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3.5 Efetividade Ambiental da CIDE-Combustíveis: Contribuição ao Desenvolvimento Sustentável

3.4.3 Normas Tributárias Indutoras em matéria Ambiental

O Direito Tributário tem se renovado com as vicissitudes da vida contemporânea, e é nesse contexto que se insere a tributação ambiental, uma vez que a cada dia novos desafios e complexidades do sistema capitalista têm se apresentado para serem resolvidos pelo Direito. Assim, imprescindível o alcance de um novo equilíbrio de mercado e das leis da oferta e da procura, de modo a conceder mais espaço ao desenvolvimento econômico que vise a preservação do meio ambiente, desestimulando-se, de tal forma, as atividades que sejam potencialmente danosas ao meio-ambiente. Para este fim, a política fiscal se mostra como um instrumento eficaz, possibilitando tanto o financiamento de políticas ambientais, quanto a imposição de mudanças sociais.387

Não olvidando as premissas estatuídas no início deste trabalho, isto é, quanto ao conceito adotado de norma jurídica388, podemos dizer que a interpretação de certas regras tributárias pode revelar normas que induzem comportamentos. Nesse sentido, valendo-se da concepção de norma jurídica de Paulo de Barros Carvalho389 e da teoria das normas tributárias indutoras desenvolvida por Luis Eduardo Schoueri390, formulamos a idéia de que a aplicação de regras tributárias leva à construção de normas possíveis capazes de estimular ou frear condutas. É, assim, a partir da associação das teorias dos juristas mencionados e da formulação de um sentido próprio que será trabalhada a expressão “norma tributária indutora”.

Portanto, certas normas tributárias, reveladas a partir de processo interpretativo determinante, podem ser instrumento para a consecução de finalidades ligadas ao direito fundamental ao meio ambiente equilibrado.

387 FERNANDEZ, German Alejandro San Martín; LALOË,Florence Karine. Tributação Ambiental no

Amazonas: Políticas Fiscais para o Desenvolvimento Sustentável. In: http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/manaus/desenv_econom_german_a_fernandez_e_flor ence_k_laloe.pdf. Acesso em 19/06/2007.

388 Vide capítulo II.

389 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 390 SHOUERI, Luis Eduardo. Normas Tributárias Indutoras e Intervenção Econômica. Rio de Janeiro:

ambientais, econômicos, que não se sobrepõem, mas se complementam, de maneira a formar seu tríplice aspecto econômico, social e ambiental, como forma de desenvolvimento almejado para o Estado Democrático de Direito Brasileiro. A dificuldade está em transpor tais direitos e princípios em políticas públicas justas e eqüitativas, nas quais o equilíbrio entre os três aspectos seja encontrado. 385

Desta feita, tendo em vista a finalidade da tributação ambiental, qual seja alcançar níveis significativos de desenvolvimento com sustentabilidade, podemos dizer que cada valor explicitado anteriormente possui correspondentes princípios que traduzem de que forma o ordenamento pátrio se mostra apto a concretizar esse princípio-fim do desenvolvimento sustentável.

Sendo assim, com base na doutrina de Ricardo Lobo Torres, o valor da liberdade se liga ao princípio da imunidade do mínimo ecológico; o da justiça aos princípios do poluidor-pagador, já explicado anteriormente, usuário-pagador, capacidade contributiva e custo/benefício; o valor da segurança está atrelado aos princípios da prevenção, precaução, legalidade tributária e tipicidade tributária; e, por fim, o valor da solidariedade se liga aos princípios da capacidade contributiva solidária e da solidariedade do grupo386, sobre os quais não vamos nos ater nesse trabalho, ficando-se a premissa de que o direito tributário ambiental é orientado pelos valores e princípios jurídicos, que cresceram de importância com a reaproximação entre ética e direito e a superação das posições positivas.

E, nessa esteira, cabe ressaltar que este ramo do direito é regido não somente pelos princípios e valores acima mencionados, mas também por todos aqueles proclamados em nossa Constituição Federal, mormente os proclamados no art. 1º desse diploma, perpassados todos os princípios de legitimação, como ponderação, razoabilidade, igualdade e transparência.

385 FERNANDEZ, German Alejandro San Martín; LALOË,Florence Karine. Tributação Ambiental no

Amazonas: Políticas Fiscais para o Desenvolvimento Sustentável. In: http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/manaus/desenv_econom_german_a_fernandez_e_flor ence_k_laloe.pdf. Acesso em 19/06/2007.

386 A esse respeito vide Ricardo Lobo Torres. Valores e Princípios no Direito Tributário Ambiental. In:

Direito Tributário Ambiental. Organizador: Heleno Taveira Torres. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 21- 54.

Podemos dizer que os princípios compartilham com os valores das características da generalidade e abstração, mas com menor intensidade, pois enquanto esses últimos são idéias absolutamente abstratas, supraconstitucionais e insuscetíveis de se traduzirem em linguagem constitucional, os princípios se situam no espaço compreendido entre os valores e as regras, exibindo em parte a generalidade daqueles e a concretude das regras.382

No dizer de Ricardo Lobo Torres, o Direito Tributário Ambiental se orienta pelos princípios vinculados aos valores da liberdade, da justiça, da segurança e da solidariedade.

Sendo assim, a aplicação da tributação ambiental deriva diretamente da criação de princípios e regras de direito envolvendo a regulação da atividade econômica dada através da positivação jurídica de conceitos políticos (valores), próprios dos Estados liberais, em atividade nitidamente finalística, ou seja, visando a satisfação dos desígnios constitucionais relativos à proteção do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável.383

Portanto, podemos dizer que os princípios do direito tributário ambiental se ligam, intimamente ao princípio do desenvolvimento sustentável, o qual, não pode, contudo, ser limitado e interpretado tão somente sob seu aspecto formal, normativo- positivo. Com efeito, uma interpretação mais extensiva demonstra que o mesmo abrange diversos direitos e princípios fundamentais, tais como a dignidade humana, a cidadania, o trabalho e a livre iniciativa (artigo 1º da Constituição de 1988)384 e os direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição de 1988.

O princípio está, destarte, consagrado na Constituição Federal pela correlação de diversos direitos fundamentais e princípios tributários, sociais,

382 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. vol 5: O

Orçamento na Constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 116.

383 FERNANDEZ, German Alejandro San Martín; LALOË,Florence Karine. Tributação Ambiental no

Amazonas: Políticas Fiscais para o Desenvolvimento Sustentável. In: http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/manaus/desenv_econom_german_a_fernandez_e_flor ence_k_laloe.pdf. Acesso em 19/06/2007.

384 TORRES, Ricardo Lobo. Valores e Princípios no Direito Tributário Ambiental. In: Direito Tributário

concretização, e como sabemos que, por razões econômico-financeiras muitas empresas não aceitariam, de próprio punho, a se mobilizarem em prol do meio ambiente, é de extrema relevância que o Estado promova essas medidas de proteção ambiental por meio da carga tributária nesse sentido.

No caso da CIDE-Combustíveis, pode-se dizer que esta tem por característica própria a exigibilidade somente no âmbito econômico dos combustíveis, sem ofensa aos princípios da igualdade e da capacidade contributiva, o que a torna particularmente adequada à tributação ambientalmente orientada, especialmente por ter finalidade re-orientadora de comportamentos através da “internalização” de custos ambientais.380

Outrossim, o que percebemos é a tendência a um estreitamento cada vez maior do direito ambiental, seus princípios e instrumentos, com os demais ramos do direito, podendo-se até audaciosamente afirmar a tendência de direcionamento destes últimos em relação ao primeiro, inclusive com rompimento de diversos princípios e institutos até então tidos como absolutos devido à necessidade de adequação da “sociedade moderna” aos limites da sustentabilidade, norteados pelo direito ambiental. 381

Assim sendo, a tributação ambientalmente orientada é um importante instrumento de busca do desenvolvimento com sustentabilidade, a partir de uma ação efetiva do Estado nesse mister. É inegável que os tributos se mostram como o meio adequado à consecução dos objetivos estatais, e, hoje em dia, podem ser usados com vistas à promoção do crescimento econômico racional, que se preocupa em não esgotar os bens naturais existentes para que as próximas gerações possam deles também fruir e retirar a sua subsistência.