• Nenhum resultado encontrado

PENETRÁVEIS II PROJETO HELIO OITICICA R$ 248.044 ARTES PLÁSTICAS

3 CRISE E TRANSFORMAÇÃO: A NOVA LEI DO ISS, 2011–

3.5 Nova gestão na SMC implementa a Lei 5.553/

Ainda em dezembro de 2012, Eduardo Paes nomeou Sérgio Sá Leitão para a secretaria da Cultura no lugar de Emilio Kalil. Presidente da RioFilme desde 2009, e com participação na gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura,157 no BNDES e na Ancine, ele acumulou os dois cargos (MESSEDER, 2016, p. 22). Quando houve a votação da nova lei na Câmara Municipal, SSL158 já era o secretário e foi formando sua equipe. Messeder (2016) aborda as políticas públicas de cultura no município do Rio de Janeiro no período de 2013–2014:

154 Fala de Frederico Cardoso na Audiência Pública da Comissão de Educação e Cultura, Plenário da Câmara

Municipal do Rio de Janeiro, em 9 de abril de 2012. Tema: discussão da Lei do ISS para incentivo à Cultura Carioca.

155 Fala de Paula Brandão na Audiência Pública da Comissão de Educação e Cultura, Plenário da Câmara

Municipal do Rio de Janeiro, em 9 de abril de 2012.

156 De acordo com Paulo Messina, “foram realizadas (a) entrevistas preliminares com produtores culturais; (b)

audiências e debates públicos para discussão e eleição de um Grupo de Trabalho (GT), formado por diversas áreas culturais e produtores de portes variados, e (c) reuniões do GT em questão, nas quais todos os artigos que ora lhes apresento foram discutidos e votados, um a um, e hoje contam com o apoio – se não unânime – da absoluta maioria do setor cultural” (Projeto de Lei 232-A).

157 De 2003 a 2006, exerceu a chefia de gabinete e a secretaria de políticas culturais. 158 Sérgio Sá Leitão, ou SSL como era chamado por sua equipe.

Os anos de 2013 e 2014 foram um período de mudança e de muita atividade na Secretaria Municipal de Cultura, bem como de montagem de uma equipe bastante integrada, de definição de um conjunto variado e ao mesmo tempo complementar de atividades nas suas diversas áreas de atuação. Foi também um período de consolidação de um modelo de gestão que traz as marcas de maior profissionalização, de mais transparência na tomada de decisões e na busca de resultados, bem como de maior capacidade de escuta com relação aos atores mais diretamente envolvidos na produção cultural na cidade do Rio de Janeiro, o que, evidentemente, não impede eventuais desacordos e protestos de diferentes atores sociais (MESSEDER, 2016, p. 21).

Danielle Nigromonte159, profissional com experiência em gestão pública de cultura assumiu a subsecretaria de cultura e Carlos Corrêa,160 da Controladoria Geral do Município, a subsecretaria de gestão. Os dois foram peças-chave nas transformações que ocorreram, tanto na abertura de diálogo com o mercado quanto na interlocução da secretaria com as outras instâncias administrativas da prefeitura (MESSEDER, 2016, p. 21).

Apesar de a nova lei ter sido promulgada em janeiro, precisava ser regulamentada pelo poder público e, se isso demorasse, menor seria a renúncia fiscal. Até março, não havia sinalização de edital.

[...] Em todos os sentidos é um desperdício. Hoje chegamos a 18 de março e, considerando um tempo mínimo para a publicação dos editais dos contribuintes incentivadores e dos produtores culturais, as etapas de inscrição, avaliação de projetos e cálculo da proporcionalidade, provavelmente mais um mês de renúncia será perdido. Ou seja, dificilmente os valores relativos à competência março / desembolso abril serão computados, deixando apenas oito meses (competências de abril e novembro) para os recolhimentos.161

A partir de então, a postura da SMC em relação aos produtores culturais, de um modo geral, mudou. Ao invés de confronto, ampliou a escuta e realizou de forma pioneira uma consulta pública sobre o edital de produtores e incentivadores, estimulando a participação. No mês seguinte, foram publicados os atos necessários à operacionalização do incentivo fiscal.162 Em 14 de maio de 2013, foi lançado no Imperator163 o Programa de Fomento à Cultura Carioca

159 Servidora pública concursada como professora de história, com mais de 20 anos de experiência na

administração pública, sendo que 15 com dedicação integral à gestão pública de cultura (MESSEDER, 2016, p. 33).

160 Contador e concursado na Controladoria Geral do Município do Rio de Janeiro, ocupou cargos importantes na

gestão pública (MESSEDER, 2016, p. 21).

161 Parte de e-mail enviado ao secretário de cultura, assinado por Adailton Medeiros (Ponto Cine), Isabel Seixas

(M’Baraká), Júnior Perim (Circo Crescer e Viver), Marcela Bronstein (Vulkana Bronstein), Paula Brandão (Baluarte Agência) e Silvana Malheiros (ArteEnsaio), em 19 de janeiro de 2013.

162 Decreto 37.031/2013 regulamentando a Lei 5.553; Resolução SMC 258/2013; CCPC. Regimento interno;

Resolução SMC 291/2014 instituindo as normas para a prestação de contas; Resolução Conjunta CGM, SMC e SMF 03/2013 que dispõe sobre a utilização dos Incentivos Fiscais.

2013, com as presenças de Eduardo Paes e Sérgio Sá Leitão, e anunciados R$ 43 milhões para o Programa de Fomento Indireto (Lei do ISS), um recorde.

Apesar da existência da nova lei e também do decreto regulamentador, a implementação foi problemática, pois na etapa de inscrição164 mais de 50% dos incentivadores inscritos foram inabilitados. As 95 empresas aprovadas, juntas, representavam R$ 18.883.674 apesar de uma renúncia de mais de R$ 40 milhões. As justificativas apresentadas pela CCPC, eram, no mínimo, curiosas.

Num dos casos, as inscrições das filiais de um patrocinador foram inabilitadas pelo fato de um mesmo funcionário ter feito o cadastramento dos vários CNPJs das empresas. A CCPC alegou que um mesmo funcionário não poderia ter vínculo empregatício com “várias” empresas ao mesmo tempo,165 o que não fazia sentido, já que a própria Lei 5.553/13 contemplava grupos econômicos.

Após muita contestação, foi aberta uma segunda etapa de inscrição para incentivadores, com esclarecimento prévio de procedimentos operacionais para evitar nova leva de inabilitações. O saldo a ser utilizado era de R$ 24.038.830, no entanto, na elaboração do edital 03/2013, os valores a serem cadastrados pelas empresas, limitados a 5% (empresas) ou 10% (grupos econômicos), foram calculados com base no saldo de renúncia e não sobre o seu valor total (R$ 42.992.500), o que provocou um subaproveitamento do potencial de investimento das empresas. Muito provavelmente, houve diferentes interpretações jurídicas sobre essa base de cálculo (renúncia total ou saldo disponível), mas o fato é que isso provocou um “desperdício” de cerca de R$ 5 milhões para o incentivo à cultura em 2013. Além disso, de acordo com os dados da CGM, do orçamento final de R$ 42.922.503, foram empenhados 81%, ou seja, R$ 34.568.326.

Em agosto, produtores e o vereador Paulo Messina se reuniram com os subsecretários de cultura para apresentarem sugestões para o edital de 2014 e evitar a repetição dos problemas de 2013. Na pauta:

a) padronização de modelos de documentos como anexos do edital;

b) supressão da inabilitação automática dos incentivadores – abrir no calendário um prazo para os recursos das empresas;

c) publicação de pareceres com as razões da inabilitação, tornando os processos mais transparentes;

164 Publicação dos resultados no Diário Oficial do Município em 29 de março de 2013. 165 E-mail enviado à autora pela Secretaria Executiva da CCPC, em 29 de março de 2013.

d) utilização do site da SMC como portal de informações atualizadas e contendo a listagem completa dos projetos;

e) supressão da exigência da adequação do orçamento ao valor captado e sim ao aprovado, evitando retrabalho;

f) extinção das cartas de anuência – procedimento contra a lógica da produção e que gera apenas burocracia;

g) promoção de reuniões com contribuintes para esclarecimentos;

h) anuência da captação complementar em anos fiscais distintos, respeitando a validade do certificado.

Figura 23: Reunião de produtores com Paulo Messina e Secretaria de Cultura em 22 de agosto de 2013.

Eduardo Marques, Paula Brandão, Marcela Bronstein, Paulo Messina, Suzana Aragão, Amanda Sampaio, Isabel Seixas, Danielle Nigromonte e Carlos Corrêa

Fonte: Acervo pessoal.

Em 11 de setembro de 2013, Eduardo Marques,166 do setor de prestação de contas e com formação em gestão pública167 foi nomeado secretário executivo da CCPC e inúmeras ações foram implementadas: a realização de encontros entre a SMC, produtores e incentivadores para apresentação da nova lei; padronização de formulários; elaboração de manual de procedimentos exclusivo para a CCPC; certificados de participação para incentivadores entre outras. Uma das mais importantes foi a transformação no relacionamento entre a CCPC e os produtores.

166 Eduardo Marques se formou em contabilidade e possui especialização em Gestão Pública Moderna e em

Parcerias Público-Privadas (FGV/SP) e em certificação ISO (International Standartization for Organization). Relato do próprio, em 19 de fevereiro de 2017.