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As nomeações de capitães mores para Sergipe del Rey ocorreram mediante duas vias: pela nomeação real ou pelo governador geral, quando algo excepcional ocorresse na capitania. No primeiro caso, o Conselho ultramarino normalmente indicava candidatos e no segundo, nomeava-se na condição ad hoc para não deixar o cargo vago até que se abrisse um novo edital de seleção.

No período que vai de 1648 a 1743, a capitania de Sergipe del Rei foi governada por trinta e quatro capitães mores.387 Na segunda metade da centúria seguinte, atuaram vinte e três388 e no período da primeira metade do século XVIII somente onze assumiram o posto de comando.

A partir do final da década de 1640, com a dinastia de Bragança recomeçou o processo de recrutamento de militares para ocupar o posto de capitão mor dessa localidade as duas primeiras nomeações ocorreram diretamente das mãos do rei. O primeiro capitão foi Baltazar Queirós Sequeira, nomeado em 1648. O ato não ocorreu mediante processo de consulta baseado em lista tríplice, uma vez que essa prática começou a vigorar a partir de 1649. O governo desse capitão durou de 1648 a 1651, como consta na patente que recebeu389 e na de seu sucessor, João Ribeiro Villa Franca.390

Outro militar que recebeu nomeação sem passar por uma seleção foi João Ribeiro Villa Franca que recebeu patente em 15 de maio de 1649.391 Tudo indica que esse segundo fora recrutado dois anos antes de terminar o tempo de governo de seu

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Os números de capitães mores foram baseados nas patentes de nomeação, carta régia, alvarás, consulta para preenchimento de cargo, devassas e solicitação de aumento de salário.

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Esses dados diferem da relação apresentada por Carvalho Lima Júnior na obra Capitães mores de

Sergipe e do banco de dados Optima Pars, coordenado por Nuno Gonçalo Monteiro porque foi inserido

capitão mor que assumiu por apenas meses. Mesmo o militar assumindo o governo por reduzido tempo foi incluído na lista.

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LIMA JÙNIOR, Francisco de Carvalho. Capitães mores de Sergipe (1590-1820). Aracaju: Segrase, 1985. p. 16.

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CARTA para os officiaes da Câmara da Cidade São Christovão de Sergipe Del Rei na ocasião do capitão-mor João Ribeiro Villa Franca em 02/05/1651. DHBN. Vol III da Série E I. p. 98-99.

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MONTEIRO, Nuno Gonçalo; CUNHA, Mafalda Soares da (orgs.). Optima pars: elites ibero- americanas do Antigo Regime. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2005.

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antecessor. O contexto da escolha desse novo comandante militar para Sergipe del Rei foi tenso e se deu no momento de redefinição de controle administrativo e de absorção das capitanias do Brasil realizado pela dinastia de Bragança.392

Depois do fim do governo de João Ribeiro Villa Franca, entrou em vigor a prática da consulta por edital. A partir daí, tornou-se comum o Conselho Ultramarino indicar militares para ser nomeado pelo rei português. O primeiro processo de recrutamento começou em 1655, com três candidatos disputando o cargo de capitão mor, saindo como vencedor Hierônimo de Albuquerque.393

Como foi anteriormente dito, Sergipe del Rey foi governada na segunda metade do século XVII por vinte e três capitães mores. Esse número é mais que o dobro comparado com os onze que atuaram até o final da década de 1740. De acordo com as patentes e as consultas do Conselho Ultramarino, pode-se afirmar que não houve repetição de governos para a segunda metade do seiscentos.394 O mesmo não se verificou para a primeira metade da centúria seguinte, pois Francisco da Costa assumiu o governo pela primeira vez entre 1733 e 1737, e depois exerceu um segundo mandato em 1741.395

Procurou-se saber a vinculação dos capitães mores nomeados nas forças defensivas portuguesas. As patentes de nomeação constataram que os vinte oito governadores que atuaram em Sergipe del Rey na segunda metade do seiscentos e os onze da centúria seguinte fizeram parte da infantaria. O somatório de trinta e quatro capitães mores evidencia a política bélica adotada pela Coroa para a capitania, baseada na defesa por terra firme, controlando estradas e barras de rios. A estratégia objetivava impedir a presença de inimigos europeus, exterminar e proibir a formação de mocambos, controlar o fluxo de índios, de comerciantes que fugiam da justiça, transporte de mercadorias.

O nível de experiência em cargos adminsitrativomilitar dos capitães mores nomeados para Sergipe del Rey nos territórios do Estado do Brasil foi outro item de interesse da pesquisa. Para a segunda metade do século XVII, constatou-se que sete dos vinte e três governantes haviam ocupado o posto em outras capitanias do norte do

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SALDANHA, Antônio Vasconcelos de. As capitanias do Brasil: antecedentes, desenvolvimento e extinção de um fenômeno Atlântico. Lisboa: comissão Nacional para as comemorações dos Descobrimentos portugueses, 2001.

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Em outras fontes o nome desse capitão mor aparece grafado como Jerônimo de Albuquerque.

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Carvalho Lima Junior firmou que o João Munhós governou a capitania sergipana por duas vezes, mas a documentação não confirmou essa informação.

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Carvalho Lima Junior e Felisbelo Freire afirmam que Jorge de Barros Leite assumiu a capitania sergipana por duas vezes, uma na década de 1680 e depois na década de dez do século XVIII.

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Estado do Brasil.396 Foi o caso de Antônio de Alemão, que atuaram como governantes das vilas de Cairu, Boipeba e Camamu; Manuel de Carvalho Fialho, que governou Itamaracá antes do pouco tempo de atuação como governante no território sergipano; e de Manuel de Abreu Soares, que ocupou o mesmo cargo no Rio Grande do Norte.397 De fato, esses militares ocupando posto de comando tinham conhecimento da geografia do Estado do Brasil e suas experiências os habilitavam para a defesa militar da capitania sergipana. A incidência de militares nessa região diminuiu de forma drástica a partir do setecentos em decorrência da nova forma de recrutamento que tinha como opção selecionar soldados com experiências na península Ibérica.

Alguns capitães mores, antes de assumirem o cargo em Sergipe del Rey na segunda metade dos anos seiscentos, além dos de atuarem nas capitanias do norte do Estado do Brasil, marcaram presença em outros espaços do domínio português, evidenciando circularidade geográfica para além da América portuguesa. As patentes de nomeações revelaram que, na segunda metade dos seiscentos, apenas três estiveram na África e lá exerceram funções administrativas e de defesa. Exemplo emblemático foi o de João Munhós, que ocupou o posto de sargento mor e capitão mor da Ilha do Fogo; de João Minhoto, também sargento mor dessa ilha; de Jorge de Barros Leite, que atuou como capitão mor da capitania de Fortaleza do Presídio das Pedras do Congo. O tempo de serviços e atuações nesses lugares influíram nas indicações pelo Conselho Ultramarino.

Na primeira metade do setecentos, a participação de capitães mores de Sergipe del Rei atuando na África e no Oriente foi quase nula, divergindo do período anterior, com exceção de Sebastião Nunes Colares, que fora soldado na guarda de Goa-Índia e participou de guerra na Arábia. A explicação para a diminuta presença dos nomeados nesses dois continentes está relacionada, principalmente, à política estabelecida pela Coroa portuguesa em deslocar as forças militares para a Península Ibérica. O reflexo dessa estratégia pode ser observado na mudança de critérios tanto de seleção como de nomeação de novos capitães mores para Sergipe del Rey, com prevalência de experiência em guerras no reino de Portugal.

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Com exceção do Estado do Maranhão, a documentação dessa época faz referência a duas divisões do Brasil: a do norte e a do sul. Era comum haver referências às capitanias do norte do Estado do Brasil e as capitanias ou repartição do Sul do Brasil.

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Na documentação do século XVII, esta capitania era chamada Rio Grande. Há o caso de José Rebello Leite, que, na documentação, diz ter atuado como capitão mor. Contudo, a mesma fonte não informa a localidade; e o caso de Jorge de Barros Leite, que foi capitão mor da Fortaleza do Presídio das Pedras do Congo, na África.

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Procurou-se demonstrar a quantidade de capitães mores naturais ou residentes em Sergipe del Rey que atuaram na mesma capitania antes de suas nomeações. Chegou- se a conclusão que todos ocuparam o cargo na condição de interinos. Na segunda metade dos seiscentos, apenas cinco militares ocuparam o posto. Como exemplo, pode- se citar o caso de Braz Soares de Passos, que foi capitão mor da ordenança, atuando no

Troço Gente Escolhida, tropa militar formada na década de 1660, quando se noticiou a

presença de holandeses navegando na costa nordestina; Baltazar dos Reis Barrenho, que antes tinha sido sargento mor; Manuel de Abreu Soares, que havia lutado na primeira guerra holandesa nas margens do rio Real; Antônio Prego, que tinha sido alferes, capitão de infantaria de ordenança e sargento mor; e, por último, Mateus Marinho Leão, que tinha sido também sargento mor e coronel das ordenanças.

É importante destacar que nomeações dos capitães mores interinos citados acima geralmente ocorriam quando havia desistência ou destituição do capitão mor em exercício. As razões para esse tipo de prática estavam na demora do processo de abertura de um novo edital para seleção. A solução para esses casos consistia em ocupar o posto com um militar conhecedor da geografia do território e experiente na tática da guerra brasílica. Essa política desse tipo de nomeação ad hoc não se repetiu no período da primeira metade dos setecentos, pois a estratégia desenvolvida pela Coroa portuguesa para preencher o posto de comando em Sergipe del Rey com militares naturais ou residentes na localidade foi deixada de lado. As razões para essa atitude podem estar relacionadas às condições de melhor governabilidade advindas da reorganização militar, jurídica, social e econômica pelas quais a capitania vinha passando. Outro motivo que pôs fim a tal prática estaria relacionado ao envolvimento de capitães mores em facções políticas locais, provocando desacordo com a Câmara de São Cristóvão e com o ouvidor, favorecendo ou reforçando os poderes das localidades no território e provocando desvios nas determinações políticas. As cartas enviadas pelos governadores gerais reprimindo condutas dos capitães revelam o esforço em estabelecer o controle político e garantir condições de governabilidade na capitania.

Na segunda metade do século XVII, foi grande a rotatividade de capitães mores nomeados para Sergipe del Rey. A permanência no posto de comando variou muito, de poucos meses, para alguns, a sete anos e meio para o governo de João Munhós. Por exemplo, dos vinte e três que atuaram nesse tempo, seis governaram por

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menos de um ano;398 três por dois anos399 e seis somente por um ano.400 Já na primeira metade do século XVIII reduziu a rotatividade. Dos onze nomeados para assumir o comando da capitania sergipana, três permaneceram no cargo por um ano, um governou por dois anos, dois por três anos, quatro comandaram por quatro anos e apenas um a coroa estendeu o prazo por seis anos.401

A prática da nomeação de militares para o cargo de capitão mor de Sergipe del Rey nos dois períodos analisados estava alinhada ao processo seletivo. Houve casos de convergência entre as indicações do Conselho Ultramarino e as nomeações reais. Essas duas instâncias revelaram estratégias, cuidados na escolha do militar para o posto de comando cimeiro da capitania. Na seleção, havia rigor para melhor atender às demandas do momento. As escolhas feitas pelos conselheiros evidenciaram a estratégia geopolítica pensada pela Coroa portuguesa para a capitania sergipana e para o Estado do Brasil.

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