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NOSSO DEVER DE PERMANECER EM DÍVIDA DE AMOR UNS PARA COM OS OUTROS

No documento As obras do amor.pdf (páginas 182-200)

Rm 13, 8 Não tenhais nenhuma dívida para com quem quer que seja, a não ser a

de vos amardes uns aos outros.

De diferentes maneiras tentou-se caracterizar e descrever de que modo o amor é sen- tido por aquele em quem ele se encontra, o estado no amor, ou como é amar. Chama-se o amor um sentimento, um estado de ânimo, uma vida, uma paixão; contudo, dado que esta é uma determinação tão geral, tentou-se descrevê-lo com maior exatidão. Ele foi então cha- mado uma carência, porém, bem entendido, tal que o amante continuamente sente a falta do que ele aliás possui, uma saudade, mas, note-se bem, sempre daquilo que o amante já pos- sui - pois senão o que se estaria descrevendo seria de fato amor infeliz. - Aquele sábio sin- gelo da Antigüidade disse que “o amor é um filho de Riqueza e Penúria”. Quem seria então mais pobre do que aquele que nunca amou! Mas por outro lado, não é verdade que até o mais pobre de todos, que curvado recolhe migalhas e humildemente agradece por um tos- tão, não é verdade que ele propriamente tem ao menos uma noção de quão minúscula pode ser esta insignificância que para o amante tem valor infinito, quão minúscula pode ser esta insignificância que o amante (em sua penúria!) recolhe da maneira mais meticulosa e con- serva da maneira mais cuidadosa - como o mais precioso tesouro? Não é verdade que o mais miserável está em condições de ver o que pode ser tão minúsculo que somente o olhar aguçado da paixão (do amor em sua penúria!) enxerga, e enormemente aumentado? Mas quanto menor é o objeto que a penúria recolhe, quando então ela agradece por ele além de qualquer medida, como se fosse um objeto extraordinariamente grande, aí se mostra então

tanto mais fortemente a extensão da penúria. Nenhuma declaração sobre a mais extrema pobreza a demonstra de maneira tão decisiva como quando o pobre, a quem tu deste menos do que um único tostão, te agradece por isso com uma tal paixão, como se tu lhe tivesses dado riqueza e abundância, com uma paixão como se ele agora se tivesse tornado rico. Ai, pois é evidente demais que o pobre permaneceu essencialmente tão pobre como antes, de modo que só se tornou rico - em sua representação demente. Tão pobre é a penúria do amor! - Um homem nobre disse sobre o amor: “ele toma tudo e ele dá tudo”. Quem será que recebeu então mais do que aquele que recebeu o amor de um ser humano; e quem deu mais do que aquele que deu a um ser humano o seu amor! Mas por outro lado, será verdade que mesmo a inveja, quando da maneira mais invejosa despe a outra pessoa de sua grandeza real ou suposta, será que ela pode penetrar até o esconderijo mais recôndito? Oh, mas a in- veja é tão estúpida! ela nem suspeita onde poderia estar tal esconderijo, ou que é neste es- conderijo que o homem verdadeiramente rico ocultou seu verdadeiro tesouro; nem suspeita de que existe realmente um esconderijo à prova de arrombamentos por ladrões (e portanto também pela inveja), bem como que há um tesouro que os ladrões (e portanto também a inveja) não são capazes de roubar. Mas o amor pode penetrar até o mais íntimo e despir uma pessoa de tal maneira que ela nada, nada possua, de modo que ela mesma confesse que não possui nada, nada, nada. Mas que coisa estranha! A inveja acha que tira tudo, e quando o tiver tirado, o homem dirá: a rigor eu não perdi nada. Mas o amor pode tomar tudo de tal maneira que o próprio homem dirá: eu não possuo absolutamente nada.

Porém talvez se descreva mais corretamente o amor como uma dívida infinita: que um homem, quando é agarrado pelo amor, sente esta forma de ser como um estar numa dí- vida infinita. Em geral se diz que o que é amado contrai ao ser amado uma dívida. Assim também nós costumamos dizer que as crianças têm uma dívida de amor em relação aos pais, porque esses as amaram primeiro, de modo que o amor dos filhos é somente um des- conto da dívida, ou uma compensação. E isso também é verdade. Entretanto, tais ditos lem- bram demais uma verdadeira relação de cálculo: uma dívida foi contraída, e tem de ser amortizada em prestações; há um amor que nos foi demonstrado e este amor tem que ser pago com amor. Não é disso que agora falamos, de que ao sermos amados contraímos uma

dívida. Não, o que ama está numa dívida; na medida em que se sente tomado pelo amor, ele

sente isso como um estar numa dívida infinita. Que coisa maravilhosa! Dar a um ser huma- no o seu amor é afinal, como se disse, o máximo que um homem pode dar, - e contudo, jus- tamente na medida em que dá seu amor, e justamente ao dá-lo, ele contrai uma dívida infi- nita. Por isso pode-se dizer que a propriedade característica do amor consiste em que: o

amante, ao dar, infinitamente, contrai - uma dívida infinita. Mas esta é a relação da infini-

dade, e o amor é infinito. Ao dar dinheiro não se contrai, verdadeiramente, uma dívida, pelo contrário, aquele que recebe é que se torna devedor. Se, ao contrário, o amante dá o que in- finitamente é o máximo que um ser humano pode dar a um outro, o seu amor, então ele se torna infinitamente devedor. Que bela, que sagrada modéstia não traz consigo o amor; ele não somente não ousa convencer-se a tomar consciência de que sua obra teria algum mérito, mas tem pudor até de tomar consciência de sua obra como uma amortização da dívida; to- ma consciência de seu dar como de uma dívida infinita, que aliás é impossível de saldar, uma vez que o dar aqui significa sempre um tornar-se devedor.

Desta maneira se poderia descrever o amor. Contudo, o Cristianismo não se demora jamais nos estados ou na descrição deles, ele se apressa sempre por chegar à tarefa ou por colocar a tarefa. Esta tarefa está justamente expressa na palavra apostólica citada “não te- nhais nenhuma dívida para com quem quer que seja, a não ser a de vos amardes uns aos ou- tros”, palavra que queremos colocar como fundamento desta consideração:

Nosso dever de permanecer em dívida de amor recíproco.

Permanecer numa dívida! Mas seria isso difícil? Afinal, nada é tão fácil como ficar

devendo! E por outro lado, aqui a tarefa consistiria em permanecer em dívida, enquanto de resto achamos que a tarefa consiste justamente em sair fora da dívida: qualquer que seja a dívida, dívida de dinheiro, dívida de honra, dívida de uma promessa, em suma: de qualquer tipo que ela seja, a tarefa costuma de resto sempre ser que a gente o mais cedo possível saia dessa dívida. Mas aqui deveria ser a tarefa, portanto uma honra, permanecer nela! E na me- dida em que esta é a tarefa, tem de ser uma ação, talvez uma ação vasta e difícil; mas per-

manecer numa dívida é bem a expressão para não empreender a mínima coisa, a expressão para a ineficiência, a indiferença, a preguiça. E o mesmo deve ser aqui a expressão para o que há de mais oposto à indiferença, expressão do amor infinito!

Vê só, tudo isso, todas essas dificuldades singulares que como que assaltam este es- tranho discurso, indicam que o caso deve ter um contexto próprio, de modo que é sempre necessária uma reeducação de atitude e de espírito para ao menos tornar-se atento àquilo de que trata nosso discurso.

Comecemos com uma pequena hipótese. Suponhamos que um amante tivesse feito para a pessoa amada algo de, humanamente falando, tão extraordinário, tão magnânimo, com tanto espírito de sacrifício, que nós homens devêssemos dizer “isso é o máximo que um ser humano pode fazer por um outro” – isso certamente seria belo e bom. Mas digamos que ele acrescentasse “eis que agora paguei minha dívida”: não seria isto então um dito de- samoroso, frio e duro, não seria, se ouso dizer, uma indecência, que jamais deveria ser ou- vida e nunca jamais se ouvirá na boa companhia do verdadeiro amor?! Se, pelo contrário, o amante tivesse feito aquele ato magnânimo e pleno de sacrifício e aí acrescentasse “eu ainda tenho um único pedido, oh, deixa-me permanecer teu devedor”: não seria este um dito amo- roso?! Ou se o amante com cada sacrifício satisfaz o desejo da pessoa amada e então diz “para mim é uma alegria com isso descontar um pouquinho da dívida – na qual eu contudo ainda desejo permanecer”: não seria este um dito amoroso?! Ou se ele simplesmente calasse que isso lhe custava sacrifício, apenas para evitar a confusão que por um instante isto pu- desse parecer como um desconto da dívida; não seria este um pensamento amoroso?! Assim sendo, exprime-se de fato que a relação propriamente contábil é inconcebível, para o amor é o que há de mais abominável. Uma contabilidade só pode ter lugar onde há uma relação fi- nita, porque a relação do finito com o finito deixa-se calcular. Mas aquele que ama não po- de calcular. Quando a mão esquerda nunca fica sabendo o que a direita faz, então é impos- sível realizar a contabilidade, e do mesmo modo quando a dívida é infinita. Fazer contabili- dade com uma grandeza infinita é impossível, pois calcular é exatamente tornar finito. - O amante deseja portanto por sua própria causa permanecer na dívida; não deseja dispensa de

nenhum sacrifício, longe disso! Disposto, indescritivelmente bem disposto como é o inci- tamento do amor, ele quer tudo fazer e não teme senão que assim pudesse fazer tudo e li- quidasse sua dívida. Este é, corretamente compreendido, o temor; permanecer em dívida é o desejo, mas é além disso o dever, a tarefa. Se o amor em nós homens não é tão perfeito a ponto de este desejo ser o nosso desejo, então o dever nos ajudará a permanecer em dívida.

Quando é dever permanecer na dívida do amor reciprocamente, então a todo mo-

mento é preciso vigiar que o amor jamais venha a demorar-se em si mesmo, ou a compa- rar-se com o amor em outros homens, ou a comparar-se com suas obras, que ele efetuou.

Ouve-se no mundo seguidamente um discurso entusiasmado e inflamado sobre amor, sobre fé e esperança, sobre bondade do coração, em resumo, sobre todas as determi- nações espirituais, um discurso que, nas expressões mais ardentes, com as cores mais arden- tes, descreve e arrebata. Contudo, um tal discurso, a rigor, não passa de uma fachada pinta- da, ele é, a uma verificação mais próxima e mais séria, um engano, dado que tem de lison- jear o ouvinte ou escarnecer dele. Às vezes se ouvem também exposições cristãs cujo intei- ro segredo está naquele entusiasmo fraudulento, quando consideradas como discurso e ori- entação. Com efeito, quando um tal discurso é ouvido e aí pergunta uma pessoa bem sim- ples e honesta (pois é justamente honestidade querer agir de acordo com o que nos é dito, querer dispor nossa vida de acordo com isso): “O que devo então fazer, de que modo con- seguir que o amor se inflame assim em mim?”: então o palestrante propriamente terá de responder: “Esta é uma pergunta estranha; aquele, em cujo coração estão o amor e a fé e a esperança e a bondade do coração, nele elas se encontram da maneira descrita, mas não adi- anta nada falar para aquele em quem elas não estão”. Estranho! Pois acreditar-se-ia que fos- se de especial importância que se falasse para aquele que ainda não é assim – a fim de que este pudesse se tornar assim. Mas eis aí justamente o aspecto fraudulento na ilusão: falar, como se se pretendesse orientar as pessoas, e depois ter de confessar que só se é capaz de falar sobre aquelas que não precisam de nenhuma orientação, porque elas já são tão perfei- tas como o discurso o descrevia. Mas então para quem se fala, quem é então que deve tirar

proveito deste discurso, que tem no máximo alguns indivíduos sobre os quais fala – se é que de fato existem alguns?

Mas seria esta fútil poesia ainda Cristianismo? Então teria sido um erro do Cristia- nismo primitivo que no discurso sobre a justiça e a pureza se dirigisse constantemente aos pecadores e cobradores de impostos, os quais afinal não são justos! Então o Cristianismo, ao invés de falar de maneira tão mordaz sobre os justos que não necessitam de conversão, deveria, isto sim, mais corretamente ter-se enfeitado para apresentar-se como um elogio so- bre os justos! Mas se isso devesse ser feito, não só o Cristianismo ficaria sem ninguém a quem se dirigir, ai, ficaria absolutamente sem ninguém sobre quem falar, ou seja, assim o Cristianismo se reduziria ao silêncio. Não, um discurso elogioso é a última coisa que o Cristianismo jamais quis ser, e jamais se ocupou com descrever ou ficar imaginando como um homem afinal de contas é; jamais fez uma distinção entre os homens, de modo que só conseguisse falar dos que afinal têm tal sorte de ser tão amorosos. O Cristianismo começa dizendo imediatamente o que qualquer ser humano deve chegar a ser. É por isso que se chama o Cristianismo de uma orientação, e com razão; pois ninguém perguntará em vão a Cristo, que é o caminho, ou à Escritura, que é a orientação, o que deve fazer: pois o que perguntar sabê-lo-á imediatamente – se ele mesmo o quiser.

Isso para prevenir o mal-entendido. Todo aquele que não quer compreender o dis- curso sobre o que se deve fazer em relação ao amor, - que na verdade há muito, ou melhor, tudo por fazer tanto para adquiri-lo quanto para conservá-lo, - colocou-se fora do Cristia- nismo, é um pagão que admira aquilo que depende da sorte, portanto, o casual, mas justa- mente por isso tateia na escuridão. Ou será que fica tanto mais claro ao redor de alguém quanto mais fogos fátuos dançarem em suas mão?

Há portanto algo a fazer, e o que deve agora ser feito para permanecer na dívida de gratidão uns para com os outros? Quando um pescador apanhou um peixe, e deseja conser- vá-lo vivo, que deve então fazer? Tem de colocá-lo imediatamente na água, caso contrário o peixe se debilita e morre após o transcurso de um tempo mais longo ou mais curto. E por

que deve colocá-lo na água? Porque água é o elemento do peixe, e tudo o que deve ser con-

servado vivo tem de ser conservado em seu elemento; porém o elemento do amor é infini-

dade, inesgotabilidade, imensidade. Se queres portanto conservar teu amor, então precisas prestar atenção que ele, apanhado para a liberdade e para a vida, graças à infinidade da dí- vida, permaneça constantemente em seu elemento, caso contrário adoecerá e morrerá – não após o transcurso de um tempo mais longo ou mais curto, pois morre imediatamente, o que é justamente um sinal de sua perfeição: que ele só possa viver na infinidade.

Que o elemento do amor é infinidade, inesgotabilidade, imensidade, certamente ninguém negará, e também é fácil de percebê-lo. Supõe – afinal podemos supô-lo – que um serviçal ou uma pessoa cujo trabalho e incômodo podes pagar, realize para ti exatamente a mesma coisa que aquele que te ama, de modo que entre o resultado dos atos deste e dos do serviçal não haja a mínima diferença que a inteligência possa descobrir; contudo, mesmo assim há aí uma diferença infinita, uma imensa diferença. Com efeito, num dos casos há sempre um acréscimo que, bem estranhamente, tem um valor infinitamente maior do que aquilo com que se relaciona enquanto acréscimo. Mas este é justamente o conceito de “infi- nidade”! Em tudo o que faz por ti aquele que ama, na mínima insignificância como no mai- or dos sacrifícios, ele sempre coloca junto o amor, e com isso o mínimo serviço, para o qual no caso de um serviçal nem verias valor que se levasse em conta, torna-se imenso. - Ou imagina que a um homem ocorresse a idéia de querer experimentar se ele, sem amar a outra pessoa e contudo só porque ele o quisesse (portanto, por razões de experimentação – não por razões de obrigação), poderia ser, como dizemos, tão inesgotável nos sacrifícios, nos serviços, nas expressões de dedicação como aquele outro que amava esta mesma pessoa: verás facilmente que ele não o conseguirá, pelo contrário, permanece uma diferença imensa entre os dois. O que realmente ama tem sempre uma vantagem, e uma vantagem infinita; pois cada vez que o outro tiver fundamentado, calculado, inventado uma nova expressão de dedicação, o que ama já a terá realizado, porque o que ama não precisa de cálculos, e tam- bém não desperdiça nenhum instante com cálculos.

Mas o estar e permanecer numa dívida infinita é exatamente uma expressão para a infinidade do amor, de modo que este ao permanecer na dívida permanece no seu elemento. Há aqui uma relação recíproca, mas infinita de ambas as partes. Num dos casos é a pessoa amada que em cada expressão de amor do amado compreende amorosamente a imensidade; no outro caso é o amante que sente a imensidade, porque reconhece que a dívida é infinita: é uma e a mesma coisa, que é infinitamente grande e infinitamente pequena. O objeto do amor confessa amorosamente que o amante com o seu mínimo faz infinitamente mais do que todos os outros com todos os sacrifícios supremos; e o amante confessa a si mesmo que com todos os sacrifícios possíveis ainda faz infinitamente menos do que ele percebe ser a sua dívida. Que maravilhosa troca delas por elas neste infinito! Oh, os sábios se orgulham do cálculo do infinito, mas aqui está a pedra da sabedoria: a mais ínfima das expressões é infinitamente maior do que todos os sacrifícios, e todos os sacrifícios infinitamente menos do que o mínimo quando se trata de descontar a dívida.

Mas o que pode então levar o amor a sair fora de seu elemento? Quando o amor se

demora junto a si mesmo, está fora de seu elemento. O que quer dizer demorar junto a si

mesmo? É tornar-se objeto para si mesmo. Mas um ob-jeto é sempre algo perigoso quando se trata de mover-se para a frente; um ob-jeto é como um ponto fixo finito, como limite e ponto de parada, uma coisa perigosa para a infinidade. Com efeito, no infinito não pode ocorrer que o amor se torne objeto para si mesmo, neste ponto não haveria perigo. Pois infi-

nitamente ser para si mesmo o seu objeto significa permanecer na infinidade, e nesta medi-

da apenas existir ou continuar a existir, dado que o amor é um redobramento em si mesmo, assim como a singularidade da vida natural é diferente do redobramento do espírito. Portan- to, quando o amor se demora junto a si mesmo, isso tem de ser em uma de suas expressões particulares, que ele se torne objeto para si mesmo, ou que um outro amor especial se torne o objeto, o amor nesta pessoa e o amor naquela pessoa. Quando o objeto é destarte um obje- to finito, o amor se demora junto a si; pois demorar-se junto a si infinitamente significaria justamente mover-se. Mas quando o amor se demora junto a si num sentido finito, tudo está perdido. Imagina uma flecha que voa, como se diz, rápido como uma flecha; imagina que num momento lhe ocorresse querer demorar-se junto a si mesma, quiçá para ver quão longe

tinha ido, ou quão alto estava flutuando em relação à terra, ou de que modo seu percurso se relacionava com o de uma outra flecha que também estaria voando rápido como uma fle- cha: no mesmo segundo a flecha cairia ao chão.

Assim também ocorre com o amor, quando ele se demora num sentido finito junto a si mesmo ou se torna objeto para si mesmo, o que, definido mais exatamente, designa a

comparação. Comparar-se a si mesmo num sentido infinito o amor não consegue, pois infi-

nitamente ele se parece tanto consigo mesmo que isto apenas quereria dizer que ele é ele mesmo; na comparação infinita não há um terceiro, trata-se de um redobramento, portanto não há uma comparação. De toda e qualquer comparação faz parte o terceiro, junto com a igualdade e a desigualdade. Quando não há nenhum demorar-se, não há nenhuma compara- ção, quando não há nenhuma comparação não há absolutamente nenhum demorar-se.

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