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É chegado o momento de aferir se a Lei n.º 10.336, de 2001, passa pelo último teste de constitucionalidade, ou seja, se o fato de a CIDE-Combustíveis ter sido criada por lei ordinária retira a sua constitucionalidade, vez que inexiste tal lei complementar exigida pela conjugação dos artigos 149 e 146, III, da Lex Maior.

Os arts. 150,I e 5º, II, da Constituição vigente, referem-se à legalidade, como princípio necessário à instituição e majoração de tributos, tanto do ponto de vista formal – ato próprio, emanado do poder legislativo – como do ponto de vista material, determinação conceitual específica, dada pela lei aos aspectos substanciais dos tributos, como hipótese material, espacial e temporal,

238 Art. 8º - A, caput e §1º. Por sua vez, o § 2º reza que se aplica disposto neste artigo somente aos

etc. (sobre as quais vou me reservar o direito de não minudenciar), gerando a tributação em cascata que onera toda a cadeia produtiva e comercial.236

Conforme prevê a Lei n.º 10.336, de 2001, em seu artigo 7º237, a CIDE incidente na comercialização no mercado interno de combustíveis poderá ter deduzidos os valores pagos na importação dos mesmos ou os incidentes quando estes forem adquiridos de outros contribuintes. Saliente-se, por sua vez, que tal dedução poderá ser realizada quando da apuração no final do mês, destacada de uma individualização por espécie de produto, nos termos do parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

Contudo, notamos que a redação do dispositivo ora em lume não é suficientemente clara a ponto de evidenciar se existe a probabilidade de sustentação e emprego de saldos credores, observados, por exemplo, se em um dado momento de apuração advirem mais obtenções e importações do que revenda. Reputamos que tal questionamento tenha pertinência lógica, uma vez que na sistemática manifesta de apuramento de impostos indiretos brasileiros sujeitos à não- cumulatividade (ICMS e IPI), é possível o registro de saldos credores para compensação com valores devidos em operações futuras.

Nessa sorte de idéias, a legislação apontada refere apenas que dos valores devidos poderá ser deduzida a quantia despendida na importação e os incidentes na aquisição de outros contribuintes, não trazendo à baila o tratamento a ser dado a eventual saldo credor.

De tal maneira, perfilhamos a compreensão de que não é possível se acumular diversos saldos credores para posterior compensação uma vez que quando a norma pretende instituir a permissão da cumulação de créditos para compensação futura, ela o faz, geralmente, de forma expressa, conforme a

236 SILLOS, Lívio Augusto de. Contribuição De Intervenção No Domínio Econômico (CIDE) Sobre

Combustíveis. In: www.tributario.net/artigos. Acesso em 10 de fevereiro de 2007.

237 Art. 7o Do valor da Cide incidente na comercialização, no mercado interno, dos produtos referidos

no art. 5o poderá ser deduzido o valor da Cide: I – pago na importação daqueles produtos;

II – incidente quando da aquisição daqueles produtos de outro contribuinte.

Parágrafo único. A dedução de que trata este artigo será efetuada pelo valor global da Cide pago nas importações realizadas no mês, considerado o conjunto de produtos importados e comercializados, sendo desnecessária a segregação por espécie de produto.

prestações anteriores, ocorrerá efeito cumulativo, implicando no aumento de preços. Esta situação ocasionará efeito confiscatório em razão de no mesmo preço do produto estar se verificando dupla incidência tributária. Qualifica-se como um princípio constitucional, balizando a estrutura econômica sobre o qual foi organizado o Estado. Não se trata de simples técnica de apuração de valores tributários ou mera proposta didática, mas diretriz constitucional imperativa, sendo obrigatória para os destinatários normativos (poderes públicos e particulares).”233

Sendo assim, a Constituição Federal de 1988 trata do princípio da não- cumulatividade em seus artigos 153, IV, § 3°, II, e 155, II, § 2° em relação ao ICMS e IPI, e tais dispositivos possuem eficácia plena e imediata, instituindo a não- cumulatividade como regra ou princípio a ser observado, sem restrições, pelo legislador infraconstitucional.

Tal princípio, desta feita, objetiva impedir o efeito "cascata" da tributação destes impostos. Quando há um ciclo econômico composto de várias etapas, a incidência de um imposto em uma operação servirá como base de cálculo do imposto incidente na etapa posterior, gerando a cumulatividade da tributação.234

Nesses termos, pode-se depreender que, no concernente ao princípio em tela, conforme previsto pelo art. 195 combinado com o 154 e mesmo no art. 149, § 4°235, a lei atinente à CIDE-Combustíveis veio inovar. Com efeito, a possibilidade de compensação de valores pagos nas operações anteriores, com os devidos na subseqüente, há muito vem sendo reclamada pelos contribuintes em matéria de contribuições com características de tributo indireto.

Em verdade, o ordenamento jurídico-tributário pátrio está recheado de contribuições dotadas do efeito da cumulatividade, tais como PIS, COFINS, CPMF,

233 Apud Leandro Paulsen. Não cumulatividade do PIS/PASEP e da COFINS. São Paulo: IOB

Thomson, 2004. p. 51-52.

234 MACHADO, Fernando Bicca. A sistemática da não-cumulatividade da contribuição ao PIS e da

COFINS. In: www.jus.com.br. Acesso em 10 de fevereiro de 2007.

razoabilidade, é de extrema relevância a uma legítima e legal intervenção estatal por via tributária, sendo de bom alvitre destacar que os limites imanentes à ordem econômica, aqui também explicitados, como os princípios elencados no art. 170, e demais objetivos da República, bem como a promoção e garantia da dignidade da pessoa humana, se aglutinam formando todo o aparato limitativo da ação estatal no campo da intervenção sobre a ordem econômica, devendo ser levados à risca para a consecução do fim maior do Estado: a realização do objetivo principal delineado na Constituição, o bem de toda a nação.