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Impactos dos valores pessoais no trabalho em equipe em organizações do terceiro setor

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Academic year: 2017

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MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO:

IMPACTOS DOS VALORES PESSOAIS NO TRABALHO EM EQUIPE EM ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

DENIZE ATHAYDE DUTR A DA COSTA

TURMA 2004

ORIENTADORA:

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DEDICATÓRIA:

A meu Pai, Guy Dutra da Costa, com todo o meu amor e saudade:

A vida que tantas alegrias nos permitiu viver em família, nos colocou em 2004 frente a dois grandes desafios: a sua doença e o meu mestrado.

Perdemos um deles, mas no nosso íntimo, sabíamos que, para você a vida era muita bela para viver com dor e que sua missão já tinha sido cumprida. Foi duro admitir isso, pela falta que você nos faz!

Vencemos o desafio do mestrado, pois eu fui a Mestranda, mas não tenho dúvidas de que não estive só, Você esteve presente dando a força de que, em tantos momentos, precisei para não desistir.

Foi a sua presença amiga, alegre, provocadora, irreverente, estimulante, sua atitude imprevisivelmente geminiana, sua transparente expressão de orgulho pelo que sou, pelo que fiz, que me fez chegar até aqui.

Você sempre me fez crer que eu era capaz e isto foi a base para uma vida, que hoje olhando para trás, percebo ter sid o de grandes conquistas e realizações.

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Antes do compromisso, há hesitação, a oportunidade de recuar, a ineficácia permanente. Em todo ato de iniciativa (e de criação), há uma verdade elementar

cujo desconhecimento destrói muitas idéias e planos esplêndidos: no momento em que nos comprometemos de fato,

a Providência também age. Ocorre toda espécie de coisas para nos ajudar,

coisas que de outro modo nunca ocorreriam. Toda uma cadeia de eventos emana da decisão, Fazendo vir em nosso favor todo o tipo de encontro, de incidentes e de apoio material imprevistos que ninguém poderia sonhar que surgiria no caminho. Começa tudo que possas fazer, ou que sonhas poder fazer. A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.”

Goethe

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AGRADECIMENTOS:

Manifestar gratidão sempre foi uma atitude que valorizei ao longo da minha vida, e se conseguisse resgatar em minha memória todas as pessoas que de forma direta ou indireta colaboraram com este trabalho, certamente a relação seria bem maior talvez do que o próprio trabalho. Por iss o, início agradecendo a Todos aqueles, que de alguma forma contribuíram para a conquista deste objetivo.

Sem querer incorrer no risco da ingratidão ou da injustiça, não posso deixar de me referir de forma muito especial a algumas pessoas, porque sem elas , certamente não teria sido possível.

- A Thiago, melhor Presente que a Vida me deu, pelo que me faz crescer a cada dia por meio de seus questionamentos, suas observações, suas profundas manifestações de amor, por ter sido capaz de entender que apesar da minha ausência física no seu cotidiano, eu sempre estive ao seu lado, e pelo que já demonstra ter aprendido comigo, sobre a importância do trabalho na nossa realização pessoal.

- A Randolfo por seu amor, por ter compreendido minha ausência do nosso convívio familiar e por ter sido uma inesgotável fonte de estímulo.

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- A Wanda, Tia, Madrinha, Amiga, Confidente, Assistente, Revisora, enfim, muito mais do que um braço direito...sem você também não teria chegado até aqui!

- Ao Ramon e ao Guto, meus filhos “emprestados” pela disponibilidade em filmar e fotografar a pesquisa, conforme exigia a própria metodologia e pelo carinho que têm demonstrado em nosso convívio.

- A toda a minha família e aos verdadeiros amigos, que muito além do incentivo, souberam compreender a minha falta de tempo para o nosso convívio tão afetivo e enriquecedor.

- A minha irmã Simone, em particular, por ter despertado o meu interesse para o Terceiro Setor, ter facilitado o meu acesso a duas das instituições pesquisadas, pelos muitos materiais disponibilizados, e pela troca que sempre tivemos.

- A minha turma de Mestrado por seu brilhantismo, por seu senso crítico extremamente desenvolvido, por sua juventude contagiante, pelo respeito e interesse pela minha “maior” experiência e em especial pelo carinho, colaboração e coleguismo. Eu me sinto “eternamente responsável por aquilo que cativei!”.

- A meus Mestres pelo conhecimento compartilhado, pela inquietação que me fez buscar mais do que novas respostas, muitas novas perguntas.... Pela compreensão e incentivo nos momentos difíceis!

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- A equipe do CEFAP, da Secretária, da EBAPE e da Biblioteca pela total disponibilidade, profissionalismo e carinho com que sempre fui atendida.

- Aos meus parceiros(as) de trabalho pela troca e pelo estímulo constante.

- A Ana Paula Zambrotti por suas contribuições e bom humor.

- Aos Sujeitos da minha pesquis a, que sem exceção, são Sujeitos na concepção mais profunda do termo, Cidadãos, Pessoas que muito mais do que respostas às questões acadêmicas, me deram uma grande lição de VIDA!

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APRESENTAÇÃO

O vertiginoso crescimento do Terceiro Setor, caracterizado tanto pelo surgimento de muitas organizações voltadas para o social, quanto pelo aumento do volume de recursos financeiros disponibilizados para uma gama de diferentes projetos, além da ampliação da abrangência e da visibilidade assumidas pelos mesmos, tem estimulado o interesse da academia. Essa evidência somada à percepção sobre o impacto positivo de algumas Organizações Não- Governamentais (ONGs) cujos indicadores demonstram estarem contribuindo para a inclusão social e a formação da cidadania, foram as principais razões que motivaram a realização deste estudo.

Embora, nesta última década, muito se tenha escrito sobre o Terceiro Setor, ainda existem mais perguntas do que respostas no que diz respeito à sua gestão. As evidências, na mídia, e nos estudos acadêmicos mostram a grande necessidade de profissionalização no setor, cujas experiências são recentes e a literatura especializada ainda é escassa. Esse fato associado à natureza do problema desta pesquisa, que trata dos impactos dos valores pessoais sobre o modo como os profissionais desse setor trabalham em equipe, temas que recebem contribuições de várias ciências humanas e da filosofia, atribuem a este estudo um caráter transdisciplinar, abrangente e instigante. O tema permitiu a convergência da psicologia com a administração e com muitos outros saberes, aos quais estive exposta ao longo da minha formação acadêmica e experiência profissional.

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sobre a relevância deste estudo para o Terceiro Setor e para a ciência da administração em geral.

No segundo capítulo, trato da perspectiva individual, abordando a formação do Sujeito e de seus valores, bem como, do impacto que esses valores têm sobre as esco lhas e ações dos indivíduos. Utilizo a teoria da complexidade, especialmente Edgar Morin, e enriqueço com outros autores, criando um diálogo entre tais pensadores e os sujeitos da pesquisa, por meio de seus discursos e das fotografias utilizadas como técnica de coleta de dados, conforme descrito no capítulo 1.

No terceiro capítulo, trato da perspectiva grupal, ou seja, como se dá a interação do Sujeito no grupo, e quando, e como um grupo pode ser considerado uma equipe. Analiso quais são as condições e características necessárias para a eficácia de uma equipe, por meio da proposição de vários autores contemporâneos que se complementam em relação a esses conceitos. Desenvolvo uma trama entre tais autores e a fala dos Sujeitos da pesquisa, sobre suas percepçõ es e atuações nos grupos ou nas equipes das quais fazem parte.

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RESUMO

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ABSTRACT

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Capítulo 1

O problema e a Metodologia

Este capítulo tem como objetivo apresentar o problema, sua delimitação e sua relevância para a ciência da Administração, bem como, explica qual a metodo logia escolhida para a realização da pesquisa e que norteou a análise de todos os dados coletados.

1. O Problema

1.1 Introdução

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não é gerar lucro, e sim, bem-estar social por meio de projetos em diferentes vertentes.

O acentuado crescimento do Terceiro Setor tem levado alguns estudiosos a analisarem em que medida as teorias e práticas de gestão oriundas das organizações privadas e, até mesmo, das públicas são adequadas para o Terceiro Setor, já que este tem características muito distintas dos outros dois setores embora a eles muito se assemelhe, uma vez que todas as organizações são constituídas por pessoas, com toda a complexidade a elas inerentes.

Falar desta complexidade implica considerar todas as dimensões (biológica, intelectual, emocional, afetiva, social, espiritual) do ser humano, numa perspectiva holística; sua relação de recíproca influência com o ambiente; seus valores, crenças, ideologia e a interdisciplinaridade de enfoques que podem explicar os diversos fenômenos humanos.

É comum perceber nas pessoas que atuam no Terceiro Setor, um discurso permeado de valores sociais, expressos no desejo de servir, de ser útil à sociedade, de fazer alguma diferença, de contribuir para tornar a sociedade mais justa, enfim, um forte sentimento de solidariedade, de justiça, e outros que caracterizam pessoas consideradas “politicamente corretas”. Imagina-se que tais pessoas seriam mais propensas a uma atitude mais cooperativa, conciliadora e facilitadora do trabalho em equipe, ou seja, mais propensas a gerarem maior sinergia. Será assim?

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1.2. Objetivos Intermediários

Os seguintes objetivos intermediários foram propostos:

§ Identificar as convicções filosóficas, sociais, políticas e éticas que

fundamentam as escolha s e ações dos profissionais que atuam em projetos sociais.

§ Investigar como estes profissionais atuam em equipe, quando

trabalham em seus respectivos projetos.

§ Identificar se existem diferenças significativas na forma de

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1.3Delimitação do Estudo

Este estudo tratou da relação entre valores pessoais e trabalho em equipe, no contexto de projetos sociais em instituições do Terceiro Setor, por meio (a) da identificação das convicções filosóficas, sociais, políticas e éticas que fundamentam as escolhas e ações dos profissionais que atuam nos projetos objeto da pesquisa; e (b) da investigação do modo como estes trabalham em equipe.

Como o tema valores é amplo e multidisciplinar, optei partir da Teoria da Complexidade e buscar contribuições de outros autores que ratificam, complementam estes conceitos, visando criar uma “teia de idéias” que permita compreender em que medida os valores identificados realmente influenciam o modo de trabalhar em equipe dos profissionais sujeitos da pesquisa, o que exigiu também abordar alguns conceitos sobre trabalho em equipe, conforme descrito adiante.

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1.4 Relevância do estudo

A literatura sobre valores é ampla e constitui objeto de estudo de várias áreas do conhecimento humano, da filosofia às ciências, e o tema - trabalho em equipe - também é bastante explorado, especialmente na área da gestão, mas a ênfase destes estudos é quase sempre em empresas orientadas para o mercado, alguns para organizações públicas. São poucos os orientados para o Terceiro Setor. Assim sendo, parecem escassos estudos que contemplem a relação entre estes dois temas – valores e tr abalho em equipe, e muito menos no contexto do Terceiro Setor.

Este Setor apresenta acelerado crescimento, face à falência do modelo do

Welfare State, transferindo, pelo menos em parte, para estas

organizações o papel que antes era do Estado. Mesmo sem fins lucrativos, tais organizações também precisam prestar contas aos investidores e apresentar resultados ainda que de outra natureza, o que exige uma gestão eficaz. É exatamente este o ponto de uma possível contribuição para as organizações do Terceiro Setor que, compreendendo em que medida os valores pessoais podem influenciar o modo de trabalhar em equipe poderão, a partir deste estudo, repensar suas práticas de gestão, tanto no que diz respeito à escolha de seus profissionais, como quanto ao alinhamento dos valores das pessoas e da organização, no sentido de promover a possibilidade de realização pessoal dos primeiros, e maximizar os resultados da segunda.

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para o trabalho voluntário e não para aqueles profissionais remunerados para atuar nestes projetos sociais.

Para a academia, este estudo poderá ser a base para futuras pesquisas que permitam criar fundamentos para práticas de gestão mais compatíveis com esta realidade e enriquecer a literatura sobre este tema, estabelecendo relações pouco usuais, e contribuindo de uma maneira geral para o alargamento das fronteiras do conhecimento em Administração.

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1.5. METODOLOGIA

Considerando a natureza do problema da pesquisa e o interesse da pesquisadora, a metodologia escolhida está a seguir explicada.

1.5.1 Tipo de Pesquisa

A partir da tipologia sugerida por Vergara (2004), posso classificar a pesquisa proposta em:

a) Quanto aos fins:

§ Descritiva e explicativa, devido à natureza do problema de

pesquisa que, além de identificar os aspectos ideológicos dos profissionais que atuam em projetos sociais, se propôs a explicar em que medida estes aspectos influem na sua forma de trabalhar em eq uipe.

b) Quanto aos meios:

§ Pesquisa de campo, pois foi realizada uma investigação empírica,

com profissionais que atuam em projetos sociais em ONGs.

§ Bibliográfica, já que pesquisei em livros, publicações

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1.5.2 Universo e amostra

O universo desta pesquisa foram as Organizações Não- Governamentais (ONGs) do Rio de Janeiro, sendo que a amostra foi constituída de três ONGs, escolhidas por atuarem em diferentes áreas (cultura, inclusão digital, projetos sociais diversificados), por terem em comum o objetivo da inclusão social e da formação da cidadania, além de serem reconhecidas pela sociedade local, do Brasil e do exterior, com projetos bem sucedidos e, por is so, gozam de credibilidade. Outro aspecto que contribuiu para a escolha da amostra foi o fato de saber que os três projetos contavam com a participação de profissionais bem diversificados, em termos de formação acadêmica e experiência. Além disso, importante na escolha foi a acessibilidade às ONG’s.

A primeira ONG pesquisada foi o Comitê para Democratização da

Informática - CDI, uma organização não- governamental, sem fins lucrativos que, desde 1995, desenvolve o trabalho pioneiro de

promover a inclusão social, utilizando a tecnologia da informação como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania. Por meio de suas Escolas de Informática e Cidadania, o CDI implementa programas educacionais no Brasil e no exterior, com o objetivo de mobilizar os segmentos excluídos da sociedade para a transformação de sua realidade. Além de atuar em comunidades de baixa renda, a organização desenvolve projetos voltados para públicos específicos, como portadores de necessidades especiais (deficiência visual, distúrbios psiquiátricos, etc), jovens em situação de rua, populações carcerárias, aldeias indígenas, entre outros.

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tecnologia por diversos tipos de públicos, estimulando o pensamento cr ítico e favorecendo a participação de todos segmentos da sociedade no desenvolvimento político, social e econômico de nosso país. Aplicando, em sua metodologia, conceitos e valores fortemente fundamentados na pedagogia de Paulo Freire - de educação para a conscientização e a transformação social - o CDI trabalha em parceria com entidades comunitárias, provendo os equipamentos, softwares e a implementação do modelo educacional, por meio do treinamento e acompanhamento contínuo de coordenadores e educadores. Cada escola é uma unidade autônoma, baseada em um modelo de autogerenciamento e auto-sustentação, por meio da cobrança de uma mensalidade simbólica, e, ainda de trabalhos voluntários.

A matriz possui um papel vital na manutenção da Rede CDI, onde além de formar e acompanhar os CDI´s regionais capta recursos, atualiza constantemente o modelo educacional, valida e estimula a troca das melhores práticas. No Brasil, o CDI está representado em 30 cidades, de 19 estados brasileiros. Internacionalmente, já são 11 Comitês Regionais, em oito países. Há um total de 965 Escolas de Informática e Cidadania (EICs), contando com 1.768 educadores, 5.851 computadores instalados e 1.154 voluntários

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percussão, reciclagem de lixo, futebol e capoeira - e preparou o terreno para novas empreitadas.

Atualmente, o GCAR desenvolve diversos programas e projetos em quatro diferentes comunidades. Em Vigário Geral, o Programa Social envolve, além de diversas oficinas - música, capoeira, teatro, hip hop e dança -, o Criança Legal, que é um programa de apoio às crianças que estão em idade pré-escolar, no qual, durante dois anos elas participam de atividades de socialização e alfabetização, com a garantia de matrícula em escolas da rede pública municipal. Os pais também freqüentam reuniões semanais, nas quais são discutidos temas como: violência doméstica e cuidados com higiene p essoal. Além disto, eles recebem cestas básicas de alimentação, o que tem gerado uma melhora geral nas condições de vida de cada família que integra o programa.

Apesar de toda a diversidade de atividades, a música tem sido, em Vigário Geral, o melhor instrumento para atrair os jovens para participarem do GCAR. O sucesso obtido com a Banda Afro Reggae, tanto artístico, quanto modelo de projeto social, fez com que outros jovens quisessem percorrer o mesmo caminho e, hoje, existem em Vigário mais três grupos musicais, que estão em fase de amadurecimento, mas que já fazem apresentações públicas: Banda Makala Música e Dança, Afro Lata e Afro Samba. Além de outros subgrupos: Afro Mangue, Tribo Negra, Akoni e Kitôto.

A missão institucional que pauta o GCAR, até hoje, é oferecer uma formação cultural e artística para jovens moradores de favelas, de modo que eles tivessem meios de construir suas cidadanias e, com isto, pudessem escapar do caminho do narcotráfico e do subemprego, transformando-se também em multiplica dores para outros jovens.

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instituições em torno de interesses comuns, e transformando necessidades sociais em oportunidades de participação solidária. Sua atuação baseia- se em dois eixos principais: na coordenação do voluntariado e no programa brasileirinho, que envolve projetos na área de educação, saúde, esporte, artes, qualificação profissional e outros.

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1.5.3 Seleção dos sujeitos

Por acessibilidade foram selecionadas 30 pessoas, sendo em média 10 profissionais de cada uma das três ONGs. Este número foi considerado suficiente para a coleta de dados.

A busca de dados foi realizada com cada Diretor (três) e com os três profissionais responsáveis pelas coord enações de projetos e contratações de duas das ONG’s pesquisadas. No Afro-reggae como era o próprio Diretor quem fazia as contratações, apenas ele foi entrevistado. Os demais sujeitos da pesquisa, 24 pessoas, foram profissionais de nível técnico, com formações acadêmicas diversificadas, que atuam em diferentes funções nos projetos sociais, sendo 8 voluntários, conforme mostra o quadro a seguir:

ONG Profissionais CDI (1995) AFRO-REGGAE (1993) RIOVOLUNTARIO (1997)

Diretores 01 01 01

Coordenadores ou Responsáveis por

contratações

01 00 02

Profissionais técnicos Contratados

08 08 00

Profissionais técnicos Voluntários

00 00 08

Total 10 09 11 30

Q u a d r o 1 : D e m o n s t r a t i v o d o s S u j e i t o s d a p e s q u i s a

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1.5.4 Coleta de Dados

O trabalho de campo foi realizado no período de janeiro e fevereiro de 2006, por meio de duas técnicas: entrevistas e técnica de construção com fotografias.

As entrevistas foram semi-estruturadas, conforme pauta no apêndice A, e feitas com os diretores e coordenadores responsáveis pela contr atação dos profissionais, para os respectivos projetos, que cada ONG desenvolve. As entrevistas tiveram uma duração de aproximadamente duas horas e permitiram uma maior interação com o sujeito, para obtenção de informações acerca do que eles pensam, sabem, crêem, sentem, desejam, enfim, sobre seu mundo interno. No rapport das entrevistas foi explicado para cada gestor o objetivo e os procedimentos

do workshop que seria realizado com os demais sujeitos da pesquisa.

Nesse momento, eles apresentaram a pesquis adora às pessoas responsáveis pela convocação desses profissionais para a participação no

workshop (Apêndice A).

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Diagrama 1:Análise Interparticipante

REFERENCIAL TEÓRICO

Fala dos entrevistados

Painéis das Fotos Depoimentos

participantes dos workshops Observações da

pesquisadora

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Quanto à técnica de construção com fotografias, foi aplicada em um

workshop, especialmente preparado para a coleta de dados. Ele foi

filmado para não perder a fala e nem a dinâmica da interação dos indivíduos durante a atividade, e teve como objetivo levantar os aspectos ideológicos de cada profissional envolvido na pesquisa, bem como de suas percepções sobre como trabalham em equipe nos respectivos projetos dos quais fazem parte. As pessoas foram convidadas por suas respectivas coordenações para uma reunião e foram solicitadas a levarem diversas fotos sobre seu trabalho , sobre as equipe em que atuam e sobre os respectivos projetos em que estejam ou já estiveram envolvidas. A opção de utilizar a técnica de construção com fotografias numa atividade grupal, e não individualmente, deve-se ao fato de que, por meio do workshop, além de colher os dados mencionados, foi possível, também, observar como as pessoas atuam em trabalho de equipe (interação, comunicação, processo decisório individual e por consenso, liderança, cooperação versus competição, empatia e inter-relacionamento ), considerando que este foi o tema central da pesquisa (Apêndice D).

Cada workshop teve uma duração de, aproximadamente, 1h30min e as pessoas foram estimuladas a construírem painéis com as fotos trazidas por elas próprias, organizadas de forma a responderem algumas questões-chaves que foram propostas ao grupo (Apêndice C). Os trabalhos produzidos pelos grupos durante o workshop, além de filmados, foram fotografados com autorização prévia.

Vergara (2005, p.229) ratifica a escolha desta técnica, quando explica que “as técnicas de construção envolvem, em geral, a utilização de fotografias ou figuras para provocar a imaginação dos participantes, de modo que eles as interpretem, desencadeando, por conseguinte, uma narrativa relacionada ao tema da pesquisa”. Inspiradas no Thematic

Apperception Test (TAT), cujo “emprego está relacionado à crença de

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sujeito a organizar os dados dos quais dispõe em torno de suas próprias experiências, suas aspirações, suas necessidades. Acredita-se, assim, que as histórias poderão refletir impulsos, conflitos e atitudes inconscientes do indivíduo” (KASSARJIAN, citado por VERGARA,2005, p. 229).

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1.5.5 Tratamento dos Dados

Os dados levantados foram tratados sob um olhar fenomenológico, por estarmos tratando do modo como as pessoas trabalham em equipe, e este ser um fenômeno do cotidiano destes profissionais, permitindo explorar situações, valores e práticas baseadas na visão de mundo dos sujeitos pesquisados.

A fenomenologia se apropria do conhecimento por meio do círculo de compreensão- interpretação- nova compreensão (VERGARA, 2004), o que revela ser essa abordagem inacabada, não estimulando a busca de uma verdade definitiva. A atitude fenomenológica não nega o mundo; apenas não se preocupa com que ele seja real ou não.

Para ratificar esta idéia, Moustakas (1994, p.26) afirma:

“o que aparece na consciência é o fenômeno. Fenômeno significa

trazer a luz, colocar sob a iluminação, mostrar- se a si mesmo em si mesmo, a totalidade do que se mostra diante de nós... Num sentido amplo, aquilo que aparece provê o ímpeto para a experiência e para a geração de novo conhecimento.”

Schutz (1979, p. 7) explica que para a fenomenologia

“não há aspecto da consciência humana que surja de si e por si próprio, consciência é sempre consciência de alguma coisa. As formas de consciência estão ligadas ao conteúdo das experiências. ... A realidade do mundo exterior não é confirmada e nem negada, “é colocada entre parênteses” , num ato de redução fenomenológica.”

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“todo discurso (...) se insere em maior ou menor grau na esfera do agir, do fazer, do pensar e do sentimento” (1996, p.29).

Chanlat (1996) ratifica, explicando que como o universo é um mundo de signos, de imagens, de metáforas, de emblemas, de símbolos, de mit os e alegorias, todo ser humano e toda sociedade produziram uma representação de mundo que lhe confere significação. Para ele, a imaginação simbólica busca representar para si, antes de tudo o ausente, o imperceptível, o indescritível. Mais ou menos arbitrárias, estas representações simbólicas, que calcam a sua existência nas relações com o mundo, vão participar da construção deste universo de significações inerentes ao ser humano.

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1.5.6. Limitações do método

Uma importante característica do método fenomenológico é permitir reconhecer o significado tanto do que está explícito na mensagem, quanto do que está implícito, porta nto não só o que se fala, mas como se fala, e, sem dúvida, esta característica permite a considerar a subjetividade do pesquisador. Por isso, Vergara (2005, p.87) afirma que é tarefa do pesquisador “trabalhar para minimizar a deformação da realidade dos s ujeitos em virtude de suas própria interpretação, ou seja, cuidar das possíveis distorções”.

A limitação do método refere-se à própria característica da pesquisa, de trabalhar com uma amostra intencional e com uma experiência singular destes profissionais nas três diferentes ONGs, utilizando a análise do discurso que não se propõe a generalizações e nem pretende identificar aspectos que sejam comuns a outra amostra ou universo.

Também existe a possibilidade dos sujeitos selecionados terem mascarado algum dado relevante para a conclusão da pesquisa, por algum motivo alheio à vontade da pesquisadora e fora de seu controle durante as entrevistas ou workshop.

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Capítulo 2

. A Complexidade do Indivíduo:

A formação do Sujeito, valores, escolhas e ações

Este capítulo trata da perspectiva individual, buscando, em alguns autores com os quais encontrei maior afinidade de idéias, entender de que forma os valores e crenças influenciam nas escolhas e ações dos indivíduos e, de forma mais específica, que impacto isto pode ter na forma de tais indivíduos trabalharem em equipe, conforme veremos nos diversos depoimentos e nas fotos trabalhadas pelos grupos.

2.1 Um novo olhar sobre o mundo, para entender a complexidade do indivíduo

Carvalho (apud RITTO, 2005, p. XII), refere-se às três principais revoluções que contribuíram para uma nova visão de mundo:

“Copérnico retirou a Terra do centro do Universo, Darwin retirou o Homem do centro da Criação e, Freud, com a definição do inconsciente, retirou o homem do centro de si mesmo”, e apresenta a Teoria da Complexidade, como esta nova visão de mundo capaz de “entender o Universo em seu todo, admitindo a multicausalidade e a incerteza,

desafiando os conceitos mais dogmáticos da moral e da religião”.

Ainda segundo Car valho (apud RITTO,2005,p.XIV), “na Complexidade o todo é muito mais do que a soma de suas partes, pois no todo surgem novas propriedades e comportamentos que, apesar de resultantes de cada uma das

partes, não estão nestas, uma vez que emergem da interação forte do coletivo”.

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A gente cria um campo magnético em torno daquela ação, que as pessoas

acreditem e elas acabam criando uma energia que ajuda a reverter...

Estamos num lugar onde o pensamento conspira em prol de uma ação. Se você acreditar, tiver uma ideologia estruturada, técnicas metodológicas, aonde você utilize para fazer uma ação específica, com conteúdo, com verdade, se existe uma verdade pode não ser uma verdade absoluta, mas é a sua verdade, tudo acontece!

O “campo magnético”, a que o entrevistado se refere, encontra na física quântica a explicação, que é apresentada por Capra (1981) como uma nova concepção de mundo. Ele afirma que esta

“visão sistêmica da vida, mente, consciência e evolução, corresponde à integração entre os enfoques ocidental e oriental da psicologia e da psicoterapia; a uma nova estrutura para a economia e a tecnologia, e a uma perspectiva ecológica e feminista, que é espiritual em sua natureza essencial e acarretará profundas mudanças em nossas estruturas sociais e políticas ... A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender de

sermos ou não capa zes de realizar tal mudança.” (CAPRA,1981, P.14)

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O novo olhar sobre o mundo para entender a complexidade do indivíduo, a que me refiro, baseia-se na visão de que “o planeta Terra volta a ser percebido como um organismo vivo e de que a sociedade mais adequada é a orgânica, apoiada nos modelos auto-organizadores das ciências da vida; deste modo, as ciências biológicas passam a ser mais apropriadas para o entendimento desta sociedade”. (Rodriguez, apud RITTO, 2005, p.310)

Essa nova visão converge para a crença em novas energias, novas fontes, novas necessidades, novas formas de atend imento à pessoa e para uma ênfase no social.

Segundo Ritto,

“A economia desmaterializa -se e cada vez mais são freqüentes as referências às empresas virtuais, ativos intangíveis, capital intelectual, produto mais complexos, com mais conhecimento multidisciplinar agregado. A capacidade de aprender é o diferencial estratégico da produção, então, é preciso trata - la com metodologias e ferramentas apropriadas; processar adequadamente os dados; aplicar corretamente as informações e gerenciar conhecimentos.” (2005, p.310)

O autor ainda se refere à mudança do critério do sistema de valores “hierárquico, competitivo e baseado na agressividade em relação ao outro, para um critério onde se dá valor à interatividade e à colaboração. A grande reviravolta da civiliza ção está agora a acontecer: entre o domínio do consciente e do inconsciente.” (RITTO,2005,p.312)

O depoimento do entrevistado E exemplifica a visão citada por Ritto:

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acaba sendo uma coisa secundária, porque as pessoas se focam em como atingir aquele objetivo, e como fazer aquela operação funcionar melhor, na utilidade. A gente ainda vê ainda vários embates ideológicos aqui e as pessoas estão essencialmente falando as mesmas coisas, mas de um ponto de vista, de um referencial teórico diferente, isso faz com que elas, simplesmente, não se comuniquem. ... Então, quando isso aí foi acordado, a gente desarmou uma série de discussões, de coisas que antes tomavam o nosso tempo, a gente gastava muita energia, gerava muito calor, e agora a gente está muito mais focado. É aí a importância da gestão!

Ritto ratifica Capra (2002) e Morin (2004) quando defende que a transformação permanente é inerente à vida e à essência dos sistemas naturais, e que tais sistemas auto-organizados “são padrões camb iantes de energia dinâmica, em permanente diálogo criativo com o meio que os cerca, retirando material, experiência, informação desse meio ambiente. Cada um de nós é tanto um (eu) quanto o outro” (2005, p.314), como abordo ainda neste capítulo.

Ainda que estejamos vivendo um profundo sentimento de incerteza e caos, em face da destruição do meio ambiente, das elevadas taxas de desemprego e de inflação, das constantes crises, como o descrédito nos governantes, nos políticos e, nas principais instituições so ciais; em face ainda da falência do modelo tradicional de gestão; do acelerado crescimento da violência urbana, e de tantos outros problemas sociais, percebemos, ao longo destas duas ultimas décadas, alguns reflexos desses novos paradigmas em todas as área s do conhecimento, incluindo a administração, e no crescimento vertiginoso do Terceiro Setor, com algumas propostas já dentro desta concepção mais sistêmica e complexa, como veremos explícita ou implicitamente na missão e na gestão das três ONGs, que são a amostra da presente pesquisa.

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Hoje, algumas organizações, mais no segundo e no terceiro setores, já iniciaram a busca de um novo estilo de gerir pessoas, que são a essência de todo e qualquer processo, por acreditarem que as mesmas são sistema s vivos e vibrantes, orientados pelos princípios da ecologia. Estes princípios são inerentes a todos os sistemas vivos e devem fornecer as linhas de conduta para a reestruturação das organizações que queiram compreendê- los e aplicá- los estrategicamente.

O relato da entrevistada F, diretora executiva de uma das ONGs, é um indicativo desta tendência a um novo estilo de gestão e de uma forte preocupação com a profissionalização do terceiro setor:

A gente acredita que o trabalho, de uma Organizaçã o, seja qualquer Organização, ela tem que ter uma equipe profissional, que faça a atividade principal dessa Organização e utilize voluntariado organizado

como uma forma de melhorar e que ajude a chegar aos seus objetivos.

Eu sou muito de delegar, ... você assumiu uma coordenação, e aquilo vem sendo feito de uma maneira X, e você diz, olha, eu vou mudar essa maneira porque eu acredito nisso... Tudo bem, você vai mudar, mas eu vou te cobrar os resultados e aquilo que se propôs... Você tem uma certa liberdade de fazer o que você quer, mas há uma cobrança grande dos resultados.

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Pertencer a um grupo ou organização parece estar além da busca da satisfação das ne cessidades de ordem material, mas dentre outras, está a busca de realização pessoal. Em contra partida, a organização beneficia-se dessa dinâmica, por meio dos resultados de tal realização.

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2.2 A formação do Sujeito

Para Edgar Morin, a noção de Sujeito está relacionada a um conjunto de idéias, dentre as quais, autonomia e auto-organização que são inseparáveis, e estão implícitas no conceito de indivíduo que, para ele,

“é produto de um ciclo de reprodução, mas este produto é, ele próprio, reprodutor em seu ciclo, (...).Assim também, quando se considera, o fenômeno social, são as interações entre os indivíduos que produzem a sociedade, com sua cultura, suas normas, e esta retroage sobre os indivíduos humanos e os produz enquanto indivíduos sociais dotados de uma cultura.” (MORIN, 2004,p.118)

O conceito de Morin é o ponto de partida para a compreensão do problema da pesquisa, na medida em que Morin, uma das principais referências da Teoria da Complexidade, quando se refere à autonomia, não fala de uma liberdade absoluta, mas de uma autonomia que depende do meio ambiente (biológico, cultural e social) que impacta, de alguma forma, a vida das pessoas, e como vamos ver neste estudo, até o modo como trabalham em equipe.

Para Morin, cinco princípios (egocentrismo, auto-referência, exclusão, inclusão e incerteza) regem a construção do Sujeito, além de uma profunda e intrínseca relação com a afetividade e a liberdade, como está explicado adiante com os conceitos do autor, depoimentos dos próprios Sujeitos da pesquisa somados à s minhas reflexões.

Para chegar à noção de sujeito, é preciso considerar que toda a dimensão biológica necessita de uma dimensão cognitiva, que é individual, porque

“é o ato pelo qual o sujeito se constitui posicionando-se no centro de seu mundo para lid ar com ele, considerá- lo, realizar nele todos os atos de

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Neste sentido, o primeiro movimento do sujeito seria o egocentrismo, ou seja, se colocar no centro do mundo. “O EU é o ato de ocupação do espaço que se torna o centro do mundo”. A identidade do sujeito comporta um princípio de distinção, de diferenciação e de reunificação. (MORIN, 2004,p.120).

As três ONGs pesquisadas, têm como ponto comum em suas respectivas missões, a formação do Sujeito e da Cidadania. Este princípio de distinção e esta ocupação do espaço, essenciais ao sentido de identidade, aparecem muitas vezes nos discursos das pessoas envolvidas na pesquisa, mesmo que de forma implícita. Por caminhos diferentes (inclusão digital, c ultura, educação e outras ações sociais), o propósito sempre é levar o indivíduo a encontrar o seu espaço e a se perceber diferente, ainda que parte de um grande sistema. Um fato me chamou atenção e será apresentado mais à frente, neste capítulo: que as pes soas que trabalham nesses projetos, acabam também, consolidando a sua própria noção de Sujeito e de Cidadania.

Como vemos neste trecho em que a entrevistada B diz:

Cabe a nós, à sociedade civil essa responsabilidade; esse amor, que nós devemos e podemos ter com o próximo; por acreditar no resgate da cidadania; que nós temos, sim, direitos e deveres a cumprir; acreditar que o jovem pode se tornar um cidadão com uma identidade positiva; que ele pode produzir; ele tem estima; ele merece respeito; ele tem direitos mesmo numa comunidade de baixa renda.

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Este outro aspecto parece útil para tentar explicar o limite da influência do gr upo sobre o indivíduo, pois mesmo assumindo uma identidade grupal, aceitando decisões por consenso, cedendo em alguns pontos de vista, cooperando com terceiros, não necessariamente o indivíduo perde a noção de que é sujeito.

Este aspecto da permanência e da auto-referência também pode ser uma das explicações para a percepção da entrevistada C, quando diz:

Eu acho que não é porque o 3o setor não é lucrativo, que não exista

competitividade acirrada, em termos de posições, em termos de idéias, em

termos de ideais, mas a grande diferença do 2 o para o 3o setor, que eu

vejo nesse sentido, é que, no 2o setor, não é tanto por ideais, mas por

posição e gratificações, e promoções, é que há competição. No 3o setor,

também tem a competição, algumas vezes positiva, como no caso de ideais

e por uma causa, mas também, muitas vezes, no âmbito profissional, dentro da Organização mesmo, tem aí uma certa briga, entre aspas, por status. Muitas vezes isso é muito positivo, mas não deixa de ter, em alguns momentos de “saias justas” no que se refere à competitividade.

A citação mostra que existem alguns aspectos, que fazem parte da natureza humana, independentemente do contexto em que a pessoa esteja e se esta característica de competitividade for muito desenvolvida nesta pessoa, ela poderá se manifestar mesmo num ambiente onde isto não seja valorizado.

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Este princípio supõe a possibilidade de comunicação entre os sujeitos de uma mesma espécie, de uma mesma cultura, de uma mesma sociedade, fato que tem significativa importância para o trabalho em equipe, já que não há equipe sem comunicação e sem este sentido de NÓS. Sabemos que trabalhar em equipe exigirá, em alguns momentos, ceder posições, o que significa que não ser necessária a alienação do próprio EU.

Falando sobre a missão do grupo Afro- Reggae, o entrevistado A caracteriza bem o sentido da inclusão na formação do sujeito:

O Afro-Reggae tem uma ideologia que na verdade tem muito a ver com a nossa missão, que é promover a inclusão e a assistência social utilizando a arte e a cultura afro-brasileira; educação, juntar, unir diferenças, criar pontes e não vias de mão dupla, onde você possa de alguma maneira projetar um mundo melhor, onde negros, brancos, pardos, azuis, verdes e amarelos etc e tal possam estar comungando, e na nossa realidade as facções narcotráfico, a gente o tempo inteiro com elas, onde você possa romper estas proibições de transitar, porque quem mora em favela hoje vive um jugo da ditadura do tráfico muito forte.

A fala nos faz refletir, não sobre a já conhecida exclusão, decorrente das desigualdades sociais, mas da exclusão que também acaba ocorrendo dentro dessas próprias comunidades, conseqüência do jogo de poder, ali ,existente, e responsável, em parte, por tanta violência. Certamente, isso influenciará em muito a formação dos valo res dessas crianças e jovens que vivem nesse contexto e, por outro lado, de como esta inclusão precisa ser transformadora da própria realidade.

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fica comprometido e, conseqüentemente, seu funcionamento e seus resultados, sejam eles de qualquer natureza, econômica ou social.

Num depoimento muito emocionado a entrevistada B, conta sobre as crianças que participam de um determinado projeto que ela coordena:

Eu não esperava e elas vinham direto para o meu colo, e você olha aquele ser em construção, assustados, sem estima, sem perspectivas, sem valores,

criados na violência, chorando e te chamando de Mãe Loura, Tia , minha amiga. Sou mãe aqui, sou tia, eles precisam dessa ligação, parentes, ser meu parente, alguma coisa minha, são carentes disso, precisam de família, o 1o núcleo social.

O papel da afetividade na formação do sentimento de confiança, como base para a auto-estima, para desenvolvimento das inteligência s e para o aprendizado já foi abordado por diversos autores da psicanálise, da psicologia e da educação. Por esses estudos e pela análise dos dados coletados na pesquisa ficou evidente para mim, que a capacidade de expressão emocional é reunida em padrões comportamentais inatos, mas o significado psicológico que passa a ser associado a estas expressões é adquirido gradualmente e depende essencialmente do contexto onde o indivíduo se desenvolve.

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O entrevistado D, um jovem executivo muito bem sucedido em sua carreira, falando do por quê decidiu ir trabalhar no Terceiro Setor e fundar uma ONG, mostra claramente que a escolha existe, mas realmente depende do próprio sujeito exerc ê- la ou não:

... eu comecei a refletir mais sobre a vida. Como eu me via daqui a 10 anos? ... .eu me via, em 10 anos, mais rico mas não mais feliz ou satisfeito, realizado. E, justamente comecei a identificar que o que sempre me trouxe esse sentimento de realização, de satisfação pessoal,

estava vinculado ao desenvolvimento social, ao trabalho como voluntário. Então, foi aí que comecei a fazer certa reflexão: - É isso que eu quero para minha vida? É esse caminho que eu quero percorrer ou eu quero fazer alguma coisa diferente? Então percebi e cheguei à conclusão , mais ou menos rápida, que eu tinha que investir num novo caminho. Mas qual? E como?E o quê? E foi no final do ano, que numa noite, eu tive um sonho

e, nesse sonho... mas o fato que foi essa experiência que apontou uma

direção, mostrou um caminho. E esse caminho pra mim, ficou muito claro. Eu lembro que, no dia seguinte, eu me senti muito energizado, motivado, feliz de estar vendo esse caminho, mas também com um pouco de insegurança que isso ocorresse, porque eu ia deixar um nível de vida, digamos assim, mais comum, ou mesmo que não seja mais comum, é o que está no imaginário das pessoas, a pessoa ter a sua própria empresa, crescer no mercado , ganhar dinheiro, e aí eu ia fazer outra coisa que era

uma sombra, Será no que vai dar essa sombra? É uma interrogação. Eu

lembro também que uma imagem apareceu que me motivou: - eu me via assim com 70 ou 80 anos, numa cadeira de balanço, pensando assim: - Será que eu deveria ter feito alguma coisa para ter transformado aquele sonho em realidade?

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liberdade depende da igualdade de oportunidades e do acesso ao conhecimento.

Sen (2000) defende que as liberdades instrumentais (política, facilidades econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e segurança protetora) ligam- se, umas às outras, e contribuem para o aumento da liberdad e substantiva. O depoimento abaixo de um adolescente que participou de um dos workshops, exemplifica a cruel realidade de algumas comunidades locais:

... em outras áreas que você vai aí, você chega pra um adolescente de 12, 13 anos, ele vai falar de fuzil, de pistola, ou ele vai falar que tá a fim de matar um, ou fala que vai fumar, que vai cheirar. Aqui em Vigário não, quando chega um adolescente de 12,13 anos ele pergunta que dia que tem capoeira, que dia que tem percussão, que dia que tem show do Afroreggae, se vai ter ensaio da Trupe ou da Tribo. Acho que aqui em Vigário, o jovem não pensa em entrar pra boca de fumo porque ele está vendo o resultado que está tendo. Hoje ele pensa em alguma coisa que vai levar ele além daquilo. Ele vem com o pensamento de ser alguém na vida, vou querer aproveitar a minha vida, e no caso, aqui em Vigário Geral ele tem a oportunidade, porque nas outras comunidades não há mesma oportunidade que aqui. Todo o jovem hoje em dia, não adianta falar que não pensou, porque pensou em ser bandido. Quem não pensou?...Aqui em Vigário tem essa oportunidade: Não vou virar bandido não. Vou fazer capoeira, vou virar percursionista, vou fazer basquete, vou fazer dança pra ocupar a mente, vou estudar.

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A gente vive em um país rico, que tem vários recursos naturais e assim, é inadmissível você ver pessoas passando por necessidades. Claro que a gente sabe que sempre vai existir o rico e o pobre, só que a pobreza tem que ter um limite....Você pode ter tudo de baixa qualidade mas você tem que ter casa, comida...Tem gente que não tem nem isso, isso pra mim é uma coisa que não existe.

Sen ressalta a influência dos valores no comportamento dos indivíduos, mas não nega que os interesses materiais possam se sobressair nas decisões e atitudes pessoais, e, para ele, está neste ponto a origem da corrupção. A formação dos valores, o surgimento e a evolução de uma nova ética social, que além da liberdade, promova o comprometimento social, são tão importantes quanto outros mecanismos, como o mercado e as instituições democráticas, para o desenvolvimento social e sustentável. A este respeito o entrevistado A, coloca textualmente:

Aqui se planta e se colhe, é um país rico, é um país que hoje tem uma tecnologia interessante, é um país de ponta, você pega, por exemplo, desde da medicina à própria tecnologia de comunicação está sendo muito desenvolvid a aqui .... Aqui é um país que realmente tem tudo para acontecer. É um país que é top de linha, mas pela corrupção, pela má gestão, em todas as esferas do poder, ... existe tanta falta de oportunidade.

Morin (2004, p.127) quando se refere à incerteza como o quinto princípio da construção do sujeito, esclarece que esta incerteza diz respeito à dúvida de - “até que ponto Eu faço um discurso pessoal e autônomo, ou sob a aparência, que acredito ser pessoal e autônoma, não faço

mais do que repetir idéias impressas em mim?”. Este princípio nos reporta a

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delibera, que está consciente de suas finalidades intrínsecas e de uma ética de conduta.

Para o autor, a sociedade moderna se define como um precário contrato entre indivíduos, que maximizam a utilidade, na busca da felicidade pessoal, entendida como uma busca de satisfação de uma interminável sucessão de desejos . O mundo social competitivo se torna estranho ao homem, que tenta superar sua alienação, seja anulando-se através da passiva conformidade a papéis ou se recolhendo dentro de si mesmo.

Segundo ele, os seres humanos não agem; apenas comportam-se. O mundo vai se desdobrando de acordo com um esboço já estabelecido, em que o puro cálculo das conseqüências substitui o senso comum do ser humano.

A síndrome comportamentalista constitui o credo não anunciado das organizações que funcionam em uma sociedade centrada no mercado. Os indivíduos interiorizam seus padrões cognitivos, sem perceber, e eles passam a ser naturais, ou seja, a síndrome comportamentalista é uma disposição socialmente condicionada – as pessoas confundem as regras e normas de operações peculiares a sistemas sociais episódicos com regras e normas de sua conduta como um todo – ofuscando seu senso pessoal. O indivíduo ilusoriamente ganhou melhora material em sua vida e pagou por ela com a perda do senso pessoal de auto-orientação (RAMOS, 1989).

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privadas, onde algumas pessoas se submetem aos valores e regras da empresa, pelo poder econômico ou outro tipo de conveniência.

O depoimento de dois participantes do grupo de voluntários ilustra bem o que foi relatado aqui:

Não basta ficar só criticando, porque eu sei das dificuldades da minha sociedade, então eu tenho que fazer alguma coisa pra ajudar.

O nome diz é voluntário, não pode dizer “Agora você vai ser voluntário”. Tem que ser de forma espontânea, você te m que buscar o resultado, tem que ter uma satisfação própria e buscar uma satisfação nos outros... .

A Diretora do RIOVOLUNTÁRIO reafirma isto com o seguinte depoimento:

A dedicação do voluntário, o prazer com que ele faz a atividade é muito grande, a gente sabe, quando eles entram aqui para trabalharem, eles

vêm com humor, a gente sente que eles estão muito felizes de estarem fazendo aquela ação. A felicidade dos voluntários é inenarrável, realmente, eles estão assim, exultantes de estarem ali.

Nova mente o entrevistado A, contribui com pontos importantes de reflexão, quando responde sobre o que considera importante no perfil das pessoas que vai contratar para trabalharem na ONG que coordena:

Geralmente o que me atrai é o empreendedorismo e algum tipo de ideologia que aquela pessoa tenha, mesmo que seja uma ideologia equivocada, pois se ela tem ideologia, mesmo equivocada, para ela

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Sobre o que ele chama atenção, é que as pessoas não precisam concordar com tudo, mas têm de ter alguns valores definidos e opiniões formadas, ou seja, ter a sua Identidade já constituída, caso contrário, não poderão contribuir para a formação do Outro.

Outro ponto relevante na fala do entrevistado A é o conceito de empreendedorismo, que comumente esteve relacionado a negócio “de mercado”, mas que hoje, muitos autores já estudam numa perspectiva do “negócio social”, isto é, o foco de atuação é na parceria comunidade, governo e setor privado, conforme vemos nas três ONGs pesquisadas e, de forma mais específica, nas figuras de seus três diretores.

Melo Neto e Froes afirmam que

“desse empreendedorismo social autêntico vão surgir propostas de solução para os problemas sociais, novas estratégias de inserção social, projetos sociais inovadores e as ações empreendedoras

auto-sustentáveis”. (2002, p: XVII)

Estes autores definem o empreendedor social como

“um tipo de líder – suas idéias e inovações não são incorporadas aos produtos e serviços a serem produzido e prestados. Mas, sobretudo, são adicionadas à metodologia utilizada na busca de soluções para os

problemas sociais, objeto das ações de empreendedorismo”. (MELO

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Dito em outras palavras, um dos ge stores entrevistados ratifica a citação dos autores:

Na verdade, não há uma grande diferença entre o empreendedor empresarial e o empreendedor social, porque o que está por trás do empreendedor, no fundo, é uma visão. Normalmente o empreendedor assume riscos, é um sujeito que vai em frente. Ele se arrisca, se posiciona, tem uma opinião. Para o empreendedor social o objetivo não é o lucro, é o resultado”. Então, quando a gente colocou aqui a realização foi no sentido até do movimento, o tempo todo a gente vai estar buscando isso aqui. A gente tem esse dilema.

Na noção de sujeito de Morin, dentre outros paradoxos já comentados, vale agora ressaltar a idéia de TUDO -NADA, também implícita na noção de Sujeito: ora sou tudo, ora, em face da consciência da próp ria morte, sou nada! Neste aspecto, é preciso reconhecer que o

“Sujeito não é apenas ator, mas autor, capaz de cognição/escolha/decisão. A sociedade não está entregue somente a determinismos materiais, ela é um mecanismo de confronto/cooperação entre indivíduos sujeitos, entre os “Nós” e os “EU”.” (MORIN, 2004,p.127).

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Uma participante de um dos workshops ratifica isto quando diz: Você é uma partezinha da engrenagem. É lógico que você não realizaria o trabalho, o

negócio iria começar a desandar.

“É preciso conceber o Sujeito como aquele que dá unidade e invariância a uma pluralidade de personagens, de caracteres, de potencialidades” (MORIN,2004,p.128). Esta concepção do Ser Humano comporta a tríade – indivíduo /sociedade/ espécie, que se apóiam, se nutrem e se reúnem, tornando-se inseparáveis, e “co-produtores um do outro”. E é no “seio desta tríade complexa que emerge a consciência”.Esta consciência é expressa pela ética humana (MORIN, 2002,p.105), com bem exemplifica a fala do entrevistado A:

Existe potencial nas pessoas dos subúrbios, das favelas, da periferia, a questão é que nunca foi canalizado. Esse cano vivia furado, então para vedar esse furo só mesmo uma energia que é até ancestral, uma coisa muito profunda que as pessoas carregam, você vai fazendo exercícios e

as pessoas vão colocando... tem que ser assim. Tem que ter alguém que estimule.

Na mesma linha de pensamento, em O Poder da identidade, Castells (2001) analisa as diferentes origens da identidade, e de que forma estas poderão impactar a vida social. Certamente, estes conceitos contribuem para explicar alguns aspectos já apontados pela pesquisa de campo e outros que serão comentados mais à frente.

Para ele, “Sujeitos são o ator social coletivo pelo qual os indivíduos atingem o significado holístico em sua experiência”(CASTELLS, 2001,p.26), conforme ratifica a entrevistada B:

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histó ria do beija-flor. Eu me sinto um beija-flor mesmo, porque eu consigo, com o meu vôo, digamos assim, conquistar novos parceiros para fazermos um mundo melhor.

Outro depoimento significativo em relação ao que Castells fala sobre o sujeito-ator é do entrevistado E:

... são valores que, por exemplo, se a pessoa chega aqui com uma mentalidade assistencialista, ela não passa da primeira fase, fica:- “Ah, nós temos de ajudar os pobres a conviverem com a pobreza de uma forma mais digna”. Isto não é a nossa praia . O nosso objetivo é emancipar esse cara, de forma que ele um sujeito direito, um cara que entenda que ele é um ator, e não um pólo passivo na relação.

Ritto corrobora Castells, quando esclarece que as organizações que aprendem são constituídas “como redes de pessoas que ensinam e aprendem umas com as outras, o tempo todo e onde os líderes e liderados constituem um todo indivisível em contínua evolução”.(2005, p.318)

Na tentativa de compreender a natureza da sociedade e, especialmente, suas contradições, Arendt (1999) faz uma análise histórica das atividades humanas, em especial, do trabalho e da ação, em que mostra que ação, palavra e liberdade exigem uma construção e permanência no espaço público que caracterizam a democracia. Para ela, “sem o povo ou um grupo não há poder” (ARENDT, 1999, p.351), porque o poder é decorrente da capacidade de os membros de uma comunidade política concordarem com o curso comum da ação.

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Hoje, é muito presente em todas as nossas discussões se aquilo que nós estamos fazendo, naquele momento, realmente tem sentido; o que , realmente,vai produzir de resultados nas comunidades onde a gente atua. Então, nesse ponto, eu acho que a gente está bem focado na importância do resultado e onde está esse resultado.Não temos ainda claro, como é esse resultado que a gente quer atingir. Por exemplo. Como é que a gente mede a inclusão social? O que é a inclusão social para nós? Porque é algo que vai depender do nível de envolvimento que a Organização tem com a comunidade, pra ela te dizer aquela inclusão social, aquele aumento, por exemplo, poderia ser o aumento de IDH, mas ninguém sabe o impacto que nós temos, ou se temos, para aumentar o IDH de uma comunidade de forma apreciável, ou muito menos, se aquela comunidade aumentou o IDH, se a gente pode dizer que foi fruto do nosso trabalho só. Então a gente tem que criar esses indicadores de uma forma mais clara. Hoje em dia a gente acompanha quantitativo de alunos, a gente acompanha a avaliação dos alunos em relação ao trabalho do CDI, a gente acompanha uma série de coisas e até tem avaliação externa de impacto, para avaliar esse impacto em relação ao trabalho do CDI, mas nós não temos, ainda hoje, para nós, claro, metrificado, qual é a inclusão social que a gente pretende ter. Então a gente está sempre trabalhando para deixar essa coisa mais clara.

A fala anterior demonstra a assertiva de Matheus:

“a tomada de consciência dos limites e particularidades de cada um e a discussão das diferenças entre sujeitos poderão favorecer a re-elaboração dos ideais individuais e coletivos, tornando -os mais acessíveis e palpáveis, (...) e dará mais condições de buscar parceiros mais afins e formar grupos a partir de expectativas tangíveis”. (MATHEUS, In

MOTTA & FREITAS, 2000,p.126)

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2.3 Valores, escolhas e ações

A complexidade do sujeito não decorre apenas de sua pluralidade e diversidade, mas, em grande parte, de seus valores. A palavra valor é uma das que possui significação mais rica, complexa e difícil de definir. Valores referem-s e às qualidades avaliadas pelos homens, apreciadas em função do interesse que as coisas apresentam para os mesmos. Na verdade, o valor é a capacidade que um objeto (coisa, idéias ou outra pessoa) tem de satisfazer a um desejo, uma necessidade ou uma aspiração humana. No caso deste estudo, valor estará sendo utilizado no sentido mais social do termo, que significa modelos gerais de conduta, por prescrição coletiva, por normas de comportamento geralmente aceitas pela sociedade.

A maioria dos autores concorda que os valores orientam e guiam a vida das pessoas, mesmo quando não podem ser observados diretamente. Nos anos 70, Rokeach, um estudioso do assunto, concluiu, em suas pesquisas, que “o conhecimento dos valores de uma pessoa nos deveria permitir predizer como ela se comportará em situações experimentais e em situações da vida real”.(TAMAYO, 2005, p.8). Sobre isto, a entrevistada F emitiu a seguinte opinião:

Sem dúvida, um dos fatores mais importante é essa vontade de trabalhar

no 3o setor, vontade de provocar através de seu trabalho mudanças

sociais. A pessoa tem que ter essa sensibilidade para a causa social. Não dá pra ser uma pessoa que pense só em business. Não pode, o trabalho dela não vai funcionar legal.

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E os comentários sobre as fotos foram os seguintes:

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Comentários individuais durante a atividade:

Eu escolhi porque sempre gostei do lado social, da gente trabalhar com o comportamento social. Aí, quando eu terminei a faculdade, foi uma maneira de eu continuar trabalhando com o social... e era um período

que eu tava com bastante tempo disponível também e eu achava que era uma maneira de contribuir com alguma coisa. Foi por isso que eu escolhi.

Apesar da minha profissão, de eu ter paz, de gostar de ajudar as pessoas, por ter um tempo disponível o tempo todo, sem saber o que fazer...

resolvi entrar exatamente pra isso: pra ter uma ocupação, pra ajudar as pessoas.

Porque eu gosto muito dessa área social, trabalho com a comunidade, trabalho em grupo, sempre estar ajudando, não é? Também não gosto de ficar parada.

É a solidariedade, tem que saber dividir.

Sobre isto, Oliveira (2002, p.5) afirma

“Solidariedade, responsabilidade, compromisso de agir em função do interesse comum: são sentimentos que dependem, fundamentalmente, de nossa capacidade como seres humanos de formular julgamentos e tomar iniciativas como base em nosso próprio sentido do que é justo, certo e

necessário (‘to do the right thing’)... As fontes de inspiração para este

sentimento de solidariedade e responsabilidade para com ‘the generalized

other” podem ser espirituais, religiosas, morais ou políticas. Há um fio

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Como os valores são diferentes de uma pessoa para outra, Schwartz desenvolveu, a partir de pesquisas, uma teoria de valores em que identificou as principais características dos valores: “va lores são um constructo motivacional; transcendem situações específicas; guiam a seleção e avaliação de ações, políticas, pessoas e eventos; são ordenados pela importância relativa aos demais” (apud TAMAYO, 2005, p.22). Para ele, os valores estão relacionados a aspectos motivacionais, conforme também vimos na citação de Oliveira, dos quais Schwartz ressalta três como sendo de caráter universal, pois estão relacionados à existência humana, independente, de quem seja o indivíduo ou sua cultura, são eles: - “as necessidades dos indivíduos como organismos biológicos, os requisitos de ação social coordenada e as necessidades de sobrevivência e bem- estar dos grupos. Os indivíduos não podem lidar com estes requisitos da existência humana de forma bem sucedida sozinhos” (apud TAMAYO, 2005, p.24). Isto pode explicar as fotos e depoimentos mencionados, além de justificar o comprometimento social implícito nas equipes reais, conforme trata o próximo capítulo.

Weil (2000) comenta que os três valores que regeram a Revo lução Francesa, liberdade – igualdade - fraternidade, que, para ele, são inseparáveis, foram fragmentados por diferentes correntes do pensamento moderno, provocando impactos altamente negativos sobre a humanidade:

“A liberdade ficou com o mundo capitalista que sacrificou a igualdade de oportunidades; a igualdade ficou com o mundo socialista que sacrificou a liberdade; e a fraternidade foi esquecida pelos dois, devido ao domínio da ciência e da tecnologia, que a relegaram para o domínio da

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Desta forma, como ele mesmo comenta, quem fala de fraternidade ou amor no mundo moderno é visto como idealista, sonhador,... Isto se evidencia, quando a sociedade se refere às pessoas que trabalham no Terceiro Setor, ou aquelas que acreditam em outra lógica que não seja a do lucro e a do mercado.

A foto seguinte é a resposta que o grupo, formado por profissionais contratados para trabalhar no Terceiro Setor, elaborou para a questão: Quais são os aspectos mais importantes, que norteiam as escolhas, decisões e atitudes deste grupo em relação ao trabalho no CDI?

Eu acho que o eixo central é o comprometimento, não é um trabalho que se faz sozinho, não se faz sozinho nem dentro dessa sala, nem dentro do CDI. O CDI está sempre com outras organizações, com outras ONGs que

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gente avalia o que nós vamos perseguir, a gente avalia se as nossas decisões estão corretas, a gente procura ver qual o potencial que isso tem para transformar a realidade. A gente procura, também, converter muito disso para os nossos beneficiários. É importante que eles sejam empoderados e não apenas assistidos. Isso é uma coisa que está no âmbito central do CDI, virou um valor central nosso. Como chegar ao resultado? Isso exige uma participação de todos, mas a gente viu só a participação, a gente não atinge o que nós queremos, a gente precisa de organização, sistematização. A gente precisa ter uma organização que tenha uma gerência, no sentido que não fique fiscalizando, mas

organizando todo o trabalho. A gente pode definir isso, com papéis

definidos e dentro disso eu coloquei uma palavra que é “profissionalismo”... O resultado que a gente busca é a transformação do indivíduo, a transformação das comunidades, ou seja, um mundo melhor.

Isso na verdade são dois mundos muito diferentes.Então quando a gente colocou aquelas duas imagens, é uma busca da integração desses dois

mundos, porque eles dizem muito isso, que a vida na favela é muito diferente da vida no asfalto...tudo gira muito diferente lá dentro:os valores, os códigos, visões que podem ou não podem atingir...que a gente viu mais agora não é...um grupo até certo ponto angustiado com a situação imposta e os crimes...e aí a gente vai reproduzindo nosso papel de protagonismo, de fomentar esses atores locais de transformações, é

fundamental dentro desse comprometimento.

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O “agir” (GUERREIRO RAMOS,1989) e o empoderamento das pessoas só é possível quando o indivíduo tem uma ideologia comum ao meio em que está inserido, como afirma Ansart (1978). Vale então, ressaltar a fala veemente do entrevistado A: Eu fui voluntário durante três anos. Para pessoa ser voluntário, tem de te r ideologia. Sem ideologia é um voluntário sem comprometimento, não aceito!... Não tem, não tem trabalho sem ideologia.

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Comentários dos participantes durante a elaboração do trabalho:

Eu queria ajudar as pessoas também, mas eu não tinha condições. Ai eu pensei assim: Se fizer parte do grupo cultural eu vou estar pelo menos fazendo a minha parte, que no caso, ajudando as pessoas, tendo as dificuldades, se eu puder interagir nas dificuldades das pessoas. Pra mim, estar no Afroreggae é eu poder andar onde eu quero sem ser incomodado por ninguém, porque eu morava na Cidade Alta e se passasse ali em Lucas a pé e os moleques me vissem, eles me agarravam e me batiam. Agora

não, se eles me pararem eu falo que eu não sou de lugar nenhum, eu sou do Afroreggae, aí eles falam “Tu é do Afroreggae então tá tranqüilo, pode ir lá”.

O Afroreggae pra mim é poder ir e vir sem preocupação nenhuma, andar onde eu quiser sem preocupação...É a minha liberdade.

Quando se fala da escolha e das atitudes, acho que pra quem é mais antigo e da galera que é daqui da própria comunidade, é que se a gente parar pra perceber há alguns anos atrás a gente não tinha nenhum trabalho focado que desse alguma oportunidade diferente pras crianças e pros jovens dentro da comunidade. Então, alguém acreditou no nosso trabalho, alguém acreditou em nós, alguém dentro da comunidade de Vigário Geral, acreditou que alguma coisa ia dar certo. O que faltava aqui era a chamada oportunidade das crianças e dos jovens estarem fazendo alguma coisa.

A gente também colocou “Amor à profissão”, porque eu acho que se a gente não valorizar o que a gente faz, a gente não vai ter forças pra fazer aquilo ali e não vai fazer bem feito, se dá certo é porque a gente gosta do que a gente faz e se esforça para isso.

Referências

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