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2.2.2 As TIC e os Novos Canais de Comunicação Científica Em 1986, surge a crise nas publicações periódicas com o aumento do preço das

assinaturas, produzindo um enorme impacto na comunidade científica e organizações. Dado o prejuízo que adveio para os investigadores e organizações, estes encontraram nas TIC novas formas de manipulação e fluxo de informação (MUELLER & PASSOS, 2000, p. 19; ROSA & GOMES, 2010a, p. 21). Deste modo, as TIC rapidamente se desenvolveram e aprimoraram nesta área devido aos apoios e incentivos angariados, conduzindo ao aparecimento das publicações electrónicas (Ibidem), com o mesmo grau de qualidade e validação. O peer review18 é crucial neste tipo de publicações, de modo a eliminarem as dúvidas dos mais cépticos, em relação à qualidade e validade do trabalho científico, produzido e divulgado neste ambiente electrónico visto que não os consideram como um canal formal ou fidedigno de informação. Apesar de o sistema e processo de avaliação dos artigos não ser aceite por muitos cientistas (MUELLER & PASSOS, 2000, p. 18), neste tipo de publicações desempenha um papel fundamental para a sua credibilidade na comunidade científica. Esta forma de pensar está em muito relacionada com aspectos de ordem pessoal e social, profundamente enraizados e protagonizados pela anterior tecnologia, que conduzem à rejeição de inovações tecnológicas devido à lenta adaptação, intrínseca a cada ser humano (Ibidem, p. 17).

Segundo Prosser (2005, p. 9), o novo ambiente dominado pela Internet e a publicação digital permitem melhores e eficientes soluções das preconizadas pelas revistas, referentes às funções de registo, certificação, consciência e arquivo dos resultados da investigação. Por conseguinte, as TIC revolucionaram e desenvolveram exponencialmente todo o panorama informacional e científico através das inúmeras ferramentas disponíveis que possibilitam a comunicação, manipulação, disseminação e uso da informação a nível global. As inúmeras possibilidades de comunicação e publicação nas redes digitais, permitiu uma maior rapidez no acesso e intercâmbio do fluxo de informação científica, dando-se, inclusivamente, uma alteração na tipologia de documentação produzida, que fomentaram o desenvolvimento das investigações, bem como a cooperação e comunicação internacional entre pesquisadores (ROSA & GOMES, 2010a, p. 26; OLIVEIRA & NORONHA, 2005, p. 76). Estas permitiram uma maior aproximação e interacção directa autor/leitor, e vice-versa, e são algumas das

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Segundo Borges (2006, p. 39), “o ambiente electrónico pode passar a aplicar formas adicionais de avaliação além do “peer review” como, por exemplo, “citacion analysis secondary reviews, and ‘new open forms’” of peer review (Singer, 2000) ou a construir esquemas alternativos como o do “community-based review” (Nadasdy, 1997)”, entre outros.

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potencialidades que estão a ser exploradas na comunicação científica (MUELLER & PASSOS, 2000, p. 17). Segundo Borges (2006, p. 71) “a utilização de redes de computadores não se restringe a novas formas de acesso e difusão da informação, antes se expande para outros domínios entre os quais é de particular relevo a colaboração, quer entre pessoas quer entre organizações”. Neste contexto, Hurd (2000, p. 1283) explana que a velocidade da transição do sistema impresso para o electrónico na comunicação científica, está dependente das seguintes condições: “(a) existence of an active research front; (b) value placed on rapid dissemination of findings; (c) presence of an active invisible college; (d) prevalence of large-scale collaborative projects; (e) geographic dispersion of teams; (f) interdisciplinarity of research collaborations use of large shared datasets; and (g) role of patents in protecting intellectual property” (HURD, 2000, p. 1283).

As alterações provocadas pelas TIC, conduziram a uma reconfiguração dos processos de comunicação científica e estimularam a expansão das publicações electrónicas (BORGES, 2006, p. 116), que, segundo Hovav (apud BORGES, 2006, p.115), apresentam como vantagens os seguintes aspectos: acessibilidade; espaço acrescido; custo; diminuição do ciclo de tempo de publicação; trabalho inovador e heterodoxo; interactividade; novos formatos. Consequentemente, o mesmo autor também encontra alguns obstáculos na viabilidade do meio electrónico, como é o caso da dificuldade de integração tecnológica; o mecanismo de citação e trabalho dinâmico; o copyrigth; a estrutura de taxação; a sustentabilidade a longo prazo; e a qualidade percepcionada (Ibidem, p. 116); mas, que a “médio prazo”, poderão ser transpostos visto as TIC originarem mais-valias que outros meios não permitem e as quais, face a conjuntura tecnológica actual, serem indispensáveis para o quotidiano do universo científico e da sociedade em geral.

Embora as TIC proporcionem um enorme leque de funcionalidades que fomentam o desenvolvimento da comunicação científica, existem algumas questões que ainda não estão resolvidas a nível dos canais de comunicação. Se para a maioria dos autores era fácil definir a comunicação formal e informal, com a massiva utilização das TIC a sua distinção não é fácil e muito questionável, porque, na maioria das vezes, utiliza conjuntamente ambos os canais de comunicação (MUELLER & PASSOS, 2000, p. 17). Targino (2000, p. 23) defende que as TIC levaram ao aparecimento e configuração de uma nova categoria, distinta da comunicação formal e informal: a comunicação electrónica, que, em termos práticos, corresponde à junção de ambas as características comunicacionais. Oliveira & Noronha (2005, p. 76) reiteram que apesar de a Internet ser um comum canal de comunicação científica “(…) não há ainda consenso de sua aceitação plena como canal

Repositórios Institucionais de Acesso Livre: estudo de produção e uso | Capítulo 2

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para a comunicação formal”, por causa da “(…) volatilidade da informação, e conseqüente dificuldade de recuperação, e problemas de definição de autoria e direitos autorais podem ser vistos como dificultadores da aceitação do meio eletrônico na comunicação científica formal”. No entanto, verifica-se que alguns autores, para distinguirem o tipo de comunicação presente no ambiente digital, ponderam uma hipotética comparação a nível do formato físico e sua “materialização”, conforme sucedia no anterior paradigma. Neste sentido, a comunicação formal, poderá ser entendida, como sendo os documentos digitais (livros, publicações periódicas, obras de referência, etc.), e a comunicação informal como sendo o e-mail, fóruns, blogs, chats, etc. (TARGINO, 2000, p. 21).

As comunidades científicas, desde que iniciaram a utilização das redes digitais, elegeram o correio electrónico como o primordial meio comunicacional para estabelecerem contacto com os seus pares (OLIVEIRA & NORONHA, 2005, p. 88). Mas, na actualidade, estão a enveredar para uso generalizado de múltiplos serviços e ferramentas promovidas pela Web 2.019. Este termo, amplamente divulgado e comummente utilizado no quotidiano das pessoas, surgiu numa sessão conferência de brainstorming realizada entre as duas empresas americanas do sector das telecomunicações: a O’Reilly Media e a MediaLive International (O’REILLY, 2005; ROSA & GOMES, 2010a, p. 23). A sua disseminação e vulgarização a partir de 2004, deve-se ao que alguns autores entendem como marketing, sem realmente entenderem o verdadeiro significado e aplicação (O’REILLY, 2005). Pelo que, a maior parte das situações não são Web 2.0, mas rotulam-se por mera questão de marketing e modismo.

Conotada como a segunda geração de comunidades e serviços de Internet que utilizam a “Web como plataforma” (Web as plataform), através da disponibilização de múltiplos serviços e ferramentas “que envolve blogs, wikis, sistemas RSS, aplicações baseadas em folksonomia, redes sociais, entre outros serviços”, a Web 2.0 tem sobejamente contribuído para a construção do conhecimento científico, e a uma maior aproximação e interacção da sociedade com a comunidade científica, permitindo, deste modo, o desenvolvimento, promoção e popularização da Ciência (ROSA & GOMES, 2010a, p. 23). A ampla utilização destes recursos, devido às vantagens e facilidades de comunicação, interactividade, cooperação e partilha de informação, tem permitido que a comunicação informacional de tenha desenvolvido e instalado na comunicação científica, como um importante veículo de fomento

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“O termo faz trocadilho com o tipo de notação em informática que indica a versão de um software, que foi popularizado pela O’Reilly Media e pela MediaLive International como denominação de uma série de conferências que tiveram início em Outubro de 2004” (Primo apud ROSA & GOMES, 2010, p. 23)

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do trabalho realizado pelos “colégios invisíveis” (OLIVEIRA & NORONHA, 2005, p. 88). Face a tudo o que foi exposto, “seja o sistema de comunicação científica formal ou informal, o que importa, em termos sociais e de desenvolvimento científico, é o desenvolvimento da pesquisa e da transferência de resultados” (ROSA & GOMES, 2010a, p. 28), e o seu fermento são as redes digitais de informação e comunicação.

O ambiente digital promovido pelas TIC através da utilização da Internet, tem conduzido a novas abordagens paradigmáticas do que será o futuro da comunicação científica no ciberespaço. Neste contexto, surge o recente conceito de ciberciência que é “(…) o espaço donde os académico e investigadores usam um novo meio comunicacional, suportado pela tecnologia digital, para desenvolver as suas actividades” (BORGES, 2006, p. 110). A e-Science é outro conceito muito em voga que “will change the dynamic of the way science is undertaken” porque alude à "global collaboration in key areas of science, and the next generation of infrastructure that will enable it” (TAYLOR, [s.d]). Ambos os conceitos reportam-se a uma imergente realidade na comunicação científica que fomenta o desenvolvimento da Ciência através do trabalho colaborativo dos investigadores e dos centros de investigação.

Porém, é de salientar, o enorme contributo que repositórios institucionais (RI) estão a ter no desenvolvimento e expansão comunicação científica, bem como na comunidade científica e sociedade em geral. Embora sejam instigados pela conjuntura do movimento Acesso Livre e do modelo Open Archives, segundo Weitzel (2006, p. 52) “são iniciativas que vêm construindo as condições necessárias para permitir o acesso livre à produção científica de forma legítima, alterando não somente o processo de aquisição de informação científica, mas também a sua produção, disseminação e uso.”

Tendo em atenção, toda a conjuntura existencial do paradigma da Era Digital na actualidade, faz com que a maior parte dos estudos se debrucem e promovam a Internet e o ambiente digital devido aos inúmeros benefícios que albergam, nomeadamente, por permitir a utilização de múltiplos recursos e ferramentas num único canal. Este exímio canal de comunicação científica permite, através de uma única plataforma, ter acesso a infindáveis recursos que incrementam a possibilidade produzir, comunicar, disseminar, partilhar e gerir enormes fluxos de informação, quer local ou remotamente. Convém, de igual forma, mencionar que existem inúmeros organismos privados e governamentais que prestam apoio logístico e financeiro a este tipo de investigações, com o principal objectivo de promover o desenvolvimento tecnológico e o acesso livre ao conhecimento, tornando-se a principal base de sustentação e fomento das investigações na comunidade científica.

CAPÍTULO 3