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6.6 Intervenção do Estado Brasileiro sobre e na Indústria do Petróleo e Gás Natural

6.5.2 Tributação como Instrumento de Intervenção Estatal

Diante das considerações até o momento delineadas, vimos que a Constituição de 1988 permitiu que o Estado possa vir a intervir no domínio econômico como agente normativo e regulador, no intuito de desempenhar as funções de fiscalização, incentivo e planejamento indicativo ao setor privado sempre com fiel observância aos princípios constitucionais da ordem econômica.

possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (Art. 3º, CTN).

Ainda assim, saliente-se, necessário se faz uma análise técnica sobre o que significa o conceito trazido pelo CTN. Primeiro, no que tange aos termos “prestação pecuniária compulsória”, devemos compreender o tributo como uma obrigação (prestação compulsória) que deve ser prestada em dinheiro, isto é, em moeda corrente do país, sendo irrelevante a vontade do devedor, visto que o Estado pode impor obrigações unilateralmente, como consentâneo do seu poder impositivo.

Segundo, concernente a “em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir”, existe uma redundância no conceito, visto que, ao ter se falado em “prestação pecuniária”, anteriormente, já se considera que o tributo será pago em moeda, ou seja, não poderá ser pago com serviços, créditos no mercado, imóveis ou outros bens, conforma nos ensina, mais uma vez, Paulo de Barros Carvalho.

Já em relação ao “caráter lícito”, podemos aduzir que a obrigação tributária não será originada de sanção por ato ilícito, conforme já mencionamos antes. Por sua vez, o ditame “instituída em lei”, diz respeito ao fato de que o tributo só poderá ser cobrado quando instituído previamente em lei, em sentido estrito, sendo que, só poderão estar disciplinados em lei os tributos autorizados pelo texto Constitucional para figurarem na ordem tributária e os elementos imprescindíveis à configuração da lei tributária devem estar presentes na lei que instituir o tributo em questão.

Podemos identificar, com fulcro no art. 97, incisos III e IV do Código Tributário Nacional, os elementos indispensáveis à instituição e cobrança do tributo: o fato gerador, a alíquota, a sua base de cálculo e o sujeito passivo. Da interpretação sistemática do Código Tributário Nacional podemos inferir que, por fato gerador, também chamado de hipótese de incidência tributária, temos a situação hipotética que deve ocorrer para que nasça a obrigação tributária. Podemos ainda fazer uma diferença entre fato gerador e hipótese de incidência, tendo aquele como a ocorrência fática (no mundo do ser) do que prevê a norma tributária, enquanto que esta se dá como a previsão normativa (no mundo do dever-ser) da situação necessária e suficiente à ocorrência da obrigação.

de relação jurídica tributária; e) como norma jurídica tributária; f) como norma, fato e relação jurídica106. Sendo assim, podemos considerar que o tributo pode ser visto sob diversas perspectivas e, num mesmo texto normativo, pode assumir várias acepções. Portanto, ele é um instituto multifacetado.

Entretanto, embora se possa considerar que ele assume todas as funções denotadas pelo Paulo de Barros Carvalho, de modo geral, ao tratarmos de tributo, nos referimos ao conceito formulado da disposição do art. 3º do CTN, que tem o notável mérito de, pela cláusula excludente das obrigações que configurem sanção de ato ilícito, evitar a abrangência também das multas, as quais, doutra forma, ver- se-iam nele compreendidas.107 De tal maneira, podemos acolher o vocábulo tributo como sendo uma obrigação, um dever jurídico, diferente da que se estabelece numa sanção por ato ilícito, porque o tributo se origina da simples ocorrência de uma hipótese identificada no texto normativo, a qual não preverá sua cobrança a título de punição, mas como imposição pura e simples do Estado, que se dá em virtude do poder extroverso deste de obrigar, exigir e executar condutas.

Nesse sentido, o tributo como obrigação, porém, além de dever jurídico (a que fica jungida uma parte ou cada uma das partes numa relação jurídica) presta-se a designar a própria relação jurídica expressando o vínculo que enlaça duas (ou mais ) pessoas, às quais se atribuem direitos e deveres correspectivos. Ressalta-se a idéia, presente na etimologia do vocábulo, de ligação ou liame, unindo pessoas (credor e devedor) que têm, respectivamente, o poder de exigir e o dever de prestar o objeto da obrigação (dar, fazer ou não fazer).108

Portanto, ao tratarmos de tributo, em nossa atividade de pesquisa, estamos nos referindo a uma obrigação, embora também possa ser interpretada, no caso concreto, seja como uma quantia em dinheiro, como uma norma, como uma relação jurídica, como assenta Paulo de Barros Carvalho. Acolhemos, assim, ressalte-se, a concepção adotada pelo nosso Código Tributário Nacional que considera o tributo como “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se

106 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.19. 107 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 5ª Ed. São Paulo: Malheiros, 1980.

melhoria. De tal forma, afugentou a concepção de que os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais, em geral, não seriam tributos. 103

Outrossim, determinar o que é tributo não é tão simples assim. Para o fazer, podemos usar o critério excludente, considerando que se o Estado, afora a sua qualidade de contratante ou donatário, não está nem arrecadando bens pecuniários vacantes, nem recebendo multas, nem sendo indenizado em tempo de guerra ou paz, nem percebendo pecúnia ex contractu, tudo o mais que entra como receita, excluídas as “entradas” de caixa, tais como cauções e fianças, ou é tributo ou é enriquecimento sem causa104. Entretanto, por meio desse critério excludente não se pode, com precisão, conceituar o que é tributo, visto que é deveras complicado identificar um instituto pelo que ele não é. Embora seja, sim, importante diferenciar105 o tributo das outras formas de arrecadação financeira do Estado, há necessidade de maior investigação sobre o tema.

Segundo Paulo de Barros Carvalho, o vocábulo “tributo” experimenta pelo menos seis acepções diferentes, quais sejam: a) como quantia em dinheiro; b) como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo, ou seja, como obrigação; c) como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo; d) como sinônimo

103 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11ª Ed. Atualizado por Misabel Abreu Machado

Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 63.

104 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 6ª Ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002. p. 381-382.

105 A propósito, Sacha Calmon identifica as diferenças entre o tributo e as outras formas de

arrecadação financeira do Estado, que merece consideração. Veja-se: “O tributo legitima-se e diferencia-se das prestações pecuniárias e apropriações até agora referidas em função, precisamente, de sua hipótese de fato relacionada ao preceito. Tributo é toda prestação pecuniária em favor do Estado ou de pessoa por ele indicada, tendo por causa um fato lícito, previsto em lei, instituidor de relação jurídica, diferenciando-se da multa porque esta, embora prevista em lei em favor do Estado, decorre de um fato ilícito.Extrema-se da indenização porque esta, posto que também prevista em lei, tem por “razão de ser” prévia e comprovada lesão ao patrimônio alheio, inclusive o estatal. Contrapõe-se às prestações pecuniárias “contratuais” ou de jus gestionis, porque tais receitas decorrem de acordos de vontades (contrato). Enquanto o tributo é unilateralmente previsto em lei, o objeto de tais obrigações é ajustado ex voluntate, tendo por mira múltiplas situações (aluguel ou venda de coisas, contratos de mútuo, aplicações financeiras, prestações de serviços, etc.). Distingue- se, por sua vez, de outros deveres pecuniários de índole privada, como seguro obrigatório automobilístico, ou da obrigação alimentar, porque, nesses casos, o credor é pessoa jurídica de Direito Privado ou pessoa natural, e também, porque em tais casos, a cobrança não é feita mediante atividade administrativa plenamente vinculada à lei. E finalmente, diferencia-se das apropriações de dinheiro abandonado porque aí o fato, embora lícito e acontratual, não é causador de relação jurídica, pois a existência de dinheiro na condição res nullius ou res derelicta não é fundamento, razão, hipótese ou causa de uma obrigação. Em resumo, o que entrar em dinheiro para os cofres estatais, sob a forma de prestação pecuniária, o que exclui as entradas de caixa, como fianças e cauções, e as apropriações, que não sejam indenização, multa ou contrato, aluguel, juro, foro, laudêmio, ou preço, só pode ser tributo.” COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 381-382.

6.5 A Intervenção do Estado sobre o Domínio Econômico por meio da