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2.2 Fonologia Prosódica

2.2.3 O acento secundário no PB

O acento secundário é atribuído a sílabas que não estão em posição tônica, mas são proeminentes em relação a outras sílabas átonas da palavra. Para o PB, apresentaremos as análises de Collischonn (1994) e Lee (2002), nesta ordem.

No PB, de acordo com Collischonn (1994), a localização do acento secundário é dada por espaços equidistantes à esquerda a partir da localização do acento primário. Cada núcleo de pé métrico pode formar, portanto, um locus para o posicionamento do acento secundário (ex. (bòr.bo).(lé.ta), (à.ma).(bì.li).(dá.de)).

Quando o número de sílabas à esquerda do acento primário é ímpar, pode haver variação entre o posicionamento do acento secundário na primeira e na segunda sílaba da palavra (ex. dìsponibilidáde versus dispònibilidáde). Quando o acento recai sobre a primeira sílaba, acontece o que a autora chama de recuo do acento secundário, já que, na sequência, forma-se um intervalo ternário, e, a partir dele, sequências binárias em direção ao acento primário.

Collischonn afirma que o acento secundário não faz referência à estrutura interna da palavra e não se posiciona, necessariamente, na sílaba tônica da palavra base da derivação (8a), nem é atribuída à sílaba com maior peso silábico (8b):

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a. es.ˈcan.da.lo ˌes.can.da.ˈlo.so ~ es.ˌcan.da.ˈlo.so b. la.gar.ˈti.xa ˌla.gar.ˈti.xa

Além disso, a atribuição do acento secundário acontece no nível pós-lexical, já que é variável e ocorre após os processos de ditongação (ex. ro.ˌdo.vi.ˈá.rio ~ ˌro.do.ˈviá.rio) e epêntese (ex. ˌin.fe[k].ˈção ~ in.ˌfe.[ki].ˈção).

No caso dos compostos, Collischonn afirma que os acentos primários são mantidos, o que acontece também com -zinho e -mente, quando não há choque de acento.

Lee (2002) afirma, via análise em Teoria da Otimidade, que “o acento secundário é puramente fonológico (exceto o acento secundário lexical), iterativo e insensível à quantidade de peso silábico e à categoria lexical” (LEE, 2002: 1). É importante ressaltar que, para o autor, existem dois tipos de acentos secundários.

O acento secundário pós-lexical usa a informação puramente fonológica e não se refere à estrutura interna da palavra; além disso, o acento secundário não considera o acento primário atribuído no ciclo anterior, como em brasíl - > bràsiléiro. Por outro lado, o acento secundário lexical é atribuído em relação à estrutura interna das palavras, forçando deslocamento do acento para evitar o choque, como mostram os seguintes exemplos: a. café + zínho => càfezínho/ *cafèzínho; b. formal + mente => fòrmalménte/*formàlménte (LEE, 2002: 3).

Para casos como cafezinho, o autor defende que o acento primário do radical derivacional é deslocado para a esquerda, a fim de se evitar o choque e, pela Regra final, o acento que fica no lado direito da palavra torna-se o acento principal da palavra composta, conforme Lee (1995). A proeminência inicial do composto prosódico cafezinho, para o autor, é então classificada como acento secundário lexical.

Lee também afirma que a atribuição de acento secundário opera no domínio da palavra prosódica. Essa afirmação explica o fato de existirem vogais médias-baixas em bases iniciais de compostos e de formações produtivas, que são estruturas formadas por duas palavras prosódicas. O acento secundário (visto como uma reinterpretação do acento primário) recai sobre estruturas com esses segmentos e não depende da posição do pé na palavra, como vemos abaixo:

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p/ɛ/rolazinha ítalo-brasileiro *p/ɛ/ròlazínha *itàlo-bràsiléiro pèrolazínha ìtalo-bràsiléiro

Massini-Cagliari & Cagliari (2006 apud Graebin, 2008: 121) também abordam esse tópico.

Como em português uma sequência muita longa de sílabas átonas não é aceitável, algumas dessas sílabas passam a ter um reforço extra, formando uma onda rítmica mais regular. Dessa forma, a ocorrência de acentos secundários pode ser considerada um efeito de regras de eurritmia da língua. Fatores lexicais podem também definir um acento secundário, como o que acontece com os derivados com -(z)inho, -í(ssi)mo e -mente. Nesses casos, o radical derivacional fica com um acento secundário. Uma outra regra de eurritmia diz que a língua tende a ter um acento secundário em início de palavras quando o acento principal está distante deste contexto (MASSINI- CAGLIARI; CAGLIARI, 2006: 114 apud GRAEBIN, 2008: 121).

A análise do acento secundário não constitui o foco dessa análise, já que, em nossa pesquisa metodológica, buscaremos correlatos acústicos da manifestação do acento primário no PB. Contudo, por i) alguns autores tratarem formações com -zinho e -mente como possíveis manifestações do acento secundário, ii) estarmos trabalhando metodologicamente com um nível de superfície da gramática, resolvemos expor estas análises.

Acreditamos que, inicialmente, as duas bases do composto prosódico recebem acento primário no nível lexical, assim como os autores mostram em suas análises. Reconhecemos, também, que, por vezes, o acento poderá ser deslocado na superfície devido ao choque de acento e que apenas o segundo elemento do composto receberá o acento principal da sequência (Regra do Acento Principal). Contudo, tentaremos encontrar indícios ou resquícios da presença de um acento primário, identificados via parâmetros acústicos, na primeira destas bases, a fim de localizarmos uma fronteira de palavra prosódica.

Como vimos, há também autores que defendem que, nas bases das estruturas com -inho/ -zinho, -mente e -íssimo, há acento secundário. Essas distinções poderão ser vistas, para além das evidências fonológicas, pelos correlatos acústicos, já que, como veremos mais adiante, a duração parece ser o correlato mais confiável para localização do acento primário, mas não para o secundário.

Para uma possível formalização morfológica dos elementos analisados, passemos agora a uma breve explanação sobre modelos que são capazes de classificar estruturas em diferentes níveis da gramática. Acreditamos que quaisquer destes modelos possam dar conta de uma futura formalização para os resultados encontrados nas análises de -inho/-zinho, -mente e -íssimo.