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2. INTERAÇÕES NO CIBERESPAÇO E VIGILÂNCIA DISTRIBUÍDA

2.4. Nova proposta de interações no ciberespaço

Compreender os novos territórios promovidos pelas mídias interativas no ciberespaço é fundamental para visualizar os impactos no cotidiano social. Tais aspectos interativos vão desde relações presenciais, passando por sistemas fechados no sentido de estímulo-resposta, seguidos por interfaces abertas com fluxo dinâmico e gestão compartilhada por meio de vigilância participativa ou distribuída, conforme apresentados nos tópicos anteriores.

Os caminhos percorridos por essas relações interativas não são, necessariamente, crescentes, mas devem ser colocados de forma comparativa, mesmo quando se pesquisa dados quantitativos, uma vez que valores numéricos relacionados à absorção de requisitos tecnológicos representam nivelamentos qualitativos.

Contudo, a abordagem que objetivasse adotar nesta pesquisa circunda a esfera pública sob a ótica dos serviços municipais disponibilizados em governo eletrônico e as relações das mídias interativas distribuídas em rede e não mais isoladas no contexto para massas, tal como as interfaces de comunicação coletiva ou “interfaces sociais coletivas” (SOUZA E SILVA, 2006, p. 262). Vale destacar que as interfaces geralmente são definidas pelo contexto cultural a partir da introdução às práticas sociais e desassociadas do tempo de desenvolvimento da tecnologia. Cada mudança no significado de uma interface requer uma redefinição das formas de relações sociais e dos tipos de espaços mediados, encontrando aqui sua validade como importância comunicacional.

Henrique Antoun destaca o poder das interfaces de comunicação coletiva frente às mídias de informação massiva:

Desde o seu surgimento, a mídia distribuída tem se contraposto através de seus usuários a estes efeitos acachapantes de achatamento da diversidade cultural promovida pelos processos de indução e falseamento de opinião típicos desta comunicação unilateral onde poucos falam para muitíssimos. Embora a mídia irradiada de massa seja uma valiosa máquina de construção e destruição instantânea de reputação social; as mídias distribuídas de grupo têm se revelado uma poderosa máquina de criação e sustentação de reputação duradoura, funcionando em longo prazo (ANTOUN, 2010, p. 141).

O poder de mobilizar e relatar fatos passados se expande na distribuição em rede pela internet, permitindo uma narração, muitas vezes, em tempo real. O imediatismo na comunicação foi reconfigurado e as mídias de massa foram obrigadas a se reestruturarem. A geração de pautas e o agendamento não mais se restringem à grande mídia e as diversas formas de interação foram promovidas.

O monitoramento dos interagentes no ciberespaço faz parte da eficácia do processo estrutural desse novo tipo de interação, que deve ser mapeado e analisado no contexto da sociedade em rede, onde não há redes sociais isentas de vigilância e, por sua vez, também não deve haver nessa nova esfera pública que se configura, no que podemos dizer de nível mais elevado, pela relação compartilhada entre governo e cidadão na gestão urbana.

Para isso, convém propor uma classificação das formas de interação que possa ser aplicada à pesquisa em curso como ponto de partida para análise das categorias de serviços públicos municipais disponibilizados pelas prefeituras do Estado do Rio de janeiro. Pelo objeto de estudo desta pesquisa estar inserido no meio cibernético, esse tipo de interação somente será considerado para serviços públicos passíveis de migração para outras formas de interações mediadas.

A partir dos tipos de interação apresentados anteriormente, propõe-se uma nova classificação para interações no ciberespaço a fim de contribuir para o método de investigação das características interativas dos serviços públicos que serão mapeados no capítulo posterior. Esta nova proposta reúne os aspectos primários de cada tipo de interação apresentada e engloba as especificidades das visões de cada autor sobre suas aplicações práticas que servirão como percurso metodológico para esta pesquisa, sendo elas: interação face a face, interação quase mediada, interação mediada reativa e interação mediada mútua.

A “interação face a face” mantém sua natureza presencial e o contexto de copresença por um sistema referencial espaço-temporal comum. O caráter dialógico deste tipo de promoção interativa será utilizado tal como definido por Thompson. Sua aplicação na pesquisa será para caracterizar as interações nos serviços públicos municipais disponibilizados via presencial, mas passíveis de migração para outro tipo interativo. Os serviços públicos que somente possam ser oferecidos de forma presencial serão descartados da análise. Essa relação de descarte será definida a partir da existência de outra forma interativa para o mesmo serviço disponibilizado por no mínimo um município dentre a região estudada.

Será criado um paralelo entre a “interação quase mediada”, por seu caráter monológico, e os serviços semipresenciais. Pela limitação de deixas simbólicas e sua mediação, originalmente, por meios de comunicação de massa, essa classificação será utilizada para

serviços que compreendem as formas tanto presenciais quanto virtuais, mesmo que em níveis diferentes de relação percentual.

A “interação mediada” de Thompson será aglutinada às interações “reativa” e “mútua” de Alex Primo com derivação de dois novos tipos: “interação mediada reativa” e “interação mediada mútua”. Embora, ambas possuam caráter dialógico e sejam mediadas por objeto técnico, as características dos tipos de interação de Primo agregam valores que refletem aspectos predominantes das mídias interativas na sociedade em rede, sendo redefinidas.

A “interação mediada reativa” será utilizada para classificar serviços exclusivamente mediados por objetos técnicos e ofertados por meio virtual. Contudo, tal ferramenta deverá constituir-se de sistema fechado com necessidade de estímulo-resposta por reagentes.

A “interação mediada mútua” também será utilizada para classificar serviços exclusivamente mediados por objetos técnicos e ofertados por meio virtual, mas que atuem por interagentes na gestão urbana compartilhada por meio do conceito de “vigilância distribuída” de Fernanda Bruno.

Quadro 1 – Tipos de interação propostos pelo pesquisador

Estes quatro novos tipos de interações propostos (face a face, quase mediada, mediada reativa e mediada mútua) estabelecem uma relação de hierarquia tecnológica servindo para

identificar as possibilidades de interações nos serviços públicos municipais no Estado do Rio de Janeiro no que tange ao nível de oferta de mídias interativas. As interações “híbridas”, que poderiam ser aplicadas aos serviços que possuam mais de um tipo opção interativa, serão descartadas, uma vez que será considerada para efeitos desta pesquisa o tipo de interação de maior nível dentre as ofertas mediadas por dois ou mais canais de comunicação.

Faz-se necessário também estabelecer níveis de hierarquia tecnológica entre os tipos de interações propostos para aplicação metodológica nesta pesquisa, bem como utilizar-se da classificação de “mediada por telefone” para indicar as interações restritas por comunicação por voz na forma de ligação tradicional. Além disso, também será utilizada a expressão “não disponível” para indicar a ausência de serviço disponível pela respectiva instituição. Os tipos de aplicação para cada nível de serviço analisado serão detalhados no capítulo 3.

Em vista das inter-relações complexas entre agentes humanos e não humanos apresentadas anteriormente, os tipos de interações de John B. Thompson (item 2.1) e Alex Primo (item 2.2) utilizados como fundamentação teórica para compor esta proposta parecem adequados para construção de novas formas de interação e aplicação, por considerar que estas duas teorias abarcam o arcabouço teórico das diferentes visões entre agentes humanos e não humanos na sociedade em rede. Tais visões reúnem a interação no sentido de trocas simbólicas de Thompson, não como parte da materialidade dos processos de comunicação digital, junto à preocupação com questões de interatividade como ferramenta do processo comunicativo via dispositivos digitais de Primo.

Desta forma, formam-se discussões sobre as aberturas que essas interações podem trazer para a ciberdemocracia, conforme observamos no capítulo anterior, e surgem condições para examinar tais aberturas em nível da esfera pública municipal por meio destas características interativas.

3. MAPEAMENTO DAS INTERAÇÕES NOS SERVIÇOS MUNICIPAIS DO RIO DE