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Novas teorias sobre cultura popular, primeiras instituições culturais e um lugar para o folclore.

3.2.1. Uma nova teoria para o popular e as primeiras instituições para cultura erudita no Maranhão.

A obra de Celso de Magalhães será continuada por seu sobrinho Antônio Lopes, através das pesquisas realizadas durante a primeira metade do séc. XX, que resultaram no livro

Presença do romanceiro. Versões maranhenses26. Logo na Introdução, Lopes (1967:1-5)

reconhece Magalhães como o iniciador dos estudos científicos do folclore no Brasil, e se propõe ampliar a coleta sobre o romanceiro maranhense, contando com a colaboração de amigos, dentre eles ressalta: Curt Nimuendaju, Clarindo Santiago e Milton Barbosa Lima; do seu irmão Raimundo Lopes e da sua ex-aluna, a escritora Lucy Teixeira.

Teórica e metodologicamente a obra de Lopes (1967) e de Magalhães (1973) apresentam pontos em comum. Lopes continua pautando a formação da nação pela convergência das contribuições das três raças, portugueses, negros e índios, sendo o povo os pobres incultos em oposição aos ricos e eruditos. Corrobora que o romanceiro veio de Portugal, e os estuda comparando com as coletâneas de autores portugueses, em especial Teófilo Braga, de acordo com o método de Magalhães. No registro escrito dos romances Lopes manteve-se fiel à forma oral cantada pelo povo, grafando-os com os erros gramaticais, de pronúncia e com os termos considerados ofensivos (Lopes, 1967:8), sem fazer censuras prévias como ocorreu em Magalhães27. Lopes coletou os romances diretamente com o povo28

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Concluído em 1948, teve publicação póstuma em 1967, pela editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro.

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As censuras eram comuns entre os folcloristas brasileiros até a década de 1920, para evitar escandalizar os leitores. Ver Ayala e Ayala (1987). Entretanto, Magalhães (1973) deixa claro que não fez adaptações nos romances para embeleza-lo, prática corrente entre alguns folcloristas no Brasil e fora dele, a exemplo de Almeida Garret, criticado por Magalhães por esta prática.

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Em comunicação pessoal um colaborador da obra de Lopes que não quis dar entrevista, o povo seria a classe média baixa e os pobres da cidade de São Luís.

evitando as camadas altas e médias, dessa forma o autor reafirma que o povo não é letrado enquanto as classes altas o são. Estas opções revelam rigor na coleta, que não aparece como uma preocupação na obra de Magalhães, o qual não identificou com precisão a forma de coleta dos romances e reproduziu algumas poesias a partir da sua própria memória de infância.

Outra característica da obra de Lopes, diferente de Magalhães, é a preocupação com as mudanças entre as versões de um mesmo romance. No contexto de Portugal, as variações num mesmo romance, serviam para investigar qual versão estaria mais próxima do original, no geral as modificações eram consideradas deturpações, avaliadas negativamente. Lopes (1967:8-9) propõe que a investigação do romanceiro deve ser feita, no Brasil, enfocando as “deturpações” positivamente29. São elas que dão originalidade à poesia brasileira, evidenciando sobrevivências de arcaísmos da língua do povo, dos quais muitos seriam peninsulares/portugueses, sugerindo as idéias de autenticidade que o autor sustenta. Magalhães viu nas deturpações a originalidade do povo, entretanto, com base na hierarquia racial, elas poderiam provocar a morte do romanceiro, estando associadas negativamente aos negros.

Estas definições distintas das variações no romanceiro liga-se às orientações teóricas dos dois autores. Lopes considerava a existência de uma lei geral da transformação do romanceiro através de esquecimentos de pormenores e encurtamento dos romances, assim como pelos enxertos ou interpolações, as aquisições de minudências e as modificações de

toda espécie (Lopes, 1967:12). Enquanto que a teoria evolucionista e racial de Magalhães, já

traz em si, uma classificação de algumas contribuições como negativas, um “a priori”, na avaliação das mudanças no romanceiro, assim como, um julgamento do modo de falar que, por si só, seria negativo se infringisse normas gramaticais. Corrêa (2001:39-40) atribui esta posição de Lopes à aceitação da avaliação positiva sobre a contribuição do mestiço, ao romanceiro nacional, por Sílvio Romero30. Esta posição de Lopes sugere a inclusão, entre os símbolos da identidade nacional, do que o povo fazia contemporaneamente, permitindo uma inflexão no estudo do romanceiro, que ao invés de degenerar, como propôs Magalhães, estaria vigoroso e em processo de criação original, o que permitia sua continuidade no tempo. Talvez

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Estes [folcloristas portugueses] têm por missão precípua procurar, através do estudo da literatura oral, as

versões que mais se possam considerar reflexos menos estropiados dos romances, enquanto o estudo das deturpações e, através delas, a obra do nosso povo, hão de ser, estamos convencidos, o principal para aquele

[folclorista brasileiro]. (Lopes, 1967:9)

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por isso, Lopes considere tão importante a coleta junto ao povo, como se ela fosse a prova de fidedignidade desta transformação original e positiva do romanceiro maranhense.

Teoricamente Lopes considerou que a poesia popular se transforma de acordo com a índole do povo, e simultaneamente revela qual é esta índole. Suas criações não são históricas ou decorrentes de processos sociais, mas das características psicológicas que o povo traz em si, reveladas na unidade das criações do romanceiro que, apesar da variedade de versões para um mesmo romance, mantêm uma estrutura interna31. Baseado neste postulado, as adaptações realizadas nos romances portugueses no Maranhão, indicariam, por exemplo, que as ironias seriam decorrentes da índole do maranhense: a facilidade no apreender o lado ridículo de

tudo e a habilidade no criticar sem azedume. (p. 59). Apesar da ironia, ou por ela se fazer sem

azedume, o autor considera que uma variação do romance sobre o adultério pode ser atribuída

A compaixão peculiar à alma do povo maranhense, inimigo de vinganças e castigos violentos, acrescentou versos que a adultera manifesta horror à maldição eterna pelo fato de haver cometido pecado carnal com clérigo. (p. 213). Outras características, segundo Lopes, Da índole do povo do Maranhão, nada inclinado e quase de todo ou todo emancipado de fanatismo religiosos, a ponto de parecer até cético a quem não lhe conheça a sinceridade das crenças, são o espírito crítico, a ironia, o pendor para a poesia, a graça, a espiritualidade. (p.

65. Grifos meus).

Esta concepção da poesia, que deriva da índole do povo, além de explicar a unidade na variação, permite ver uma unidade entre o popular e o erudito, posto que são realizados por pessoas da mesma origem e partilham das mesmas características, as diferenças estariam no uso da linguagem, devido à simplicidade da forma de falar do povo, e também por não ser letrado como os eruditos. Entretanto, a unidade que a índole apresenta é retirada das características atribuídas aos eruditos, as quais são utilizadas para dar significados à denominação de São Luís como Atenas Brasileira: suas aptidões intelectuais, sobretudo

literárias ou poéticas; o espírito crítico, a ironia, o pendor para a poesia, a graça, a espiritualidade. Neste sentido o popular não parece servir para dar significados a uma

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Não há negar quanto é impressionante essa unidade, não menos do que a abundância de sobrevivência do

romanceiro de além-mar no Maranhão. Serão uma e outra atribuíveis a influência da matéria ou do gênio peninsular ou provenientes do espírito do povo maranhense e suas aptidões intelectuais, sobretudo literárias ou poéticas, já de sobejo comprovadas nas páginas da literatura brasileira? Aqui fica a pergunta muito embora a última parte possa dar margem a que nos acoimem de provinciano ingênuo e bairrista. Não será, cremos, a primeira vez. (Lopes, 1967: 14, grifos meus).

identidade maranhense, mas para marcar distinções internas a esta sociedade entre os ricos e os pobres, que se mantêm unidos por compartilharem a mesma índole.

Parece caber aos eruditos identificar o popular e, de certa forma, traduzi-lo, para diminuir a estranheza entre ricos e pobres, fazendo a classificação da produção popular, e vendo como, nas expressões da arte popular, a índole maranhense, que constrói a erudição, manifesta-se. Para que seus achados sobre o popular tenham validade, os investigadores do tema devem ser eruditos. Os analistas de Antônio Lopes repetem a fórmula dos analistas de Celso de Magalhães, sendo ambos apresentados como cientistas, como eruditos e historiadores, o que confere legitimidade à sua obra, e, por conseguinte, ao que eles afirmam sobre o povo e sua produção cultural.

Um exemplo dessa forma de valorização da erudição de Lopes, que o autoriza a estudar o folclore, está na descrição de sua produção e atuação intelectual na apresentação da

Presença do romanceiro (1967). Em Recife-PE, estudou na Faculdade de Direito e integrou o

movimento literário, publicando Litanias da Morte. No Maranhão, ensinou no Liceu do Maranhão, Escola Normal e Faculdade de Direito de São Luís; fundou a Associação Maranhense de Imprensa e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM); escreveu nos jornais A Pacotilha, O Imparcial e Diário da Noite (do qual foi fundador); publicou livros de poesia, ficção, história, crítica e folclore32. Integrou a Renovação Literária e o grupo de Novos Atenienses – cuja preocupação central era revigorar o cenário intelectual maranhense, a partir das suas características de Atenas (Martins, 2002:117). Esta trajetória reforça que o folclore se constituiu como um objeto para os eruditos, entretanto, a experiência de identificação como maranhense, retorna constantemente à valorização de ser ateniense, o caso de Lopes, o folclore remontava às origens, interpretado pelos conteúdos constitutivos dos símbolos de Atenas.

No momento em que Lopes investigou o romanceiro, na década de 1940, em nível nacional ocorria uma mudança nos estudos do folclore, que deslocou a primazia da investigação sobre a poesia para o folguedo, posto que nestas manifestações os folcloristas

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Nota prévia assinada pela editora na edição de 1967 da Presença do romanceiro. (sem paginação). Nesta nota prévia afirma-se que Antonio Lopes integrou a Comissão de Folclore da Academia Brasileira de Letras (ABL). Segundo Vilhena (1997) houve algumas tentativas de criar uma comissão desse tipo na ABL, mas nenhuma delas teve sucesso. O que é citado em mais de uma fonte é que Antonio Lopes integrou a Subcomissão Maranhense de Folclore, que detalho a seguir.

poderiam identificar as contribuições dos negros e índios – na dança e no canto – para formação da nação brasileira, encobertas na poesia expressa na língua portuguesa (Vilhena, 1997; Rapchan, 2000). A ausência da noção de folguedo, na obra de Lopes, contribuiu para que suas observações sobre as danças e autos, inclusive do bumba boi, privilegiassem as toadas e cânticos, mantendo o interesse na poesia, em detrimento de uma análise do conjunto. Esta opção metodológica de Lopes pode ter favorecido sua conclusão, de identificar no romanceiro maranhense, as características de Atenas, elaboradas a partir da erudição, portanto um povo mais português do que índio ou negro.

No contexto da produção intelectual maranhense, o período da pesquisa de Lopes, entre 1915-194833, se dá paralelamente ao surgimento da Academia Maranhense de Letras, em 190834; e, do Instituto de História e Geografia do Maranhão em 192535, iniciando um processo de institucionalização da cultura fora da burocracia estatal, mas que contava com subsídios governamentais (Santos, 1988). São instituições voltadas para a publicação, pesquisa e reconhecimento dos intelectuais, as quais elaboram classificações sobre produções culturais, e referendam o tipo de conhecimento legitimo de investigação36. Ambas publicaram revistas de periodicidade relativamente regular. Os temas dos artigos publicados por seus sócios, revelam que o folclore não se constituía objeto de reflexão recorrente, sendo prioritárias as análises geográficas do território, demografia, história e grandes personalidades locais, além de obras ficcionais e/ou sobre os literatos e literatura no Maranhão, foco temático da Academia Maranhense de Letras.

Uma boa fonte, sobre a presença do folclore nos artigos publicados nas Revistas do IHGM e da AML, é o ensaio bibliográfico de Domingos Vieira Filho, o qual, posteriormente, será um dos maiores especialista do tema no Maranhão. Este ensaio (publicado em 1959) lista obras nacionais e internacionais, sobre o folclore maranhense. A revisão abrange 57 títulos, destes 37 foram publicados no Maranhão, sendo nove deles de autoria de Domingos Vieira

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Este período é aproximado a partir da data da coleta dos romances, concentrada na década de 1940, a mais recorrente.

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Fundada por José Ribeiro do Amaral, professor e ‘historiógrafo’. (Braga, 2000:97).

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Editorial da Revista de Geografia e História. Anno I, nº 1, agosto, 1926.

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Sobre estas instituições, seus agentes e suas contribuições no debate sobre a formação da nação ver Schwarcz (1993).

Filho37. Vale frisar que há, entre estes livros, publicações que são de maior abrangência, abordando o folclore de forma periférica. A revisão de Vieira Filho parece um esforço de dar relevo ao tema, fornecendo os subsídios teóricos para aprofundar as pesquisas ainda incipientes sobre o folclore, entre os intelectuais maranhenses38.

Domingos Vieira Filho fez uma pequena apresentação de cada texto, destacando os fenômenos que eles abordam. Estas apresentações permitem concluir que até meados da década de 1950, predominavam os estudos sobre literatura popular (16 textos), do que os estudos sobre folguedos, havendo apenas 7 textos sobre o bumba boi. Por sua vez eram considerados como folclore, seguindo o que ocorria no restante do país, os estudos sobre costumes indígenas e populações negras. As raras publicações nas Revistas da AML e do IHGM sugerem que o tema tinha poucos estudiosos, ou não era considerado relevante para ter apresentação exclusiva39. A classificação do folclore realizada por Domingos Vieira Filho mostra a amplitude de expressões culturais que poderiam ser incluídas neste conceito, uma das razões para as disputas posteriores com as Ciências Sociais, que impediram a sua formação como disciplina cientificas nas universidades brasileiras, que estavam se formando (Vilhena, 1997). No que se refere à sua relação com a construção dos símbolos de identidade, ainda estava num campo fluido e pouco preciso, o que os folcloristas poderiam considerar como integrando símbolos de origem. No que se refere à obra de Lopes, realizada pouco antes, pode- se pensar que o predomínio de estudos sobre literatura popular nos anos 1950, remeteria a uma ressonância da idéia de Atenas para pensar o conjunto da população. Portanto, as contribuições do povo estariam sendo vistas pela ótica do que era mais importante no campo erudito local – a produção literária e poética contidas na idéia de Atenas para São Luís.

As duas instituições, exemplos dos primeiros esforços para institucionalizar a cultura, podem ser situadas, assim como as obras de Lopes e Magalhães, como mais um lugar de fortalecimento da erudição, sendo o povo um objeto de reflexão vinculado à continuidade dos

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Do total de textos, 20 foram publicados fora do Maranhão, na sua maioria por autores não maranhenses, dentre eles Câmara Cascudo, Amadeu Amaral e Oneyda Alvarenga, Curt Nimuendaju, Charles Wagley. O autor cobre o período que vai do século XIX – apenas um texto – até a década de 1950. Do total, a maioria foi publicada nas décadas de 1940 e 1950, 29 e 17 títulos respectivamente.

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Para a situação no Brasil veja-se Vilhena (1997).

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O único texto publicado na Revista da AML versava sobre as lendas da região dos Lençóis maranhenses do município de Cururupu. Enquanto os textos publicados na Revista do IHGM (5 textos) tratavam da pesca, outro sobre o Alto Parnaíba, um sobre o negro no maranhão, e, os dois últimos de Domingos Vieira Filho um sobre superstições e outro sobre folclore, com destaque para o auto do bumba meu boi.

símbolos eruditos, ou como o povo, na sua própria linguagem, expressava esses símbolos40. Parece haver uma necessidade de entender as dimensões globais de constituição do Maranhão, os processos de formação desta região e sua relação com a nação, através da economia, geografia, história, literatura, políticos e possíveis heróis, que se estende à psicologia social, destacando-se as raças e os costumes gerais do povo. Os temas do folclore estão inseridos em estudos desta magnitude, juntamente com os propósitos de reinstaurar a erudição no cenário local, possível solução para a crise econômica maranhense (Martins, 2002)41. Os estudos do folclore, que têm como foco os folguedos, danças e festas populares relacionados com a formação de identidade, não parece ser um tema relevante para a maior parte dos intelectuais que integram essas instituições, sendo visto como um tema menor dentre outros tratados pelos eruditos. Nesta disputa por definir o que seria o maranhense, a idéia de Atenas literária não foi abalada pela inclusão dos temas sobre o folclore, posto que os ocupantes dos postos de defesa da erudição – na Academia Maranhense de Letras e no Instituto de História e Geografia do Maranhão – procuram no povo uma produção cultural que o aproximasse dos verdadeiros

atenienses.

3.2.2. A Subcomissão Maranhense de Folclore: o objeto folclore nas instituições da cultura erudita.

Há um fato novo em 1948, com a instalação da Subcomissão Maranhense de Folclore (SMFL), representante da Comissão Nacional do Folclore (CNFL)42 no Maranhão. Mas, independente de ter sido uma influência nacional, localmente a criação da SMFL, por ser uma instituição exclusiva para os estudos do folclore, que buscava fortalecer este campo do conhecimento em todos os estados, articulando-as nacionalmente, trouxe algum prestígio e legitimidade para o tema como objeto das investigações eruditas43. Segundo Braga (2000:68),

40

Este esforço dos eruditos em evidenciar como o povo, na sua própria linguagem, exprime as idéias de Atenas, assemelha-se à tradução, conforme estou tratando aqui, ou seja, aquilo que ressoa com sentido semelhante numa língua distinta (Cunha, 1998) . Ver capitulo 1, nota 73.

41

Em suas análises dos Novos Atenienses, Martins (2002), aborda detalhadamente como a cultura foi transformada num fator de desenvolvimento econômico do estado, e um meio para definir a identidade local. Braga (2000) também considera que o folclore era um tema menor nessas instituições.

42

A estrutura da CNFL baseou-se em subcomissões criadas em todos os estados brasileiros, constituídas por estudiosos do tema usando metodologia semelhante à ciência positiva, e que, simultaneamente, tivessem boas relações com o poder executivo local. A CNFL formou uma verdadeira rede de pesquisa nacional, com o objetivo de criar a ciência do folclore nas universidades brasileiras que estavam se organizando (Vilhena, 1997).

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De acordo com Braga (2000) não há registros da continuidade da SMFL após ser desfeita a sua primeira diretoria, com exceção da auto-apresentação de Domingos Vieira Filho como representante do Maranhão na

os intelectuais integraram a subcomissão, em razão do carisma de Antonio Lopes, sendo quase todos membros da AML e do IHGM. A SMFL estabeleceu uma relação com o estado, solicitando a colaboração do Departamento de Educação para realização da pesquisa sobre o cancioneiro, pondo em prática as propostas da CNFL44, entretanto não há registro se ela foi realizada (Braga, 2000). O quadro abaixo mostra qual a produção dos integrantes com da SMFL sobre o folclore:

Quadro 1. Produção bibliográfica sobre o folclore dos integrantes da SMCL de 1948 Autor Tema da publicação Local da publicação Data Antonio Lopes2 Poesia popular

Tradições

Diário do Norte O Imparcial

1942 1944 Domingos Vieira Filho Bibliografia do folclore

Rendas de bilro Festa do Divino

Marco – São Luís Diário de Pernambuco Tipografia S. José 1948 1949 1949 Lucy Teixeira1 Fernando Perdigão --- --- ---

Fulgêncio Pinto Festas juninas Lendas

Revista Atenas (MA) Diário de S. Luis

1940 1945

Mário Martins Meireles Adivinhas SMFL 1951

Rubem Ribeiro de Almeida Costumes maranhenses Diário de S. Luis 1949

Fonte: Vieira Filho. Folklore no Maranhão. Ensaio bibliográfico. 1959.

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Colaboradora na coleta de romances para obra de Lopes de 1967, cuja pesquisa foi encerrada em 1950.

2

O livro Presença do Romanceiro não consta nestas fontes por ter sido publicado em 1967.

As publicações dos folcloristas da SMFL repetem os mesmos temas que identifiquei antes, que privilegiam um enfoque na produção da literatura, dentre as manifestações folclóricas a serem estudadas. Por sua vez, a proposta de investigação da SMFL, encaminhada para Comissão Nacional do Folclore (CNFL), de fazer um levantamento da ocorrência do

bumba-meu-boi, com vistas a fazer um cancioneiro (Braga, 2000:67), reafirma a literatura e o

romanceiro na investigação do folguedo, e desconsidera o conjunto da manifestação – o auto e

CNFL, a partir de então, até a rearticulação da subcomissão como CMF (Comissão Maranhense do Folclore) na década de 1980. Braga (2000) estuda a trajetória intelectual de Vieira Filho e sua participação nas instituições culturais do estado, e aponta para as resistências ao tema pelos intelectuais maranhenses ao longo desse processo. Corrêa (2002), considera que a partir da década de 1950 inicia-se a valorização do bumba boi, paralela às