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3 AS EXPERIÊNCIAS TRANSPESSOAIS E O PERCURSO DOS EDUCADORES

3.1 O paradigma transpessoal: a busca da compreensão multidimensional do ser

3.1.1 Novos “olhares” para antigas concepções do paradigma transpessoal

Iniciamos nossa trajetória rumo à base conceitual da psicologia transpessoal, tomando como referência o handbook - A Primer of Transpersonal Psychology, desenvolvido por Cunningham (2011). Percebemos nesse trabalho o grande esforço do autor para elencar as principais temáticas que envolvem a transpessoalidade com destaque especial para as definições

que foram publicadas na literatura americana entre 1967 a 2003. Nesse contexto, o entendimento do referido autor sobre a psicologia transpessoal está relacionado com o reconhecimento, compreensão e estudo das experiências e comportamentos humanos criativos, capacidades humanas transformadoras associadas a uma ampla faixa de estados normais e incomuns, estruturas, funções e desenvolvimentos de consciência em que a ação da personalidade se expanda para além dos limites usuais da consciência dirigida do ego, da identidade pessoal e até mesmo transcenda as limitações convencionais de espaço e tempo; daí o termo "transpessoal".

Seguindo os argumentos do autor acima citado, uma forma de promover a compreensão de um construto, de modo mais eficaz, é examinar as suas definições. Nesse sentido, destaca o trabalho de Lajoie e Shapiro (1992), que no período de 1968 a 1991 desenvolveram uma análise temática de mais de 200 definições publicadas, identificando os principais temas que se sobressaíram: estados de consciência, maior ou último potencial, além do ego ou self, transcendência e espiritual. Fundamentados nesses cinco grandes temas, os referidos autores chegaram à seguinte definição:

A Psicologia Transpessoal está preocupada com o estudo do maior potencial da humanidade e com o reconhecimento, compreensão e realização da unicidade, dimensão espiritual e transcendência dos estados de consciência (LAJOIE; SHAPIRO, 1992, p. 91).

Nesse período (1968-1991), tais autores defenderam aspectos específicos em suas definições de-sobre a psicologia transpessoal. Por exemplo: Abraham Maslow (1969) faz referência a uma psicologia transhumanística; Anthony Sutich (1969) atribui à quarta força da psicologia; Elmer Verdes e Alyce Verde (1971) aplicam às categorias de valores e sentido último; Edgar Mitchell (1974) remete ao contexto da parapsicologia; Charles Tart (1975) relaciona às tradições espirituais; Roger Walsh e Frances Vaughn (1980) preocupam-se com a expansão do campo de investigação; Fritjof Capra (1982) associa à mudança de paradigma científico, social e cultural; Leonard Zusne e Warren Jones (1982) envolvem a conceitos tradicionais do ocultismo; Richard Mann (1984) delineia o potencial da abordagem; Michael Washburn (1988) caracteriza como uma teoria transpessoal do desenvolvimento humano; Robert Frager (1989) foca nos três domínios de estudo - psicologia do desenvolvimento pessoal, da psicologia da consciência e psicologia espiritual; Ronald Valle (1989) atém-se ao campo de estudos da consciência emergente e da Filosofia Perene de Aldous Huxley.

Nesse contexto, dez anos depois, Shapiro, Lee e Gross realizaram outro estudo das definições publicadas no intervalo entre 1991 a 2001. Foram analisadas cerca de 80

publicações, de diversas fontes da literatura transpessoal, incluindo livros, artigos de revistas, websites, folhetos, boletins informativos, dicionários, enciclopédias, catálogos escolares e documentos na língua inglesa. A análise temática dessas definições revelou que duas categorias eram mais frequentes: (1) Indo além ou transcender o indivíduo, ego, self, o pessoal, personalidade, identidade pessoal; existência mais profunda, verdadeiro, ou autêntico self; e (2) Espiritualidade, psicoespiritual, desenvolvimento psicoespiritual, o espiritual, o espírito. Constataram também outras categorias, menos frequentes, como: estados especiais de consciência; interconectividade/unidade; indo além de outras escolas de psicologia; ênfase em uma abordagem científica; misticismo; faixa completa de consciência; maior potencial; inclusão das psicologias não-ocidentais; meditação; e existência de uma realidade mais ampla (SHAPIRO; LEE; GROSS, 2002).

Nesse intervalo, as principais concepções associadas às definições estudadas remetem ao grau de maturação dos fundamentos, procedimentos e experiências obtidos no campo da transpessoalidade. Por exemplo: Edward Bynum (1992) entende como o estudo dos estados não-ordinários de consciência; Roger Walsh e França Walsh (1993) compreendem como o estudo psicológico das experiências transpessoais e seus correlatos; Ken Wilber (1994) associa à Filosofia Perene e à Grande Cadeia do Ser; Charles Tart (1997) defende a inclusão do estudo do funcionamento psi como tema de domínio da Psicologia Transpessoal; Brant Cortright (1997) relaciona a integração dos aspectos espirituais e psicológicos da psique humana; William Braud (1998) destaca os métodos de investigação para explorar as dimensões transpessoais no contexto da pesquisa científica; Stanislav Grof (2008) remete ao contexto da pesquisa da consciência moderna; Associação Nacional de Psicologia Transpessoal (2001) atém-se a uma perspectiva de sistemas mais abrangentes da natureza humana, visando à promoção de bem- estar; James Fadiman e Robert Frager (2002) fornecem uma descrição contemporânea; Jorge Ferrer (2002) apresenta uma visão participativa da espiritualidade humana, caracterizando uma das primeiras críticas pós-modernas da teoria transpessoal convencional, revelando com isso um caráter mais multidimensional; Richard Tarnas (2002) enfatiza a mudança de paradigma iniciado pelo surgimento do campo transpessoal no final dos anos 60; Departamento de Psicologia Transpessoal da Pós-Graduação de Estudos holísticos no John F. Kennedy University promove uma visão dentro de um contexto holístico; John Davis (2003) assume como interface entre a psicologia e a experiência espiritual.

Nas palavras de Ferreira e Silva (2012, p. 22), “A Psicologia Transpessoal tenta reintroduzir o espiritual como uma categoria fundamental para compreendermos o humano para além do reducionismo biológico dominante no cientificismo”. Nessa perspectiva, “[...] a

Psicologia Transpessoal, outra ciência emergente, pode ser definida como o estudo científico de experiências e comportamentos ao qual foi atribuído um valor superordenado por aqueles que a descrevem” (KRIPPNER, 1991, p. 19). Desse modo, entendemos que a Psicologia Transpessoal é um campo do saber que investiga diferentes níveis de consciência do ser, numa perspectiva de integralidade do homem consigo mesmo, com o outro e com o universo. Em outras palavras, podemos dizer que

A Psicologia Transpessoal é uma ciência que estuda o ser humano em sua totalidade. Aqui o homem e a mulher não são vistos simplesmente como um indivíduo na sociedade, mas as suas relações ecológicas e cósmicas são de grande importância. Desta maneira a Psicologia Transpessoal abrange outros enfoques científicos, tais como, medicina, antropologia, sociologia, física, química, matemática, astronomia e metafísica. Esta “nova” ciência é basicamente intercultural e dessa maneira outras culturas de todos os tempos, com seus vários enfoques para a vida (psicológico, religioso, médico etc.), são estudadas (MATOS, 1990, p. 1).

Nesse contexto, encontramos em Saldanha (2008) a compreensão da psicologia transpessoal como abordagem integrativa, abrangendo um conhecimento emergente em psicologia e educação. Para tanto, a autora inspira-se em teóricos como Pierre Weil, quando destaca a transpessoalidade como: “Um ramo da Psicologia especializada no estudo de consciência, lida mais especificamente com a ‘Experiência Cósmica’ ou estados ditos ‘Superiores’ ou ‘Ampliados’ da consciência” (WEIL, 1999, p. 9).

Nessa linha de pensamento, Tabone (1999, p. 163) destaca que “A Psicologia Transpessoal pode ser entendida como a união da moderna pesquisa científica da consciência com a tradição esotérica ‘viva’ tanto do mundo ocidental como do oriental”. Em relação ao propósito dessa abordagem, a autora afirma, baseada em Pierre Weil (1982), que “A Psicologia Transpessoal tem por finalidade o estudo dos vários estados de consciência que passa o homem, assim como das suas relações com a realidade, com o comportamento e com os valores humanos” (TABONE, 1999, p. 11).

Desse modo, podemos afirmar que outra forma de compreender a Psicologia Transpessoal é voltarmo-nos para o movimento e as disciplinas transpessoais. Isso implica em (re)encontrar as ideias que mobiliza(ra)m os autores e dão sentido a esse campo do saber.

As disciplinas transpessoais têm como escopo abordar e compreender os conteúdos e as experiências transpessoais. Já o movimento transpessoal reúne as várias disciplinas transpessoais com o propósito de dar visibilidade e força aos diferes campos de atuação da transpessoal (WALSH; VAUGHAN, 1993).

O movimento transpessoal surgido no final da década de 60 marca a história e o rumo da psicologia ocidental. Mais do que isso, esse movimento também influenciou as demais disciplinas do conhecimento com essa abordagem integral, multidimensional e transcendente do ser. Ao mesmo tempo, esse marco conceitual apresenta desafios e impasses. Nas palavras de Datti (1997, p. 9),

O movimento transpessoal traz contudo em sua história de pesquisas e em seu fazer teórico, uma outra dificuldade – tanto para ser freneticamente defendida, quanto para ser veemente repudiado: ele é, inicialmente, um movimento de busca, um estar alerto, um querer aprender.

Essa tentativa de ampliar as abordagens e intervenções na perspectiva transpessoal, que caracteriza o movimento, permite outra expressão-atuação em pesquisa e práxis profissional. Tal compreensão se estende para os grupos, as instituições, as organizações, o meio-ambiente, a sociedade e o cosmos. Nesse contexto, comungamos com Tabone (1999, p. 160), quando afirma que

[...] podemos entender o ‘movimento transpessoal’ como resultado de esforços para ajustar a Psicologia ocidental ao paradigma emergente, contribuindo para a assimilação das novas premissas em seu campo de pensamento.

Percebemos nessas principais definições apresentadas, relativas à psicologia transpessoal, ao movimento e às disciplinas transpessoais, três momentos/aspectos bem característicos, apesar da inserção da dimensão espiritual perpassar a todos. No primeiro momento, de 1968 a 1991, temos um conjunto de definições sobre a psicologia transpessoal voltado para “além da noção de pessoa”; o segundo momento, de 1991 a 2001, encontramos definições que reforçam os estados alterados de consciência e a emergência da 4ª força em psicologia, e o terceiro momento, de 2001 aos dias atuais, identificamos o princípio da transcendência, a visão de transpessoalidade.

Novos “olhares” para essas concepções da psicologia transpessoal possibilitam um (re?)encontro de saberes teóricos e experienciais, e sugerem que, ao longo do tempo, elas podem influenciar o processo de formação humana, já que as compreensões desse construto foram ampliadas nessa evolução conceitual. Conforme Krippner (1991, p. 17), “A palavra ‘transpessoal’ foi usada pela primeira vez na língua inglesa pela escritora esotérica Alice A. Bailey e mais tarde encontrou seu caminho nos escritos do psicólogo Gardner Murph, do psiquiatra Roberto Assagioli e muitos outros”. Para Vich (1988), Taylor (1996) e Friedman e Hartelius (2013), o termo “transpessoal” foi empregado de modo inaugural e formal por

William James em uma conferência efetuada na Universidade de Harvard, em 1905. Desse modo, podemos considerá-lo, no entendimento de Scotton, Chinen e Battista (1996), como o pai da psicologia transpessoal.

Essa expressão “transpessoal” foi muito pertinente ao denominar o novo campo de estudo que surgia. Isto porque tal termo, no sentido literal, significa “além do pessoal”, “além da personalidade”, o que promove uma ampla possibilidade de pesquisas que indicavam a dimensão de transcendência humana ou o “princípio da transcendência”, aqui caracterizado pelo que envolve a natureza psicológica, descrita por Freud, ampliada por Maslow e por Weil (SALDANHA, 2006, 2008). Nessa perspectiva, concordamos com Walsh e Vaughan (1993, p. 18) quando afirmam que “[...] uma das interpretações do termo ‘transpessoal’ é que o transcendente se expressa através (trans) do pessoal”.

A psicologia transpessoal despontou no cenário acadêmico-científico, no final da década de 60, nos Estados Unidos, a partir de um movimento conhecido como a “quarta força” em psicologia, precedida do behaviorismo (1ª força), psicanálise (2ª força) e psicologia humanista (3ª força) (TABONE, 1999; SALDANHA, 2006, 2008; FERREIRA; SILVA; SILVA, 2016). Nesse contexto, a gênese do movimento transpessoal atravessa as correntes filosóficas e científicas do Ocidente, acenando para uma construção epistêmica do novo paradigma de ciência e de intervenção psicossocial e educacional.

A Psicologia Transpessoal é resultado de um processo cujos primeiros alicerces de sua construção foram assentados por antecessores como Freud, Jung e James. Ela não surgiu simplesmente, mas foi ganhando feições próprias a partir de olhares observadores atentos como Abraham Maslow, Anthony Sutich e outros nomes que existiram, mas que são anônimos (SALDANHA; OLIVEIRA, 2012, p. 68).

Nessa perspectiva, podemos entender que a psicologia transpessoal aparece com um propósito integrador e multidimensional, ampliando o escopo das teorias e abordagens psicológicas vigentes e resgatando a dimensão espiritual para compreender o ser e o mundo, de forma integral. Esse início do movimento transpessoal pode ser melhor compreendido a partir do relato sobre a psicologia transpessoal, apresentado por Grof, na abertura da 16ª Conferência da ITA Palm Springs.

Em 1967, um pequeno grupo de trabalho, que incluía Abraham Maslow, Anthony Sutich, Stanislav Grof, James Fadiman, Miles Vich e Sonya Margulies se encontraram em Menlo Park, Califórnia, com o propósito de criar uma nova psicologia que pudesse honrar o espectro inteiro da experiência humana, incluindo os vários estados incomuns de consciência. Durante essas discussões, Maslow e Sutich aceitaram a sugestão de Grof e deram, à nova

disciplina, o nome de "Psicologia Transpessoal". Esse termo substituiu o nome original "trans-humanístico”, dado por eles próprios, ou “estender além da preocupação humana”. Posteriormente, logo em seguida, eles fundaram a Association of Transpersonal Psychology (ATP), e lançaram o Journal of Transpersonal Psychology. Vários anos mais tarde, em 1975, Robert Frager fundou o (California) Institute of Transpersonal Psychology, em Palo Alto, que tem permanecido o mais avançado estágio da Educação, pesquisa e terapia transpessoal, por quase três décadas (GROF, 2008, p. 47).

Para o referido autor, essa situação teve muitas mudanças nas primeiras duas décadas da existência da psicologia transpessoal. Isso ocorreu devido à contribuição de outras concepções e achados revolucionários em várias áreas científicas, desafiando e refutando, por vezes, aspectos da ciência tradicional do Ocidente, seus pressupostos e o paradigma clássico newtoniano-cartesiano. Para Grof (2008), os estudos de Albert Einstein, Werner Heisenberg, Erwin Schroedinger ganham “vida” no trabalho de Fritjof Capra, ampliado pelas pesquisas de Fred Alan Wolf, Nick Herbert, Amit Goswami e muitos outros cientistas. Grande também foi a contribuição de David Bohm com o seu conceito de ordem implicada e explicada, bem como sua teoria do holomovimento que ficou popular no universo da transpessoalidade, tal qual o modelo holográfico do cérebro desenvolvido por Karl Pribram. Destacamos ainda para o avanço do campo transpessoal, nas últimas décadas, a teoria da ressonância mórfica e dos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, a abordagem da cibernética elaborada por Gregory Bateson, as pesquisas no âmbito das estruturas dissipativas, bem como os estudos sobre a ordem fora do caos de Ilya Prigogine, a teoria do caos em si de Glieck, o princípio antrópico em astrofísica de Barrow e Tipler, e muitas outras investigações e descobertas que revolucionaram o século XX, promovendo assim a convergência entre a visão de mundo da física moderna do Ocidente e a da filosofia espiritual oriental.

Nesse contexto, os estudos científicos da consciência foram decisivos para o "nascimento" da Psicologia Transpessoal. Estes estudos possibilitaram uma forma de trabalhar as práticas espirituais, confirmando alguns dos seus benefícios, e permitiram que um novo campo da psicologia surgisse, distinto das abordagens até então existentes, buscando a integração da sabedoria das religiões pré-modernas, das ciências psicológicas modernas e das filosofias construtivas pós-modernas (WULFF, 1991 apud CUNNINGHAM, 2011).

Prosseguimos agora nossa trajetória rumo aos marcos da transpessoalidade no Brasil, tomando como referência os estudos de Ferreira (2007, 2010a, 2010b, 2012) e Ferreira, Silva e Silva (2016). Percebemos nesses trabalhos o grande esforço dos autores para elencar e sistematizar as principais temáticas que envolvem a abordagem transpessoal.

A psicologia transpessoal surge no Brasil na década de 70, período marcado pela ditadura militar, em que as lutas por liberdade, humanização nas instituições e mudanças sócio- econômico-culturais eram esperadas. Nesse contexto, a história da transpessoalidade no Brasil tem início mais preciso em 1978 com as contribuições de Pierre Weil e Leo Matos. O pesquisador Pierre Weil é precursor na sistematização, publicação, práxis e divulgação do enfoque transpessoal; criador de grupos de estudos, centros de formação e da Universidade Holística da Paz; considerado como o “pai” da psicologia transpessoal no Brasil. O outro expoente é Léo Matos que impulsionou a formação de psicoterapeutas transpessoais, ampliando tais estudos com a introdução da sabedoria oriental relativa à psicologia budista tibetana, decorrente dos cursos realizados em parceria com os monges budistas na Índia. Esses dois baluartes da transpessoalidade no Brasil implantam na faculdade de psicologia da UFMG a disciplina de psicologia transpessoal, um marco histórico-acadêmico para o movimento transpessoal brasileiro (FERREIRA; SILVA; SILVA, 2016).

Esse movimento da transpessoalidade no Brasil sofre as influências das pesquisas parapsicológicas conduzidas por Rhine, disseminadas pelos adeptos do catolicismo e do espiritismo. No meio acadêmico, nesse período, a psicanálise começou a ser adotada na grade curricular das universidades de vanguarda. Já no campo filosófico, as ideias de William James no Ocidente e do Budismo Tibetano no Oriente contribuíram para a origem da Psicologia Transpessoal no Brasil (SALDANHA; OLIVEIRA, 2012).

Com o avanço mundial das pesquisas e descobertas relativas ao novo paradigma científico, nos anos 90, a Psicologia Transpessoal no Brasil começou a despontar uma inserção no contexto acadêmico, legitimando seus pressupostos. Com efeito, cresceu o número de eventos científicos, cujo propósito era assegurar o reconhecimento da abordagem transpessoal por meio de uma ampla troca de conhecimentos e experiências, ressignificando o papel e a formação dos profissionais de psicologia e demais áreas, cuja atuação envolvesse uma compreensão transpessoal do “saber-fazer”.

O século XXI inaugura uma nova etapa da Psicologia Transpessoal no Brasil. Há um incremento significativo da produção acadêmica acerca dessa temática, bem como um aumento considerável das estratégias para legitimação, dessa que é a força da psicologia. Nesse contexto, várias “redes transpessoais” foram criadas, visando alinhar as concepções e atuações entre as lideranças nacional e regional, ampliar o conhecimento e promover os diálogos entre agências formadoras, profissionais e Conselhos de Psicologia.

A tese de doutorado de Ferreira (2007), além de indicar a via de acesso da psicologia transpessoal no Brasil (1- Ação individual ou via dos pioneiros, 2- Movimento Popular e

comunidades terapêuticas ou via alternativa e 3- Oficial ou via acadêmica), retrata a relação prática da abordagem transpessoal na educação, enquanto processo de formação do educador, abordando a dimensão espiritual como eixo norteador da visão de mundo e de ser nesse estudo. Nessa configuração, outros profissionais têm buscado os cursos de formação com o intuito de ampliar seus conhecimentos (inclusive de si mesmo), e com isso colaboram para a divulgação do movimento transpessoal no Brasil. Cada vez mais cresce o arcabouço teórico- prático e a consequente exposição do enfoque transpessoal nos diversos círculos acadêmico- científico, clínico, organizacional, literário e artístico. Constatamos que o percurso histórico- contemporâneo da psicologia transpessoal pode contribuir para ampliar as respostas às necessidades e críticas atuais do debate social, cultural e educacional. No entanto, isso implica em um maior aprofundamento desse estudo, visando uma melhor articulação entre essas perspectivas epistêmicas.