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Tratamento e análise dos dados

4 O STATUS MORFOPROSÓDICO DOS SUFIXOS INHO/-ZINHO, MENTE E ÍSSIMO

5 CORRELATOS ACÚSTICOS DO ACENTO E METODOLOGIA EMPREGADA NESTE ESTUDO

5.2 Metodologia empregada neste estudo

5.2.4 Tratamento e análise dos dados

Estes dados sonoros foram analisados acusticamente através do software Praat53 versão 5.3.84 (Boersma & Weenick, 2005), como mencionados anteriormente. Este software livre permite a análise de diversas propriedades físicas do material sonoro.

Depois de coletados os dados acústicos, estes foram segmentados a partir do cruzamento de zero (comando Ctrl + 0) do primeiro ciclo completo de onda até o último ciclo completo em que há periodicidade da vogal e etiquetados em quatro diferentes camadas – a saber, sentença, palavra, sílaba, vogal.

Quadro 20 - Etiquetagem em quatro camadas no software Praat para a frase Diga nova pra mim

Os resultados foram extraídos através de um script (Pacheco, s/d) que coleta os valores de duração, intensidade, F1 e F2 de três pontos de cada etiqueta atribuída a uma dada camada.

Optamos, ainda, por coletar os dados de intensidade máxima (comando Get maximum intensity) e intensidade média (comando Get intensity) das sílabas manualmente, visto que a análise na qual baseamos muitas de nossas escolhas metodológicas (Massini, 1991) utiliza dados de intensidade máxima do segmento analisado.

Comparamos as medidas de duração (em milissegundos - ms) e intensidade (em decibéis – dB) das sílabas tônicas e das sílabas pretônicas.

Por um recorte analítico, analisamos nesta dissertação apenas os dados referentes à duração, à intensidade e à interação entre esses dois fatores. Dados comparando valores de F1 e F2 das vogais /ɛ/ e /ɔ/ em posição pretônica e tônica serão contemplados em trabalhos futuros.

Em bolinha, por exemplo, medimos estas propriedades nas sílabas /bɔ/ e /li/ e comparamos os valores encontrados nestas estruturas com os valores encontrados em sílabas de palavras similares, como bolinho, bolada, belinho, balinha, galinha.

As sílabas investigadas (ex. /bɔ/ e /li/) são chamadas, a partir de agora, sílabas 1 e 2, para as palavras com apenas uma sílaba pretônica. Nestes casos (ex. bolinha, beleza, novíssimo), a sílaba 1 sempre será equivalente a uma sílaba com vogal média- baixa ou média-alta; a sílaba 2 sempre será a sílaba principal, geralmente tida como a única tônica da palavra. Em palavras com mais de uma sílaba pretônica, por vezes, descreveremos apenas os valores de 1 e 2 como as sílabas tônicas das duas bases (ex.

/pɛ/ e /zi/, em petalazinha; /bɛ/ e /zi/, em belozinho). Quando estivermos tratando de sílabas mediais às sílabas investigadas, especificaremos no corpo do texto.

Apresentamos as medições levando em conta o valor de duração das sílabas; por vezes, apresentamos também o valor de duração das vogais. Contudo, por termos como principais pressupostos noções fonológicas, hipotetizamos que os dados referentes a análises de sílabas devem se mostrar mais influentes no processo.

Delgado Martins (1986 apud Massini, 1991) mostra, a partir de testes de manipulação de segmentos, que mudanças que acontecem unicamente na duração das consoantes ou das vogais não alteram a percepção dos falantes de PE em relação à tonicidade; mudanças na sílaba inteira, por outro lado, mudam a percepção em relação à identificação de proeminências.

Além disso, Massini (1991: 111), ao analisar o papel da duração da sílaba no acento, mostra que, por vezes, há um alongamento estendido também à consoante. Em seus dados em que a sílaba tônica apresentou maior duração que as átonas, 82% tiveram também a vogal mais alongada. Porém, a autora encontrou casos de sílaba tônica longa que a vogal não era tão longa, mas que havia um esforço maior na produção da consoante (8% dos casos). Somando-se estes números, a autora chega a uma relação de 90% de maior duração em sílabas tônicas, como mostrado seções acima.

Deve-se aceitar que existe um jogo de compensações entre as durações da consoante inicial e do núcleo dentro da sílaba, mas que não prejudica o valor da duração total da sílaba. Em outras palavras, tanto a consoante inicial como o núcleo podem ter mais duração dentro de uma determinada sílaba, desde que o fato de um durar mais que o outro não afete a duração total da sílaba em questão e a relação de proeminência que esta sílaba estabelece com as outras da mesma palavra (MASSINI, 1991: 116).

Para averiguar a significância estatística dos resultados obtidos, o teste Wilcoxon foi aplicado através do software RStudio versão 0.99.484. Esse teste serve para a análise de dados não paramétricos pareados (função wilcox.test) e foi aplicado devido à distribuição de dados referente ao nosso tamanho de amostra, que é de 10 produções para cada palavra. Por esse motivo, como ponto de partida, consideramos que nossos dados não apresentam uma distribuição normal, fato que exige a aplicação de um teste não paramétrico, como o Wilcoxon. Tomamos como base o valor de significância estatística (p-value=0,05), que admite que, em uma amostra de cem dados, apenas cinco foram destoantes ou aleatórios e os outros noventa e cinco podem ser confiáveis. A probabilidade, então, tem de ser menor ou igual a que 5% (p<0,05) para que a hipótese

nula (de que não há diferença entre, por exemplo, sílabas tônicas e pretônicas) seja rejeitada e as comparações sejam significativas.

Contudo, devemos lembrar, como aponta Perozzo (2013), que a inexistência de diferenças estatisticamente significativas não comprova que se tratam de duas medidas iguais ou equivalentes, mas também não nega esse fato. A inexistência apenas não possibilita afirmar que a diferença é significativa.

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Neste capítulo, vimos que o acento pode ser identificado por variados fatores nas mais diversas línguas. No PB, ao que tudo indica, a duração é o correlato acústico mais confiável, ainda que outros fatores como intensidade, F0 e qualidade vocálica possam atuar também.

Para verificar esses aspectos em palavras simples, derivadas e compostas – com foco naquelas formadas por -inho/-zinho, -mente e -íssimo –, analisamos a duração (ms) e a intensidade (dB) em dados de cinco informantes do PB. Os resultados encontrados serão apresentados e discutidos no próximo capítulo.