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NOSSO DEVER DE AMAR AS PESSOAS QUE NÓS VEMOS.

No documento As obras do amor.pdf (páginas 161-182)

1 Jo 4, 20 Se alguém disser: “Amo a Deus”, e odeia seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?

Ora, como a necessidade do amor está profundamente enraizada na natureza do ho- mem! A primeira observação, se podemos chamá-la assim, que foi feita sobre o ser huma- no, e que foi feita pelo Único que em verdade poderia fazê-la, por Deus, e logo sobre o pri- meiro homem, expressa justamente isto. Com efeito, lemos na Sagrada Escritura: “Deus disse: Não é bom que o homem esteja só.” Assim a mulher foi tirada das costelas do ho- mem e lhe foi dada como companheira - pois o amor171 e a convivência primeiro retiram algo do homem, antes de lhe dar. Por todos os tempos, portanto, todos os que pensaram com mais profundidade sobre a natureza humana, reconheceram nela este anseio por com- panhia. Quantas vezes já foi dito e repetido e retomado outra vez, quantas vezes já não se lamentou: ‘ai daquele que vive só’, ou se descreveu a dor e a miséria do que vive só; quan- tas vezes, cansado da convivência corrompida, barulhenta e criadora de confusão, já não se deixou o pensamento emigrar em busca de um sítio solitário - para então de novo aprender- se a ter saudades da sociedade! Pois assim se está constantemente voltado para trás, para aquela primeira idéia, aquela idéia que Deus tinha do homem. No formigueiro da multidão apressada, que como companhia tanto é demais quanto de menos, o homem se cansa da so- ciedade; mas a cura não consiste em descobrir que a idéia divina estava errada, oh não, a cura está justamente em que aprendamos de maneira totalmente nova aquela primeira idéia, a nos compreendermos no desejo de ter companhia. Tão profundamente este anseio está

enraizado na natureza humana, que aqui desde a criação do primeiro homem não ocorreu nenhuma transformação, não foi feita nenhuma descoberta nova, mas apenas reforçou-se nas mais variadas maneiras aquela única e mesma primeira observação, variando-a, de ge- ração em geração, em sua expressão, em sua exposição, nas fórmulas do pensamento.

Este anseio está tão profundamente enraizado na essência do homem, e pertence tão

essencialmente ao ser-homem, que até aquele que era um com o Pai e que vivia na comu-

nhão do amor com o Pai e com o Espírito, que até aquele que amava todo o gênero humano, nosso Senhor Jesus Cristo, sentiu também humanamente esta necessidade, de amar e de ser amado por um outro indivíduo humano. É certo que ele era o Homem-Deus, e assim eter- namente diferente de qualquer homem, mas era ao mesmo tempo um homem de verdade, experimentado em tudo o que é humano; e por outro lado, o fato de ele o ter vivenciado é justamente a expressão de que isso pertence essencialmente ao ser humano. Ele era um ho- mem real e pôde por isso participar de tudo o que é humano; ele não era uma figura etérea, que acenasse dos céus sem compreender ou querer compreender tudo o que acontece de humano com um homem. Oh não, ele podia compadecer-se da multidão a quem faltava alimento, e de maneira puramente humana, já que ele mesmo tinha passado fome no deser- to. E assim ele também podia participar com os homens deste anseio por amar e ser amado, participar de maneira puramente humana. Lemos isto descrito pelo evangelista João (21, 15 ss.). “Jesus disse a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Pe- dro lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.” Mas como isto é comovente! Cristo diz: Tu me amas “mais do que estes?”, isto parece um súplica por amor, deste jeito fala alguém para quem é muito importante ser o mais amado. O próprio Pedro o percebe, e nota a desproporção, semelhante à daquela vez em que Cristo precisava ser batizado por João; por isso Pedro não responde simplesmente “sim”, mas acrescenta “Senhor tu sabes que eu te amo”. Esta resposta indica a desproporção. Pois se de resto um homem sabe que é amado porque já antes ouviu o sim que ele quer tanto ouvir e por isso deseja ouvir mais uma vez, se ele o sabe por uma outra maneira além do mero sim, ao qual no entanto ele sempre retorna, desejando ouvi-lo: no caso de Cristo era num outro sentido, afinal, que se pode dizer que ele sabia que Pedro o amava. Contudo “Cristo voltou a perguntar, uma se-

gunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.” Que outra resposta poderia haver, se apenas a desproporção se torna mais nítida porque a pergunta é feita uma segunda vez! “Cristo perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se porque pela terceira vez lhe pergun- tara ‘Tu me amas?’ e lhe disse: ‘Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo’.” Pedro não mais respondeu sim, nem relacionou sua resposta com aquilo que Cristo por experiência tinha de saber sobre o estado de alma de Pedro, “Tu sabes que te amo”, ele responde “Tu

sabes tudo, tu sabes que eu te amo.” Portanto Pedro não respondeu mais sim, ele quase es-

tremece diante da desproporção, pois um sim é afinal como uma resposta real para uma pergunta real, com que aquele que pergunta vem a saber de algo ou a saber com mais certe- za do que antes o sabia. Mas aquele que “sabe tudo”, como pode vir a saber de alguma coi- sa, ou pela declaração assertiva de um outro vir a sabê-lo com mais certeza? E contudo, se não o pode, então não pode, de jeito nenhum amar de maneira bem humana, pois este é jus- tamente o enigma do amor, de que não há nenhuma certeza mais elevada do que a da asser- ção renovada pelo amado; em termos humanos, ter certeza absoluta de ser amado não signi- fica amar, dado que isto representa posicionar-se por cima da relação entre amigo e amigo. Terrível contradição: que aquele que é Deus, ame humanamente, pois amar humanamente é afinal amar um indivíduo humano e desejar ser o mais amado por este indivíduo particular. Vê só, por isso é que Pedro entristeceu-se pelo fato de a pergunta ser feita pela terceira vez! Pois numa relação de amor parelha entre dois seres humanos constitui uma nova alegria que a pergunta seja feita pela terceira vez, e uma nova alegria o responder pela terceira vez, ou então a pergunta repetida muitas vezes entristece porque parece revelar desconfiança; quan- do, porém, aquele que tudo sabe pergunta pela terceira vez, e portanto acha necessário per- guntar uma terceira vez, então decerto deve ser porque ele, que sabe tudo, sabe que o amor não é suficientemente forte ou interior ou ardente naquele que está sendo questionado, o qual aliás também o negara três vezes. Por esta razão, Pedro decerto pensou, o Senhor deve achar necessário perguntar três vezes, - pois, não é verdade? que o Senhor mesmo sentisse necessidade de ouvir este sim pela terceira vez, um tal pensamento está acima das forças humanas; embora seja lícito, ele por assim dizer se proíbe. Oh, mas como é humano! Ele, que para o Sumo Sacerdote que o condenou à morte, ele que para Pilatos, que tinha a vida

dele em suas mãos, não teve uma palavra para responder - ele pergunta três vezes se é ama- do, sim ele pergunta se Pedro o ama - “mais do que estes?”

O amor está tão profundamente enraizado na natureza do homem, e pertence tão essencialmente ao homem; e no entanto os homens muitas vezes recorrem a subterfúgios

para fraudarem - esta felicidade, portanto inventam um engano - para se enganarem a si mesmos, ou para se tornarem infelizes. Às vezes o subterfúgio se reveste da figura da triste- za, a gente suspira pelos homens e por sua infelicidade, de não encontrar a quem amar; pois suspirar sobre o mundo e sobre o seu infortúnio é sempre mais fácil do que bater no seu próprio peito e suspirar por si mesmo. Às vezes o auto-engano se expressa como uma acu- sação, a gente se queixa dos homens, de que eles não mereceriam ser amados - murmura-se contra os homens; pois sempre é mais fácil ser o acusador do que ser o acusado. Às vezes o auto-engano é orgulhosa auto-suficiência, que acha que procura em vão o que poderia ter valor para ele - pois é sempre mais fácil demonstrar sua superioridade bancando o exigen- te172 com todos os outros do que demonstrá-la pelo rigor consigo mesmo. E contudo, con- tudo todos concordam em que se trata de um infortúnio, e que esta relação está invertida. E o que é, então, que está errado, o que, senão o seu procurar e seu rejeitar! Tais pessoas não percebem que seu discurso soa como um escárnio sobre elas mesmas, porque isto de não poderem encontrar algum objeto para seu amor entre os homens, significa denunciar-se a si mesmas como completamente sem amor para dar. Pois será que é amor querer encontrá-lo fora de si? Eu acharia que amor é trazê-lo consigo. Mas aquele que traz o amor consigo, à medida em que procura um objeto para o seu amor (e de outro modo, aliás, não seria verda- deiro dizer que se procura um objeto - para o seu amor), ele facilmente, e na mesma propor- ção em que o amor nele for maior, tanto mais facilmente encontrará o objeto, e achará que este é digno de amor; pois o poder amar uma pessoa apesar de suas fraquezas e falhas e im- perfeições não constitui ainda o que há de mais perfeito, mas certamente o é o poder achá-la digna de amor apesar de e com todas as suas fraquezas e falhas e imperfeições. Entendamo- nos mutuamente. Uma coisa é, afinal, bancando o exigente173 querer comer somente os pra- tos mais delicados e mais seletos, quando preparados da maneira mais refinada, ou até,

mesmo quando eles o são, ainda encontrar criticamente um ou outro defeito neles; uma ou- tra coisa, é não apenas poder comer o prato mais frugal, mas ser capaz de achar que este prato mais frugal é o mais delicioso, pois a tarefa não está colocada no desenvolver o refi- namento174, mas sim na reeducação de si mesmo e de seu gosto. - Ou, caso houvesse dois artistas, e o primeiro dissesse: “Viajei muito e já vi muita coisa pelo mundo, mas procurei em vão encontrar um homem que merecesse ser retratado, não encontrei nenhum rosto que fosse a tal ponto a imagem perfeita da beleza, para que eu pudesse decidir-me a desenhá-lo, em cada rosto vi uma ou outra pequena falha, por isso procurei em vão”. - Seria um sinal de que este artista era o grande artista? E o outro artista ao contrário dissesse: “Ora, eu nem me considero propriamente como um artista, eu nem mesmo empreendi viagens pelo estrangei- ro, mas para ficar no pequeno círculo de pessoas que me estão mais próximas, aí não encon- trei um único rosto tão insignificante ou tão cheio de defeitos que eu não pudesse afinal de contas encontrar um lado mais belo e descobrir algo de transfigurado nele; por isso me ale- gro com a arte que exerço, e que me satisfaz, sem que eu levante a pretensão de ser artista”. - Não seria isto um sinal de que justamente este era o artista, este que ao trazer algo de es- pecial consigo, logo em seguida encontrava aquilo que o artista viajado não encontrara em nenhum lugar do mundo, talvez porque não trazia um ‘algo mais’ consigo! Portanto, o se- gundo dos dois era o artista. E também não seria triste se aquilo que está determinado para embelezar a vida só pudesse existir como uma maldição sobre ela, de modo que “a arte”, em vez de embelezar-nos a vida apenas descobrisse, com desdém175 que nenhum de nós é belo? E ainda mais triste e ao mesmo tempo ainda mais confuso se o amor também só pu- desse ser uma maldição, pois sua exigência somente conseguia manifestar que ninguém de nós mereceria ser amado, em vez de o amor ser reconhecido justamente no fato de que ele tem amor suficiente para poder achar algo de amável em todos nós, e portanto teria amor bastante para poder amar-nos a todos.

Constitui uma triste inversão, todavia demasiado generalizada, que se fale sempre e sempre de novo de como o objeto do amor deveria ser, para que pudesse ser merecedor de

173 kræsent 174 Kræsenhed 175 kræsent

amor, em vez de se falar de como o amor deve ser para poder ser o verdadeiro amor. Está generalizada não somente na vida cotidiana, oh, mas quão freqüentemente se vê que até al- guém que se chama de poeta coloca todo o seu mérito num preciosismo refinado, efemina- do, distinto, que, em relação com o amar, só sabe de maneira desumana rejeitar e rejeitar, assume por sua tarefa a este respeito iniciar os homens em todos os segredos repugnantes do preciosismo. Como é que alguém pode ter vontade de fazer assim, como é que muitos são tão inclinados assim, tão curiosos por aprender, isto é, por receber um conhecimento que propriamente só serve para amargurar a vida deles e dos outros! Pois afinal, de quanta coisa nesta vida não vale que, se não se viesse a sabê-lo, se acharia tudo belo ou pelo menos mais belo. Mas quando se é iniciado na contaminação da mania de achar tudo ruim176, co- mo é difícil conquistar o que se perdeu, o dote da benevolência, do amor, que Deus, no fun- do, conferiu a cada homem!

Mas se ninguém mais pode ou quer, pelo menos um apóstolo sempre saberá guiar- nos pelo caminho certo neste ponto, o caminho certo que tanto nos leva a fazer o que é cor- reto para com os outros quanto nos faz felizes. Então escolhemos uma palavra do Apóstolo João: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, e odeia seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” Queremos fazer desta palavra o objeto de nossa consideração, enquanto, alegres com a tarefa, escolhemos comentar

o dever de amar as pessoas que nós vemos,

mas não no sentido de que se tratasse de amar a todos os homens que vemos, pois este é o amor ao próximo que antes já foi analisado, mas ao contrário, no sentido de que aqui se tra- ta do dever de encontrar no mundo da realidade aqueles a quem podemos amar em especial, e em amando-os amar a todos os homens que vemos. Com efeito, se este é o dever, então a tarefa não consiste em: encontrar - o objeto amável; porém a tarefa consiste em: achar dig- nos de amor - os objetos uma vez dados ou escolhidos, e em poder continuar achando-os amáveis, por mais que eles se transformem.

Queremos porém primeiramente levantar uma pequena dificuldade com relação à palavra apostólica recém citada, uma dificuldade que a argúcia terrena, talvez até convenci- da de sua sagacidade, poderia lembrar-se de fazer, quer ela o faça realmente ou não. Quan- do o Apóstolo diz: ‘Quem não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?: aí o arguto poderia objetar que esta seria uma formulação do pensamento engana- dora, pois quanto ao irmão, a quem ele vê, exatamente por isso pode assegurar-se de que ele não é digno de ser amado, mas como se deveria daí (do fato de que ele não ama a alguém que, como ele viu, não merecia ser amado) poder concluir, que por isso ele estaria impedido de amar a Deus, a quem ele não vê? E no entanto o Apóstolo acredita que neste caso há um impedimento para uma tal pessoa amar a Deus, embora com a expressão ‘seu irmão’ certa- mente ele não se refira em especial a um homem bem determinado, e sim em geral ao amar as pessoas. O Apóstolo crê que há uma objeção divina que se coloca contra a credibilidade de uma tal declaração humana que pretende amar o invisível, quando se mostra que esta pessoa não ama os que são visíveis, enquanto que justamente poderia parecer o fruto de uma paixão tão exaltada pretender exprimir que só se ama o Invisível, ao não amar nada de visível. Há uma objeção divina que protesta contra a paixão exaltada177 em relação ao amor a Deus, pois é exaltação, mesmo que não seja hipocrisia, querer assim amar o Invisível. A coisa é bem simples. O homem deve começar por amar o Invisível, Deus, pois assim ele mesmo aprenderá o que significa amar; mas que ele ame realmente o Invisível, deve justa- mente reconhecer-se no amor que ele tiver ao irmão, que ele vê; quanto mais ele ama o In- visível, tanto mais há de amar as pessoas, a quem ele vê. E não é o contrário: que quanto mais ele rejeita aqueles a quem vê, tanto mais ele ama o Invisível, pois neste caso Deus se transformaria em algo de irreal, num fantasma. Numa tal ilusão só pode cair um hipócrita ou um impostor, para buscar pretextos, ou alguém que dá uma explicação errada de Deus, como se Deus fosse invejoso178 de si mesmo e do amor que lhe é votado, em vez de dizer que o Deus bendito é misericordioso179, e por isso sempre como que desvia de si mesmo dizendo: “se queres me amar, então ama as pessoas que vês, o que fizeres para elas estarás

177 Sværmeri: exaltação romântica ou fanática. (N. T.) 178 misundelig

fazendo para mim”. Deus é elevado demais para poder receber diretamente um amor huma- no, para nem falarmos de comprazer-se com aquilo que agrada a um amante fanático. Quando alguém chama de ‘Corban’ (Mc 7, 11) a oferta com que poderia auxiliar seus pais, destinando-a assim só a Deus, isto não agrada a Deus. Se queres mostrar que ela está desti- nada a Deus, então distribui-a mas com o pensamento em Deus. Se queres mostrar que tua vida está destinada a servir a Deus, então dedica-te a servir aos homens, mas sempre com o pensamento voltado para Deus. Deus não participa da existência de maneira a exigir para si o seu quinhão; Ele exige tudo, mas quando tu o trazes, imediatamente recebes, por assim dizer, o endereço aonde deves entregar; pois Deus não exige nada para si, embora Ele exija tudo de ti. - Assim é que a palavra do Apóstolo, corretamente compreendida, leva justamen- te ao objeto de nosso discurso.

Já que o dever consiste em amar os homens que nós vemos, então antes de mais na-

da devemos renunciar a todas as representações fantásticas e exaltadas de um mundo de sonhos, onde o objeto do amor tivesse de ser procurado e achado, isto é, temos de nos tor- nar sóbrios, conquistar a realidade efetiva e a verdade encontrando e permanecendo no mundo da realidade, como sendo a tarefa assinalada a cada um de nós.

O mais perigoso de todos os subterfúgios a respeito do amor consiste em querer uni- camente amar o invisível ou aquilo que não se viu. Este subterfúgio voa tão alto que acaba por sobrevoar completamente a realidade efetiva, ele é tão inebriante que por isso facilmen- te tenta e facilmente convence a si mesmo de ser a mais suprema e a mais perfeita forma de amor. Embora seja raro, decerto, que um homem se atreva a falar mal do amor, tanto mais comum, por outro lado, é a ilusão com a qual os homens se enganam a si mesmos quanto a alcançarem realmente amar, justamente porque eles falam de maneira demasiado exaltada do amar e do amor. Isto tem uma razão muito mais profunda do que se pensa, senão a con- fusão não poderia ter-se fixado tão fortemente como o fez, a confusão de os homens chama- rem de infelicidade aquilo que constitui uma culpa: não encontrar nenhum objeto do amor, com o que eles então adicionalmente se impedem a si mesmos de encontrá-lo; pois se per- cebessem primeiro que isso constitui uma culpa deles, então eles o encontrariam. Em geral

a representação que se tem do amor é a de um olhar bem aberto da admiração que procura

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