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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ENTREPLANOS – UMA RAMIFICAÇÃO DA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Richardson Eduardo Nunes Costa

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Richardson Eduardo Nunes Costa

ENTREPLANOS – UMA RAMIFICAÇÃO DA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do diploma de graduação em Comunicação Social (curso de Jornalismo).

Orientador: Prof. Dr. Adriano Medeiros Costa

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Costa, Richardson Eduardo Nunes.

EntrePlanos: uma ramificação da crítica cinematográfica / Richardson Eduardo Nunes Costa. - Natal, 2021.

102f.: il. color.

Monografia (graduação em Jornalismo) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2021.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Medeiros Costa.

1. Jornalismo Cultural - Monografia. 2. Cinema - Monografia. 3. Crítica - Monografia. 4. Youtube - Monografia. 5. EntrePlanos - Monografia. I. Costa, Adriano Medeiros. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 070:791.3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -CCHLA

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FOLHA DE APROVAÇÃO

ENTREPLANOS – UMA RAMIFICAÇÃO DA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Richardson Eduardo Nunes Costa

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do diploma de graduação em Jornalismo.

Data da Aprovação: 06/09/2021

BANCA EXAMINADORA:

Professor Dr. Adriano Medeiros Costa (Orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Professor Me. Leonardo Bruno Reis Gamberoni (Membro)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Professor Drª Cibelle Amorim Martins (Membro)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Perto do fim da graduação, minha segunda aqui na UFRN, me vem uma reflexão de algo curioso e que muito me intriga, quando somos pequenos, nos primeiros anos da nossa formação escolar até perto da entrada numa universidade, geralmente não temos nenhuma outra obrigação que divida nosso tempo da escola. Reforço, geralmente é assim que funciona.

Contudo, no momento mais crucial dessa caminhada educacional, naqueles anos que estamos construindo a formação da profissão que escolhemos, que na teoria será nosso ganha-pão, temos de dividir nossa atenção com milhares de outras obrigações da vida adulta. Essa é a maturidade. Faz parte.

A caminhada na graduação de jornalismo não foi exatamente como vislumbrei quando me inscrevi no curso anos atrás. Surgiram percalços e novas jornadas que se cruzaram e me afastaram até integralmente da faculdade. Acontece. E disso exatamente não posso reclamar, longe disso.

Já fui religioso, mas me afastei e muito desse caminho. E isso se deu principalmente pelas pessoas que comandam as instituições. Por isso, posso afirmar sem titubear que minha fé em algo maior permanece. Sem essa perspectiva, acredito que muitas realizações a desafios postos ficariam sem conclusão.

Não posso começar citando outras pessoas aqui que não sejam meus pais, os maiores alicerces que alguém pode ter na vida. Meus maiores presentes, uma dádiva. Com eles compartilhei todos os desgostos escolares e profissionais, todas as derrotas e momentos difíceis eram eles quem estavam lá para serem luz. Nunca me esqueço disso. Como poderia? Mas existe o outro lado da moeda, né? Ainda bem. Nada é mais singelo e fantástico que contar como tudo deu certo aos pais, olhar nos olhos deles e vê um brilho cristalino e genuíno. Uma segurança, um sossego que tudo vai ficar bem.

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poucas palavras não conseguem mensurar o carinho e cuidado que tenho por ela nas minhas ações e pensamentos.

Na universidade aprendemos muito mais a viver do que ter uma profissão. Criamos um olhar crítico e desenvolvemos novas concepções morais e éticas. Esse aporte é ainda mais rico quando temos educadores excelentes. Minha admiração infinita a empolgação e riqueza de referências que esses mestres possuem, não deixaram a peteca cair nem mesmo nesse período tão difícil que estamos vivendo. E aqui não podia deixar de dedicar algumas palavras em especial ao meu orientador nesse trabalho, Professor Doutor Adriano Medeiros, que não apenas aceitou me ajudar como também cobrou quando foi necessário. Foi incrível receber elogios enquanto trabalhávamos no projeto, durante a correria que foi esse semestre.

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EPÍGRAFE

“Em uma época que não possui crítica de arte, a arte não existe, ou então é hierática, confinada à reprodução de tipos antigos.”

Oscar Wilde

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RESUMO

Este trabalho de monografia tem como objetivo analisar o canal de Youtube EntrePlanos dentro da perspectiva da crítica cinematográfica, situada dentro da editoria do jornalismo cultural. Para isso, levantamos, através de pesquisa bibliográfica, diversas teorias e fundamentações históricas ligadas ao jornalismo cultural e a crítica cinematográfica, seja ela impressa ou em outros formatos, como o vídeo. Discutimos critérios e métodos ligados ao jornalismo cultural, como a necessidade do crítico de consumir não apenas produtos da arte cujo trabalha, mas também se cercar de referências diversas. Além de percebemos as mudanças de linguagem e forma ao longo dos anos. Para comprovarmos a presença ou ausência da crítica no conteúdo do canal EntrePlanos, documentamos de modo qualitativo e quantitativo, além de uma entrevista com o autor, os conteúdos produzidos no canal e também em áreas exclusivas para membros. O monitoramento foi feito durante toda a produção do trabalho.

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ABSTRACT

This senior project aims to analyze the Youtube Channel EntrePlanos from the perspective of Critical Film Analysis, situated within the field of cultural journalism. To this end, through bibliographical research, we took note of several theories and historical sources related to cultural journalism and cinematographic criticism, whether printed or in other formats, such as video. We discussed criteria and methods linked to cultural journalism, such as the need for critics to consume not only products of art they work with, but also to surround themselves with different references. In addition, they need to notice the changes in language and form over the years. In order to prove the presence or absence of criticism in the EntrePlanos channel content, we document qualitatively and quantitatively, and interview the author, as well as examine the content produced in the channel and also in areas exclusive to members. Monitoring was carried out throughout the production of the work.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

CAPÍTULO I - JORNALISMO CULTURAL ... 14

1.1 O SIGNIFICADO DE CULTURA E SEUS PRECONCEITOS ... 15

1.2 O QUE É JORNALISMO CULTURAL? ... 17

1.3 HISTÓRIAS E PERSONAGENS ... 20

1.4 HISTÓRIAS NO BRASIL E PERSONAGENS ... 24

1.5 CRITÉRIOS PARA O JORNALISMO CULTURAL ... 27

1.6 NOVOS CAMINHOS. NOVAS PLATAFORMAS... 31

1.7 DESAFIOS ... 34

CAPÍTULO II – A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA ... 37

2.1 ANÁLISE INICIAL SOBRE A CRÍTICA ... 37

2.2 O CINEMA, O JORNALISMO CULTURAL E A CRÍTICA ... 39

2.3 EXPLICAÇÕES, DETALHES E CRITÉRIOS... 44

CAPÍTULO III – O CASO ENTRE PLANOS ... 49

3.1 A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA NO YOUTUBE ... 49

3.2 ENTREPLANOS, A ANÁLISE DO CANAL ... 59

3.3 O VÍDEO ENSAIO ... 66

3.4 ENTREPLANOS E O JORNALISMO CULTURAL ... 72

3.5 OS TIPOS DE VÍDEOS DO ENTRE PLANOS ... 79

CONCLUSÃO ... 93

REFERÊNCIAS ... 96

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12 INTRODUÇÃO

Entender os diferentes critérios jornalísticos para produção de um material de qualidade não é tarefa fácil. É preciso está envolto de contextos e de uma análise progressiva e contínua, ininterrupta das novidades que cercam o jornalismo - de conceitos a técnicas de produção. Hoje, com o avanço tecnológico desenfreado, passamos por revoluções quase que coletivas do modo de criar conteúdo jornalístico, onde muitas vezes o criador não possui formação na área da comunicação, às vezes longe disso.

O desafio de se adequar a tantas novas possibilidades de se comunicar são detalhes preciosos na construção de um caminho mais claro do jornalismo do século XXI. É com essa ideia, que esta pesquisa buscou estudar o canal de Youtube

EntrePlanos1, relacionando-o diretamente ao jornalismo, dentro da editoria de cultura,

que é a vertente do jornalismo responsável por explorar de modo analítico os diversos tipos de produtos artísticos, sendo ligados diretamente a indústria do entretenimento ou não.

A análise do EntrePlanos pretende entendê-lo dentro de elementos comunicativos que o enquadrem no Jornalismo Cultural, mais precisamente dentro da crítica cinematográfica, já que o canal, em seus vídeos, aborda o cinema quase de forma integral como seu produto de análise. O cinema é hoje um dos principais produtos de entretenimento e também protagonista nos cadernos de cultura. Isso justifica a importância de observamos como ele vem sendo representado e reportado aos públicos de interesse por novas formas de se comunicar, frutos dos avanços tecnológicos.

O jornalismo que trata de cinema ainda não tem seu potencial totalmente explorado. Podemos considerar análises mais profundas de filmes ou debates sobre gêneros cinematográficos algo ainda de nicho, restrito a alguns grupos de interesse mais específicos. Contudo, é inegável o apelo comercial dado a quem produz conteúdos jornalísticos dentro de formatos como podcasts e vídeos. Os canais que discutem cinema na plataforma de vídeo tendem a ter crescimento em visualizações de fãs e suas opiniões são procuradas por muitos que consomem cinema, sendo muitas vezes visto como mediadores.

Pela falta de espaço e liberdade dada ao jornalismo cultural na televisão ou em canais de comunicação de portais mais tradicionais, plataformas como o Youtube acabaram por suprir essa demanda do público que deseja consumir mais desse material. O Youtube hoje conta com diversas fortes referências ao público - sejam elas especializadas no que falam ou não - de diversos assuntos ligados à cultura de massa: Livros, Jogos de vídeo game, cinema e séries. Canais como o EntrePlanos surgem como um modelo inovador de trabalhar o que seria a crítica cinematográfica, com um modo mais particular e original de enxergar aspectos implícitos a uma obra fílmica.

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13 Mais precisamente, vamos buscar responder nossos questionamentos acerca do conteúdo do canal, se estes vídeos produzidos podem ser considerados críticas cinematográficas de fato, produto de destaque dentro do jornalismo cultural.

Para a realização deste trabalho, realizamos uma pesquisa bibliográfica buscando diversos pensamentos ligados ao jornalismo cultural e a crítica cinematográfica. Através da internet, examinamos e documentamos diversos conteúdos do canal e também de extensões dele. Além disso, entrevistamos o autor do canal para compreender de forma mais direta o que ele pensa acerca do trabalho realizado em seus vídeos, se podem ser considerados jornalismo ou não. O contato inicial para a entrevista ocorreu através do espaço destinado a apoiadores do canal EntrePlanos. Obtendo respostas às nossas perguntas através de e-mails.

O trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro, traçamos uma análise histórica e também de conceitos para compreender o jornalismo cultural como um todo. Explorando seus esboços iniciais e evolução até o século XXI, passando por momentos marcantes e grandes nomes cruciais para seu desenvolvimento, além de estabelecer critérios, qualidades e técnicas inerentes ao profissional. Observando como alguns gêneros textuais se adaptam ao jornalismo cultural.

No segundo capítulo, nos debruçamos mais ainda no gênero da crítica cinematográfica, explorando detalhes profundos que cercam a atividade e também sua valorização de altíssima requisição dentro da imprensa, da cultura do entretenimento e dos ramos artísticos.

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CAPÍTULOI-JORNALISMOCULTURAL

Talvez um caminho essencial para se discutir ou analisar qualquer projeto que envolva cinema como forma de arte ou comunicação, ou até ambas, seja estudarmos os conceitos do jornalismo cultural. Rico, diverso e ainda com muito potencial inexplorado, essa vertente do jornalismo se revela profunda em conceitos, reviravoltas na sua linguagem e está em plena efervescência de transformação.

Dito isso, é interessante iniciar dando um breve enfoque na relevância do jornalismo cultural dentro do universo editorial das redações. Piza (2004) afirma que as seções culturais ainda são muito lidas e queridas dentro dos grandes jornais. Recebendo a atenção principalmente dos jovens.

Contudo, há ainda barreiras de conceitos formulados e cristalizados por alas conservadoras dentro das redações e também de certa parte do público que consome jornais em geral, a ideia de que esse tipo de jornalismo é menor que outros. Talvez pelo fato de seu protagonismo de ações não passar pelas notícias, e sim por opiniões. Piza (2004) recusa aceitar o argumento de que o jornalismo cultural tem sua elaboração simplificada pelo fato de muitas vezes ele se basear na exposição de opinião de alguém. Mesmo que a opinião seja transmitida por um canal de comunicação com credibilidade dentro do tema em questão.

Essa expressão, jornalismo cultural, é um pouco incômoda, especialmente para os objetivos deste livro, porque parece tratá-lo da mesma forma como tantas vezes ele ainda é tratado pela grande imprensa brasileira – desempenhando um papel algo secundário, quase decorativo. (PIZA, 2004, p.7)

Piza (2004) reforça a necessidade de batalhar para que o jornalismo cultural possa ter seu espaço estabelecido ainda mais, e o encontre superando barreiras de preconceito, “O conceito de que “emitir opiniões é fácil”, que tantas vezes escutei em redações, é o primeiro a ser combatido.” (PIZA, 2004, p. 8).

Para Valarezo (Apêndice A) o jornalismo cultural tem uma grande importância dentro dos grandes veículos, sendo primordial a existência de cadernos que veiculem opiniões, notícias e reportagens ligadas a cultura. Valarezo (Apêndice A), todavia concorda com Piza (2004) que a editoria é vista como menos importante frente a outras, como economia e política.

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15 e também mudanças percorridas; bem como aprofundar ainda mais no que entendemos ser seu grande segmento de destaque, a crítica. Para nós, a crítica cinematográfica. Essa última será abordada em um capítulo a parte.

1.1 O SIGNIFICADO DE CULTURA E SEUS PRECONCEITOS

Segundo Rose (2017), o significado mais comum ao definir cultura está relacionado a ações coletivas de um grupo que vive em sociedade. Isso gera a noção da existência de infinitas culturas, já que os seres humanos podem se organizar por interesses diversos (familiares, afinidade, gostos pessoais). Rose (2017), porém não esconde os efeitos do capitalismo sobre a cultura, utilizando-se delas para criar julgo mercadológico sob outras.

Para seguir este tópico, iremos utilizar o raciocínio proposto por Ballerini (2015), de que não há como separar entretenimento e cultura. Como o próprio autor cita, toda produção cultural se utiliza de cultura, seja uma especifica ao criador ou do contexto no qual ele se insere no momento da concepção.

Piza (2004) confirma a presença da cultura em tudo. Uma miscelânea de ideias, e inovações na linguagem, são para o autor o que é mais natural na cultura. É importante ao jornalista que pretende trabalhar com cultura está atento a isso.

Contudo, o significado de cultura está longe de ser algo de fácil resolução, e isso não se aplica apenas no senso comum, bem como na história e nas ciências humanas. Ballerini (2015) relata essa dificuldade, já que o termo “envolve conceitos, costumes, valores, etc” (p. 31). Ballerini (2015) contesta a afirmação de que cultura vem da ação de perseguir a perfeição espiritual por meio de grandes artes eruditas. Artes como o cinema, se utilizando de cultura popular local, em casos como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Cidade de Deus” (2002), podem atingir reflexões até mais complexas que as grandes artes levantadas mais acima.

Antes de voltarmos a citar o Cinema Novo, Ballerini (2015) relembra os pensamentos oriundos da Escola de Frankfurt, liderada principalmente pelas figuras de Max Horkheimer e Theodor Adorno, que indicavam que os meios de comunicação são instrumentos que operariam suprimindo os ideais das classes operárias em detrimento do pensamento das classes dominantes, impedindo assim uma conscientização dos que consomem os produtos comunicativos. Para Ballerini (2015), esse tipo de visão pode estar sendo reducionista e ultrapassada já que

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16 reafirmando pensamentos vigentes entre os cineastas ao interpretar e esclarecer seus filmes ao público. (BALLERINI, 2015, p.34)

Ainda se utilizando do Cinema Novo, Ballerini (2015) volta a reforçar que filmes como “Vidas Secas” (1962) e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), foram completamente rodados no Nordeste, no sertão. Em ambas as histórias, há registros de manifestações populares da região. E isso não impediu que ambos alcançassem um espaço de puro privilégio dentro dos principais festivais de filmes pelo mundo, inclusive entre os entusiastas da cultura erudita. Mesmo pertencendo à indústria cultural.

Para Raymond Williams (1992 apud Ballerini 2015) o cinema, a literatura, a televisão, e por isso, o jornalismo cultural, são fortes influências nos costumes comportamentais e sociais transmitidos das culturas hegemônicas até as dominadas.

Capitalismo, sociedade urbana branca e de classe média alta, consumismo, diálogos novelescos – sem sotaques, quase neutros –, trilha sonora americanizada e valorização do que vem de fora são características recorrentes em nossa produção atual. (WILLIAMS, 1992, apud BALLERINI, 2015, p. 32)

Basta refletirmos quantas músicas viram destaque nas rádios porque estão sendo reproduzidas nas telenovelas, os penteados de uma protagonista são repetidos em salões de beleza, bordões que tomam cena em todo o cenário do país que aquela produção é exibida. Para Ballerini (2015), a crítica do jornalismo cultural é um grande instrumento para diminuir os efeitos dessa dominação natural que esse tipo de produção exerce. Utilizando caminhos para explicitar como há outras formas de contar histórias.

Todavia, há o outro ponto desse conflito, mais difundido no senso comum. Piza (2004) cita uma pesquisa, realizada pela Secretaria de Cultura de Belo Horizonte, onde a maior parte dos entrevistados respondeu que um filme do diretor norte-americano Steven Spilberg não era cultura. Para o autor isso ocorre porque

(...) a maioria das pessoas associa “cultura” a algo inatingível, exclusivo dos que leem muitos livros e acumularam muitas informações, algo sério, complicado, sem a leveza de um filme-passatempo. (PIZA, 2004, p. 46)

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17 superior as obras mais aceitas e compreendidas como cultura, pode servir de estímulo a curiosidade e a busca por consumi-las e compreendê-las. “É melhor isso do que achar que a cultura se limita aos grandes sucessos de público como os filmes de Spielberg.” (PIZA, 2004, p. 49).

Porém, o autor revela que esse sentimento de “preconceito às avessas” passa mais pela falta de compreensão de como alcançar essa cultura, certo tipo de bloqueio. Terminando assim, por desistir.

Para suprir essa ausência de filtragem de bons materiais culturais, encontramos o jornalismo cultural e suas críticas opinativas. Piza (2004) argumenta a impossibilidade de um cidadão atender a todas as ofertas das programações de cultura que existem. Na rotina, não há tempo suficiente para ler, assistir filmes e programas, ouvir músicas e ir às peças. Como escolher algo que realmente seja interessante e produtivo?

Piza (2004) alerta que a seleção por vezes, pode ocorrer não pela qualidade artística da obra, mas sim por conta do gênero (romance-policial, filmes de ficção, músicas pop, livros de autoajuda); às vezes a escolha pode acontecer graças ao nome famoso de um autor ou ator/atriz; há ainda quem escolha apenas os filmes “tristes”, que fuja dos livros grandes. Essas determinações são de certa forma, segundo Piza (2004), escolhas culturais baseadas nas experiências e juízos prévios.

Para encerrarmos o tópico sobre cultura, reforçando a ideia do parágrafo acima, citamos Sodré (2013 apud Ballerini 2015) e seu entendimento a respeito do que é cultura

(...)cultura não é o mesmo que conhecimento. Imagine-se o conhecimento como um mar em que se deve navegar: a cultura é um mapa, uma carta de navegação. Antes mesmo que se imponha o conhecimento, ela já se faz presente como uma matriz de orientação para fazer diferenças e estabelecer critérios, mas também como um mapa da memória do saber pertinente à reprodução da consciência burguesa (SODRÉ, 2013, apud BALLERINI, 2015, p. 163).

Logo, seria o jornalismo cultural parte de um mapa em eterna configuração, mas de fácil acesso em diferentes níveis, principalmente hoje, com o objetivo de conduzir o homem ao conhecimento, sempre com cuidado ao contexto e as especificações.

1.2 O QUE É JORNALISMO CULTURAL?

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18 Tal pensamento encontra-se de comum acordo com a definição de outros pensadores, como Golin (2010) que pensa que o jornalismo cultural

(...) situa-se numa zona heterogênea de meios, gêneros e produtos que abordam com propósitos criativos, críticos ou de mera divulgação os campos das artes, das letras, das ciências humanas e sociais, envolvendo a produção, a circulação e o consumo de bens simbólicos. O espectro de alcance do jornalismo cultural é amplo sob o ponto de vista formal e de conteúdo. É possível considerar, nesse conjunto, desde uma revista literária de pequena circulação, o suplemento semanal de um jornal de grande tiragem, revistas especializadas em temáticas específicas (artes, música, cinema), cadernos diários reservados ao tempo livre e ao entretenimento, assim como as revistas eletrônicas, cada vez mais freqüentes na internet. (GOLIN, 2010, p. 2)

Assim como Golin (2010), Ballerini (2015) relata a força do jornalismo cultural nos novos meios digitais. Além de confirmar sua grande aceitação no grande público. Entendemos que isso se deve ao fato desses jornais repercutirem muito da cultura de massa, que está mais presente na rotina dos cidadãos.

Mas, não é porque algo é menos difundido que ele não mereça ser informado e classificado. Assis (2008) explica que jornalismo cultural é uma reunião de conteúdos informativos que se relacionam. Pautas construídas sob a luz de algo que é apontado como cultura.

Piza (2004) contribui para a concepção da atividade do jornalista cultural. O autor entende que a função de qualquer jornalismo passa por atividades como edição, criar uma hierarquia de valores, comentá-las e analisá-las. Importante também é nortear o leitor a critérios e opiniões. Abarcando esse raciocínio, temos que a

(...) a imprensa cultural tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o mercado valoriza por seus interesses, e o dever de olhar para as induções simbólicas e morais que o cidadão recebe. (PIZA, 2004, p. 45)

Ballerini (2015) utiliza-se dos pensamentos de Morin (2001) para elucidar o papel do jornalista cultural como quem conduz o público a compreender que em toda obra (seja na literatura, na música ou na pintura) existe algum valor e dilemas humanos a serem discutidos. E são esses pontos que devem ajudar a formar a opinião do receptor.

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19 redescobrir novos julgamentos sobre obras às vezes não aclamadas pela crítica especializada, nem tão pouco pelo grande público.

Como esse tipo de exercício jornalístico supracitado nos parágrafos anteriores está mais próximo da crítica, tão forte no jornalismo cultural, Assis (2008) afirma, utilizando-se das ideias de Marcelo Coelho (2000) que essa atividade é uma das mais valorizadas dentro da editoria. Seu pensamento parte do princípio da dificuldade entre delimitar os julgamentos pessoais mais espontâneos com o julgamento mais técnico e especializado que o material a ser produzido deve ter.

Saindo das concepções de crítica encontradas no jornalismo cultural, já que voltaremos a tratá-la com maior complexidade mais a frente, é importante relatar também como esse tipo de jornalismo lida com outros gêneros comunicativos mais tradicionais, como as notícias e a reportagem. Piza (2004) aponta como a presença do noticiário quente e cada vez mais instantâneo é menos presente no caderno cultural. “Suas "notícias" em geral dizem respeito à agenda de lançamentos e eventos (livros, shows, exposições etc.) olham mais para o que ainda vai ocorrer do que para o que está acontecendo ou já aconteceu.” (PIZA, 2004, p. 80).

Talvez seja por isso que há certo preconceito com a área, sempre sendo elencada a uma segunda categoria dentro dos jornais. Isso acontece até entre jornalistas que cobrem outros cadernos. Piza (2004) acredita que isso ocorre graças ao julgamento que há menos trabalho nos cadernos culturais. O que o autor refuta com veemência, utilizando principalmente o argumento de que qualquer jornalista cultural que busque realizar seu trabalho com excelência deve utilizar muito do seu tempo consumindo as obras que circundam a sua rotina laboral, de filmes a músicas; de show a exposições.

Para não deixar brechas, Piza (2004) se adianta em contra argumentar uma possível resposta do tempo gasto fora das redações pelos jornalistas culturais, o fato de que ouvir músicas e ver filmes é algo prazeroso e atividades de entretenimento. Mas, para o autor, há uma profunda diferença entre consumir tais produtos apenas por entretenimento a trabalhar com eles. “Mas o fato é que às vezes é preciso virar a noite terminando de ler um livro para resenhar no dia seguinte, e se não fosse o prazo poderíamos deixá-lo para depois.” (PIZA, 2004, p. 80).

Convergindo com esse discurso, podemos citar a recente saída de um dos maiores comunicadores de um dos sites que cobrem a cultural geek no Brasil, Érico Borgo, do

site Omelete. Em entrevista ao canal de Youtube Flow2 Podcast, Érico cita que a

grandeza do projeto Omelete e a competitividade fruto do capitalismo ferrenho imposto nessa área fizeram ele se sentir cada vez mais angustiado com o propósito do trabalho. “Eu não estava mais consumindo o conteúdo nerd que eu amei a vida inteira, por conta de trampo. Estava trabalhando feito um doido. Não estava conseguindo ler nada, assistir nada, jogar nada.”.

2 Disponível em:

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20 Analisando o discurso de Piza (2004) e a entrevista concedida por Érico Borgo, podemos compreender que por mais que haja inicialmente um gosto indiscutível em trabalhar e viver do que muitos consumem como entretenimento e lazer, a rotina de estar sempre mais preparado para emitir opiniões, e para isso exista a necessidade de consumir materiais que de repente não seriam consumidos, retira o prazer da atividade.

Embora as notícias não tenham a mesma relevância no jornalismo cultural do que em outros cadernos, como Piza (2004) deixa claro, Ballerini (2015) explicita a relação da área com a necessidade de ter sempre os pés na atualidade. O autor reforça que, principalmente nas últimas décadas, há uma antecipação do que vai receber destaque. Marcado sempre para dar espaço aos lançamentos ou divulgações de algo, uma forma de promoção.

Ballerini (2015) manifesta como a promoção e divulgação precisam estar presentes como características do meio cultural. Afinal, pelo que o autor entende, é o jornalismo quem melhor faz a mediação entre a arte e o público. O autor ainda comenta que é dever do jornalista ter a expertise de saber desenvolver a promoção dos conteúdos mais aceitos e mais difundidos, bem como dar espaço para novos movimentos artísticos. Piza (2004) é afável a essa consideração:

O jornalismo cultural tem esse papel simultâneo de orientar e incomodar, de trazer novos ângulos para a mentalidade do leitor-cidadão. (PIZA, 2004, p. 117)

1.3 HISTÓRIAS E PERSONAGENS

Definido jornalismo cultural, é importante perpassar por alguns momentos históricos e algumas mudanças, radicais ou não, nos seus métodos mais comuns. Compreender as diferenças mais marcantes ligadas à regionalização e também tomar ciência das influências do jornalismo cultural nos meios mercadológicos e sociais.

Para progredirmos, é preciso entender que existe de certo modo um consenso sobre datas marcantes ao jornalismo cultural. Publicações imprescindíveis de destaque e nomes que valem ser citados. Contudo, não podemos cravar datas sobre seu surgimento, por exemplo. Há ainda uma carência notável de documentos mais indiscutíveis.

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21 Anchieta (2013) aponta que há registros impressos datados, respectivamente de 1665 e 1684 com conteúdos jornalísticos relacionados a obras culturais. Os documentos são de dois jornais da época, o “The Transactions of the Royal Society of London” e “News of Republic of Letters”. A autora ainda cita Burke (2004) para relatar o surgimento da resenha de livros com início no século XVII.

Mas, para Ballerini (2015), o jornalismo cultural pode ter surgido ainda mais cedo. Isso tudo graças à invenção da impressão por Johanes Gutenberg. Para o autor, a celeridade com que os livros e peças de teatro eram impressas resultou na massificação de um público que passou a ansiar por opiniões mais embasadas. Vale lembrar, que tal período é marcado por profundas mudanças nas artes, na filosofia e nos pensamentos científicos, como destaca Piza (2004):

(...) o jornalismo cultural, dedicado à avaliação de ideias, valores e artes, é produto de uma era que se inicia depois do Renascimento, quando as máquinas começaram a transformar a economia, a imprensa já tinha sido inventada (por Gutenberg em 1450) e o Humanismo se propagara da Itália para toda a Europa, influenciando o teatro de Shakespeare na Inglaterra e a filosofia de Montaigne na França. (PIZA, 2004, p. 12)

Julgamos aqui refletir brevemente como o jornalismo cultural, desde o princípio, esteve alinhado a refletir sobre os comportamentos da sociedade que estava inserido através das produções artísticas e do entretenimento. E assim, pode-se dizer também, que ele carrega consigo culpa por possíveis mudanças de pensamento, já que atua como um elo entre público e artista, responsável por desatar nós.

Porém, ao longo dessa pesquisa bibliográfica, nada foi mais marcante, se tratando de gênese do jornalismo cultural, do que a revista “The Spectator”, criada em 1711 pelos ingleses Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719). Segundo Piza (2004), a proposta da revista diária era de democratizar mais o pensamento crítico sobre produtos consumidos na época, levando-o a lugares mais comuns, como casas de chá e cafés.

A revista falava de tudo –- livros, óperas, costumes, festivais de música e teatro, política –- num tom de conversação espirituosa, culta sem ser formal, reflexiva sem ser inacessível, apostando num fraseado charmoso e irônico que faria o futuro grão-mestre da crítica, Samuel Johnson, sentenciar: “Quem quiser atingir um estilo inglês deve dedicar seus dias e suas noites a ler esses volumes”. (PIZA, 2004, p. 12)

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22 novamente presente nas mudanças do mundo moderno. Outros episódios parecidos podem ser encontrados por toda a história contemporânea.

Em um percurso quase linear pela história, iremos citar alguns nomes de grande destaque na formação e profissionalização do jornalismo cultural até os dias de hoje. Desde já, relatamos que muitos deles são até mais conhecidos por seus trabalhos em outras áreas não ligadas ao jornalismo diretamente, como a própria escrita ou o cinema.

O primeiro deles é Samuel Johnson (1709-1784). Piza (2004) mostra como, a partir do surgimento da revista “The Spectator”, a procura por ensaios e opiniões de obras ganhou força em Londres. Dito isto, Dr. Johnson, como era conhecido, se destacou ao resenhar sobre peças de Shakespeare, e retirar as reflexões sobre linguagem dos locais mais elevados da sociedade.

Johnson é o pai de todos os críticos europeus, americanos ou brasileiros cujas opiniões sobre um livro ou qualquer outro tema, nos séculos seguintes, eram esperadas com fôlego preso por uma pequena mas decisiva plateia. (PIZA, 2004, p. 14)

Avançando na história diretamente para o século XIX, é preciso também cruzar o atlântico para comentar um novo movimento que estava ocorrendo no jornalismo norte americano. Piza (2004) descreve como o crescimento da cultura, e por isso também do jornalismo cultural, era proporcional ao desenvolvimento do país como um todo. Tanto Piza (2004) quanto Ballerini (2015) separaram parágrafos para destacar um famoso crítico e ensaísta da época, o hoje famoso por seus contos e poemas Edgar Allan Poe (1809-1849).

Outro grande destaque do século XIX nos Estados Unidos foi o escritor Henry James. Piza (2004) revela que os ensaios e resenhas do escritor, não eram apenas revolucionários e sucesso absoluto em Nova York, mas também eram lidos por todas as metrópoles europeias, como Londres e Paris.

Para concluir o bloco de destaques que contribuíram para o grande e rico acervo do jornalismo cultural ao longo dos séculos, há mais dois grandes nomes britânicos mais conhecidos pela escrita, Oscar Wilde (1854-1900) e George Orwell (1903-1950). Piza (2004) nos revela que ambos emprestaram seus dons à escrita crítica e também conseguiram instigar pensamentos sobre os temas. Wilde defendia a tese de “O crítico como artista” que se baseava na ideia “de que a crítica cultural em si era uma forma de arte, autônoma em relação às outras artes.” (PIZA, 2004, p. 20).

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23 Alcançando o século XX, nosso relato utiliza dos estudos de Piza (2004) para descrever de modo mais ágil alguns pontos importantes que marcaram o jornalismo cultural no século derradeiro do milênio. Primeiro, entra em destaque a presença das reportagens, entrevistas e outros gêneros mais “quentes”. Antes disso o jornalismo cultural “era feito de escasso noticiário, muito articulismo político e o debate sobre livros e artes.” (PIZA, 2004, p. 18).

Embora os novos tempos trouxessem consigo mudanças importantes, as revistas prosseguiram sendo a plataforma mais relevante ao jornalismo cultural. Como Piza (2004) relata, onde existiam movimentos vanguardistas ou qualquer novidade artística cultural, as revistas de ensaios, resenhas, críticas e perfis estavam presentes. Era um caminho de crescimento mútuo, artístico e da imprensa.

O crítico que surge na efervescência modernista dos inícios do século XX, na profusão de revistas e jornais, é mais incisivo e informativo, menos moralista e meditativo. No entanto, continua a exercer uma influência determinante, a servir de referência não apenas para leitores, mas também para artistas e intelectuais de outras áreas. (PIZA, 2004, p. 20)

Uma pergunta que pode surgir é, no nosso mundo moderno, as novas expressões artísticas ainda ajudam a imprensa a obter relevância ou pelo contrário, estão contribuindo para sua derrocada? Os espaços que hoje produzem jornalismo cultural, embora diferentes, como é caso do Youtube e dos podcasts, ainda dão espaço a crítica, entrevistas e perfis. Porém, voltaremos a discutir mais a frente explicações da relevância do jornalismo ser tão notada hoje em dia.

Ainda no século XX, surge uma das revistas de mais credibilidade na história do jornalismo cultural, a “New Yorker”. Piza (2004) comenta como a revista se tornou referência em pouco tempo, sendo seu modelo seguido em diversos cantos do globo. Pela “New Yorker” passaram grandes críticos, que até influenciaram personagens ardilosos no cinema e escritores que são lidos e seguidos até hoje, como Truman Capote (1924-1984).

Piza (2004) celebra outro grande trunfo da revista americana, que foi conseguir emplacar – não criar, mas praticá-lo com a melhor qualidade – o gênero jornalismo literário. O jornalismo literário, segundo Vilas-Boas (2012 apud Molina e Belmonte 2017), pode ser confundido com texto bonito, porque beleza não encobre defeitos como pobreza de pesquisa e conteúdo, já que sua principal característica é a apuração intensa de informações.

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24 1.4 HISTÓRIAS NO BRASIL E PERSONAGENS

Não tão tardio no surgimento como alguns podem imaginar, há nuances no jornalismo cultural brasileiro que o credenciam a obter destaque em qualquer análise mais profunda sobre o jornalismo cultural. “O jornalismo cultural no Brasil do século XX segue uma história semelhante ao de outros países, mas repleta de lances peculiares.” (PIZA, 2004, p. 32).

Quando os jornais cederam espaço aos cadernos culturais, a indústria americana e seus valores culturais já começavam a se estabelecer, isso obviamente influenciava o jornalismo, que passou a receber uma formação profissional com treinamentos universitários. Ballerini (2015) acena para um conflito entre duas correntes conflitantes estabelecidas no Brasil, uma influenciada pelo modelo americano e outra pelo europeu, que apostava no escritor crítico por vocação. Com o tempo, como afirma Ballerini (2015), o país se viu mais coagido ao modelo norte-americano.

Assim como ocorreu fora do Brasil, grandes escritores, devido às dificuldades inerentes a profissão – principalmente no nosso país – viam no jornalismo cultural uma saída para escreverem e estarem em evidência. Piza (2004) cita que o primeiro nome de destaque foi Machado de Assis (1839-1908), praticamente abrindo caminho para os cadernos culturais no século XIX. Machado escrevia críticas de teatro e ensaios seminais. José Veríssimo (1857 – 1916) e Mario de Andrade (1893 – 1945) são outros dois nomes do período que hoje são conhecidos mais como escritores, mas também emprestaram seus talentos às resenhas e críticas.

E se os americanos criaram a grande “New Yorker”, os brasileiros conseguiram feitos no jornalismo cultural também com revistas que emplacaram determinantes revoluções artísticas e sociais dentro do seu contexto. Começamos citando a revista “O Cruzeiro”, Ballerini (2015) reconta que desde a sua criação em 1928, a revista foi tida como um grande sucesso. Atingindo a marca de venda de um milhão de exemplares vendidos na revista que trazia mais sobre o suicídio de Getúlio Vargas.

O Cruzeiro era uma porta-voz nacional influente por apresentar um visual arrojado, realizar grandes reportagens em série, fazer que os leitores colecionassem as edições e deixar um legado de fotojornalista de renome por várias gerações. (BALLERINI, 2015, p. 23)

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25 (...) o figurino do crítico, mas não tanto sua figura. Não se tratava mais daquela presença algo sacerdotal, missionária, do esteta que prega uma forma de vida por meio de julgamentos artísticos e assim atrai discípulos. (PIZA, 2004, p. 20)

Talvez ainda mais importante que a produção da “O Cruzeiro” e da “Klaxon”, são seus frutos, ou os suplementos e cadernos culturais que surgiram nos anos seguintes adotando modelos estabelecidos nas revistas citadas. Barreto (2006) elucida que os cadernos, principalmente por seu modo ousado de experimentação de linguagem e impressão são fortes referências aos novos produtos editoriais que nasceram nos anos seguintes, como o ‘Caderno B”. O jeito inovador conseguia conquistar o leitor que se sente mais próximo de quem produz.

Mesmo que os tempos sejam outros, e o jornalismo ainda procura se estabelecer diante das novidades tecnológicas, assim como foi no passado, é perceptível que apostar em formatos inovadores e buscar proximidade com quem está ali para receber a mensagem ainda é de suma importância, até porque, o jornalismo cultural atual mais difundido deve falar das novidades e está pronto para fazer parte dos novos tempos.

Embora nas duas últimas décadas tenham se afastado destas características, considerando-se que a cultura está cada vez mais inserida na sociedade do espetáculo, do consumo imediato, da superficialidade das abordagens, os cadernos culturais, na maioria das vezes, estiveram ligados à difusão da cultura consagrada e em processo de consagração. (BARRETO, 2006, p. 2)

Com a criação do “Caderno B” nos anos 1950, o “Jornal Brasil” eleva o patamar do jornalismo cultural brasileiro a um patamar de excelência. Piza (2004) acena que entre os grandes nomes da equipe, estava Clarice Lispector, como colunista. Além das críticas incisivas de teatro, feitas por Bárbara Heliodora.

O sucesso do novo suplemento do “Jornal Brasil” surte efeitos quase que imediatos na produção dos jornais brasileiros nos anos 1950, “Os cadernos culturais se transformaram em objeto de desejo da maioria dos jornais brasileiros depois que foi criado o Caderno B, do Jornal do Brasil. E, no contexto da evolução da imprensa brasileira, a década de 50 foi decisiva.”. (BARRETO, 2006, p. 2).

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26 Progredindo e chegando aos tempos contemporâneos, já nos anos 80, somos apresentados a dois dos maiores padrões de qualidade dos jornais culturais, o “Caderno 2” e a “Ilustrada”. Os cadernos respectivamente, do “Estadão” e da “Folha”, tiveram sua ascensão após os movimentos das Diretas-Já. Uma das características mais marcantes dos cadernos era a tendência a opiniões fortes e controvérsias. Para Ballerini (2015)

A Ilustrada chegou no final do século com um gosto pela controvérsia e mostrou uma galeria de articuladores e críticos polêmicos, como Paulo Francis, Tarso de Castro e Décio Pignatari, mas aos poucos o peso da opinião diminuiu e a agenda cultural passou a predominar (BALLERINI, 2015, p. 30).

Antes de finalizarmos, comentando sobre a revolução nos cadernos culturais, que agora dão mais espaço a agendas culturais em detrimento de colunas, críticas e ensaios, é importante entender um pouco da figura do crítico citado acima, Paulo Francis (1930-1997). Piza (2004) narra à trajetória do crítico iniciando seus trabalhos escrevendo sobre teatro e rapidamente criando uma voz polêmica, mas também revolucionária.

Propondo um teatro com mais autores nacionais e mais profissionalismo internacional, rompeu com os eufemismos e clubismos da crítica e tentou fazer pelo Brasil o que Shaw fizera pela Inglaterra sessenta anos antes. (PIZA, 2004, p. 38).

Francis ainda trabalhou com jornalismo político e acabou sendo perseguido pela ditadura. Após o período de exílio, e também antes disso, trabalhando como correspondente, Piza (2004), comenta que Francis fez história com seus textos a Ilustrada e depois, anos à frente, na TV Globo e também no jornal O Globo. Para Piza (2004), Francis tinha:

(...) uma escrita contundente e engraçada, que viciava admiradores e detratores igualmente, Francis chegou em seu Diário de Corte, duas vezes por semana, ao auge naquilo que tinha de melhor: o comentário cultural. Quando emitia opinião sobre livros, filmes e peças, comunicava um gosto pela arte que contaminava os leitores e os tirava de seu comodismo habitual. (PIZA, 2004, p. 39).

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27 Ballerini (2015) consente com essa visão trazida de que o repertório dos cadernos culturais mudou e passou a dá mais espaço as programações artísticas. O autor afirma que onde antes existiam textos com análises mais aprofundadas sobre obras de diferentes artes, agora recebia roteiros e guias, programação dos cinemas, teatro e televisão. Além de dar espaço também a quadrinhos, palavras cruzadas e horóscopos.

Finalizando, Piza (2004) cita ainda a presença de novos assuntos nos cadernos culturais a partir dos anos 1990, como moda, gastronomia e design. Hoje, além das agendas culturais de fato estarem estabelecidas (clicamos em notícias semanais que trazem os lançamentos de cada streaming, por exemplo) também ganhamos novos assuntos que estão mais ainda estabelecidos dentro da comunicação cultural, como é o caso dos jogos de vídeo game.

Como debatemos em parágrafos anteriores, o jornalismo cultural caminha diretamente com a força da cultura de massa. Seja ela uma influência maléfica ou não, através de dominação ideológica ou apenas de poder mercadológico, é impossível não ceder espaço aos conteúdos que são consumidos. Os portais de comunicação que tentam fugir disso de modo integral estão fadados ao fracasso. É como explica Morin em seu livro “Cultura de massas no século XX” (2002),

(...) Em outro sentido, a produção cultural é determinada pelo próprio

mercado. Por esse traço, igualmente, ela se diferencia

fundamentalmente das outras culturas: estas utilizam também, e cada vez mais, as mass media (impresso, filmes, programas de rádio ou televisão), mas tem um caráter normativo: são impostas, pedagógica ou autoritariamente (na escola, no catecismo, na caserna), sob forma de injunções ou proibições. A cultura de massa, no universo capitalista, não é imposta pelas instituições sociais, ela depende da indústria e do comércio, ela é proposta. (MORIN, 2002, p. 45).

Portanto, não podemos simplesmente criticar o jornalismo cultural por uma mudança do que um dia foi considerado o padrão de excelência. É preciso assimilar muitos contextos aos fatores que determinam os textos mais curtos e as opiniões enlatadas em bordões apenas em um parágrafo de texto. Talvez a falta de concentração do cidadão atual, envolto em milhares de afazeres e diversos entretenimentos indique o caminho das agendas. É bom reforçar que hoje aceleramos até vídeos que consumimos. Muitas vezes, para dá tempo de consumirmos outros.

1.5 CRITÉRIOS PARA O JORNALISMO CULTURAL

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28 como segundo escalão. Talvez o que explique isso seja justamente seu exercício estar ligado ao que muita gente considera lazer e as análises parecerem meras opiniões. Isso já foi debatido aqui nesse texto, em outro momento. Opiniões refutadas pelos pesquisadores analisados.

Contudo, mesmo que não possamos generalizar a qualidade do jornalismo cultural em si, é preciso tomar cuidado para se estabelecer caminhos, não necessariamente a rigidez de normas, para fazer um trabalho de qualidade. Piza (2004) orienta o jornalista da área ou quem pretender ingressar por esse caminho a construir uma bagagem cultural. Isso evitaria cair em armadilhas de achar que uma obra é o suprassumo quando na verdade ela se trata de algo clichê e nada original. Ou além, ter rigor nas escolhas e nas opiniões, “quanto mais se adquire “olho”, como se diz na pintura, maior é a capacidade de pré-selecionar o que se irá consumir.” (PIZA, 2004, p. 50).

O que não pode deixar de acontecer é ter um forte carinho pela profissão, sentir gosto pelo que faz e muitas vezes ter isso intrínseco a sua natureza, “Jornalismo, como se sabe, tem de estar no sangue; jornalismo cultural tem de estar no DNA.” (PIZA, 2004, p. 8). O jornalista cultural deve entender que sua profissão, muitas vezes como degustador e mensageiro para um grande público, é fornecer uma amplitude maior para um assunto.

Nos últimos tempos, surgiu dentro do jornalismo cultural um espaço ainda mais de nicho, a cobertura apenas de conteúdo nerd ou geek. Não entraremos com profundidade na força lucrativa e de persuasão desse mercado. Mas para Medeiros (2016), utilizando Dapieve (2008), um profissional do jornalismo cultural e geek, precisa estar ali por paixão ao conteúdo que ele vai falar. “Como eles são genuinamente fãs dos produtos que escrevem, fazem-no com propriedade e conhecimento de causa.”. (MEDEIROS, 2016, p. 17).

Além de fã do produto, um jornalista cultural não pode imaginar adentrar em uma obra sem conhecer um pouco do contexto que a circunda. Piza (2004) cita a grande fonte criativa do cinema hollywoodiano em cima de biografias de personagens marcantes e passagens às vezes mui específicas da história mundial.

Um crítico de cinema vai estar em maus bocados, portanto, quando estiver diante de um filme sobre um gênio da matemática como John Nash (Uma mente brilhante) e não fizer a menor ideia de quem ele foi e o que significou para o conhecimento moderno. (PIZA, 2004, p. 50).

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29 Projeto Flórida (2017). Será possível conhecer as consequências da crise econômica de 2008 e o modo como os nativos norte-americanos foram e são tratados apenas assistindo A Qualquer Custo (2018)? Os exemplos são diversos.

Para tanto, o bom crítico deve ter boa formação cultural, conhecendo bem não só o setor que cobre, mas também outros setores – quantos mais, melhor. Um bom crítico de cinema não o será se desconhecer a boa literatura e a história das artes visuais; e também deve ter noções sólidas sobre os assuntos abordados pelos filmes, como a Guerra do Vietnã, para citar um exemplo comum no cinema. (PIZA, 2004, p. 78).

Assis (2002) se mostra favorável aos pontos levantados por Piza (2004) ao entender que um bom crítico antes de tudo precisa gostar de analisar obras. Mas para isso, é preciso conhecê-las e destrinchá-las. Ter uma noção o mais abrangente possível sobre como aquilo impacta o passado e o futuro. Além de afirmar que um bom crítico precisa enriquecer seu portfólio cultural para melhor avaliar tudo que for preciso.

Porém, Piza (2004) adiciona outra atividade à rotina dos jornalistas culturais, especialmente os críticos, que é ler e acompanhar jornais nacionais e internacionais. Ter noções de geopolítica e história mundial pode muito bem enriquecer um texto sobre determinada obra. Piza (2004) lembra que ver os melhores filmes e ler os melhores livros vai ajudar além de que

(...) o crítico de cinema é ainda melhor quando conhece bastante a literatura e a pintura, e assim por diante. Como se nota, jornalista cultural precisa ser um estudioso, um autodidata. (PIZA, 2004, p. 131).

Julgado a importância de consumir mais do produto que deseja falar e se apoderar da maior quantidade de informações prévias sobre uma obra, o jornalista do ramo cultural nunca pode se limitar a superficialidade do primeiro contato. Bem como não pode nunca esquecer que parte do seu papel é julgar a qualidade de uma obra. É isso que dele se espera, e não falamos apenas do público que irá consumir o jornal, Piza (2004) afirma que o meio artístico se acostumou a esperar o olhar crítico, para o autor uma opinião forte, mas embasada possui seu valor de destaque.

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30 Piza (2004) destaca quatro atributos que devem ser inerentes à profissão do jornalista de cultura que deseja se especializar na crítica. Na primeira delas, o autor elabora a importância da linguagem e da necessidade de um bom texto jornalístico. Os outros dois pontos elencados, discutimos de modo analítico nos parágrafos acima, em suma, consumir mais do produto que deseja falar e se apoderar da maior quantidade de informações prévias sobre uma obra.

Por isso, vamos nos ater ao quarto elemento que Piza (2004) afirma ser necessário ao crítico jornalístico, sua habilidade de conseguir ler em uma obra aspectos da realidade, e não apenas aqueles que já estão ali como metáforas claras a alguma questão da nossa socieadade. Espera-se do crítico que ele seja “um autor, um intérprete do mundo.” (PIZA, 2004, p. 70).

(...) O crítico sabe observar os recursos de cinema, não só os de câmera mas também os de atuação, ciente da força emocional das imagens. Também usa o filme para fazer uma leitura da vida, do embate entre estabilidade e aventura. (PIZA, 2004, p. 75-76).

O canal de Youtube EntrePlanos, objeto de estudo desse trabalho, ao desenvolver vídeos utilizando filmes para desenvolver análises mais profundas de temas que ainda não foram discutidos em cima desses longas, consegue se encaixar na elaboração proposta por Pizza (2004). Podemos citar, como exemplo, dois casos das análises realizadas, filmes como “Um Sonho de Liberdade” (1994) e “A Rede Social” (2010), receberam uma interpretação do criador do conteúdo pouco desenvolvida nos veículos de comunicação mais tradicionais.

Respectivamente, o jornalista Max Valarezo elabora uma narrativa que contará a libertação humana através da arte num filme onde esse tema não é o plot central da trama. No outro exemplo, resume a quebra de expectativa com os estereótipos e a formação do caráter do homem do século XXI numa história que poderia ficar mais contida a criação de uma empresa de internet (Facebook). Esses vídeos conseguem exemplificar bem o pensamento de Piza (2004).

Outro critério no qual Piza (2004) julga elementar o jornalismo cultural seguir é fugir de alguns vícios praticados hoje em dia nessa linha editorial. Um deles é dá uma notícia simplista sobre algum assunto envolvendo a arte em questão sem designar espaço também a comentários da mesma. Por exemplo, noticiar o lançamento de uma peça, mas não opinar, mesmo de modo breve sobre sua qualidade. Piza (2004) também se mostra contra a formatação de listas classificatórias sobre algum recorte, temporal ou temático.

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31 dez mais é melhor que uma lista do primeiro ao décimo) e acrescentar comentários a cada item. (PIZA, 2004, p. 81).

Encerrando nossa passagem pelo comportamento esperado do jornalista cultural, é conveniente também acrescentar que o jornalista cultural, assim como qualquer jornalista, precisa ter pés na imparcialidade. Isso quer dizer, para o jornalismo cultural, segundo Piza (2004), que não pode em hipótese alguma confundir criação com criador. Como o autor lembra, grandes críticos brasileiros como Paulo Francis não escaparam de atacar deliberadamente sem atribuir contrapontos em suas análises. Esse tipo de comportamento reforça o estereótipo de antipatia e arrogância no qual muitos veem o crítico.

1.6 NOVOS CAMINHOS. NOVAS PLATAFORMAS

Revisitando os dados históricos a respeito do jornalismo cultural utilizados nos tópicos acima, encontramos pontos claros de ignição para novos estilos jornalísticos não só surgirem como também se transformarem. Enquanto as tecnologias avançam e dão mais comodidade e revolucionam comportamentos do homem contemporâneo, o jornalismo como um todo vai encontrando seu espaço para se manter influente no mundo onde as informações precisam ser mais rápidas e atraentes pela massiva competição.

Ballerini (2015), ao discutir sobre a influência dos jornais nos gostos e interesse do público a respeito de temas culturais, infere que os especialistas e estudiosos da área ainda divergem se novas mídias conseguem ser mais influentes que as tradicionais trazendo identidade e originalidade ou só reproduzem em outro espaço o que já era feito. Porém, Ballerini (2015) infere que os canais de comunicação são bem mais fáceis entre o público e as mídias digitais.

Quando falamos de novas plataformas, se pegarmos um recorte histórico mais amplo, retomamos o raciocínio de que por muito tempo o único meio de comunicação era o meio impresso, como Ballerini (2015) conclui. O autor cita que as resenhas artísticas possuíam suportes de imagens apenas através de gravuras, pinturas e mais tarde da fotografia.

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32 (...) foi criando programas em que a cultura ganhou espaço - como o telejornalismo, no qual o repórter fala sobre uma novidade musical, teatral, literária ou cinematográfica, ou o crítico colunista que aborda, por exemplo, o meio século de criação do Cinema Novo – assim como tem feito há alguns anos Nelson Motta nos telejornais da TV Globo. (BALLERINI, 2015, p. 177)

Ballerini (2015), contudo, afirma que nenhuma revolução foi tão significativa quanto à chegada da internet. Com o advento das novas tecnologias de telefonia e celular e a popularização desses novos tipos de serviço, a comunicação logo viu o potencial que estava ao seu alcance. Com os anos, finalmente pode ser visto que o meio veio para ficar e não só isso, substituir antigos paradigmas.

(...) aí está a grande vantagem da internet - a possibilidade de ilustrar o texto com trechos de música, filmes, clipes e imagens em alta resolução, além de entrevistas ouvidas ou assistidas. Com o barateamento da tecnologia, nascem blogues que abordam todas as áreas do jornalismo cultural, seja por leigos, seja por especialistas da área (BALLERINI, 2015, p.177-178).

Piza (2004) se posiciona com uma opinião semelhante ao recordar que a internet oferece e se dedica a serviços, formando fóruns interativos de uma forma que a comunicação impressa tradicional nunca irá conseguir, por suas inerentes limitações.

Ballerini (2015), porém é cauteloso quanto a facilidade de qualquer um ter espaço no meio de comunicação mais tradicional da era. É preciso haver cuidado para não consumir conteúdo pobre em detrimento de boa qualidade, já que essa seleção agora pode ser feita apenas pelo próprio leitor/consumidor, há também a preocupação da internet ser mais popular entre um público jovem, que pode ainda ser muito inexperiente como criadores de opinião e de notícias. A afirmação de Ballerini (2015) esquece-se de citar que um dos fatores mais primordiais da internet é conseguir oferecer espaço para nichos ainda mais específicos. Logo, é possível que tal conteúdo julgado como má qualidade encontre seu público se ele for único.

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33 Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os resultados podem ser maravilhosamente criativos; podem ser também uma má notícia para todos os envolvidos. (JENKINS, 2015, p.45).

Ballerini (2015), no entanto, é otimista quanto às perspectivas, “aos poucos o processo sofrerá acomodação e sobreviverão portais e veículos em que os leitores sabem que podem confiar.” (BALLERINI, 2015, p. 179).

Ao longo da nossa análise, deduzimos que não se faz um jornalista sem afinco e paixão pela profissão e a atividade de noticiar e expor juízos. Isso fica ainda mais acentuado no ramo do jornalismo cultural, que se molda principalmente através de críticas e ensaios. Podemos compreender que o crescimento de novos portais em diferentes plataformas e sua competição a altura com os veículos tradicionais pode se dar por um motivo,

Nos veículos tradicionais, é comum um repórter ser escalado para cobrir um tema cultural de que tem pouco conhecimento. Já em portais e blogues, o internauta só cobre determinada área se tiver alguma afinidade com ela, o que possibilida, às vezes, uma melhor cobertura. (BALLERINI, 2015, p.186).

Enquanto os veículos mais estabelecidos não se alertarem a esse fato, vão continuar sendo ainda mais substituídos por novos caminhos, o que já parece definitivo em casos da área da cultura geek, por exemplo, quando observamos portais como o “Jovem Nerd” e o “Omelete”, para citar dois dos maiores expoentes do meio.

Além de abrir espaço para muitas áreas antes subjulgadas até mesmo dentro dos temas de cultura, a internet trouxe uma necessidade de consumir cada vez mais e em menos tempo. Ballerini (2015) formula que se antes esperava uma semana inteira para ler uma opinião sobre algo num jornal de sexta, hoje queremos saber se vale a pena ou não ir ver um filme, ler um livro ou assistir uma peça horas depois da estreia.

Essa aceleração faz parecer que o segmento das críticas está ainda mais perto de se transformar na notícia, pelo menos no que diz respeito à velocidade de postagem. Se algum veículo perder o “time”, não falar de certo assunto enquanto ele estiver em evidência, certamente não conseguirá os melhores números de visualização. Outro fator, não menos importante, é a forma como as redes sociais são utilizadas e pedem para ser, cada uma com sua peculiaridade.

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34 Para Jenkins (2015), além de uma adequação aos formatos exigidos pelas plataformas, as empresas de comunicação necessitam também buscar um modelo ideal para agir com seu público consumidor. Antes sem espaço para uma réplica, hoje esses são munidos para discordarem e contestarem tudo, além de facilmente se debandarem, vide a infinidade de meios existentes, o que outrora não ocorria.

Por muitas vezes, os caminhos da internet e suas inúmeras ramificações parece bem mais obscuro a quem era dominante, logo com uma visão conservadora, a quem nasceu ou cresceu na origem disso tudo. Jenkins (2015) explana que empresas de mídia ainda se mostram perdidas em suas estratégias de aproximar-se dos públicos em diferentes plataformas.

Por um lado, a convergência representa uma oportunidade de expansão aos conglomerados das mídias, já que o conteúdo bem-sucedido num setor pode se espalhar por outras plataformas. Por outro lado, a convergência representa um risco, já que a maioria dessas empresas teme uma fragmentação ou uma erosão em seus mercados. Cada vez que deslocam um espectador, digamos, da televisão para a Internet, há o risco de ele não voltar mais. (JENKINS, 2015, p.47).

Para além da internet, outro segmento que ganhou muita força no jornalismo cultural nas décadas derradeiras do século XX e início do XXI foram os livros. Piza (2004) desenvolve que a cultura da comercialização de livros está cada vez maior no meio jornalístico. Há coletâneas com ensaios e críticas ou reportagens que muitas vezes não passaram nem pelos jornais, saindo direto nessas plataformas. Há também muita dedicação na escrita de biografias sobre personagens diversos.

1.7 DESAFIOS

Chegado ao nosso derradeiro subitem dentro do primeiro capítulo, iremos tratar de alternativas para que o jornalismo cultural continue sendo ainda relevante e mantenha certo nível de qualidade dentro da conjuntura do mundo contemporâneo.

Barreto (2006) reforça que arte não pode ser simplesmente confundida com mercadoria, e aqui o jornalista precisa ser firme em sua opinião mais sincera, já que pode se ver coagido, principalmente pelo poder da indústria cultural e dos projetos mais midiáticos na grande massa, a deixar seu lado crítico enfraquecer por fatores que envolvem o marketing massivo envolvido em tais produções.

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35 Piza (2004) emite opinião parecida ao afirmar que os cadernos atuais dão muito espaço às agendas culturais, e dentro delas os destaques são sempre às grandes estreias e nomes de alto renome no imaginário popular. Não há também espaço para colunas mais profundas e as reportagens costumam ser propagandas de grandes eventos e obras. Além disso, Piza (2004) se mostra também desanimado com a quantidade de palavras empenhadas em discutir uma obra nas ditas agendas culturais que

(...) pouco diferenciam dos pressreleases, salvo pelo acréscimo de uma declaração ou outra e/ou de alguns adjetivos, e que vêm diminuindo com o passar do tempo, sendo restritos às informações mais ralas. (PIZA, 2004, p.62).

Mesmo se tratando de outro formato, ainda que trabalhe com um produto feito para ser comercializado, a semelhança com as capas de filmes em Dvd’s e Blu-rays aparece. Nessas mídias físicas, encontramos pequenos textinhos ou frases de efeito de elogios genéricos feitos por um determinado jornal. Hoje, há também sites especializados em sintetizar críticas de vários portais dentro de uma página, onde o texto tem menos relevância que a nota, variando geralmente de um a cinco ou de um a dez.

Piza (2004) considera também que temos pouco espaço em veículos como rádio e televisão destinado às pautas culturais. Ambas as mídias, com raríssimas exceções dentro de segmentos mais de nicho, costumam reproduzir filmes e músicas populares, os hits. Jornais de televisão só abrem espaço para noticiar uma morte de algum famoso artista, ou quando há aquela estreia que é imprescindível falar, a de filas gigantescas. Piza (2004) afirma que essa carência é bem mais sentida no Brasil, “Em outros países os programas sobre livros ou de debate são muito mais frequentes, como sabem os ouvintes brasileiros da britânica BBC.” (PIZA, 2004, p. 66). Outro exemplo de uma relação do Brasil com outros países é uma

(...) uma carência de revistas e tabloides dedicados a livros e ensaios, pagando razoavelmente bem ao colaborador, como ainda é usual mesmo numa semifalida Argentina. (PIZA, 2004, p.117).

Ainda na falta de espaço, Piza (2004) reproduz que os fenômenos de audiência conseguem cada vez mais suprimir os espaços das publicações menos celebradas, além de pouco restar para relembrar ou revisitar outros momentos do passado de inúmeros clássicos. Isso fica ainda mais evidente no relato de Piza (2004):

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36 Podemos afirmar que fugir desse modelo de publicação hoje é uma forma de resistência que poucos portais tentam enveredar. Ao analisar o canal EntrePlanos, percebemos como esse mérito pode ser visto no conteúdo do canal. Embora também dê muito espaço para conteúdos mais atuais e também mais procurados pelo público em geral, como os filmes da Marvel, a maior parte das publicações vai atrás de explorar novas nuances de filmes mais antigos e que estão sem evidência no momento.

Contudo, o jornalista cultural deve ter em mente que sua profissão depende de informar sobre o que o público quer saber, hoje tais assuntos, “por extensão, são o cinema americano, a TV brasileira e a música pop, que dominam as tabelas de consumo cultural.” (PIZA, 2004, p. 53).

Para Piza (2004) esses assuntos que hoje conseguem alcance popular imediato, sem muitas vezes necessitar de outros conhecimentos prévios para serem consumidos, são tratados por uma ala erudita como certo esnobismo. Ao ponto que as classes que os consomem também tem uma visão de que música clássica, por exemplo, é algo feito para poucos. Para Piza (2004) ambos os pensamentos que conversam com o que foi debatido no tópico sobre cultura estão equivocados, já que

(...) Shakespeare em seu tempo, a ópera no século XIX e os romances de Balzac são exemplos de sucesso popular, para muito além dos círculos conhecedores. O jazz, dos anos 20 aos 50, foi o que o rock seria nas décadas seguintes: uma arte de massa, com discos vendidos aos milhares, execuções incessantes nas rádios, influência enorme sobre o comportamento urbano – todos os ingredientes, enfim, de um fenômeno pop. (PIZA, 2004, p.54).

A compreensão que chegamos é que um jornalista cultural, para não consolidar ainda mais a imagem construída ao longo da história de um ser arrogante, convencido deve conseguir tratar todas as manifestações artísticas e culturais com o apelo maior às reflexões que delas possam surgir, tomando mais cuidado com a qualidade em si de suas opiniões. É preciso nunca apelar a conclusões taxativas de que o que é novo é ruim ou o contrário, principalmente para os comunicadores que se estabeleceram já nesse novo momento e vivem o choque mais de perto, já que, segundo Piza (2004), denegrir ou fugir das obras do passado é também uma forma de esnobismo.

Jornalismo é dosagem. Temas ditos eruditos podem ser tratados com leveza, sem populismo; e temas ditos de entretenimento podem ser tratados com sutileza, sem elitismo. (PIZA, 2004, p.58).

Referências

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