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competente do lugar em que ele estiver, quando o senhor do escravo forem seguimento dele para havê-lo do território argentino; mas a entrega não poderá efetuar-se sem ordem do governador da província.

4ª A reclamação de que se trata deverá ser acompanhada de título ou documento que, segundo as leis do Brasil, sirva para provar a propriedade que se reclama.

5ª O escravo devolvido não sofrerá menor castigo pelo simples fato da fuga.

6ª As despesas que se fizerem para prisão e apreensão do escravo ou escravos reclamados, correrão por conta do reclamante.

Fica expressamente entendido que, se algum escravo for ao território argentino em companhia de seu senhor, por ordem, ou consentimento deste, em qualquer qualidade que seja não será admitida a reclamação de que trata o presente artigo264.

Por este tratado construiu-se uma base jurídica mais clara para a extradição de escravos fugidos. Criava-se uma segurança jurídica para que os senhores pudessem agir no sentido de conseguir a devolução de seus escravos. Tais acordos e tratados não levavam em consideração o princípio de liberdade e a noção de solo livre, pelo contrário, visavam criar condições para garantir a extradição do escravo e, consequentemente, sua re-escravização. No entanto, apesar deste acordo, era muito difícil capturar os escravos que se escondiam nas matas das Províncias de Corrientes e Entre-Rios. Em 1857 ocorreram diversos conflitos, na fronteira, com fazendeiros brasileiros que assaltavam povoações correntinas em busca de escravos fugitivos265. Apesar desses acordos a re-escravização, geralmente, abria possibilidade de ações por liberdade na justiça e que, muitas vezes, geravam ganho de causa para os escravos. Logo, a fronteira mantinha a sua dualidade podendo significar tanto a liberdade como a reescravização.

264 O tratado era de 14 de dez. de 1857. Anexo A-E. p. 39. GAMA, Caetano Maria Lopes.

“Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros”. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert. 1858. Disponível em: <http://www.crl.edu>. Acesso em 03 nov. 2011.

2.2 O ISOLAMENTO DA FRONTEIRA E OS CAMINHOS PARA ROMPÊ-LO

Sem nenhuma dúvida uma das principais dificuldades dessa região fronteiriça era seu isolamento e a distância dos seus respectivos centros políticos. No século XIX estas distâncias pareciam insuperáveis devido às dificuldades, péssimas estradas, precários transportes e rios nem sempre navegáveis. Tanto Santo Tomé como São Francisco de Borja estavam localizadas a grandes distâncias de seus centros políticos e econômicos.

Havia três caminhos principais para se chegar e sair de São Borja, todos eles eram caminhos mistos, parte feito por terra, parte por via fluvial. Um destes caminhos seguia o seguinte trajeto: saindo de São Borja em direção a São Tiago do Boqueirão, daí chegando a São Martinho da Serra, descendo as difíceis picadas em direção da Depressão Central e Chegando a Rio Pardo ou Cachoeira, daí seguindo por água até Porto Alegre. O segundo caminho seguia por terra, ou pelo Rio Uruguai quando isto permitia, até o Rio Ibicuí, aí seguia-se pela margem do Ibicuí ou pelo rio, quando isto era possível, até as proximidades de Rio Pardo ou Cachoeira e seguindo por água para Porto Alegre. Um terceiro caminho, via rio Uruguai, nos trechos navegáveis, e por terra onde a navegação não era possível, se chegava até o povo de Salto na República Oriental do Uruguai ou até Restauração (Passo de

Los Libres) Confederação Argentina e daí para Montevidéu e para

Buenos Aires. Existia também o chamado Caminho das Tropas que saia de São Borja passava por Cruz Alta e então seguia para as províncias localizadas a Norte do Rio Grande do Sul. Claro, além desses caminhos principais existiam outros caminhos alternativos e menos utilizados.

É possível termos uma ideia das dificuldades e problemas enfrentados por viajantes, comerciantes e contrabandistas, realizando uma incursão pelos relatos dos viajantes no século XIX pela região, é fundamental termos claro que estes viajantes, traziam o olhar europeu sobre a região. O primeiro deles foi Saint-Hilaire, viajante e naturalista francês, que esteve na Região Platina e na zona fronteiriça do oeste do Rio Grande do Sul na década de vinte do século XIX, realizava levantamentos da flora da região. Chegou a São Borja proveniente de Montevidéu. Em seu trajeto, cruzou por Maldonado, Rio Negro e seguiu pelo Rio Uruguai. Deixou interessante narrativa sobre seu trajeto até São Borja.

Ao penetrar na chamada região das Missões teve muitas dificuldades. Para cruzar o Ibicuí foi necessário abrir uma picada no

mato para fazer passar a carroça, as pirogas que eram fundamentais para o passo do rio chegaram somente no dia seguinte, primeiro foram transportadas todas as malas e bagagens, então:

Quando as pirogas voltaram á margem esquerda, fizeram-nas passar atravessadas debaixo da carroça; dois cavalos foram amarrados pelas caudas em uma das rodas, e alguns índios conduziram a carroça, colocados na parte das pirogas que ultrapassavam a carroça, ao mesmo tempo que outros a empurravam por trás, nadando, e outros, enfim, conduziam os cavalos, igualmente a nado. Foi muito penoso fazer estes animais passar o rio; um boi e um cavalo afogaram-se na travessia266.

Já na outra margem foi necessário fazer uma nova picada, o acompanhante do viajante dizia que este trabalho era quase impossível e procurava desencorajá-lo a seguir em frente. É necessário aqui abrir um pequeno parêntese, é importante que se diga que as autoridades dessa zona fronteiriça recém-conquistada guardavam enorme desconfiança desses forasteiros estrangeiros, muitas vezes tidos como espiões, e faziam o possível para desencorajá-los a seguir suas viagens, isso fica claro no relato deste viajante. Assim, além de enfrentar as dificuldades como todos os habitantes da região, os estrangeiros tinham mais esse empecilho a superar. Com muita dificuldade e com a ajuda de alguns guaranis conseguiu margear o Ibicuí e achar um ponto onde a mata era menos densa para seguir seu trajeto.

Saint-Hilaire comenta que o verde das matas e campos eram mais fortes na região das Missões do que na região do Rio Negro, mas que a grande quantidade de insetos era um terrível tormento, nas estâncias as baratas eram muito comuns, além delas os mosquitos tornavam o sono quase impossível.267 Pernoitou às margens do Rio Botuí e no dia seguinte seguiu seu caminho. A travessia desse rio afluente do Uruguai se fazia, da mesma maneira que em Montevidéu, utilizando a pelota (barco improvisado de couro cru):268