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4.3 Resultados e Discussões

4.3.2.20 Nome do Sistema: Pargueiro (PARG)

Espécie(s)-Alvo: Nesse sistema são capturados principalmente os peixes vermelhos, tendo como

alvo Lutjanus purpureus, figura 51, ocorrendo outras espécies, não menos importantes, como:

Epinephelus morio, Lutjanus analis, Lutjanus jocu; Lutjanus synagris. Pode haver mudança nas proporções e composição destas espécies ao longo do ano.

Fauna Acompanhante: É comum a captura de: Balistes vetula, Mycteroperca bonaci,

Ephinephelus morio, Ocyurus chrysurus, Ginglymostoma cirratum, Galeocerdo cuvier,

Rhizoprionodon porosus, Lutjanus jocu, Coryphaena hippurus, Dasyatis guttata, Caranx hippos,

Epinephelus itajara, dentre outros.

Aspectos Biológicos da(s) Espécie(s)-Alvo: Muitas pesquisas vêm sendo realizadas nas últimas

décadas, na costa Norte/Nordeste do Brasil, na tentativa de examinar a distribuição e biologia de

Lutjanus purpureus. Para exemplares de pargo, capturados nas plataformas do MA, PA e PI, o comprimento máximo foi determinado entre 74,7 a 97,0 cm (MENEZES; GESTEIRA, 1974; LIMA, 1965), não existindo diferenças na taxa de crescimento entre machos e fêmeas. Confrontando as informações de diferentes autores consultados, constata-se que o tamanho de primeira maturação sexual variou de 42 – 47 cm, entre sexos. A desova é anual e contínua, com dois picos entre o segundo e quarto trimestres (ALMEIDA, 1965; GESTEIRA; IVO, 1973; MONTEIRO; BARROSO, 1963; SOUZA et al. 2003). Fêmeas nos estágios “em maturação”, “maduro” e “desovado”, podem ser encontradas todo o ano (SOUZA; IVO, 2004). Souza (2002) estimou a mortalidade por pesca em 0,34 por ano e a taxa de exploração de 0,57, diagnosticando que o estoque encontrava-se em estado de sobre-explotação.

Área de Atuação/Pesqueiros: As principais comunidades pesqueiras são Barreirinhas e Raposa.

As capturas ocorrem principalmente na área do Parcel de Manoel Luís, em um grande número de pesqueiros, como: Pedra das Cavalas, Parcel de Manuel Luís, Mar das Preguiças, Volta do Santana, Visgueiro, Mandacaru, Volta do 45, Banco do Álvaro, Barravento, Travosa, Mar da Jaca, Pé de Vento e Bragança (Figura 52).

Figura 52: Localização dos principais pesqueiros do pargo na costa do Maranhão.

Tecnologia/Atividade Pesqueira: Os petrechos de pesca utilizados pelos barcos pargueiros são a

bicicleta pargueira e o manzuá. A frota é composta por embarcações de madeira ou fibra de vidro, com 12 metros de comprimento e motor de até 114 Hp. Apresentam equipamentos como GPS, ecossonda, navegador e um sistema de comunicação de longo alcance VHS e SSB, proporcionando uma autonomia de 20 a 30 dias de viagem em alto mar.

Número de Pescadores/Barcos: Existem atualmente em torno de 20 embarcações atuando neste

sistema, com uma tripulação de 4 a 8 pescadores por viagem.

Produção Anual Média: A produção de pargo no Maranhão é de 134 toneladas/ano e da

garoupa é de 112 toneladas/ano.

Situação da Pesca: Após a constatação da queda sucessiva na produção anual de Lutjanus

purpureus, na costa brasileira, algumas medidas legais foram criadas, desde a década de 80, visando regulamentar a captura do pargo. No Maranhão, registra-se o decréscimo da abundância do recurso, com conseqüente diminuição no tamanho da frota pargueira nos últimos anos. No município de Barreirinhas, a diminuição da produtividade das pescarias de pargo tem motivado a

diminuição dos insumos empregados e deslocando-os para outras pescarias que exigem um menor custo operacional, como é o caso da pesca de garoupa, camarão e tubarão. Contudo, no caso da pesca de camarão com redes de arrasto, os prejuízos ambientais podem ser ainda maiores. Cerca de 90% dos pescadores afirmam que os estoques de pargo diminuíram assustadoramente, e atribuem tal fato à pesca predatória da lagosta que utiliza rede caçoeira de fundo.

Época de Safra: Segundo os pescadores, entre junho e novembro, sempre há uma queda na

produção, só melhorando de dezembro em diante, que corresponde ao período chuvoso.

Cadeia de Comercialização: Ao ser pescado, o peixe é eviscerado na embarcação, aplicado

choque térmico e armazenado em urnas térmicas. A parte da produção destinada ao pescador é vendida ao dono da embarcação (armador), que transporta a produção em caminhões frigoríficos dos portos de Barreirinhas ou São Luís, com destino à empresa compradora, seja local ou de Bragança-PA e Recife-PE. Essas empresas fornecem às iscas e determinam o preço dos pescados, comprando a maior parte da produção, para distribuição no mercado nacional e internacional. Os peixes que não atendem as exigências de exportação são comercializados no mercado interno (feiras locais). O grau de dependência do produtor ao atravessador no sistema é alto, sendo a cadeia produtiva bastante complexa, envolvendo 3-4 atravessadores.

Preço: O preço médio da primeira comercialização para o pargo é de R$ 0,80/unidade, vendida

para o dono do barco, no caso da comunidade pesqueira de Barreirinhas. O produto possui alta taxa de variação de preço incorrida no processo de comercialização. O pescado é vendido inteiro e filetado a R$ 8,00 e R$ 9,00 o kg, respectivamente. Ao final da cadeia, observa-se uma disparidade entre o preço de primeira comercialização e o preço de mercado de 900%.

Renda Mensal: A renda média obtida mensalmente é de R$ 400,00.

Complemento de Renda: Os pescadores normalmente não exercem outra atividade.

Relação de Trabalho/Partilha de Benefícios: As relações de trabalho são do tipo armador

embarcado com partilha da produção. De toda a produção, parte é retirada para pagamento das despesas, o restante é divido entre o dono da embarcação, que fica com 50%, e os 50% restantes são rateados entre os pescadores e o mestre, que ganha um percentual (10-20%) por tonelada.

Origem dos Pescadores (principais): Os atores deste sistema são predominantemente dos

municípios de Barreirinhas e Raposa, locais onde ocorre maior parcela de escoamento do pescado, havendo também pescadores oriundos de municípios e estados vizinhos, a exemplo do Pará e Ceará.

Qualidade de Vida: A assistência à saúde é precária, pois há apenas um posto de saúde em cada

um dos municípios, que atuam de forma muito precária, quando há um técnico em enfermagem para realizar o atendimento. Os donos de barcos pargueiros, que por algumas vezes pescam, moram em casas com boas condições de alvenaria, boas condições sanitárias e de higiene.

Grau de Escolaridade: 41% dos pescadores são analfabetos e os demais cursaram o ensino

fundamental ainda que incompleto. Os mestres possuem curso pela capitania, para o qual é preciso ter o ensino médio completo, no mínimo, o que caracteriza a classe como maior grau de escolaridade.

Organização Social: O número de pescadores cadastrados na colônia é alto perfazendo um

percentual de 57,14% dos entrevistados.

Subsídios/Financiamentos: Os pescadores deste sistema dispõem da concessão do benefício de

seguro desemprego no período de defeso. Alguns donos de embarcações têm acesso às novas linhas de crédito da SEAP.

Conflitos: Existem conflitos dentro do sistema entre os pescadores que utilizam o manzuá e os

que utilizam linha, pois os primeiros capturam indivíduos ainda juvenis diminuindo a captura do segundo o que prejudica na venda para a exportação. Além disso, foram observados conflitos, que podem ser considerados graves, entre os pescadores dos sistemas pargueiro e lagosteiro que pescam na mesma área. Resultam em destruição de artes além de impactar o ecossistema.

Legislação/Manejo: A pescarias do pargo é regulamentada por portarias federais que tratam da

regulamentação dos barcos (número e tamanho); seletividade dos aparelhos de pesca; proteção de períodos migratórios para reprodução e desova; período de defeso (janeiro a março) e tamanho mínimo de captura (41 cm). Entretanto, as normas não são cumpridas e fiscalizadas com deficiência.