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NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E ENCADEAMENTOS INTERSETORIAIS

2 TEORIAS, DESENVOLVIMENTO REGIONAL E FATOS ESTILIZADOS

2.2 NOVA GEOGRAFIA ECONÔMICA E ENCADEAMENTOS INTERSETORIAIS

A partir dos avanços recentes da NGE, pode;se dizer que a perspectiva de análise da Ciência Regional foi renovada (SANTOS, 2010). Os fundamentos teóricos da NGE baseiam;se na linha de pesquisa sobre comércio internacional de Paul Krugman, com destaque para os estudos desenvolvidos em Krugman (1979, 1980, 1981) e Helpman e Krugman (1985). Este último, segundo Lemos (2008), tornou;se a referência da Nova Teoria de Comércio Internacional17.

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Termo empregado por Robert;Nicoud (2004).

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A NGE busca incorporar características do pensamento heterodoxo como, por exemplo, retornos crescentes de escala e competição imperfeita no arcabouço neoclássico de equilíbrio geral. Lemos (2008) resume, do ponto de vista teórico, quatro características principais da NGE: i) combina retornos crescentes com concorrência imperfeita; ii) modela múltiplos equilíbrios; iii) incorpora a teoria da localização como parte da teoria de equilíbrio geral; e iv) combina custos de transporte e mobilidade de fatores com retornos crescentes de escala e suas externalidades positivas para a região, o que gera processos de causação circular (ou cumulativa). Para Robert;Nicoud (2004), por sua vez, a principal característica da NGE vem da sua formalização de mecanismos de aglomeração com base no tamanho endógeno do mercado.

A base da NGE é sintetizada no modelo Centro;Periferia (CP) desenvolvido por Krugman (1991), no qual são expostos os conceitos da formação das economias de aglomeração. Isto ocorre, segundo Venables (1995), quando o crescimento do número de firmas numa região implica aumento do retorno de outras firmas. Fujita, Krugman e Venables (1999), por sua vez, consolidam a teoria de localização retratada no modelo CP e ampliam o escopo de desenvolvimento regional para as dimensies urbana e internacional.

A intuição do modelo CP é de que três fatores contribuem para o surgimento de economias de aglomeraçies: i) as firmas monopolísticas tendem a se localizar próximas dos grandes mercados e a exportar para os menores; ii) os bens e serviços geralmente são mais baratos na região onde há maior concentração de firmas industriais, já que os custos de transporte são menores e, consequentemente, isso gera um impacto sobre o custo de vida local; e iii) as firmas monopolíticas tendem a se localizar em mercados com baixa competição (BALDWIN et al., 2003; FUJITA; KRUGMAN; VENABLES, 1999; FUJITA; THISSE, 2002; KRUGMAN, 1991).

A combinação dos dois primeiros fatores com a migração interregional gera o potencial de causação circular que atua como um mecanismo de atração e/ou aglomeração. O último fator, por outro lado, atua como uma força de dispersão. Assim, qualquer modelo da NGE baseia;se em uma tensão entre forças de aglomeração que apresentam a tendência de concentrar firmas e consumidores em uma mesma região e forças de dispersão que tentam impedir esse processo (LEMOS, 2008; SANTOS, 2010).

A NGE atribui uma nova roupagem aos encadeamentos setoriais estudos por Hirschman (1958) ao levar em conta um ambiente de competição imperfeita e retornos crescentes.

Autores como Venables (1995, 1996), Baldwin e Venables (1995) e Krugman e Venables (1996) consideram os encadeamentos intersetoriais ou ligaçies de insumo;produto como fatores determinantes das aglomeraçies industriais. Segundo esses autores, grosso modo, as ligaçies intersetoriais são usadas pelas indústrias para redução dos custos de transporte. Mesmo que a proximidade aumente a competição e atue como uma força de dispersão, a NGE defende que a competição imperfeita e os retornos de escala podem inibir os efeitos de localização, incentivando a aglomeração em um ambiente mais competitivo. A partir desses conceitos, surgiram no âmbito da NGE os modelos de ligaçies verticais ( ). Segundo Robert;Nicoud (2004, p. 205): IJ K !

! $ I. Daí a justificativa em relação ao nome dado a

esses modelos.

A estrutura básica do modelo de ligaçies verticais assume uma economia constituída por duas regiies, dois setores (agrícola e industrial) e dois fatores de produção (capital e trabalho). No setor agrícola adota;se retornos constantes de escala e competição perfeita, ao passo que no setor industrial há retornos de escala, custos de transporte e competição imperfeita. O modelo considera mobilidade intersetorial e imobilidade interregional do fator de produção mais intensivo. Além disso, todas as unidades industriais comercializam entre si por meio das relaçies de compra e venda de insumos intermediários (SANTOS, 2010).

No modelo de ligaçies verticais, segundo Baldwin et al. (2003) e Ottaviano e Robert;Nicoud (2005), cada unidade industrial produz diferentes mercadorias e, devido a apresença de custos de transporte, há diferenças de preços de um determinado produto entre as diferentes regiies. Para se evitar custos de transporte, os consumidores da região com maior aglomeração vão importar menos. O processo de causalidade cumulativa vai ser iniciado devido aos índices de preços relativamente menores e r mobilidade intersetorial de trabalho.

De acordo com Robert;Nicoud (2004), embora os trabalhadores sejam "imóveis" entre regiies, os mesmos podem migrar livremente entre setores. Desta forma, o tamanho de mercado relevante para o setor é endógeno. Contudo, ainda segundo este autor, resultados numéricos obtidos a partir desse arcabouço são raros e difíceis de serem obtidos. Assim, há extensies ou modelos de ligaçies verticais alternativos.

Um desses modelos alternativos foi desenvolvido por Robert;Nicoud (2004) e combina mobilidade de capital e ligaçies de insumo produto para explicar o surgimento de economias

de aglomeração. Esse autor considera a existência de duas forças distintas: i) aglomeração; e ii) dispersão.

A primeira força de aglomeração é a ligação para trás (! ( ), a qual pressupie que as firmas irão aumentar as despesas com produtos intermediários no mercado doméstico devido a presença de custos de transportes. Dada a maior disponibilidade de capital nesta região, isso provoca o deslocamento de despesas e elevação do lucro. A segunda força de aglomeração é a ligação para frente ( ( ). A queda no custo de transportes devido ao aumento da produção industrial na região doméstica, implica na queda no índice de preços para o consumidor nesta região e aumento dos custos de produção nas demais localidades (SANTOS, 2010).

No sentido oposto aos índices de ligação para trás e para frente, agem as forças de dispersão

ou também denominadas como ( (BALDWIN et al., 2003; ROBERT;

NICOUD, 2004). Em linhas gerais, o deslocamento de uma indústria da região 1 para 2 implica maior fatia de mercado e aumento do número de firmas na região 2, ao passo que na região 1 ocorre examente o contrário. Desse modo, isso gera um incentivo para outras firmas fazerem o movimento contrário, ou seja, instalar;se na região 1. A partir da atuação das forças de aglomeração e dispersão, percebe;se um processo de causação circular.

Apesar da complexa tratabilidade empírica dos modelos da NGE, os mesmos têm oferecido novos desafios para a Ciência Regional. A tarefa fica ainda mais difícil quando se tenta modelar os elementos da NGE em uma estrutura de equilíbrio geral (SANTOS, 2010). No entanto, esses elementos podem subsidiar o entendimento do problema de pesquisa e dos resultados obtidos aqui.