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4.3 Resultados e Discussões

4.3.2.11 Nome do Sistema: Camarão de Muruada (CM)

Espécie-Alvo: As espécies-alvo são os camarões branco Litopenaeus schmitii (Figura 34) e o

camarão vermelho ou rosa Farfantepenaeus subtilis.

Figura 34: Litopenaeus schmitti (Burkenroad, 1936).

Fauna Acompanhante: A fauna acompanhante são peixes ósseos em geral: Stellifer rastrifer;

Macrodon ancylodon; Genyatremus luteus; Cetengraulis edentulus, Cathorops spixii;

Centropomus spp.; Achirus lineatus, além de Callinectes danae.

Aspectos Biológicos da Espécie(s)-Alvo: O camarão rosa ocorre, preferencialmente, em fundos

brandos de lodo, lama ou areia-lama, até profundidades de 190 m. A variação de tamanho registrado por Martinelli (2005), no Pará, foi de 6,7 a 32 cm. Em pesquisas realizadas por Isaac; Dias (2001), foi detectada uma correlação entre pluviometria e produtividade, apontando para um deslocamento destes animais da zona mais costeira para o mar aberto no período chuvoso. Martinelli (2005) valida essa afirmativa, indicando a salinidade como o fator abiótico mais correlacionado com a abundância das espécies, pois as maiores capturas estão associadas a maiores teores de salinidade. A primeira maturação sexual de F. subtilis ocorre quanto ao comprimento total que chega aos 91,25 mm para os macho e 117,50 mm para as fêmeas, correspondendo às idades de 7 meses e 10 meses, respectivamente, na ilha de S. Luís (PORTO;

SANTOS, 1996); em Pernambuco, foi verificado que as fêmeas maduras apresentavam comprimento total de 103,7 mm (COELHO; SANTOS, 1993). Segundo os trabalhos de Porto; Fonteles Filho (1982), realizados na ilha de São Luís, para as duas espécies de camarão, alvo deste sistema, na captura há predomínio de fêmeas e jovens.

Área de Atuação/Pesqueiros: Esse sistema atua nas praias e estuários do Estado, mas

predomina na região das ilhas da região do município de Cururupu (Figura 35).

Figura 35:Principais portos de desembarque do SPP-CM.

Tecnologia/Atividade Pesqueira: São utilizados os puçás de muruada, formados por rede em

forma de funil, amarrada em duas estacas e colocadas na região entremarés. A despesca ocorre em cada maré baixa. As embarcações utilizadas para a realização dessas pescarias são canoas a remo e a vela, dependendo da distância da arte de pesca. O custo dos instrumentos de trabalho é considerado alto.

Número de Pescadores: 2- 4 pescadores.

Produção Média Anual: A produção das muruadas para o Estado é de 1.350 ton/ano.

Situação da Pesca: Atualmente, Cururupu ocupa a segunda maior produção de pescado dentre os

municípios pesqueiros maranhense. Pescadores das ilhas afirmam que a pesca de camarão já propiciou rendimentos muito maiores dos que se registram nos dias atuais. No início, as espécies

eram capturadas até mesmo pelos currais convencionais. Posteriormente, passou-se a utilizar as muruadas, puçás de arrasto e zangarias, que são mais produtivas, tendo sempre como alvo o camarão branco. As redes de tapagem vêm sendo utilizadas cada vez mais intensamente para a captura desses crustáceos. O número de pessoas que exploram o sistema vem aumentando ao longo do tempo. Alguns pescadores (38%) alertam ainda para o assoreamento dos canais do estuário, atribuído ao uso freqüente destas armadilhas fixas, uma vez que estas acumulam muita areia em suas bases.

Época de Safra: Período seco (agosto a dezembro).

Cadeia de Comercialização: A comercialização do pescado ocorre in natura e/ou salgado; 95%

dos pescadores já vêm do mar, com os produtos vendidos para um atravessador, que normalmente é um comerciante da ilha (patrão da pesca), que vende no mercado local (Cururupu) e/ou regional (São Luís, Belém). Esta dependência se dá pelo fato de que são os atravessadores que fornecem as artes de pesca, o gelo e o transporte do produto ao mercado mais próximo. Dos donos das embarcações, a produção é comercializada para um segundo atravessador que leva a produção para os mercados de São Luís e Belém. Assim, trata-se de um sistema altamente dependente da figura do atravessador que viabiliza a chegada do produto aos mercados mais distantes em virtude do isolamento geográfico. Essa cadeia de comercialização envolve em torno de quatro atravessadores até o consumidor final.

Preço: O preço do camarão rosa fresco, de médio a grande, encontra-se na faixa de R$ 2,50 a

4,00 por quilo. A variação depende do tamanho dos indivíduos e da época que é capturado. Ao consumidor final, o produto chega ao preço de R$ 25,00.

Renda Mensal: Pode-se constatar que a renda do pescador, para 95% dos pescadores, é R$

300,00

Complemento de Renda: Os pescadores desse sistema têm dedicação exclusiva à atividade de

pesca.

Relação de Trabalho/Partilha de Benefícios: Na divisão do lucro, parte é retirada para

pagamento das despesas de pesca (gelo, sal), sendo o restante dividido ao meio entre o dono do barco/petrecho e os pescadores.

Origem do Pescador: A maioria é de origem local, alguns poucos pescadores não residem na

ilha, instalando-se em ranchos no período de pesca. Ao final do período chuvoso, no mês de julho, retornam para a cidade de Cururupu.

Qualidade de Vida: A situação de isolamento destas comunidades pesqueiras agrava a condição

dos indicadores sociais. A maioria dos pescadores vive em condições de moradias péssimas, tendo como única forma de transporte, a via marítima. Apenas 1,6% das famílias recebem algum auxílio do governo federal (bolsa escola, auxílio-gás, etc). Além do mais, a situação de assistência e saúde em geral é muito ruim, considerando o grau de isolamento que vivem, o que dificulta qualquer acesso à assistência médica e a medicamentos.

Grau de Escolaridade: 14,7% dos pescadores são analfabetos; 74,4% têm apenas o ensino

fundamental incompleto; 4,9% têm o ensino fundamental completo; e 4,8% alcançaram ou concluíram o ensino médio.

Organização Social: 53,3% dos pescadores não são vinculados a nenhuma organização, os

demais se dividem entre a colônia (15%) e o sindicato (31,6%).

Subsídios/Financiamentos: Não foi registrado nenhum subsídio e/ou financiamento.

Conflitos: Existem conflitos entre os pescadores das ilhas pela disputa por áreas de pesca, uma

vez que cada muruada tem uma área delimitada de pesca, configurando “propriedade” de área. Existe conflito também entre os pescadores de muruada e os pescadores que utilizam redes de zangarias e tapagem nos pesqueiros das ilhas.

Legislação/Manejo: Em torno de 10% dos pescadores afirmam parar suas atividade de pesca nas

luas minguantes e crescentes pela baixa produtividade, e reduzirem suas pescarias no período de setembro, em virtude dos fortes ventos. Os pescadores consideram os fortes ventos como uma proteção natural para o recurso. Cerca de 20% dos pescadores declararam que param de pescar algumas vezes em respeito ao defeso do IBAMA, porém reconhecem que é muito difícil manter essa atitude, uma vez que não há fiscalização e consenso entre os pescadores e não existe alternativa para as famílias que dependem do camarão para sobreviver. Quando há ajuda social, no caso do seguro-desemprego, consideram a quantia insatisfatória, se comparada com o rendimento da pesca, fazendo com que muitos pescadores quebrem o acordo e voltem a pescar.