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comissões397.

Em 1883, em uma “Memória histórico-administrativa sobre o contrabando praticado nas fronteiras do sul do Império e dos meios que se podem empregar para reduzi-lo até sua extinção”. Mello398, sustentava que o contrabando tinha uma origem muito remota na história dos países da bacia platina. Segundo o mesmo este fenômeno se originava: “não só na repugnância, para assim dizer, natural e quase instintiva que inspira o imposto, mas também na facilidade, que encontram os que se dão a semelhante tráfico, nas condições topográficas das fronteiras, que são o teatro de seus tão notados feitos”.

A província do Rio Grande do Sul “além de confinar quer fluvial, quer terrestremente, em uma muito considerável extensão com os referidos estados platinos, oferece aos contrabandistas a extraordinária vantagem de ser, em alguns pontos, quase nula a distância que a separa do estado vizinho”. Em muitas casas do comércio ao longo da fronteira sobreviviam e se enriqueciam praticamente somente com o contrabando. Comentando relatórios anteriores (1872) sobre o assunto, afirmava que os mesmos sustentavam que o contrabando, no Alto Uruguai, era prática comum, sendo o mesmo mais volumoso em momentos de perturbação da ordem nos estados vizinhos, e que tal escândalo era motivo de reclamação pela praça comercial de Rio Grande e Porto Alegre.

O autor acreditava que se cessasse o contrabando, a renda nas aduanas, no mínimo, dobraria, o que permite uma ideia da dimensão do mesmo. Ainda recordando o relatório de 1872, informava que entre as propostas estava uma mais eficaz fiscalização na fronteira e uma significativa melhora nos transportes do litoral rio-grandense para o oeste e que tinha esperança que as estradas de ferro colaborassem para diminuição do contrabando. Isso demonstra que o governo estava ciente que uma das coisas que alimentavam o contrabando era o isolamento do oeste da região litorânea e a facilidade de contato com os estados vizinhos e com as praças de Montevidéu e de Buenos Aires.

Souza esclarece sobre a preferência dada ao porto de Montevidéu pelos comerciantes da fronteira que:

Os negociantes das praças fronteiriças, em geral, efetuavam suas compras em Montevidéu. Lá, eles

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PARANHOS, José Maria da Silva. “Ministério da Fazenda Proposta e Relatório”. Imprensa Nacional. 1874. Disponível em: <http://www.crl.edu>. Acesso em 21 jan. 2011. Pp. 73.

tinham suas relações e seu crédito aberto. As mercadorias compradas lá ofereciam vantagens de preços e acondicionamentos muito maiores do que aquelas adquiridas nas praças do Rio Grande e Porto Alegre. Os fretes e seguros marítimos de qualquer parte do mundo para Montevidéu custavam menos da metade dos fretes e seguros dos mesmos portos de procedência para o Rio Grande e Porto Alegre. Deve-se agregar, ainda, os prejuízos que no Litoral rio-grandense resultavam das baldeações, mutilações de volantes, extravios e avarias, que representavam capitais imobilizados. Ou ainda faturas de compras, cujo vencimento do prazo estava correndo e cujas mercadorias não tinham ainda entrado na casa do comerciante399.

Mello comentava, ainda, que nos relatórios de 1872, 1873, 1874 e 1877, havia sido proposto a criação de um acordo entre os três estados fronteiriços para reprimir o contrabando, criação de uma cavalaria especial para este fim, que os cargos ficais nas localidades da fronteira fossem ocupados por pessoas de outras localidade para impedir possíveis favorecimentos, que estes funcionários fossem bem retribuídos e que se criasse um sistema de selos e talões uniforme para dificultar as fraudes. Entre os produtos contrabandeados estavam os tecidos de algodão, lã, brins e algodão trançado, que deveriam ter suas tarifas rebaixadas para desestimular o contrabando. Ainda, que o Salto era um ponto intermediário importante para os contrabandistas, mas que vinha perdendo espaço devido à estrada de ferro construída entre Concórdia e Monte Caseros estar sendo preferida para despachar mercadorias.

Segundo o relatório, as causas principais do contrabando eram a falta de “educação política” das pessoas da fronteira, as circunstâncias topográficas da mesma, a ausência de uma política autêntica e severa de repressão. Para vencer essas causas propunha dois meios, tornar o contrabando menos atraente e criar formas de combatê-lo e dificultá-lo. Para que estas medidas fossem eficazes era necessário acelerar as comunicações, criar uma polícia terrestre e fluvial e adotar rebaixamentos de tarifas aduaneiras.

Já havia uma tarifa especial vigorando desde 1879. Ela havia gerado aumento da receita das aduanas e diminuição do contrabando. A

399 SOUZA, 2007, p. 306.

proposta havia sido posta em prática por Gaspar Silveira Martins. Porém o autor do relatório alertava que eram necessárias outras medidas propostas para diminuir, consideravelmente, o contrabando. Entre elas: lanchões armados no Uruguai e mais guardas terrestres, uma legislação mais rígida com extradição de nacionais homiziados em países vizinhos, penas mais severas para contrabando na fronteira, estabelecimento de tratado com Uruguai e Argentina para uniformalização de tarifas.

Que fosse estabelecido no acordo a ser firmado com os outros dois países a seguinte cláusula:

As Altas Partes contratantes no acordo em que se acham de prover as medidas necessárias para reduzir ate extinguir o contrabando, que, com desobediência das leis e escândalo da população honesta, se pratica nas respectivas fronteiras, se obrigam a manter, cada uma de sua parte, uma força fluvial encarregada de policiar constantemente os rios Uruguai e Quarahin; e bem assim qualquer outro que possa servir para

trânsito dos gêneros e mercadorias

contrabandeadas; podendo as embarcações das altas partes contratantes chamar a fala, visitar e aprisionar, havendo para isso razão e motivo, a qualquer, navios, barcos, chatas, lanchas, ou outro qualquer, seja qual for a sua natureza e denominação – que se tornar suspeito ainda quando arvorada traga a bandeira de uma das outras: devendo unicamente no caso de realizar-se a suspeita de ser o navio, barco, chata etc., efetivamente contrabandista, e de pertencer a nação cuja for a bandeira que tiver arvorada, mandar a embarcação apreensora entrega-lo no porto mais próximos pertencente a respectiva nação; e neste caso pertencerá e será entregue, conforme as leis fiscais, metade do produto da apreensão ao apreensor400.

Ainda constava a proposta exótica de que a polícia terrestre, em perseguição a criminosos, poderia entrar em território de países vizinhos. Que a mesa de rendas de São Borja ficasse submetida ao poder da Alfândega de Uruguaiana. Alterar os talões de despacho de