• Nenhum resultado encontrado

Um novo olhar sobre o mundo, para entender a complexidade do indivíduo

forma de tais indivíduos trabalharem em equipe, conforme veremos nos diversos depoimentos e nas fotos trabalhadas pelos grupos.

2.1 Um novo olhar sobre o mundo, para entender a complexidade do indivíduo

Carvalho (apud RITTO, 2005, p. XII), refere-se às três principais revoluções que contribuíram para uma nova visão de mundo:

“Copérnico retirou a Terra do centro do Universo, Darwin retirou o Homem do centro da Criação e, Freud, com a definição do inconsciente, retirou o homem do centro de si mesmo”, e apresenta a Teoria da Complexidade, como esta nova visão de mundo capaz de “entender o Universo em seu todo, admitindo a multicausalidade e a incerteza, desafiando os conceitos mais dogmáticos da moral e da religião”. Ainda segundo Car valho (apud RITTO,2005,p.XIV), “na Complexidade o todo é muito mais do que a soma de suas partes, pois no todo surgem novas propriedades e comportamentos que, apesar de resultantes de cada uma das partes, não estão nestas, uma vez que emergem da interação forte do coletivo”. O entrevistado A, coordenador de um dos projetos pesquisados, deu um depoimento que ilustra a percepção dessa complexidade presente no mundo moderno:

A gente cria um campo magnético em torno daquela ação, que as pessoas

acreditem e elas acabam criando uma energia que ajuda a reverter...

Estamos num lugar onde o pensamento conspira em prol de uma ação. Se você acreditar, tiver uma ideologia estruturada, técnicas metodológicas, aonde você utilize para fazer uma ação específica, com conteúdo, com verdade, se existe uma verdade pode não ser uma verdade absoluta, mas é a sua verdade, tudo acontece!

O “campo magnético”, a que o entrevistado se refere, encontra na física quântica a explicação, que é apresentada por Capra (1981) como uma nova concepção de mundo. Ele afirma que esta

“visão sistêmica da vida, mente, consciência e evolução, corresponde à integração entre os enfoques ocidental e oriental da psicologia e da psicoterapia; a uma nova estrutura para a economia e a tecnologia, e a uma perspectiva ecológica e feminista, que é espiritual em sua natureza essencial e acarretará profundas mudanças em nossas estruturas sociais e políticas ... A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender de sermos ou não capa zes de realizar tal mudança.” (CAPRA,1981, P.14) O depoimento do entrevistado A, e muitas mudanças que vêm ocorrendo em todos os campos do conhecimento humano podem ser entendidos como manifestações desta nova Era. Ainda hoje, no entanto, nos vemos diante de fatos que nos mostram o quanto a sociedade teve, e tem dificuldade de aceitar e entender novos paradigmas e novos valores. É importante compreender uma outra visão da realidade, que nos permita explicá- la numa perspectiva ecológica e holística, para perceber o mundo em que vivemos como globalmente interligado, onde os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais, e ambientais são totalmente interdependentes, e para o qual, a visão mecanicista e dicotômica não mais atende.

O novo olhar sobre o mundo para entender a complexidade do indivíduo, a que me refiro, baseia-se na visão de que “o planeta Terra volta a ser percebido como um organismo vivo e de que a sociedade mais adequada é a orgânica, apoiada nos modelos auto-organizadores das ciências da vida; deste modo, as ciências biológicas passam a ser mais apropriadas para o entendimento desta sociedade”. (Rodriguez, apud RITTO, 2005, p.310)

Essa nova visão converge para a crença em novas energias, novas fontes, novas necessidades, novas formas de atend imento à pessoa e para uma ênfase no social.

Segundo Ritto,

“A economia desmaterializa -se e cada vez mais são freqüentes as referências às empresas virtuais, ativos intangíveis, capital intelectual, produto mais complexos, com mais conhecimento multidisciplinar agregado. A capacidade de aprender é o diferencial estratégico da produção, então, é preciso trata - la com metodologias e ferramentas apropriadas; processar adequadamente os dados; aplicar corretamente as informações e gerenciar conhecimentos.” (2005, p.310)

O autor ainda se refere à mudança do critério do sistema de valores “hierárquico, competitivo e baseado na agressividade em relação ao outro, para um critério onde se dá valor à interatividade e à colaboração. A grande reviravolta da civiliza ção está agora a acontecer: entre o domínio do consciente e do inconsciente.” (RITTO,2005,p.312)

O depoimento do entrevistado E exemplifica a visão citada por Ritto:

Depois que a gente discutiu intensivamente sobre tudo que dá para aplicar numa ong, uma vez que fica clara e todo mundo compartilha da missão... a maior parte das diferenças de visão de mundo, uma visão de mundo que poderia considerada de esquerda, e outra mais de direita ,

acaba sendo uma coisa secundária, porque as pessoas se focam em como atingir aquele objetivo, e como fazer aquela operação funcionar melhor, na utilidade. A gente ainda vê ainda vários embates ideológicos aqui e as pessoas estão essencialmente falando as mesmas coisas, mas de um ponto de vista, de um referencial teórico diferente, isso faz com que elas, simplesmente, não se comuniquem. ... Então, quando isso aí foi acordado, a gente desarmou uma série de discussões, de coisas que antes tomavam o nosso tempo, a gente gastava muita energia, gerava muito calor, e agora a gente está muito mais focado. É aí a importância da gestão!

Ritto ratifica Capra (2002) e Morin (2004) quando defende que a transformação permanente é inerente à vida e à essência dos sistemas naturais, e que tais sistemas auto-organizados “são padrões camb iantes de energia dinâmica, em permanente diálogo criativo com o meio que os cerca, retirando material, experiência, informação desse meio ambiente. Cada um de nós é tanto um (eu) quanto o outro” (2005, p.314), como abordo ainda neste capítulo.

Ainda que estejamos vivendo um profundo sentimento de incerteza e caos, em face da destruição do meio ambiente, das elevadas taxas de desemprego e de inflação, das constantes crises, como o descrédito nos governantes, nos políticos e, nas principais instituições so ciais; em face ainda da falência do modelo tradicional de gestão; do acelerado crescimento da violência urbana, e de tantos outros problemas sociais, percebemos, ao longo destas duas ultimas décadas, alguns reflexos desses novos paradigmas em todas as área s do conhecimento, incluindo a administração, e no crescimento vertiginoso do Terceiro Setor, com algumas propostas já dentro desta concepção mais sistêmica e complexa, como veremos explícita ou implicitamente na missão e na gestão das três ONGs, que são a amostra da presente pesquisa.

Hoje, algumas organizações, mais no segundo e no terceiro setores, já iniciaram a busca de um novo estilo de gerir pessoas, que são a essência de todo e qualquer processo, por acreditarem que as mesmas são sistema s vivos e vibrantes, orientados pelos princípios da ecologia. Estes princípios são inerentes a todos os sistemas vivos e devem fornecer as linhas de conduta para a reestruturação das organizações que queiram compreendê- los e aplicá- los estrategicamente.

O relato da entrevistada F, diretora executiva de uma das ONGs, é um indicativo desta tendência a um novo estilo de gestão e de uma forte preocupação com a profissionalização do terceiro setor:

A gente acredita que o trabalho, de uma Organizaçã o, seja qualquer Organização, ela tem que ter uma equipe profissional, que faça a atividade principal dessa Organização e utilize voluntariado organizado como uma forma de melhorar e que ajude a chegar aos seus objetivos.

Eu sou muito de delegar, ... você assumiu uma coordenação, e aquilo vem sendo feito de uma maneira X, e você diz, olha, eu vou mudar essa maneira porque eu acredito nisso... Tudo bem, você vai mudar, mas eu vou te cobrar os resultados e aquilo que se propôs... Você tem uma certa liberdade de fazer o que você quer, mas há uma cobrança grande dos resultados.

Aqui a gente trabalha com Balanced Score Card, a equipe toda, então é muito legal, melhorou muito o clima da empresa por isso, porque todo mundo sabe quais são os objetivos, em que objetivo está trabalhando, mirando o quê, qual a meta daquele ano, e de três em três meses, a gente pára tudo, todo mundo, nesse dia, se reúne e tem esse monitoramento.

Pertencer a um grupo ou organização parece estar além da busca da satisfação das ne cessidades de ordem material, mas dentre outras, está a busca de realização pessoal. Em contra partida, a organização beneficia- se dessa dinâmica, por meio dos resultados de tal realização.

É nesta lacuna entre o estado atual e o potencial que temos a exp lorar para chegarmos aonde acreditamos (pessoas, organizações, sociedade) que revela as constantes contradições a superar e as potencialidades a desenvolver. Segundo Ritto, “os esforços e as práticas devem fortalecer a capacidade crítica das pessoas e a resiliência diante das mudanças e na busca de equilíbrios possíveis, para entender o passado, para analisar o presente e co-criar o futuro”.(2005, p.332)

Documentos relacionados