Novos parâmetros para a regulamentação do trabalho na ESF: algumas

A partir de uma exigência legal, expressa no ACÓRDÃO nº 552/2007 do Tribunal de Contas da União, o município de Campina Grande firma um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta juntamente com o Ministério da Saúde. Neste Termo de Compromisso, o TCU exige que o preenchimento dos cargos

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O ingresso dos profissionais médicos, enfermeiras, cirurgião dentista/odontólogo, auxiliar de enfermagem, auxiliar de consultório dentário, assistente social, exceto o agente comunitário de saúde, foi realizado mediante seleção pública simplificada, com realização de prova escrita, análise de currículo e entrevista.

públicos para o exercício das atividades do Programa Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde seja efetivado mediante Concurso Público até 30/6/2007.

Esse fato parece demarcar o processo de regularização da forma de ingresso na ESF, através de concurso público que traz como suposto a desprecarização do trabalho nesta atividade.

A obrigatoriedade do concurso muda a configuração da força de trabalho que passa a integrar a ESF no município, a partir de 2006. Fica regularizada a forma de ingresso no serviço público municipal, com a efetivação do concurso público para todas as categorias, exceto para os ACS e o pessoal de apoio administrativo. Este mecanismo responde às exigências do ingresso formal no serviço público, por meio do concurso público, embora não tenha atingido todos os trabalhadores e, ainda não represente uma ação articulada para enfrentar a desprecarização do trabalho nesta atividade.

Em que pese a validade política e jurídica do concurso público para ingresso dos trabalhadores da ESF, alguns fatos demarcam a emergência de novos elementos de análise no que se refere à desregulamentação do trabalho. Dentre eles está uma relação trabalhista que assume outra modalidade. Os trabalhadores da ESF passaram a receber sua remuneração, através de duas fontes pagadoras: a Secretaria Municipal de Administração, paga a remuneração correspondente ao piso salarial de cada categoria profissional e a Secretaria Municipal de Saúde, complementa, em forma de gratificação, a remuneração acordada para os trabalhadores da ESF. A gestão municipal instituiu uma forma de remuneração fragmentada que vem produzindo uma série de insatisfações junto aos trabalhadores, principalmente por não assegurar a proteção social conferida aos trabalhadores públicos, como analisaremos posteriormente.

Outro elemento de destaque refere-se à desestruturação na prestação das ações de saúde que ocorreu em decorrência da realização do concurso. Fica evidente nos depoimentos das trabalhadoras entrevistadas, um desmonte, uma desestruturação na organização dos serviços em virtude, da gestão municipal ter optado por constituir novas equipes, a partir dos trabalhadores admitidos após o concurso. O que se efetivou foi que a grande maioria dos trabalhadores aprovados no concurso e que já atuavam na ESF, não puderam manter-se em seus locais de trabalho. A gestão assumiu a estratégia de realocar os trabalhadores em diferentes equipes. Isto ocasionou a desestruturação de equipes de saúde já consolidadas e

isto teve implicações na qualidade e continuidade das ações já instituídas nas áreas de trabalho. Relações e vínculos com a população tão discursados e recomendados pelos protocolos do Ministério da Saúde que não mais foram recuperados com a desestruturação das equipes de saúde.

Podemos apontar também um outro elemento que conforma este cenário, a desarticulação política e organizativa dos trabalhadores da ESF. Esses trabalhadores carregam como herança uma história de luta pela melhoria das condições de trabalho, mas também pelo compromisso de um serviço de qualidade que atendesse as demandas da população. A desagregação das equipes também interferiu no processo organizativo desses trabalhadores.

As aproximações com essa realidade permitem inferir, a priori, que a ocorrência do concurso trouxe, contraditoriamente, um conjunto de incertezas para esta força de trabalho, pois as indefinições quanto à gestão da força de trabalho ainda permanecem, principalmente, no que se referem aos aspectos salariais, condições de trabalho e direitos trabalhistas. Mesmo sobre a ocorrência do concurso público, que estabelece uma relação formal de trabalho, ainda há indicativos da permanência da condição de vulnerabilidade do trabalho considerando as questões salariais, a alta rotatividade, as condições de trabalho e a indefinição da proteção social no que se refere, principalmente à aposentadoria. Isso será demonstrado nas informações documentadas mais à frente.

No momento da nossa pesquisa, a ESF de Campina Grande contava com aproximadamente, 80 equipes de saúde formada, por uma força de trabalho com vínculo formal e legal de trabalho dentro do serviço público. Em março de 2007, com a pesquisa em andamento, o município faz cumprir a Emenda Constitucional nº 51, de fevereiro de 2006, que autoriza aos estados, Distrito Federal e municípios incorporarem os ACS como trabalhadores efetivos do serviço público, desde que tenham sido contratados anteriormente, através de seleção pública simplificada. O município de Campina Grande efetiva todos os trabalhadores já integrados ao PACS e a ESF, sem a obrigatoriedade de realização de concurso público, em virtude de que o ingresso desses trabalhadores foi através de seleção pública simplificada.

Esta realidade da ESF de Campina Grande apresenta uma condição particular que possibilitou buscar as respostas para as indagações e inquietações que motivaram este estudo. São elementos empíricos reveladores do movimento contraditório do processo de gestão do trabalho no serviço de saúde e que é

necessário articular vários elementos como definidores da desregulamentação do trabalho e que se anuncia um processo conflitivo para superação do trabalho precário no campo da saúde.

4.2 A Estratégia Saúde da Família de Campina Grande e sua força de trabalho: