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O governo da dinastia de Bragança em Sergipe del Rey

Após o fim da União Ibérica, a partir de 1640, a dinastia de Bragança ascendeu ao trono em Portugal. Esse fato foi importante para o Brasil, porque o século XVII marcou definitivamente a virada do domínio português para o Atlântico e, como tal, para a colônia sul americana.59 Sofrendo com a retração de entrada de metal precioso na Europa, como a prata da América Espanhola, com as guerras europeias por domínios

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Idem. p. 126. Destaque nosso.

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Gaspar Barleus. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Op. Cit. p. 332.

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A região onde foram encontrados os primeiros indícios de minério corresponde hoje ao município de Itabaiana.

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Gaspar Barleus . História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Op. cit. p. 332.

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WEHLING, Arno, WEHLING, Maria José C. de. Formação do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 105. As colônias portuguesas do Atlântico formava um todo no império português.

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coloniais africanos, no Oceano Índico e no nordeste brasileiro, a Coroa portuguesa viu como tábua de salvação a administração da América portuguesa.

Depois da expulsão dos holandeses, em 1654, da crise geral europeia, da queda dos preços do açúcar resultante da concorrência antilhana, as condições tanto de Portugal como do Estado do Brasil eram precárias. Para sair da situação de crise, algumas medidas foram importantes, como a criação de companhias de comércio, a proibição de arrematação de engenhos de açúcar e o estímulo oficial à busca de metais preciosos no interior, o incentivo à colonização, vigilância das capitanias contra a presença de piratas inimigos, dentre outras. Essas ações tendiam a estabelecer a administração portuguesa em terras coloniais.

Pode-se afirmar que devido à variedade de domínios ultramarinos localizados em lugares diferentes e de vastidão territorial, como a colônia na América, com distintas realidades, a dinastia de Bragança estruturou seus domínios em modelos diferentes de administração.60 No Brasil, desenvolveu estratégias específicas de forma pragmática, lenta e gradual, agindo de acordo com as necessidades de cada localidade. Em se tratando de Sergipe del Rei, havia especificidades que precisam ser evidenciadas para que se compreenda a pretensão da Coroa quanto ao território sergipano.

As ações do primeiro rei da dinastia Bragança começaram com a não alienação da capitania para terceiros, mesmo com a situação de ruína e de estagnação visível aos olhos dos agentes metropolitanos contemporâneos, a exemplo do padre Antônio Vieira, que, no momento das negociações da guerra holandesa sugeriu ao rei a entrega de alguns territórios da América portuguesa, entre os quais um terço do de Sergipe del Rey.61 Nas condições das vantagens apresentadas pelo conselheiro, o rei levaria vantagem, caso se desfizesse da parte norte da capitania, pois, de acordo com o argumento do jesuíta, Sergipe só criava gado e lado que se pretendia negociar era composto por terras “retalhadas como muitos rios caudalosos, com bosques e caminhos inacessíveis e incapazes de marcha”.62

Ainda de acordo com as considerações de Vieira, a atividade criatória que havia antigamente na capitania havia sido extinta pelas ações

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HESPANHA, Antônio Manuel e SANTOS, Maria Catarina. Os poderes num Império Oceânico. I. MATTOSO, José. História de Portugal. V. IV. Antigo Regime. Lisboa: Estampa. p. 353. Esses autores informam que houve sete modelos de relações político administrativas para as realidades dos domínios portugueses.

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VIEIRA, Pe. Antônio. Papel que fez o Padre Antônio Vieira a favor da entrega de Pernambuco aos holandeses. In. Escritos históricos e políticos. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 346.

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dos soldados inimigos quando lá estiveram deixando o território deserto.63 Essa condição seria vantajosa para o rei porque no futuro, com o desinteresse dos holandeses na atividade criatória do gado, a Coroa poderia reaver a parte alienada da capitania mediante compra, dispendendo a quantia de “quarenta ou cinquenta mil cruzados, alegando-se para isso o rio São Francisco, por ser mais largo, e mais capaz para divisão, e para evitar as contendas que podem perturbar a paz.”64

De acordo com o argumento desenvolvido por Vieira, havia ênfase na manutenção das áreas de produção açucareira, cuja economia se direcionava para o mercado internacional, pois o comércio era visto como condição importante para assegurar a sobrevivência e manutenção de Portugal, a exemplo das capitanias da Bahia e de Pernambuco, que foram invadidas e dominadas pelos holandeses. As partes produtoras de açúcar negociadas seriam depois retomadas por compra. Essa promessa se estendia também para outras áreas, como a de Sergipe del Rey, que se destacou na atividade criatória, pois no futuro os holandeses não teriam interesse e desistiriam da prática da criação do gado. Mesmo com todos os argumentos vantajosos para o rei apresentados pelo padre jesuíta, não houve envolvimento da capitania nas negociações diplomáticas.

A atitude de a Coroa portuguesa em permanecer com a jurisdição de Sergipe del Rey fez levantar a hipótese que pode ser respondida levando em consideração duas condições: econômica e militar. Primeiro, a capitania estava localizada entre dois polos importantes de produção de açúcar – Bahia e Pernambuco -, cujas produções garantiriam lucros com as atividades comerciais. A segunda condição, complementar à primeira, era de que, estando a capitania sergipana localizada entre regiões economicamente prósperas, passava a ser vista como uma posição estratégica do ponto de vista da defesa para garantir a contiguidade do território da colônia, podendo ter ações de cunho militar para o Estado do Brasil, caso algum inimigo europeu viesse a invadir novamente a colônia. Desse modo, Sergipe del Rey passava a se enquadrar como região estrategicamente complementar do Brasil colonial, contribuindo com o abastecimento, com o comércio interno das capitanias limítrofes e com a defesa dos limites territoriais, dinamizando, assim, as relações econômicas. Por último, pode-se afirmar que a esperança de encontrar metais preciosos em Sergipe não estava

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VIEIRA, Pe. Antônio. Papel que fez o Padre Antônio Vieira a favor da entrega de Pernambuco aos holandeses. Op. Cit. p. 354.

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descartada, pois a fama da riqueza no subsolo esteve presente até o século XVIII, como se verá mais adiante.

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