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4.3 Resultados e Discussões

4.3.2.5 Nome do Sistema: Caranguejo (CARAN)

Espécie(s)-Alvo: Ucides cordatus, conhecido como caranguejo-uçá (Figura 22).

Figura 22: Ucides cordatus (Linnaeus, 1763).

Aspectos Biológicos da(s) Espécie(s)-Alvo: Animais capturados ao longo dos manguezais

maranhenses. Em estudos realizados no Pará, a espécie atinge 6 cm de largura de carapaça após 8 anos de vida, caracterizando ciclo de vida longo e crescimento lento. Machos alcançam tamanho máximo de 8,8 cm e as fêmeas, 7,3 cm, podendo haver variações em cada região (KOCH et al., 2005). Botelho et al. (1999) estimou o comprimento de primeira maturação sexual para as fêmeas capturadas nos rios Ilhetas e Formoso-PE em 3,5 cm - 4,1 cm, respectivamente. Apontando os meses de dezembro a maio como período reprodutivo, com indivíduos em maior intensidade de

pré-muda no terceiro trimestre, embora tenham sido registrados ao longo do ano. Após o acasalamento, produzem uma grande quantidade de ovos (DALABONA; SILVA, 2001). Para o Maranhão, não há estudos específicos sobre a biologia reprodutiva deste crustáceo. Os meses de janeiro, fevereiro e março são apontados pelos catadores como período reprodutivo da espécie. É nesse período que os caranguejos machos e fêmeas saem de suas galerias para reprodução.

Área de Atuação/Pesqueiros: A coleta de caranguejo ocorre nos manguezais, ao longo de toda a

costa do Maranhão, sendo o recurso mais explorado atualmente no extremo Leste do Estado, na área do Delta das Américas, entre a Baía de Tubarão e ilha de São Luís (Figura 23).

Figura 23: Principais portos de desembarque do SPP-CARAN.

Tecnologia/Atividade Pesqueira: A coleta é realizada manualmente, com a técnica do

braceamento, e, às vezes esses catadores utilizam ganchos denominados de cambitos para captura dos caranguejos. Os coletores utilizam pequenas embarcações, de 3 a 7 metros que podem ser motorizadas, à vela ou a remo, para o deslocamento, a qual freqüentemente é de propriedade dos atravessadores. A necessidade do uso de embarcações motorizadas tornou-se mais freqüente dentro do sistema, considerando a crescente exploração, que vem exigindo que os catadores se desloquem para pesqueiros mais distantes do seu local de moradia, a fim de obterem uma melhor produtividade. Geralmente, trabalham em torno de 09 horas. Em alguns casos, a permanência no manguezal chega a ser de três a quatro dias.

Produção Anual Média: A produção de caranguejo é de 1.680 ton/ano, sem deixar de ressaltar

que grande parcela da produção sai do Estado sem qualquer controle.

Situação da Pesca: Apesar da extensão dos manguezais maranhenses, deve ser considerada a

quantidade crescente de pessoas explorando o sistema. Pode-se dizer que o sistema encontra-se em níveis de intensa exploração. Não existe acompanhamento do tamanho do caranguejo capturado no litoral maranhense, mas relatos dos catadores afirmam que está ocorrendo uma diminuição gradual no tamanho dos indivíduos, o que é percebido pela diminuição do estoque em muitos pesqueiros.

Época de Safra: Dezembro a fevereiro.

Cadeia de Comercialização: O caranguejo-uçá pode ser comercializado vivo ou em filé,

existindo uma maior preferência do consumidor local pelo caranguejo vivo. Os caranguejos vivos são comercializados em mercados e pontos de venda da cidade, com predomínio da venda de machos grandes, face a preferência do consumidor, além da preocupação dos vendedores (muitas vezes os próprios catadores) com a fiscalização; a comercialização da carne ocorre em feiras e em restaurantes e bares. Nesse caso, não existe preocupação com o tamanho ou sexo dos indivíduos. Na região de Tutóia e Araioses, ocorre uma grande exportação, tanto do caranguejo vivo como da carne, para o Ceará, Piauí e Pernambuco. Dependendo do município, a presença do atravessador pode ser praticamente inexistente (S. Luís), ou depender de até quatro atravessadores (Araioses).

Preço: O preço de primeira venda da unidade de caranguejo variou de R$ 0,16-0,5 ao longo do

Estado, gerando um preço médio de R$ 1,00/cambada (3 unidades). O preço vendido ao consumidor final nas feiras de São Luís corresponde a R$ 4,00 e 5,00 a cambada. As patinhas e o filé são vendidos ao valor de R$ 15,00 a 18,00 kg.

Renda Mensal: A renda média dos catadores oscila entre R$ 250,00 a 500,00 por mês.

Complemento de Renda: 80% dos catadores entrevistados dependem exclusivamente dessa

atividade como fonte de renda. Os demais complementam com outras pescarias.

Relação de Trabalho/Partilha de Benefícios: Os integrantes desse sistema desenvolvem suas

atividades principalmente de forma isolada, sendo que cada catador é responsável pela sua produção, mas, como o grupo que se dirige a uma área de mangue é geralmente de uma mesma

comunidade (vizinhos, amigos, etc.), pode-se dizer que se desenvolve uma relação comunitária de trabalho.

Origem dos Pescadores (principais): Os catadores são provenientes de comunidades pesqueiras

próximas ou de municípios vizinhos.

Qualidade de Vida: Em geral, as moradias são de taipa e alvenaria com condições precárias,

número de filhos entre dois e nove por família, com muitos jovens envolvidos na atividade de captura. A vida dos catadores é muito difícil, a cata exige horas de dedicação e esforço para a captura do recurso.

Grau de Escolaridade: O grau de instrução desses profissionais é mínimo, possuindo no

máximo as primeiras séries do ensino fundamental. A situação precária na escolarização deve-se, principalmente, à necessidade de trabalhar ainda muito cedo.

Organização Social: Aproximadamente 90% dos catadores de caranguejo entrevistados não são

colonizados, e não apresentam nenhuma organização. Em algumas comunidades é comum encontrar catadores que não possuem nenhum documento.

Subsídios/Financiamentos: O SEBRAE, IBAMA e SEAP têm desenvolvido ações voltadas para

a formação de cooperativas e cursos de capacitação e formação. Quanto ao crédito informal, é comum o uso do adiantamento oferecido pelos atravessadores para cobrir as despesas da família, servindo especificamente para assegurar ou manter o fornecimento do recurso.

Conflitos: Constatou-se insatisfação dos catadores com relação ao desempenho da colônia e

Federação dos Pescadores, pela pouca atuação, o que reflete na pouca adesão à colônia, e falta de amparo dos órgãos à classe.

Legislação/Manejo: Algumas medidas estão sendo tomadas pelos próprios catadores para conter

a grande demanda por caranguejo na região. São elas: evitar captura dos caranguejos no período de reprodução e no período da ecdise, além de evitar a coleta de fêmeas; entretanto utilizam o cambito na captura dos indivíduos. Legalmente, existe portaria que proíbe o uso dos ganchos, redinhas e feixes de fibras plásticas nas capturas; captura de fêmeas (principalmente em dezembro e maio); captura de indivíduos de tamanho menor ao da primeira reprodução (6 cm); cata no período reprodutivo (janeiro/fevereiro/março). O IBAMA-MA vem desenvolvendo

importantes ações no sentido de conscientizar e fiscalizar a cata de caranguejos no período reprodutivo. Ucides cordatus consta na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobreexplotadas ou Ameaçadas de Sobreexplotação, sendo recomendado o desenvolvimento de planos de gestão participativos, tendo em vista a recuperação dos estoques e da sustentabilidade da pesca, sem prejuízo do aprimoramento das medidas de ordenamento existentes.