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Um dos percussores da Sociologia foi o francês Durkheim, o qual também contribuiu para a definição do conceito de cultura, associando-a aos modos de pensar, de sentir e de agir, em que a cultura de uma sociedade se desenvolve a partir de si mesma, ou seja, a mudança vem da evolução e da transformação interna da sociedade (CUCHE, 1999).

No mesmo eixo de pensamento, o sociólogo Rocher (1999) estabeleceu um conceito de cultura que está relacionado aos modos de pensar, de sentir e de agir mais ou menos padronizados que, sendo apreendidos e partilhados por uma pluralidade de pessoas; serve de modo simultâneo ao objetivo e ao simbólico, para organizar e estruturar essas pessoas em uma coletividade particular e distinta.

53 Por sua vez, dando continuidade à pesquisa, o sociólogo Hall (1997) apresenta uma perspectiva que compreende a cultura com base e sustentação nas ações sociais e nas suas respectivas práticas, não em si mesmas, mas em razão dos diversos sistemas que são utilizados. Tudo isso é utilizado para definir o que significam as coisas e para codificar, sistematizar e regrar a conduta em relação com os pares. De acordo com esse pensador, essa conjuntura de códigos/significados é que dá sentido às práticas, o que permite interpretar, de maneira significativa, as condutas alheias. Tomadas em seu conjunto, constituem as culturas, isto é, "contribuem para assegurar que toda ação é ‘cultura’, que todas as práticas sociais expressam ou comunicam um significado, neste sentido são práticas de significação" (HALL, 1997, p.16). O autor apresenta uma compreensão de cultura a partir de dois sentidos, um de caráter substantivo e outro de caráter epistemológico. No aspecto substantivo, a cultura se enquadra na configuração empírica real e nas organizações e nas realizações das atividades, nos estabelecimentos, no convívio e nas relações na sociedade. No seu caráter epistemológico, alude à posição da cultura em relação aos assuntos de conhecimento e de conceitualização. Desse modo, a cultura está intimamente relacionada ao entendimento de mundo, à explicação e à construção de padrões teóricos.

Nessa perspectiva, para Hall (1997), a cultura busca assumir uma função, sem igual, na sociedade contemporânea, pois acaba por envolver, nos recantos da cotidianidade, as distintas dimensões da vida social: a organização da sociedade, os recursos econômicos e materiais, os veículos de produção, circulação e troca cultural (principalmente por meio das tecnologias de informação) Esse envolvimento expande as relações entre o global e o local. Assim, pode-se dizer que a cultura se faz presente nas imagens ao redor, nas vozes que interpelam a sociedade, nas linguagens que compõem as práticas, no estilo de vida.

Ainda segundo Hall (1997), a revolução da cultura traz modificações no modo de viver, ou novos padrões de comportamento. A cultura, dessa forma, pode ser compreendida como uma construção da convivência diária dos homens em sociedade. Não obstante, para o sociólogo Giddens (2007), a cultura consiste nos princípios de um determinado grupo de pessoas, nas normas e nas condutas que seguem e nos bens materiais que constroem e reconstroem. Para Giddens (2007), isso significa que os valores são pensamentos abstratos, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que se espera que o povo cumpra. Essas normatizações representam o permitido e o interdito da vida social. Por exemplo, quando se usa o termo, no discurso cotidiano comum, reflete-se, muitas vezes, em cultura como aproximadora das coisas mais elevadas do espírito – arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos

54 acrescentam, no conceito, essas atividades, mas não se limitam a elas. Assim, a cultura refere- se aos indivíduos de uma sociedade e engloba a forma de vestir, os costumes, as cerimônias religiosas, enfim, tudo o que é produzido pela sociedade, tal como livros, filmes, entre outras criações.

Dessa forma, verifica-se que a sociedade e a cultura estão interligadas, ou, ainda fazendo relação com o que se vive, pode-se dizer que a cultura e a sociedade estão interconectadas. Pode-se dizer que a cultura, no seu sentido sociológico, nada mais é do que aquilo que os homens construíram ao longo do tempo e em todos os domínios em uma determinada sociedade. É, portanto, um conjunto de elementos de ordem material e intelectual, algo que, por meio da sociedade, se recebe do passado, sofrendo naturais alterações, quer por abandono de certos elementos, quer por absorção de novos. Entretanto, não se pode esquecer que a principal característica da cultura é o poder de adaptação e da capacidade que os indivíduos têm em responder ao meio de acordo com as mudanças e as transformações.

Esse caráter volátil do termo cultura é explicado pelo sociólogo polonês Bauman. Para ele, o termo surge com a tarefa de suprir as necessidades de um contexto histórico em que a vida humana deixa de ser determinada pela ordem divina para ser definida pela autodeterminação, acarretando a necessidade de uma nova ordem. A ideia de cultura fundiu-se, portanto, com as seguintes preocupações modernas: a tarefa de substituir a desintegrada ordem divina e natural das coisas por uma ordem feita pelo homem; a preocupação dos filósofos de substituir a revelação pela verdade de base racional e a pragmática da construção da ordem (BAUMAN, 2012).

Para Bauman, a autodeterminação trouxe a liberdade e, juntamente com ela, a necessidade de restrição para garantir a ordem social;.

“[...] a ideia de cultura que entrou em uso perto do fim do século XVIII refletia de modo fiel essa ambivalência de atitudes. O caráter de dois gumes – simultaneamente “permitindo” e “restringindo” – da cultura, sobre o qual muito se tem escrito nos últimos anos, na verdade estava presente desde o começo” (BAUMAσ, 2012, p. 12).

Tal ambivalência inerente ao conceito de cultura é o que, para Bauman, o estimulou a “dissecar” o seu complexo significadoμ

“A ambiguidade que importa, a ambivalência produtora de sentido, o alicerce genuíno sobre o qual se assenta a utilidade cognitiva de se conceber o hábitat humano como o “mundo da cultura”, é entre “criatividade” e “regulação normativa”. As duas ideias não poderiam ser mais distintas, mas ambas estão

55 presentes – e devem continuar – na ideia compósita de “cultura”, que significa tanto inventar quanto preservar; descontinuidade e prosseguimento; novidade e tradição; rotina e quebra de padrões; seguir as normas e transcendê-las; o ímpar e o regular; a mudança e a monotonia da reprodução; o inesperado e o previsível” (BAUMAσ, 2012, p. 13).

A contribuição de Bauman, além de ser uma das mais atuais, revela toda a dificuldade em se definir o termo cultura, mas, ao mesmo tempo, demonstra quão amplo ele é. O termo exige do pesquisador e, também, do leitor uma disponibilidade em modificá-lo, adicionando novos valores, novos costumes, novas práticas. Enfim, é um trabalho constante de conhecimento e de compreensão das infinitas possibilidades de manifestação cultural.

Portanto, é possível compreender que, enquanto a Antropologia é uma ciência que estuda o homem e as características de sua evolução física, social ou cultural, a Sociologia volta seus estudos para os fenômenos sociais, buscando analisar os seres humanos em suas relações de interdependência, e um dos seus objetivos é compreender as diferentes sociedades e culturas. As visões antropológica e sociológica do termo cultura são complementares, e conhecê-las e compreendê-las é um caminho que pode fundamentar e embasar melhor as pesquisas na área.

Então, compreender as diferentes culturas exige, primeiro, entender que a cultura é dinâmica e mutável; funciona como mecanismo adaptativo e cumulativo, pois sofre inúmeras mudanças. Alguns traços se perdem e outros se adicionam em velocidades distintas nas diferentes sociedades. Isso acontece porque a diversidade cultural é algo associado ao movimento do processo de aceitação da sociedade. Em outras palavras, o todo vigente se impõe às necessidades individuais e a cultura insere o indivíduo num determinado meio social diante do perfil comportamental.

Sendo assim, conhecer a evolução do termo cultura e as mudanças sócio- históricas que acompanharam esse processo permitiu ampliar a visão de pesquisa. Dessa maneira, foi possível refinar o olhar em relação às manifestações juvenis que são tão infinitas e mutáveis quanto à definição de cultura.