• Nenhum resultado encontrado

Metacategoria IV A apropriação do CME pelos actores locais

4.6 Notas de campo do CLE/CME de Benavente

13 de Março de 2007

Sem qualquer dificuldade agendei o contacto com a técnica da educação da autarquia de Benavente, a Dr.ª … [Chefe de Divisão]. Esta facilidade de comunicação deve-se ao facto de a conhecer há alguns anos: da ligação que sempre desenvolveu com os agrupamentos escolares e as escolas do concelho de Benavente, entre os quais se encontra a escola a que pertenço, integrada no Agrupamento Duarte Lopes; dos múltiplos contactos e parcerias estabelecidos entre o Centro de Formação de Professores, entidade que represento e a autarquia; da minha intervenção como representante do ensino básico no CME de Benavente.

Esta relação de proximidade e de envolvimento directo no CME colocou-me perante uma dupla responsabilidade, teórico-metodológica e ética, de conciliar a minha intervenção como actor local e o meu trabalho como investigadora interessada em perceber os processos políticos de formação do CLE e do CME. Salvaguardadas as questões metodológicas, e ciente das minhas obrigações éticas, procurei nesta fase prospectiva recolher informação e identificar os intervenientes, tal como o fizera em relação aos restantes CME da CULT.

Aliás, previamente iniciara estes contactos com o Presidente da Câmara de Benavente, Dr. …, em 18 de Abril de 2006. Nesse encontro, procurei auscultar a sua sensibilidade relativamente ao processo de constituição dos CME, a nível nacional, regional e local. Como responsável pela a área da educação na Associação Nacional de Municípios (ANM), interlocutor privilegiado com o ministério da educação, mas também como presidente da câmara, considero-o como uma das principais fontes de informação para o estudo da medida política, na perspectiva teórica e metodológica das diferentes escalas de acção pública.

Procurei, nesta primeira fase, dar-lhe a conhecer o âmbito do meu trabalho e identificar as grandes questões. Reconheci nas suas palavras as grandes linhas do debate nacional e local: as questões de fundo de delimitação de competências entre poder central e local; as questões da tutela; a dinamização dos CME; a intervenção das DRE no CME; a prevalência do princípio da autonomia das escolas.

Mostrou-se muito interessado na minha investigação e prontificou-se a ceder-me a documentação de que dispunha. Percebi deste encontro a centralidade do seu depoimento para a construção do meu objecto de estudo.

Intencionalmente, não contactei o vereador … [Vereador da Educação], responsável pelo pelouro da educação. Pensei que naquele momento melhor seria conversar com a chefe

informação sobre o processo de constituição do CLE e do CME. Disse-lhe que se tratava de uma conversa informal, da qual recolheria algumas notas se tal me fosse permitido. Não colocou quaisquer problemas a esta recolha.

Começou por me dizer que pouco participara nas reuniões do CME, pois era o vereador e o presidente que orientavam os trabalhos. No entanto, preparava com o vereador Carlos Coutinho as reuniões e chamava-lhe a atenção para as questões que deveriam ser abordadas, principalmente as referentes à acção social escolar, aos transportes escolares e à intervenção geral no 1.º ciclo.

As outras questões ligadas com a agenda de política educativa eram pensadas em conjunto com o presidente. Falou-me da grande experiência do presidente e da importância de ter sido professor. Como grande conhecedor das matérias de política educativa, a sua intervenção no CME era muito escutada.

De seguida, pediu à técnica … que trouxesse o dossier do CME para que eu fotocopiasse o que me interessava. A Dr.ª … [Chefe de Divisão] ia-me acompanhando na descoberta deste dossier e, juntamente com a técnica …, falaram da constituição do CLE em 1999, do trabalho em torno do seu regimento e da passagem para o CME, em 2003.

A técnica … referiu-se aos conselhos consultivos existentes antes da constituição do CME: o dos transportes escolares e o da acção social escolar. Reuniam o conselho consultivo dos transportes escolares em Abril e em Setembro, para perspectivar, e mais tarde ser aprovado, o plano de transportes escolares. O conselho consultivo da acção social escolar reunia-se uma vez por ano. Tinha a incumbência de aprovar propostas sobre os mais variados assuntos: atribuição de subsídios (escalões A e B); aquisição de equipamentos de chuva; preços das refeições, tanto para as crianças, como para os professores.

Explicou-me quais as atribuições de cada órgão e de como o CME passou a integrar as competências destas duas entidades. Achei este aspecto interessante, a congregação numa só entidade das responsabilidades que se encontravam polarizadas em diferentes órgãos. Tenho que estar mais atenta para conseguir problematizar estas questões.

Entretanto, nesta pesquisa orientada pelas técnicas da autarquia, descobri no dossier as actas e as convocatórias das reuniões, o que me permitiu fazer o historial da passagem do

respeitante a uma proposta apresentada em 1994, para a criação de uma Comissão Municipal de Educação. Também fotocopiei este documento e fiquei muito interessada em contactar com o então Vereador da Educação, Dr. ….

Como esta «descoberta» foi feita em conjunto com a Dr.ª … [Chefe de Divisão], serviu fundamentalmente para nos ajudar a recolher informações e para, em conjunto, sistematizarmos o percurso do CME. Consultámos convocatórias, identificamos ordens de trabalhos, lemos algumas actas e apercebemo-nos das agendas que foram sendo trabalhadas, das que tiveram continuidade e das que foram interrompidas. Também lemos o regimento do CME e retivemos a nossa atenção na duração dos mandatos dos conselheiros; como devem acompanhar o mandato autárquico, chegámos à conclusão que se deveria proceder a novas eleições ou nomeações desses conselheiros de cada vez que aquele se renova. Entretanto, e neste seguimento, a Dr.ª … [Chefe de Divisão] redigiu uma proposta de carta a apresentar ao presidente, destinada a todos os agrupamentos escolares e entidades representados no CME, para que elegessem ou nomeassem novos representantes, os quais deveriam ser conhecidos no início de Abril.

Depois de fotocopiar os documentos que me interessavam, apercebi-me que me faltavam algumas actas do CME. Como existia outro dossier que deveria estar noutro gabinete, garantiram que me enviariam os documentos em falta.

Quando me preparava para lhes agradecer e me despedir, a Dr.ª … [Chefe de Divisão] retomou a conversa e apresentou-me os projectos educativos de alguns dos agrupamentos escolares e pediu-me para fazermos uma leitura conjunta. Não hesitei em corresponder ao seu pedido. Reconheci a minha dificuldade em separar os dois campos da minha intervenção: o de membro do CME e o de investigadora. Também percebi que naquele momento esta separação era da minha responsabilidade, e não da sua, pelo que não me deveria recusar a fazê-lo. Este teste serviu-me, fundamentalmente, para reforçar a ideia da particularidade da investigação na autarquia de Benavente. Estando envolvida no processo político local, e simultaneamente determinada em prosseguir com a investigação sobre o processo político dos CME das 11 autarquias da CULT, invariavelmente deparar-me-ei com a constatação de ser, simultaneamente, sujeito e objecto da investigação, no que diz respeito ao caso particular do CME de Benavente.

Passaram-se três horas como se fossem três minutos. Foram momentos muito interessantes. Apercebi-me que para a Dr.ª … [Chefe de Divisão] este encontro também se revelou útil, na medida em que lhe permitiu reflectir e trocar opiniões sobre estes assuntos.

anteriores propus que este processo se fizesse em conjunto, ideia logo aceite pela Dr.ª… [Chefe de Divisão]. Demorámos algum tempo a marcar este encontro. Deixámos passar o período do lançamento do ano escolar de 2009/2010, das eleições autárquicas de Outubro de 2009 e da renovação do mandato e optámos por validar a checklist no início do ano de 2010. Neste período conclui a análise de todo o corpus documental de Benavente e ganhei com isso uma perspectiva de conjunto que me permitiu uma validação mais correcta.

Como habitualmente, começámos por ter uma conversa informal sobre os Agrupamentos do Concelho, sobre o modo como se iniciou o ano lectivo e como decorreram as AEC. Depois desta breve troca de impressões passámos à leitura e validação da checklist do CME de Benavente. Começou por me dar informações cruciais para o Processo de transição/instalação do CLE/CME. Referenciou a existência de uma Comissão Municipal de Ensino, criada em 1994, muito antes da instalação dos Conselhos Locais de Educação. Eu tinha esta informação, mas faltava-me elementos concretos sobre as reuniões realizadas. Para esclarecer estas dúvidas facultou-me o acesso ao dossier do CLE, onde consta a proposta de criação desta Comissão Municipal de Educação, saída de uma reunião da Assembleia Municipal de 14/1/1994 e na qual se lê a intencionalidade e a constituição deste órgão. Também constam três convocatórias de reuniões, mas nenhuma acta correspondente.

Seguidamente validou a data de constituição do CLE. Relativamente ao número e identificação dos membros que constituíam este órgão referi-lhe o Regimento do CLE, como fonte utilizada. Sobre esse assunto disse-me que deveria ser esse o único documento existente, pois não dispunha de quaisquer convocatórias de reuniões ou actas. Parecia-lhe mesmo que o CLE não passou de uma intenção e o que se fazia eram as reuniões habituais dos Conselhos dos Transportes Escolares e da Acção Social Escolar. Sobre a instalação/constituição do CME certificou todas as informações recolhidas, nomeadamente sobre os membros e convidados e respectivas intervenções ao longo dos dois mandatos estudados. Aproveitei a oportunidade, de mais uma vez questioná-la sobre a inexistência de actas do CME, do ano lectivo de 2004/2005 e 2005/2006. Tinha conhecimento de uma reunião em 9/9/2005, da qual dispunha unicamente da convocatória e que estranhava a inexistência de qualquer reunião no ano lectivo anterior, de 2004/2005. Perguntei-lhe pelas actas. Depois de consultar a técnica que costumava

referenciado: uma em 17/6/2004 e outra em 9/9/2005, mas que não existia as actas respectivas. Com esta informação rectifiquei o ponto 2.1, respeitante ao número de reuniões por ano lectivo. Todos os outros pontos foram validados, nomeadamente os referentes à participação da chefe de divisão nas reuniões do CME. Relativamente a este aspecto a Dr.ª … [Chefe de Divisão] referiu que a sua presença neste órgão só se deu com regularidade a partir do ano de 2006/2007. Anteriormente não participava nas reuniões, pois achava que a sua presença não acrescentava nada. Aliás referiu que não sabia bem para que servia o CME e que só recentemente teve a noção da importância deste órgão.

Relativamente aos pontos 4.1 e 4.2 referentes às agendas e temas discutidos no CME, rectificou e acrescentou informações. Validou as discussões temáticas de cada reunião inventariada e de todas as intervenções dos membros e convidados ao CME. Por fim referiu que os professores têm um conhecimento pouco satisfatório sobre o CME.

Documentos relacionados