaliação do projeto político-pedagógico integrado?

- Qual é o plano de formação continuada que a escola proporciona aos seus docentes, técnicos e gestores?

- O que signifi ca ser uma escola voltada para o ensino médio integrado?

- Quais são os índices de aprovação, reprovação e evasão de alunos e quais as providências pedagógicas assumidas pela escola a fi m de reduzir as fragilidades encontradas?

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As respostas dadas a essas indagações e a outras que a escola deverá levantar, de acordo com a sua realidade, possibilitam visualizar os pontos positivos e as fragilidades da escola, necessários ao processo de tomada de decisões. Vale destacar a experiência vivida em uma escola de educação profi ssional em que a consulta à comunidade escolar relativa ao diagnóstico dessa escola considera as questões pedagógicas, fi losófi cas sobre a escola. Para incentivar e consolidar o processo de discussão institucional mais amplo há a necessidade de se estabelecer momentos adequados, tais como assembleias, reuniões coletivas, reuniões por grupos temáticos, ofi cinas pedagógicas, buscando sempre alternativas para minimizar as fragilidades e reorientar o trabalho. Como afi rma Veiga (2004, p. 51), “o esforço analítico da realidade constatada, possibilitará a identifi cação de quais fi nalidades estão relegadas e precisam ser reforçadas e priorizadas, e como elas poderão ser detalhadas e retrabalhadas”.

Terceiro movimento: organização de subcomissões para envolver o maior número possível de professores, alunos e técnicos administrativos para o estudo da situação diagnosticada a fi m de problematizá-la e compreendê-la.

Esse momento signifi ca ir além da percepção imediata, ou seja, signifi ca desnudar os confl itos e as contradições encontradas. É o desvelamento da realidade sócio-política, econômica, educacional e ocupacional. A escola tem que pensar o que pretende do ponto de vista político e pedagógico.

É importante citar as ações vivenciadas e analisadas por Lopes (2007) nesse momento de construção do projeto político-pedagógico:

- Lançamento de um “Caderno Pedagógico” para subsidiar os estudos teóricos e conceituais em torno dos seguintes eixos: currículo, interdisciplinaridade, metodologia de ensino, processo de avaliação e fundamentos do projeto político-pedagógico;

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- Organização de seminários, estudos semanais, ofi cinas pedagógicas, palestras, mesas redondas, jornadas pedagógicas, assembleias, intercâmbios com outras instituições, parada pedagógica etc;

- Contratação de assessoria especializada para aprofundamento sobre a temática;

- Organização de subcomissões para envolver o maior número possível de profi ssionais, para que o processo se constitua em uma proposta coletiva.

A partir dessas refl exões provenientes das atividades realizadas, a comunidade escolar deve ser incentivada e desafi ada a refl etir sobre a visão da sociedade atual, a concepção de homem, o papel da educação frente à nova conjuntura tecnológica e globalizada, e sobre a missão da instituição na formação do trabalhador-aluno.

Lopes (2007, p. 143) nos alerta: [...] “todo o material produzido nas etapas anteriores constituiu-se importante fonte de dados para se construir a proposta pretendida para esse centro. Foi possível garimpar textos signifi cativos, representativos das resistências e dos avanços assumidos pelo grupo”.

A realidade escolar vista por esta ótica exige ressaltar a importância da prática cotidiana dos sujeitos envolvidos no processo de desenvolvimento, construção, implementação e avaliação do projeto político-pedagógico. Ao se assumir esta concepção, assume-se uma visão não fragmentada da realidade, mas de sua totalidade, porque envolve visões diferenciadas sobre ela, sem hierarquizá-las.

Quarto movimento: elaboração do documento, projeto político- pedagógico, a partir dos dados coletados, analisados e compreendidos à luz da teoria pedagógica crítico-refl exiva, coordenado pela comissão responsável. Nesse momento, é preciso entender que o projeto é

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caracterizado por uma ação consciente e organizada que questiona o presente, insatisfeito com a situação vigente, tornando-se referencial crítico para analisar e compreender o contexto atual. Desse modo, o envolvimento de todos na elaboração do projeto político-pedagógico desencadeia uma refl exão coletiva, promovendo a adoção de uma prática educativa, na medida em que refl ete, individual e coletivamente, sobre ela. Isso signifi ca reafi rmar que é preciso praticar constantemente o exercício da participação em suas dimensões: administrativa, fi nanceira e pedagógica, mantendo o diálogo com todos os envolvidos e não apenas com os que pensam e agem como nós. O caminho a percorrer envolve uma série de ações:

- Reuniões técnicas, ofi cinas pedagógicas para discussão e registro de opções teóricas, defi nição do perfi l do aluno, delimitação dos objetivos, competências e habilidades, especifi cação dos conteúdos programáticos das diferentes disciplinas, delimitação da metodologia, organização da sistemática de avaliação;

- Elaboração de sistemática de acompanhamento de egressos; - Elaboração de diretrizes para avaliação de desempenho do pessoal, docente e não docente, do currículo, dos projetos não curriculares e do próprio projeto político-pedagógico da escola;

- Produção e discussão de textos;

- Plenária para apresentação dos textos produzidos sob a orientação da comissão coordenadora;

- Reuniões técnicas com os professores distribuídos por áreas, a fi m de discutirem as ementas, os programas e a bibliografi a básica das disciplinas;

- Orientação dos trabalhos de elaboração dos planos de curso, através de consultorias técnicas específi cas;

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- Organização, com cada grupo, de cronograma de realização de ofi cinas para elaboração dos planos de curso;

- Sintonia do ciclo de formação do aluno com o ciclo de formação local;

- Revisão do regimento escolar, redimensionamento da reorganização do trabalho pedagógico;

- Delimitação das ações prioritárias;

- Defi nição do papel específi co de cada segmento da comunidade escolar com a reorganização das instâncias coletivas da escola, conselho escolar, associação de pais e mestres, representação estudantil e conselho de classe;

- Elaboração do calendário escolar, horários letivos e não letivos, incluindo os períodos de formação de pessoal;

- Levantamento de necessidades e organização de formação inicial e continuada dos diferentes profi ssionais que trabalham na escola;

- Estabelecimento de critérios para organização e utilização dos espaços educativos: internos e externos da própria escola;

- Estabelecimento de critérios para organização das turmas por professor, em virtude da especifi cidade das situações diversifi cadas inerentes à própria estrutura curricular dos cursos de ensino médio integrado desenvolvidos pela escola;

- Articulação das atividades pedagógicas e administrativas, no processo de gestão.

O projeto político-pedagógico concebido, implementado e avaliado na escola fundamenta-se na perspectiva da formação integral do aluno. Ele privilegia a organização curricular integrada, redimensionando o tempo, o espaço, os conteúdos, a metodologia

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e a avaliação, possibilitando a interdisciplinaridade e a globalização entre os componentes curriculares. Ele está assentado nos eixos da qualidade do ensino, da democratização do acesso e permanência e na gestão democrática. Defende um processo avaliativo pautado na visão formativa, comprometido com a crítica à ação educativa, à interpretação das difi culdades ocorridas no processo de implementação do projeto político-pedagógico, preocupado em apresentar alternativas para sanar as difi culdades e desvios. A Figura 3, a seguir, ilustra a ação da escola.

Figura 3. Intervenção e interação no nível micro do processo de implementação do ensino médio integrado