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comprimento e até vinte de largura. Delas nunca há mais de dez ao mesmo tempo no porto de Rio Pardo, mas em geral gastam poucos dias para carregar e descarregar272.

Os principais produtos exportados eram couro e trigo, a maioria dos produtos importados vinha do Rio de Janeiro. Foi justamente em uma destas embarcações carregadas de couro que o viajante pegou carona rumo a Porto Alegre. A viagem demorava em torno de 3 dias com uma parada no chamado porto Dona Rita para pernoite. Devido a todos esses problemas o transporte de mercadorias das praças comerciais de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre para as missões e das missões para essas praças tornava-se extremamente caro. O carregamento de uma carroça segundo o autor custava em torno de cem mil reis273.

Já na década de 1830 Isabelle nos deixou uma nova memória. Este viajante, também era de nacionalidade francesa, ligado a diplomacia daquele país, tinha forte interesse em conhecer melhor a região platina, chegou às missões partindo de Buenos Aires, seguiu parte do caminho por terra e depois pelo rio Uruguai. Segundo ele, o lado esquerdo do rio Uruguai possuía, nesse período, uma vida social mais ativa do que a margem direita. Havia mais vilas e povoados e as estâncias haviam se multiplicado mais rapidamente. Era uma paisagem muito diferente dos “desertos que terminamos de percorrer”274.

Diferentemente de Saint-Hilaire, este viajante esteve na região no período da estação chuvosa e cheia do rio Uruguai e, portanto, percorreu um longo trecho de barco, mas isto não significava uma viagem mais tranquila e menos perigosa, como ele salientou:

Não me estenderei sobre as privações e a miséria que tivemos de suportar durante esta navegação de cinco semanas sobre um grande rio transbordante, num pais quase deserto, expostos a

intempérie de uma estação chuvosa e

tempestuosa; de 10 a 13, por exemplo, choveu constantemente; em seguida sobreveio um vento tão violento que nos arrastou para o meio do Rio, o leme ficou desmantelado sem os instrumentos

272 Ibid., 363-364.

273 Ibid. p. 360.

de que eu estava munido jamais teríamos podido concertá-lo de novo275.

Segundo o mesmo as estações chuvosas eram uma catástrofe para as regiões mais baixas. As cidades e vilas ficavam sem “comunicação tornando-se difíceis pelas cheias dos rios; os terrenos transformavam-se em pântanos; as carretas de transporte ficavam atoladas ou suas imensas rodas operavam dificilmente sobre o eixo de madeira”, as viagens duravam meses e toda essa situação gerava grande consternação nos habitantes. O comércio ficava praticamente paralisado durante esses períodos.

A alimentação dos viajantes do rio Uruguai e diga-se de grande parte da população empobrecida ribeirinha reduzia-se a charque com farinha e água276. No entanto, nas estâncias ricas da região a situação era bem diferente, os proprietários serviam-se e serviam os visitantes ilustres com grandes banquetes e até mesmo com o acompanhamento de vinho do porto. Os habitantes dessa região tinham como costume buscar essas provisões em Alegrete, onde compravam tabaco, erva-mate, açúcar, papel.

Em Itaqui, mudaram para um novo barco, uma chalana, “barco chato, coberto de um teto leve, feito de caniços e couros esticados por meios de correias”277. Ao chegar em São Borja narrou a situação do porto da recém criada Vila:

A primeiro de dezembro chegamos ao porto de S. Borja, onde havia, então, dois barcos com coberta e meia dúzia de barcos chatos ou chalanas; um navio de umas cinqüenta toneladas estava no estaleiro, destinado a ser armados em palha bote para navegação no Uruguai, até o Salto.

O porto ou passo é simplesmente, uma clareira escarpada, no meio do mato, bastante incômodo para os que tinham mercadorias para embarcar e desembarcar278.

Após visitar São Borja, uniu-se a uma caravana que se dirigia a Rio Pardo. Viajaram até Santiago do Boqueirão onde pernoitaram.

275 Ibid., p. 12. 276 Ibid., pp. 12-15. 277 ISABELLE, 1983, p. 15. 278 Ibid., p. 19.

Seguindo viagem chegaram a São Francisco que “outrora era uma capela e uma povoaçãozinha de guaranis, dependente das missões”, composta por dez a doze choupanas algumas casas de madeira além de duas vendas. Cruzaram o Jaquari Guaçú e Mirin, passaram por São Vicente, povoado também composto por famílias guaranis e um “tenente brasileiro” dependente de São Borja e passaram o Toropi.

O sistema de travessia dos rios ainda continuava o mesmo do período em que Saint-Hilaire cruzou as missões:

Quando a passagem é difícil, seja por causa de uma enchente grande, seja por causa de uma correnteza muito violenta, e um homem não sabe nadar bastante para se arriscar ele se coloca num couro com as roupas e uma parte das bagagens; isso se chamava passar em Pelota, porque, com efeito, o couro tendo as bordas levantadas parece uma bola; a corda se prende na cauda de um cavalo e assim ele passa, não sem perigo, porque se o cavalo é mau nadador, pouco dócil, ou esta cansado, a pelota de couro corre grande risco de encher-se de água ou de ser arrastada com o animal279.

Continuando a viagem, seguiu pelas margens de Ibicuí e chegou a Santa Maria. Sobre as dificuldades do trajeto até o Passo do Jacuí narrou que, “tínhamos percorrido treze a quatorze léguas em seis dias, virado duas vezes, quebrado três eixos e atolado a caravana”.280 Ele passou por Rio Pardo e no dia 20 chegou a Porto Alegre. Ao todo a viagem de Santana Velha a São Borja durou cerca de 15 dias e de São Borja a Porto Alegre demorou em torno de 20 dias.

Avé-Lallemant, viajante de origem alemã, que visava entre outras coisas conhecer as regiões de colonização alemã e locais para possível instalação de novas colônias, relata que seu trajeto foi inverso aos viajantes anteriores. O mesmo saiu do Rio de Janeiro no dia dezesseis de fevereiro de 1858 e chegou a Desterro no dia dezoito deste mês, dia vinte um, chegou a Barra do Rio Grande, comentando as dificuldades e perigos na mesma sustentou que “sem dúvida, uma das mais desagradáveis e perigosas que existem, em poucos portos se encontrarão em que, em proporção com os navios entrados, tenha havido tantos

279 Ibid., p. 33.

naufrágios como aqui”281. No pontal do Farol todos os passageiros do paquete Imperatriz eram transferidos para outro vapor que os levava até a cidade. No dia 23 embarcou no Marques de Olinda rumo a Porto Alegre, em seguida embarcou para Rio Pardo utilizando o Jacuí. Os troncos de árvores obstaculizavam a viagem, tornando a mesma muito lenta. As margens eram pouco habitadas e os baixios e cachoeiras também eram um problema. Em muitas ocasiões, passageiros e mercadorias tinham que ser desembarcados antes de rio Pardo e seguir o restante do trajeto a pé. A viagem demorava em torno de 24 horas282.

A navegação a vapor trouxe mudanças para a situação da região. Até então, o comércio em rio Pardo era mais ativo, após essa mudança de transporte, os moradores da região passaram a comprar diretamente em Porto Alegre e muitas casas comerciais acabaram fechando. No entanto, o comércio de Rio Parto em direção ao Sul, Norte e Oeste da Província ainda era bastante significativo.

Iniciou sua viagem em direção ao oeste pela chamada Estrada Real, mas perdeu-se por não conhecer o caminho e por não ter nenhum guia. Sobre as povoações a oeste, sustentou que:

Surgem sem dúvida povoações a oeste da Província do Rio Grande, mas tão raras tão escondidas que, decerto, não constituem traço característico do campo do Rio Grande. Tão pouco se podem chamar os caminhos de verdadeiros caminhos. Perto das povoações, sim, mas, no campo distante, embora tudo seja caminho, não se pode reconhecer qual o verdadeiro, se de antemão não se apreendeu a reconhecê-lo283.

Após a indicação dada por umas poucas pessoas que encontrou, rumou para a colina de Cruz Alta e se hospedou em um quarto anexo a um bolicho. À noite vieram algumas pessoas à venda:

Uma noite maravilhosa com pleno brilho das estrelas e a claridade argentina da lua em quarto crescente. Apareceram então algumas pessoas. Primeiramente um negro forro, com sua mulher