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CAPÍTULO I - JORNALISMO CULTURAL

1.6 NOVOS CAMINHOS. NOVAS PLATAFORMAS

Encerrando nossa passagem pelo comportamento esperado do jornalista cultural, é conveniente também acrescentar que o jornalista cultural, assim como qualquer jornalista, precisa ter pés na imparcialidade. Isso quer dizer, para o jornalismo cultural, segundo Piza (2004), que não pode em hipótese alguma confundir criação com criador. Como o autor lembra, grandes críticos brasileiros como Paulo Francis não escaparam de atacar deliberadamente sem atribuir contrapontos em suas análises. Esse tipo de comportamento reforça o estereótipo de antipatia e arrogância no qual muitos veem o crítico.

1.6 NOVOS CAMINHOS. NOVAS PLATAFORMAS

Revisitando os dados históricos a respeito do jornalismo cultural utilizados nos tópicos acima, encontramos pontos claros de ignição para novos estilos jornalísticos não só surgirem como também se transformarem. Enquanto as tecnologias avançam e dão mais comodidade e revolucionam comportamentos do homem contemporâneo, o jornalismo como um todo vai encontrando seu espaço para se manter influente no mundo onde as informações precisam ser mais rápidas e atraentes pela massiva competição.

Ballerini (2015), ao discutir sobre a influência dos jornais nos gostos e interesse do público a respeito de temas culturais, infere que os especialistas e estudiosos da área ainda divergem se novas mídias conseguem ser mais influentes que as tradicionais trazendo identidade e originalidade ou só reproduzem em outro espaço o que já era feito. Porém, Ballerini (2015) infere que os canais de comunicação são bem mais fáceis entre o público e as mídias digitais.

Quando falamos de novas plataformas, se pegarmos um recorte histórico mais amplo, retomamos o raciocínio de que por muito tempo o único meio de comunicação era o meio impresso, como Ballerini (2015) conclui. O autor cita que as resenhas artísticas possuíam suportes de imagens apenas através de gravuras, pinturas e mais tarde da fotografia.

Porém, o surgimento do rádio e depois da televisão entregaram novas perspectivas ao público. Ballerini (2015) cita que a presença do rádio enriqueceu a experiência de análises artísticas ao adicionar espaço para se ouvir trechos musicais e até entrevistas com os artistas. Esse feito foi ainda mais aperfeiçoado com a chegada da televisão. Ballerini (2015) lembra que o cinema nunca conseguiu se tornar um expoente do jornalismo cultural, mas a televisão

32 (...) foi criando programas em que a cultura ganhou espaço - como o telejornalismo, no qual o repórter fala sobre uma novidade musical, teatral, literária ou cinematográfica, ou o crítico colunista que aborda, por exemplo, o meio século de criação do Cinema Novo – assim como tem feito há alguns anos Nelson Motta nos telejornais da TV Globo. (BALLERINI, 2015, p. 177)

Ballerini (2015), contudo, afirma que nenhuma revolução foi tão significativa quanto à chegada da internet. Com o advento das novas tecnologias de telefonia e celular e a popularização desses novos tipos de serviço, a comunicação logo viu o potencial que estava ao seu alcance. Com os anos, finalmente pode ser visto que o meio veio para ficar e não só isso, substituir antigos paradigmas.

(...) aí está a grande vantagem da internet - a possibilidade de ilustrar o texto com trechos de música, filmes, clipes e imagens em alta resolução, além de entrevistas ouvidas ou assistidas. Com o barateamento da tecnologia, nascem blogues que abordam todas as áreas do jornalismo cultural, seja por leigos, seja por especialistas da área (BALLERINI, 2015, p.177-178).

Piza (2004) se posiciona com uma opinião semelhante ao recordar que a internet oferece e se dedica a serviços, formando fóruns interativos de uma forma que a comunicação impressa tradicional nunca irá conseguir, por suas inerentes limitações.

Ballerini (2015), porém é cauteloso quanto a facilidade de qualquer um ter espaço no meio de comunicação mais tradicional da era. É preciso haver cuidado para não consumir conteúdo pobre em detrimento de boa qualidade, já que essa seleção agora pode ser feita apenas pelo próprio leitor/consumidor, há também a preocupação da internet ser mais popular entre um público jovem, que pode ainda ser muito inexperiente como criadores de opinião e de notícias. A afirmação de Ballerini (2015) esquece-se de citar que um dos fatores mais primordiais da internet é conseguir oferecer espaço para nichos ainda mais específicos. Logo, é possível que tal conteúdo julgado como má qualidade encontre seu público se ele for único.

Todavia, concordamos com Ballerini (2015) que a carência de um jornalista sério, com propriedade segurança do que vai falar e com critérios mais afiados não pode ocorrer. Ou seja, podemos inferir que há de fato uma via de mão dupla, ao público resta além de procurar o que mais vai ao encontro do seu interesse, saber também investigar melhor se aquele conteúdo segue critérios de qualidade e confiabilidade. Já aos jornalistas há a necessidade de entender cada vez mais as novas plataformas para alcançar seu público potencial, inclusive para aqueles veículos e comunicadores que se consagram por meio das mídias mais tradicionais. Como bem afirma Jenkins (2015),

33 Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os resultados podem ser maravilhosamente criativos; podem ser também uma má notícia para todos os envolvidos. (JENKINS, 2015, p.45).

Ballerini (2015), no entanto, é otimista quanto às perspectivas, “aos poucos o processo sofrerá acomodação e sobreviverão portais e veículos em que os leitores sabem que podem confiar.” (BALLERINI, 2015, p. 179).

Ao longo da nossa análise, deduzimos que não se faz um jornalista sem afinco e paixão pela profissão e a atividade de noticiar e expor juízos. Isso fica ainda mais acentuado no ramo do jornalismo cultural, que se molda principalmente através de críticas e ensaios. Podemos compreender que o crescimento de novos portais em diferentes plataformas e sua competição a altura com os veículos tradicionais pode se dar por um motivo,

Nos veículos tradicionais, é comum um repórter ser escalado para cobrir um tema cultural de que tem pouco conhecimento. Já em portais e blogues, o internauta só cobre determinada área se tiver alguma afinidade com ela, o que possibilida, às vezes, uma melhor cobertura. (BALLERINI, 2015, p.186).

Enquanto os veículos mais estabelecidos não se alertarem a esse fato, vão continuar sendo ainda mais substituídos por novos caminhos, o que já parece definitivo em casos da área da cultura geek, por exemplo, quando observamos portais como o “Jovem Nerd” e o “Omelete”, para citar dois dos maiores expoentes do meio.

Além de abrir espaço para muitas áreas antes subjulgadas até mesmo dentro dos temas de cultura, a internet trouxe uma necessidade de consumir cada vez mais e em menos tempo. Ballerini (2015) formula que se antes esperava uma semana inteira para ler uma opinião sobre algo num jornal de sexta, hoje queremos saber se vale a pena ou não ir ver um filme, ler um livro ou assistir uma peça horas depois da estreia.

Essa aceleração faz parecer que o segmento das críticas está ainda mais perto de se transformar na notícia, pelo menos no que diz respeito à velocidade de postagem. Se algum veículo perder o “time”, não falar de certo assunto enquanto ele estiver em evidência, certamente não conseguirá os melhores números de visualização. Outro fator, não menos importante, é a forma como as redes sociais são utilizadas e pedem para ser, cada uma com sua peculiaridade.

As novas plataformas também alteraram o conteúdo da produção jornalística. Twitter, Facebook e outras redes sociais pressionam a cada dia para que reportagens, análises e entrevistas sejam mais curtas e rápidas de ler, o que enfraquece o conteúdo crítico. (BALLERINI, 2015, p.179).

34 Para Jenkins (2015), além de uma adequação aos formatos exigidos pelas plataformas, as empresas de comunicação necessitam também buscar um modelo ideal para agir com seu público consumidor. Antes sem espaço para uma réplica, hoje esses são munidos para discordarem e contestarem tudo, além de facilmente se debandarem, vide a infinidade de meios existentes, o que outrora não ocorria.

Por muitas vezes, os caminhos da internet e suas inúmeras ramificações parece bem mais obscuro a quem era dominante, logo com uma visão conservadora, a quem nasceu ou cresceu na origem disso tudo. Jenkins (2015) explana que empresas de mídia ainda se mostram perdidas em suas estratégias de aproximar-se dos públicos em diferentes plataformas.

Por um lado, a convergência representa uma oportunidade de expansão aos conglomerados das mídias, já que o conteúdo bem-sucedido num setor pode se espalhar por outras plataformas. Por outro lado, a convergência representa um risco, já que a maioria dessas empresas teme uma fragmentação ou uma erosão em seus mercados. Cada vez que deslocam um espectador, digamos, da televisão para a Internet, há o risco de ele não voltar mais. (JENKINS, 2015, p.47).

Para além da internet, outro segmento que ganhou muita força no jornalismo cultural nas décadas derradeiras do século XX e início do XXI foram os livros. Piza (2004) desenvolve que a cultura da comercialização de livros está cada vez maior no meio jornalístico. Há coletâneas com ensaios e críticas ou reportagens que muitas vezes não passaram nem pelos jornais, saindo direto nessas plataformas. Há também muita dedicação na escrita de biografias sobre personagens diversos.

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