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4 O STATUS MORFOPROSÓDICO DOS SUFIXOS INHO/-ZINHO, MENTE E ÍSSIMO

4.4 Análises a respeito do comportamento morfológico e prosódico de inho, zinho, mente e íssimo

4.4.1 Português Europeu

No PE, apresentaremos as análises de Villalva (1992), Vigário (2003), Mira Mateus (2004), Barbosa (2010) e Ferreira (2012).

4.4.1.1 Villalva (1992)

Villalva (1992), ao tratar dos compostos morfológicos e sintáticos do PE, apresenta considerações sobre os afixos que parecem ter comportamento de palavra prosódica.

Sobre o caso dos advérbios, a autora afirma que o elemento -mente apresenta concordância de feminino com a vogal de gênero da palavra-base (ex. continu//mente) e que nenhuma das sílabas destas palavras sofrem os processos de alteamento que afetam as vogais átonas do PE.

Nos exemplos que traz para -inho e -zinho, Villalva mostra que esses elementos apresentam comportamento distinto em relação à base a qual são anexados, visto que -zinho pode selecionar bases com gênero feminino ou número plural (ex. maci//zinha, c/e/zinhos), enquanto -inho não apresenta esta propriedade.

A autora ainda mostra que os z-avaliativos34 (no nosso caso, -zinho) podem ser equiparados com as formações em -mente e portam dois acentos, enquanto os outros sufixos (ex. -inho) apresentam comportamento distinto e podem inclusive apresentar redução vocálica na sílaba pretônica:

(27)

golinho [gulíñu]

golozinho [goluzíñu] *[guluzíñu]

Para Villalva, então, -zinho e -mente são palavras prosódicas.

4.4.1.2 Vigário (2003)

Vigário (2003), em uma vasta análise sobre a palavra prosódica no PE, inicia a seção sobre os sufixos afirmando que palavras sintáticas tradicionalmente classificadas como portadoras de dois acentos primários (e, portanto, duas palavras prosódicas) são aquelas formadas pelos sufixos z-avaliativos e por -mente.

Segundo a autora, o acento desses afixos é percebido pelos falantes da língua, além de ser o causador da não aplicação de redução vocálica na palavra-base, como vemos abaixo:

(28)

jacar/ɛ/ jacar/ɛ/zinho *jacar[e]zinho *jacar[ᵻ]zinho

tren/ɔ/ tren/ɔ/zão *tren[o]zão *tren[u]zão

al/ɛ/gre al/ɛ/gremente *al[e]gremente *al[ᵻ]gremente

Os dois acentos primários são defendidos na análise de Vigário pelo fato de nem a vogal da base nem a vogal tônica do sufixo sofrerem enfraquecimento (neste caso, elevação) (ex. treze avos – *tr[ᵻ]ze avos).

Todos estes elementos (z-avaliativos, -mente e avos) são adicionados à uma palavra morfológica, isto é, a uma base que inclui vogal temática e flexão.

(29)

azul azuis azuizinhos

belo bela belamente

trinta - um trinta avos

Essa análise, assim como a de Villalva, descarta a possibilidade de -inho ser palavra prosódica no PE. Apenas os sufixos -zinho e -mente são palavras prosódicas, que unem-se, no plano morfológico, a uma palavra já flexionada.

4.4.1.3 Mira Mateus (2004)

Mira Mateus (2004) apresenta ideias gerais a respeito de aspectos fonético- fonológicos do PE. Sobre a relação entre palavra fonológica e palavra morfossintática, a autora afirma:

a palavra prosódica tem um único acento principal enquanto a palavra morfológica pode ter dois acentos se for (a) um composto como guarda-

roupa ou hispano-americano, (b) se for um derivado com prefixos como pré

ou pós (e.g. pré-tónica, póstónica) ou (c) se for um derivado com sufixos z- avaliativos ou o sufixo -mente (e.g. cãozito, papelzinho, belamente) (MIRA MATEUS, 2004: 14, grifo nosso).

Mira Mateus ainda acrescenta que, na tradição gramatical, “considera-se que apenas palavras com os sufixos -mente e com z-avaliativos (ex. -zinho, -zito etc.) possuem acento secundário” (2004: 16). Este acento secundário citado pela autora possivelmente é uma reinterpretação do acento primário atribuído em nível anterior.

4.4.1.4 Barbosa (2010)

Barbosa (2010) testa formações com redução vocálica com os elementos -inho e -zinho no julgamento de falantes de PE, partindo da hipótese de que a elevação e centralização vocálica (chamados de redução) acontecem em função do sufixo anexado:

(30)35

flor *fl[o]rinha fl[u]rinha fl[o]rzinha *fl[u]rzinha

Os resultados encontrados pela autora mostram, complementando e acrescendo informações aos exemplos de Villalva, que: i) para formações em -zinho, os falantes preferem estruturas sem redução vocálica na sílaba que era tônica (ex. fl[o]rzinha); ii) para formações em -inho, os falantes aceitam tanto casos com vogais reduzidas (ex. fl[u]rinha) quanto não reduzidas (ex. fl[o]rinha), optando, frequentemente, por estruturas como a de -zinho, sem redução vocálica na antiga posição tônica.

Apesar de Barbosa não tratar dos constituintes prosódicos, temos de notar que o fato de -zinho não aceitar a redução comum da pauta pretônica parece evidenciar uma

fronteira de palavra prosódica entre as duas bases; contudo, temos de notar que isso aconteceu com -inho com frequência maior que a esperada pela autora.

4.4.1.5 Ferreira (2012)

A autora apresenta contributos para uma análise da palavra prosódica no PE e assume que os z-avaliativos (-zinho) e -mente são palavras prosódicas independentes.

Ferreira salienta que as estruturas formadas por -inho e -ito apresentam processo de incorporação do sufixo à base, resultando em estruturas com um único acento (31a), enquanto estruturas com -zinho – palavra prosódica – resultam em uma palavra prosódica máxima, nos termos de Vigário (2003), juntamente com a base (31b).

(31)

a.  b. max

w s36

base -inho

base -zinho

A autora utiliza uma classificação entre afixos primários e secundários para diferenciar estes elementos dos demais sufixos do PE.

Ferreira (2012) diz que:

A presença de uma vogal acentuada justifica a distinção entre afixos primários, que formam uma palavra prosódica com o morfema precedente, e afixos secundários, que constituem uma palavra prosódica por si só. [...] Os afixos primários podem receber o acento primário ou implicar a deslocação do acento nas palavras-base (Katamba, 1989: 238). Os afixos secundários recebem acento secundário e apresentam ainda duas outras características: são domínio de silabificação autónomo e podem ser omitidos numa sequência de coordenação (Aronoff & Fudeman, 2005:78; Booij, 2007: 164; Laeufer, 1995:101). Os afixos secundários não alteram a acentuação da palavra a que se associam, o que é outro indicador da existência de uma fronteira de palavra entre estes dois constituintes (FERREIRA, 2012: 67).

Podemos encarar esta nomenclatura pelo viés da LPM, explanada nos primeiros capítulos. Os afixos primários recebem este nome por se unirem à base em um nível mais profundo do componente lexical. Já os secundários são mais periféricos,

36 Na representação de (31b), s e w correspondem, respectivamente, aos termos strong e weak, do inglês, referindo-se à relação forte-fraco no domínio da palavra prosódica máxima.

mais próximos da flexão e, por isso, integram a base em um momento posterior da afixação. Na visão da DM, isto equivaleria a admitir que afixos primários são aqueles que unem-se às bases em um momento mais interno à estrutura sintática, enquanto os secundários estão em posições mais externas.

Não encontramos nenhuma análise para o PE que tratasse -inho como palavra prosódica ou que acrescentasse -íssimo aos sufixos analisados. Por outro lado, parece consenso entre os autores que -zinho e -mente constituem domínio fonológico independente.

Passemos agora a análises envolvendo estes elementos no português brasileiro.