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“TU” DEVES AMAR O PRÓXIMO

No documento As obras do amor.pdf (páginas 67-97)

Vai então e faz assim, manda embora a diferença e a sua igualdade, para que possas amar o próximo. Manda embora a diferença da predileção, para que possas amar o próximo. Tu não deves deixar por isso de amar teu amado, longe disso. Pois então também a palavra “o próximo” seria o maior dos enganos que jamais se inventou, caso tu, para amar ao pró- ximo, devesses iniciar por deixar de amar aqueles por quem tu tens uma predileção. Além disso, também seria uma contradição, pois, dado que o próximo é todo homem, ninguém pode ser excluído - deveríamos então dizer: muito menos o amado? Não, pois esta é a lin- guagem da predileção. Portanto, é apenas a predileção que deve ser mandada embora - e é claro que não deveria ser reintroduzida em favor do próximo, de modo que tu, numa retor- cida preferência, houvesses de amar o próximo em detrimento da pessoa amada. Não, assim como se diz ao solitário: toma cuidado contigo, para não caíres na armadilha do egoísmo, assim também se tem de dizer ao par enamorado: prestem atenção para que justamente este amor não os leve para a armadilha do egoísmo. Pois quanto mais decidida e exclusivamente a predileção se liga a uma pessoa única, tanto mais longe está de amar ao próximo. Esposo, não exponhas a tua mulher à tentação de esquecer, por amor de ti, o amor ao próximo; es- posa, não coloques teu marido nesta tentação! Os amantes sempre acreditam ter em seu amor o máximo, oh, mas não é assim, pois aí eles ainda não têm o eterno assegurado pelo eterno. É claro que o poeta prometerá aos amantes a imortalidade, se forem verdadeiros amantes; mas quem é afinal o poeta, que adianta a garantia daquele que nem pode garantir por si mesmo? A “lei real”, ao contrário, o mandamento do amor, promete a vida, a vida eterna, e esse mandamento diz justamente “tu deves amar o teu próximo”. E como este

mandamento quer ensinar a cada homem como deve amar a si mesmo, assim também quer ensinar ao amor natural e à amizade o verdadeiro amor: conserva em teu amor a ti mesmo o amor ao próximo, conserva no amor apaixonado e na amizade o amor ao próximo. Isso tal- vez te choque - ora, bem sabes que o essencialmente cristão vem sempre acompanhado da marca do escândalo. Mas acredita mesmo assim; não creias que aquele Mestre, que não apagava a mecha ainda fumegante, haveria de apagar um nobre fogo num homem; acredita que Ele, que era amor, quer justamente ensinar cada homem a amar; acredita que se todos os poetas se unissem num hino de louvor ao amor e à amizade, o que eles teriam a dizer na- da seria em comparação com o mandamento “Tu deves amar, tu deves amar ao teu próximo como a ti mesmo!” Não cesses de crer só porque o mandamento quase te escandaliza, só porque esse discurso não soa tão lisonjeiro como o do poeta, que com seu canto se insinua em tua felicidade, porém repele e aterroriza, como se quisesse arrancar-te do amado refúgio da predileção - não cesses de crer, reflete que justamente porque o mandamento é assim e o discurso é assim, justamente por isso seu objeto pode ser objeto de fé. Não te entregues à ilusão de que poderias negociar, que amando algumas pessoas, parentes e amigos, amarias o próximo - pois isso significaria abandonar o poeta sem alcançar o essencialmente cristão, e justamente para impedir-te este regatear é que o discurso procurava colocar-te entre o orgu- lho do poeta que execra toda barganha e a majestade real do mandamento real, que trans- forma em culpa todo pechinchar. Não, ama a pessoa amada fielmente e com ternura, mas deixa o amor ao próximo ser aquilo que santifica o pacto com Deus da união de vocês; ama teu amigo sinceramente e com dedicação, mas deixa o amor ao próximo ser aquilo que lhes ensina na amizade de um pelo outro a familiaridade com Deus! Vê que a morte abole todas as diferenças, mas a predileção se refere sempre à diferença, contudo, o caminho para a vida e para o eterno passa pela morte e pela abolição das diferenças: é por isso que só o amor ao próximo leva verdadeiramente à vida. Como a boa nova do Cristianismo está contida na doutrina do parentesco dos homens com Deus, assim constitui a sua missão a igualdade dos homens com Deus. Mas Deus é amor, por isso só podemos nos assemelhar a Deus amando, assim como também só podemos ser, segundo as palavras de um Apóstolo, “colaboradores de Deus no - amor”. Enquanto amas o amado não te assemelhas a Deus, pois para Deus não há nenhuma predileção, coisa que em tua meditação muitas vezes te humilhou, mas também

muitas vezes te reanimou. Enquanto amas teu amigo não te assemelhas a Deus, pois para Deus não há diferenças. Mas quando amas ao próximo, aí tu és como Deus.

Portanto, vai, e faze o mesmo, manda embora as diferenças, para que possas amar o próximo. Ai, talvez nem seja preciso dizer isto para ti, talvez não tenhas encontrado no mundo uma pessoa amada, nenhum amigo no teu caminho, de modo que andas sozinho; ou talvez Deus tirou de teu flanco e te deu a amada, mas a morte a levou e a tirou de teu lado, tomou de novo e levou teu amigo, de modo que agora andas sozinho, de modo que não tens uma pessoa amada para cobrir o teu lado fraco e nenhum amigo à tua direita; ou talvez a vida tenha separado vocês, embora vocês tenham permanecido inalterados - na solidão da separação; ai, talvez a mudança tenha separado vocês, de modo que andas triste na solidão, porque tu encontraste, mas depois encontraste alterado quem tinhas encontrado! Que des- consolo! Sim, pergunta só ao poeta, quão sem consolo é viver sozinho, ter vivido solitário, sem ser amado e sem ter alguém como seu amado; pergunta só ao poeta se ele sabe alguma outra coisa senão que é sem consolo quando a morte se atravessa entre os amantes, ou quando a vida separa um amigo do outro, ou quando a mudança os separa um do outro co- mo inimigos; pois certamente o poeta ama a solidão, ela a ama, para na solidão descobrir a felicidade ausente do amor e da amizade, assim como aquele que procura um lugar obscuro para contemplar com admiração as estrelas. E contudo, se foi sem culpa própria que um ser humano não encontrou nenhuma pessoa amada; e se ele procurou, mas, sem culpa própria, em vão, encontrar um amigo; e se a perda, a separação, a mudança não foi por culpa dele: neste caso, o poeta sabe dizer alguma coisa além de que é um desconsolo? Mas então é o próprio poeta que sofre modificação, quando ele, o pregador da alegria, no dia da dificulda- de não tem outra coisa a apresentar do que gritos de lamentação da desolação. Ou não que- res chamar isso de modificação, queres chamar de fidelidade do poeta o fato de ele - deso- lado entristecer-se com os que se entristecem desolados: muito bem, não vamos brigar so- bre isso. Mas se quiseres comparar esta fidelidade humana com a do céu e da eternidade, então tu mesmo terás de conceder que ela constitui uma modificação. Pois o céu não apenas se alegra, mais do que qualquer poeta, com o alegre, e o céu não apenas se entristece com o triste, não, o céu tem alegrias novas, mais felizes, à disposição daquele que está triste. Deste

modo, o Cristianismo tem sempre consolo, e seu consolo se distingue de todo consolo hu- mano porque este está consciente de ser apenas uma compensação para a perda da alegria: o consolo cristão é a alegria. Em termos humanos, a consolação é uma descoberta bastante tardia: primeiro vêm o sofrimento e a dor e a perda da alegria, e então, depois disso, ai, de- pois de muito tempo o homem encontrou as pegadas da consolação. E vale o mesmo para a vida do indivíduo: primeiro vêm o sofrimento e a dor e a perda da alegria, e então, depois disso, ai, depois de muito tempo vem o consolo. Mas da consolação cristã não se pode dizer que ela vem depois, pois dado que ela é a consolação da eternidade, ela é anterior a qual- quer alegria temporal; tão logo este consolo chega, chega com o adiantamento da eternidade e engole, por assim dizer, a dor, pois a dor e a perda da alegria são o momentâneo - mesmo que este momento durasse anos - são o instantâneo, que se afoga na eternidade. E o consolo cristão não é, de modo algum, uma espécie de compensação pela perda da alegria, pois ele é a alegria; toda outra alegria não deixa de ser, em última análise, apenas desolação em com- paração com a consolação do Cristianismo. Ai, tão perfeita não era e não é a vida do ho- mem na terra, que a alegria da eternidade pudesse ser-lhe anunciada como a alegria que ele teve e ele mesmo perdeu; daí resulta que a alegria da eternidade só possa ser-lhe anunciada como consolo. Como o olhar humano não agüenta ver a luz do sol a não ser através de um vidro escuro: assim também o homem não pode de maneira alguma suportar a alegria da eternidade a não ser através da opacidade de sua proclamação como consolo. - Portanto, qualquer que tenha sido teu destino quanto ao amor humano e à amizade, qualquer que te- nha sido a ausência, qualquer que seja tua perda, qualquer que seja o desconsolo que com- partilhas com o poeta: o máximo ainda está por vir: ama o próximo! É fácil para ti encon- trá-lo, como ficou provado; a ele tu podes absolutamente sempre encontrar, como ficou demonstrado; a ele não podes jamais perder. Pois a pessoa amada pode agir de tal maneira contra ti, que se perde, e tu podes perder um amigo; mas por mais coisas que o próximo fa- ça contra ti, tu não podes perdê-lo jamais. É bem verdade, tu podes também continuar a amar o amado e o amigo, não importa o que eles façam para ti, mas não podes em verdade continuar a chamá-los de amado e amigo se eles, infelizmente, se tiverem modificado com- pletamente. O próximo, ao contrário, nenhuma mudança pode roubá-lo de ti, pois não é o próximo que te segura, mas sim é o teu amor que segura o próximo; se o teu amor para com

o próximo se mantiver inalterado então o próximo permanecerá inalteradamente presente. E a morte não pode roubar-te o próximo, pois se ela te tirar um, a vida em seguida te dará de novo um outro. A morte pode roubar-te um amigo, porque no amor ao amigo tu estás unido com ele; mas no amor ao próximo tu estás unido com Deus, e por isso a morte não pode roubar-te o próximo. - Portanto, se tiveres perdido tudo no amor e na amizade, ou se jamais tiveres possuído algo desta sorte: tu conservas contudo no amor ao próximo o que há de melhor.

Pois o amor ao próximo tem as perfeições da eternidade. Será então acaso uma per-

feição do amor que o seu objeto seja o mais excelente, o notável, o único? Eu achava que esta seria uma perfeição do objeto, e eu veria a perfeição do objeto como uma sutil descon- fiança quanto à perfeição do amor. Será uma propriedade excelente de teu amor, se ele só consegue amar o extraordinário, o raro? Eu achava que seria uma perfeição do extraordiná- rio e do raro o fato de serem o extraordinário e o raro, mas não do amor. E tu não és da mesma opinião? Pois nunca pensaste a respeito do amor de Deus? Caso fosse uma vanta- gem amar o extraordinário, então Deus estaria, se ouso dizer, num aperto, pois para ele o extraordinário não existe. A vantagem de só poder amar o extraordinário é portanto antes como que uma acusação, não contra o extraordinário, e de jeito nenhum contra o amor, mas contra aquele amor que só pode amar o extraordinário. Ou será uma vantagem para a saúde mimada de um homem que ele só possa sentir-se bem num único lugar do mundo, cercado de todos os favorecimentos? Quando vês um homem que se instalou assim na vida, o que é que tu elogias? Decerto que o conforto do arranjo. Mas não percebeste que a coisa é real- mente assim que cada palavra de teu elogio sobre esta situação magnífica soa propriamente como um escárnio sobre o coitado que só é capaz de viver num tal ambiente? Portanto, a perfeição do objeto não é a perfeição do amor. E justamente porque o próximo não tem ne- nhuma das perfeições que têm em tão alto grau o amado, o amigo, a pessoa admirada, o su- jeito culto, o tipo excepcional, o extraordinário, é justamente por isso que o amor ao próxi- mo tem todas as perfeições, que não tem o amor ao amado, ao amigo, ao culto, ao admira- do, ao excepcional e ao extraordinário. Deixemos que o mundo discuta quanto quiser sobre qual dos objetos do amor é o mais perfeito: sobre uma coisa jamais se poderá disputar: que

o amor ao próximo é o amor mais perfeito. Toda outra forma de amor tem por isso também a imperfeição de enfrentar-se com duas questões e nesse sentido possuir alguma duplicida- de: primeiro vem a questão sobre o objeto, e depois a questão sobre o amor, ou há, afinal, a pergunta sobre ambos: o objeto e o amor. Mas no que tange ao amor ao próximo há apenas uma única questão, a sobre o amor, e só há uma única resposta da eternidade: a do amor; pois este amor ao próximo não se relaciona como uma espécie a outras espécies de amor. O amor natural é definido pelo objeto, a amizade é definida pelo objeto, só o amor ao próximo é definido pelo amor. Dado que o próximo é qualquer homem, incondicionalmente qual- quer homem, todas as diferenças ficam sem dúvida excluídas do objeto, e este amor portan- to é reconhecível justamente pelo fato de que seu objeto é sem nenhuma outra diferenciação de determinações ulteriores, o que quer dizer que este amor só se reconhece pelo amor. Não será esta a suprema perfeição? Pois na medida em que o amor possa ser reconhecido e deva ser reconhecido por alguma outra coisa, então esta outra coisa, na mesma relação, é como que uma desconfiança frente ao amor, no sentido de que este não é suficientemente abran- gente e neste sentido de modo algum eternamente infinito; esta outra coisa é uma predispo- sição à morbidez, inconsciente ao amor. Nesta desconfiança se esconde portanto o medo que pode inflamar o ciúme, o medo que pode trazer o desespero. Mas o amor ao próximo dispensa a desconfiança da relação, e por isso não pode de modo algum tornar-se desconfi- ança frente ao amado. Contudo este amor não é orgulhosamente independente de seu obje- to, sua igualdade de tratamento74 não provém do fato de o amor voltar-se orgulhosamente para dentro de si com indiferença75 frente ao objeto; não, a igualdade deriva-se do fato de o amor voltar-se humildemente para fora, abrangendo a todos, e contudo amando a cada um em particular, mas a ninguém exclusivamente.

Pensemos sobre o que foi analisado no discurso precedente: que o fato de o amor num homem ser para ele uma necessidade, uma exigência, é expressão de riqueza. Quanto mais profunda portanto for esta necessidade, tanto maior a riqueza; se a necessidade é infi- nita, então a riqueza também o é. Ora, quando a necessidade do amor num homem o impele a amar uma única pessoa, então, embora concedendo que esta necessidade é uma riqueza, é

preciso dizer, contudo, que ele necessita desta pessoa. Se, ao contrário, a necessidade do amor num ser humano o impele a amar a todos, aí então esta é uma necessidade, e ela é tão poderosa que é como se ela mesma quase pudesse produzir o seu objeto. A ênfase no pri- meiro caso situa-se na particularidade do objeto, e no segundo caso situa-se na essenciali- dade da necessidade76, e somente neste último sentido a necessidade é expressão de riqueza; e somente no último caso a necessidade e o objeto se relacionam igualmente um para o ou- tro num sentido infinito, pois o próximo é o primeiro que aparecer, é todo e qualquer ho- mem, ou não existe nenhum objeto num sentido especial, enquanto que no sentido infinito todo e qualquer homem é objeto deste amor. Quando alguém sente necessidade de falar com uma única e determinada pessoa, então necessita propriamente desta pessoa; mas quando a sua necessidade de falar é tão grande que ele precisa falar ainda que a gente o co- locasse no deserto abandonado ou num cárcere solitário, quando a necessidade é tão grande que qualquer homem é para ele a pessoa com quem deseja falar: aí a necessidade é uma ri- queza. E aquele, em quem existe o amor ao próximo, nele o amor ao próximo é uma neces- sidade, a mais profunda; ele não necessita dos homens para ter de qualquer maneira alguém para amar, mas ele tem necessidade de amar os homens. Contudo, não há orgulho nem alti- vez nessa riqueza, pois Deus é a determinação intermediária, e o “deves” da eternidade compromete e dirige a necessidade poderosa, para que ela não se perca e se transforme em orgulho. Mas no objeto não há limites, pois o próximo é todos os homens, incondicional- mente todo e qualquer homem.

Aquele que verdadeiramente ama o próximo, ama portanto também seu inimigo. Es- ta diferença “amigo e inimigo” é uma diferença no objeto do amor, mas o amor ao próximo tem afinal de contas o objeto que não tem diferenças, o próximo é a distinção completamen- te irreconhecível entre um homem e outro, ou é a eterna igualdade diante de Deus - esta igualdade o inimigo também tem. Crê-se que para um homem seja impossível amar seu inimigo, ai, pois afinal os inimigos nem suportam enxergar-se mutuamente. Pois bem, então fecha os olhos - e assim o inimigo se assemelhará inteiramente ao próximo; fecha os olhos e relembra o mandamento de que tu deves amar, e então tu amarás - teu inimigo, não, então

tu amarás o próximo, pois tu não verás mais que é o teu inimigo. Com efeito, quando fechas os olhos então não vês as diferenças da vida terrena, mas a inimizade é também uma das diferenças da vida terrena. E quando fechas os olhos, então o teu espírito não se dispersa nem se perturba no momento mesmo em que deves escutar a palavra do mandamento. Quando então o teu espírito não se perturba nem se distrai a olhar o objeto de teu amor e as diferenças do objeto, então tu te tornas todo ouvidos para a palavra do mandamento, como se ele falasse única e exclusivamente para ti, dizendo que “tu” deves amar o próximo. Vê, estás no caminho da perfeição para amar o próximo, quando teus olhos estão fechados e te tornaste todo ouvidos para o mandamento.

Aliás, isto também é verdade (o que já está contido no que antes foi analisado, onde se mostrava que o próximo é a determinação espiritual pura), o próximo nós só vemos com os olhos fechados, ou afastando o olhar das diferenças. O olhar sensível vê sempre as dife- renças e olha para as diferenças. Por isso a sabedoria mundana aconselha, a toda hora: “vê bem a quem tu amas”. Ai, se devemos verdadeiramente amar o próximo, então vale o se- guinte: acima de tudo, não procures olhar bem, pois esta sabedoria na relação para pôr à prova o objeto ocasionará precisamente que jamais consigas ver o próximo, pois ele é, co- mo sabemos, qualquer homem, todo e qualquer ser humano, tomado bem às cegas. O poeta despreza a cegueira observadora desta sabedoria que ensina que se deve ver bem a quem se vai amar; ele ensina que o amor torna cego; na opinião do poeta, o amante deve numa ma- neira enigmática e inexplicável encontrar seu objeto ou apaixonar-se ou assim tornar-se - cego pelo amor, cego para qualquer defeito, para qualquer imperfeição da pessoa amada, cego diante de qualquer outra coisa que não seja a pessoa amada - porém de certo não cego quanto ao ser ela a única em todo o mundo. Se é assim, certamente a paixão torna um ho- mem cego, mas ao mesmo tempo ela o torna muito clarividente para não confundir um ou- tro ser humano com este que é o único, ele o torna portanto cego em relação a este amado ao ensinar-lhe a fazer uma imensa diferença entre este único e todos os outros seres huma-

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