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2 IMPERIALISMO, MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E MUNDIALIZAÇÃO DA

4.1 NOTAS SOBRE O CONTEXTO POLÍTICO-ECONÔMICO BRASILEIRO

A atual reforma do ensino médio foi realizada, conforme já mencionado, após um golpe parlamentar-jurídico-midiático, que depôs do poder a presidenta eleita Dilma Rousseff e alçou ao cargo o até então vice-presidente da república Michel Temer. Com isso, tem-se uma reconfiguração no bloco no poder, onde a burguesia associada ao capital internacional assume a hegemonia.

Notadamente, o advento do golpe, com suas motivações, interesses e consequências, foi fato fundamental, na medida em que criou as condições políticas, para a aprovação das alterações promovidas pela reforma do ensino médio, ao mesmo tempo e por outro lado, a própria reforma do ensino médio integra o golpe, visto que se realiza no âmbito da educação aquilo que foi promovido no âmbito das garantias democráticas, ou seja, a retirada de direitos.

Em atendimento aos interesses do bloco no poder, o presidente Michel Temer se apressou para editar uma medida provisória, 22 dias após se efetivar no cargo, com a finalidade de reformar este nível de ensino, e comemorou sua aprovação, afirmando que esta era “a segunda das reformas fundamentais para o Brasil”96.

Cabe ressaltar que o contexto onde se situa esses acontecimentos é marcado por um acirramento da luta de classes e grave crise. Inclusive, segundo Pinto et al. (2017), esta é a maior crise do capitalismo brasileiro. Ela ocorre em 3 dimensões, quais sejam, acumulação, política e relação entre o bloco no poder e o Estado.

Os dados a seguir ilustram a magnitude da atual crise, no que se refere aos aspectos econômicos:

[...] retração do PIB em 3,8%; desmoronamento do investimento (FBCF) em 14,1% (R$ 75 bilhões), sobretudo no setor público; aumento do desemprego nas regiões metropolitanas de 5,8% em fev./2015 para 8,2% em fev./2016; queda de 8% da renda real entre jan./2015 e jan./2016; e a significativa redução das taxas de rentabilidade de boa parte dos setores produtivos com - exceção do setor bancário-financeiro. A acumulação de capital travou em 2015 e continuou travada em 2016 (PINTO et al., 2017, p. 7).

Para se compreender essa crise, é necessário buscar seus antecedentes. Nesse caso, um marco importante foi a chegada do Partido dos Trabalhadores à presidência do Brasil e seus 13 anos de governo97.

Apesar de ascender ao poder tendo como principal ponto de apoio os setores populares, os governos petistas optaram pela conciliação de classe e, no âmbito da burocracia, pelo chamado governo de coalização, formando uma ampla base de apoio com partidos de diferentes orientações e localização no espectro político.

De um lado, as expectativas populares em relação às reformas estruturais como a agrária, a política, a judiciária e a tributária, se viram frustradas, de outro, as camadas mais pobres da população foram beneficiadas por diferentes políticas e programas sociais, que possibilitaram, dentre outras coisas, o aumento real do salário mínimo, renda mínima/bolsas, um maior acesso ao ensino superior, a ampliação do atendimento médico e acesso a medicamentos, programa de moradias populares, para citar alguns. Essas políticas e programas contribuíram para a redução da desigualdade e melhoria da condição de vida de milhões de trabalhadores, o que não é pouca coisa, em um país internacionalmente reconhecido pela histórica e acentuada desigualdade social.

Segundo Pochmann (2011), na primeira década dos anos 2000 observou-se uma importante elevação da renda per capita dos sujeitos mais pobres, bem como a diminuição da desigualdade. A criação de postos de trabalho também aumentou, mesmo que com concentração em torno do salário mínimo98.

97 Nas eleições presidenciais de 2002, Lula da Silva (PT) saiu vitorioso, possibilitando que um membro do PT

ocupasse pela primeira vez o cargo de Presidente da República. Lula da Silva governou o Brasil por dois mandatosseguidos (de 2003 a 2006, e de 2007 a 2010), e foi sucedido por sua companheira de partido Dilma Rousseff, que governou o Brasil de 2011 a 2015, até ter seu segundo mandato interrompido por um golpe parlamentar-jurídico-midiático.

98 Segundo Pochamann (2011, p. 12), “dos 2,1 milhões de vagas abertas anualmente, em média, 2 milhões

Constatou-se também que diferentes setores da burguesia foram beneficiados durante os governos de Lula e Dilma, os quais conquistaram lucros expressivos99, mesmo em situações de baixa na economia100.

Para Singer (2015), duas coalizões contrapostas se formaram ao longo desse período, a rentista, formada pelo capital financeiro e a classe média tradicional, e a produtivista, composta por empresários industriais associados à fração organizada da classe trabalhadora. “Pairando sobre ambas, com o suporte do subproletariado, os governos lulistas fariam uma constante arbitragem de acordo com a correlação de forças, ora dando ganho de causa a uma, ora à concorrente” (SINGER, 2015, p. 58).

Abordando essa temática de um outro modo, adotando o conceito de bloco no poder101, Boito Jr. (2018) considera que durante os governos do PT se formou uma ampla e heterogênea frente política, denominada por ele de neodesenvolvimentista. Essa frente, formada pela grande burguesia interna102 (força dirigente da frente - composta por grandes empresas sob o controle de capital nacional, fundamentalmente setores industriais, da

99 Alguns resultados podem ser consultados em: < https://oglobo.globo.com/economia/na-era-lula-bancos-

tiveram-lucro-recorde-de-199-bilhoes-2818232>; <

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/01/28/lucro-do-bradesco-em-2012-e-o-maior-da-historia-do- banco.htm>; < http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2014/02/lucro-do-itau-em-2013-e-o-maior-da- historia-dos-bancos-brasileiros.html>. Acesso em 20 de outubro de 2017.

100 Alguns resultados podem ser consultados em: <

http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/08/mesmo-diante-de-crise-lucro-dos-bancos-nao-para-de- crescer.html>. Acesso em 20 de outubro de 2017.

101 Boito Jr. (2018) esclarece que “para analisar a burguesia, utilizamos o conceito de bloco no poder. Esse

conceito possuiu algumas características que vale a pena destacar. Em primeiro lugar, ele contempla a assimetria existente nas relações entre as classes sociais: o bloco no poder é composto apenas pelas classes dominantes e suas frações. Assim, tal conceito distingue a posição ocupada pelas classes dominantes no processo político, que é a posição das classes sociais cujos interesses históricos são organizados pelo Estado, da posição que cabe às classes trabalhadoras. Em segundo lugar, o conceito de bloco no poder permite pensar as relações de unidade e de luta que aproximam e opõem os interesses das frações da classe dominante, tornando-se instrumento fundamental para explicar grande parte dos conflitos político que não são, necessariamente, conflitos que opõem a burguesia aos trabalhadores. Em terceiro lugar, esse conceito nos dá um critério para pensar a hierarquia de poder existente entre as diferentes frações da burguesia. Ele comporta a noção de fração hegemônica, que é a fração cujos interesses são priorizados pela política econômica do Estado mesmo quando essa priorização fira interesses das demais frações do bloco no poder. Por último, no plano da análise da política externa, o conceito de bloco no poder permite superar as falhas mais evidentes da corrente teórica realista, que domina os estudos de relações internacionais, ao possibilitar que se conceba a política externa de um Estado determinado como o prolongamento, no cenário internacional, do arranjo interno de poder e especificamente como prolongamento dos interesses da fração hegemônica. O conceito de bloco no poder permite, portanto, discernir os vínculos estreitos que existem entre a política nacional e a internacional e detectar o conteúdo real – de classe – daquilo que os realistas denominam ‘interesse nacional’ e que o discurso ideológico sugere ser o interesse de todo o povo” (BOITO JR., 2018, p. 157).

102 Segundo Boito Jr. (2018, p. 64), o que distingue essas duas frações (grande burguesia interna e grande

burguesia associada) é a posição de cada uma delas diante do imperialismo. Enquanto a grande burguesia associada tem interesse na expansão quase sem limites do imperialismo, a grande burguesia interna procura impor limites a essa expansão, embora esteja ligada ao imperialismo e seja dependente dele no plano tecnológico, econômico e político. Além do mais, a posição da grande burguesia interna se justifica pelo temor de ser “[...] engolida ou destruída pelos grandes grupos econômicos estrangeiros” (p. 66).

construção naval, da construção pesada, do agronegócio e bancário nacional), por trabalhadores organizados em sindicatos, por diferentes frações do campesinato e por uma massa marginal de trabalhadores desempregados, subempregados, vivendo do trabalho precário ou por conta própria, foi responsável por dar sustentação a um programa de política econômica e social que aliou crescimento econômico e transferência de renda, sem necessariamente romper com as bases econômicas de inspiração neoliberal vigentes no país, ou seja, o conhecido tripé macroeconômico: câmbio flutuante e apreciado, juros elevados e superávit primário.

Em oposição a essa frente, estava a grande burguesia associada ao capital internacional, formada por “[...] grupos econômicos atuantes no Brasil que são propriedade de capital estrangeiro e também pelas empresas de capital nacional que entretêm uma relação de dependência direta com esses grupos [...]” (p. 226), cujos interesses coincidem com aqueles do grande capital financeiro e produtivo internacional.

Ainda, segundo Boito Jr. (2018), no que se refere especificamente às frações que compuseram o bloco no poder durante os governos petistas, nota-se que a política neodesenvolvimentista privilegiou os interesses da grande burguesia interna e preteriu parcialmente os interesses da grande burguesia associada.

Entretanto, em relação a esse período, ao analisar mais detidamente os governos de Lula e Dilma, é possível identificar diferenças importantes, sobretudo no que diz respeito à política econômica, especialmente a de juros. Enquanto Lula da Silva evitou confrontos, Dilma Rousseff assume algumas brigas, dentre as quais com o sistema bancário (SINGER, 2015). Tais mudanças aceleram o processo de esgotamento da política de conciliação de classes, que já dava sinais de estrangulamento, e alimentou reação principalmente do setor rentista (mais não só), que aliado a outros fatores acentuou a crise econômica que já batia à porta.

Dois fatores econômicos são importantes para se entender e explicar a crise econômica brasileira. O primeiro decorre dos efeitos da crise internacional sobre a nossa economia. Nesse caso, a desaceleração da economia chinesa e a piora do cenário externo, no que se refere à queda da demanda e dos preços das commodities, são elementos que exerceram importante impacto negativo sobre a economia brasileira. O segundo reside no erro no desenvolvimento da política macroeconômica durante os governos Dilma, a saber: “1) a priorização do investimento do setor privado em detrimento do investimento da administração

pública; e 2) o ajuste fiscal em 2015, que transformou o baixo crescimento em recessão” (PINTO et al., 2017, p. 8).

A nova matriz econômica, que visava impulsionar o desenvolvimento e a industrialização, adotada no primeiro mantado da presidenta Dilma Rousseff, teve como elementos centrais (1) a redução dos juros, (2) o uso intensivo do BNDES, (3) a aposta na reindustrialização, (4) as desonerações, (5) o plano para infraestrutura, (6) a reforma do setor elétrico, (7) a desvalorização do real, (8) o controle de capitais e (9) a proteção ao produto nacional (SINGER, 2015).

Nota-se, a partir de então, uma relevante mudança na característica dos investimentos, em comparação com o período Lula da Silva, de prioritariamente público, o governo passa a dar estímulos para que o setor privado protagonize o desenvolvimento brasileiro.

Segundo Pinto et al. (2017), a política de dar estímulos e subsídios ao setor privado, sobretudo o industrial, se mostrou equivocada. As empresas, frustrando as expectativas do governo Dilma, não aumentaram os seus investimentos. Na realidade, esses incrementos serviram para recompor, parcialmente, os lucros das empresas que já vinham em queda. Por outro lado, a queda da demanda, ocasionada pela redução dos investimentos públicos, piorou o quadro.

[...] A economia desacelerou. Tal situação, com a manutenção das desonerações, impactou negativamente as finanças públicas, pois provocou a redução das receitas, num contexto em que as despesas financeiras do setor público estavam aumentando com pagamento de juros desde 2013 – de 4,5% do PIB em 2012 (R$ 213,86 bilhões) para 5,5% do PIB em 2014 (R$ 341,38 bilhões). Isso reduziu a capacidade fiscal do governo. Para driblar esse problema, o governo passou a utilizar com maior amplitude a ‘pedalada fiscal’103 (PINTO et al., 2017, p. 9).

Nesse contexto econômico (deterioração externa e desaceleração cíclica), verificou-se redução das taxas de rentabilidade dos segmentos dominantes, com a exceção do setor bancário-financeiro e do setor de alimentos e bebidas. Entre 2007-10 e 2011-14, as taxas de rentabilidade média anual sobre os patrimônios líquidos (%) das 500 maiores empresas (não bancárias), das construtoras (seis maiores do setor), da produção de petróleo e coque (Petrobras) e de empresas de fabricação de aços e derivados (as seis maiores do setor) caíram, respectivamente, de 10,1% para 5,3%, de 15,9% para 10,6%, de 18,4% para 4% e de 21,1% para 1,5% (PINTO et al., 2017, p. 10).

103“A denominação ‘pedalada fiscal’ se refere à prática do Tesouro Nacional de retardar o repasse de recursos

aos bancos públicos e privados para pagamento de despesas do governo, tais como benefícios sociais e previdenciários, Bolsa Família, abono salariais e o seguro-desemprego” (PINTO et. al, 2017, p. 9).

Por outro lado, viu-se, nos últimos anos, uma importante queda na taxa de desemprego104 e elevação real nos salários, o que favoreceu para aumentar o poder de barganha dos trabalhadores. Com efeito, a redução do exército industrial de reserva e os custos da força de trabalho exerceram pressão sobre a taxa de lucro que estava em queda.

Essa conjuntura de redução da rentabilidade do capital e elevação dos salários concorreu para reascender e aumentar o conflito entre capital e trabalho (PINTO et al., 2017), o qual estava relativamente controlado em função da política dos governos Lula - que ao mesmo tempo que atendia aos interesses de frações capitalistas, possibilitava certa transferência de renda para os setores mais pobres da sociedade brasileira - e que agora se tornara insustentável.

Nesse período, mais especificamente em junho de 2013, implode em importantes cidades brasileiras protestos e manifestações, realizados fundamentalmente por jovens, e inicialmente capitaneados pelo Movimento Passe Livre (MPL), tendo como bandeira central a tarifa zero para o transporte público, mas que incluía também pautas localizadas nas políticas municipais (SOUZA, 2016).

Esse movimento, que ficou conhecido como “jornadas de junho”, ganhou proporções gigantescas e envolveu sujeitos tanto da classe média quanto das periferias das grandes cidades, ao mesmo tempo, ocorreu a ampliação e diversificação das reivindicações. Contudo, o movimento toma uma guinada importante quando a mídia passa a intervir no sentido de pautar essas manifestações, visando “distorcer seu sentido inicial de modo a atingir o executivo e federalizar o descontentamento difuso da população” (SOUZA, 2016, p. 96).

Estimuladas pela mídia, palavras de ordem como “Muda Brasil”, que no fundo queria passar a mensagem “Muda de governo Brasil”, passaram a ficar cada vez mais presentes nas manifestações (SOUZA, 2016). Além disso, o tema da corrupção passa a ser ressaltado pela mídia e a ganhar destaque nas manifestações. Nessa altura, o governo Dilma já era o principal alvo dos manifestantes.

Era o sucesso absoluto da campanha midiática pela federalização das manifestações e pela personalização do descontentamento na pessoa da presidente da República: ocorrera queda de 35 pontos na popularidade de Dilma se a comparação se der com o mês de março de 2013, quando a

104 A média anual do desemprego no Brasil em 2013 foi de 5,4%, e em 2014 foi de 4,8%, atingindo em

dezembro deste ano o menor índice da história (4,3%). Ver mais em: < http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,desemprego-em-dezembro-cai-para-4-3-o-menor-indice-da- historia,1626434>. Acesso em 20 de outubro de 2017.

presidenta gozava de sua maior taxa de aprovação popular. [...] Esse foi o efetivo começo do golpe (SOUZA, 2016, p. 95).

O tema da corrupção que historicamente foi utilizado para a manipulação (SOUZA, 2016), sem, contudo, tocar nos reais problemas da sociedade capitalista, foi constantemente tratado pela mídia no sentido de ligar a corrupção brasileira ao PT, até que a palavra de ordem “Fora Corruptos” fosse substituída por “Fora PT”.

Observava-se, então, movimentações na formação de uma frente única burguesa, que a grosso modo incluía o setor industrial, antes alinhado com a coalização produtivista que estava no poder, o setor rentista105 e a classe média tradicional, simpatizada com o ideário neoliberal, apesar de conflitar com interesses particulares com alguns desses setores, notadamente o industrial (SINGER, 2015).

Boito Jr. (2016, p. 28) afirma que desde 2013 “o capital internacional e a fração da burguesia a ela integrada iniciaram uma ofensiva política contra o governo Dilma”. Nesse caso, trata-se de uma ofensiva com vistas a restaurar a hegemonia da política fundomonetarista pura e dura.

As eleições presidenciais de 2014 ocorreram sob forte influência das jornadas de junho, dos indicadores econômicos, que já sinalizam a crise, e da operação Lava Jato, que focava suas ações nos políticos petistas e vazava seletivamente depoimentos e delações que visavam, claramente, desgastar o governo Dilma e o PT. No segundo turno, duas plataformas distintas rivalizaram, uma de inspiração neoliberal, defendida por Aécio Neves, outra comprometida com o (neo)desenvolvimentismo, com a manutenção dos direitos dos trabalhadores e com a continuidade das políticas sociais, nesse caso defendida por Dilma Rousseff. Ao final, Dilma Rousseff foi reeleita com uma pequena margem de votos106.

Ao analisar as eleições presidenciais de 2014, Paulani (2016) corrobora com panorama aqui traçado:

O agravamento do cenário econômico levou à conturbação do cenário político e à difusão do terrorismo econômico, fazendo que o país, depois das

105 Segundo Singer (2015, p. 58), “o programa rentista seria manter o Brasil alinhado ao receituário neoliberal,

bem como na órbita do grande capital internacional e da liderança geopolítica dos Estados Unidos. Para a coalizão produtivista, a meta primordial seria acelerar o ritmo de crescimento por meio de uma intervenção do Estado que levasse à reindustrialização, permitindo tornar mais veloz a distribuição de renda”.

106 Dilma Rousseff (PT) obteve 54.501.118 (51,64%) votos, contra 51.041.155 (48,36%) votos obtidos por Aécio

Neves (PSDB), seu adversário. Dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): < http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-candidaturas-2014/estatisticas-eleitorais-2014-resultados>. Acesso em 20 de outubro de 2017.

manifestações de maio e junho de 2013, se encaminhasse praticamente dividido às eleições presidenciais de 2014. Os dois modelos estavam aí em disputa: de um lado, a tentativa de, mesmo em meio à crise, dar continuidade ao modelo conciliatório (chamado por alguns de neodesenvolvimentismo) e, de outro, a busca por resgatar in totum a agenda neoliberal e romper com esse modelo (PAULANI, 2016, p. 73).

Contrariando as expectativas e a base social que a elegeu, logo no início do segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff sinaliza, ao substituir o ministro Guido Mantega por Joaquim Levy107 na pasta da fazenda, que iria realizar mudanças no âmbito da política econômica. O que se confirmou mais tarde, traduzido na implementação de um duro ajuste fiscal. Com isso, Dilma Rousseff abandona suas promessas de campanha e adota a política dos derrotados.

Constata-se que o governo Dilma cede à forte pressão do setor financeiro, que fora atingido, meses antes, por medidas que forçaram a redução dos spreads108 bancários, para que o governo alterasse os rumos da política econômica. Frente a pressão, o governo Dilma inicia uma guinada, propondo a responsabilidade fiscal como um dos pactos para reunificar a nação. Viu-se, então, cortes no orçamento e elevação dos juros, seguidos de queda do PIB. "Com o declínio da atividade econômica, cai a arrecadação, deixando o Estado vulnerável às propostas de ajuste fiscal que se tornarão ubíquas" (SINGER, 2015, p. 56).

O aumento do conflito distributivo e a dificuldade da gestão petista em controlar os conflitos provocaram uma paulatina desconfiança do bloco no poder da forma petista de governar (“jogo de ganha-ganha”), que já tinha aparecido, em menor grau, nas eleições de 2014 [...]. Com isso, frações do bloco no poder começaram, em momentos diferentes, a defender a redução do conflito distributivo por meio da redução dos custos da força de trabalho (reforma trabalhista e da terceirização) e da reforma da previdência, abrindo novos espaços de acumulação via previdência privada e a redução dos gastos públicos (PINTO et al., 2017, p. 12).

Concomitante se acentua a crise política e institucional, em grande medida evidenciada e alimentada pela chamada operação Lava Jato, que cada vez mais se espetacularizava e recorria a expedientes bastante criticados, como o excesso de prisões provisórias e preventivas, conduções coercitivas indiscriminadas, etc.

107 Cabe registrar que Joaquim Levy compôs a equipe que produziu o programa econômico de governo do

candidato Aécio Neves.

108 Consiste na diferença de valor de compra e de venda de uma ação ou transação monetária, nesse caso, a

diferença entre o valor da captação de recursos que os bancos fazem e o valor que se empresta esse montante captado.

A crise nos poderes do Estado pode ser identificada, dentre outros eventos, na desobediência da mesa do Senado Federal em afastar o senador Renan Calheiros da presidência casa, diante de uma decisão liminar proferida por um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Segundo Pinto et al. (2017), o centro do poder do Estado brasileiro migrou para as