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O alfabeto latino

No documento Língua Latina (páginas 30-33)

O alfabeto latino teve origem no alfabeto usado pelos gregos. Em períodos mais antigos, o latim era escrito apenas com letras maiúsculas, sem sinais de pontuação. Hoje, costuma-se usar pontuação e letras minúsculas, mesmo em início de sentenças. Maiúsculas são usadas apenas em nomes próprios.

O alfabeto latino é praticamente igual ao alfabeto usado hoje por nós, falan- tes de português, exceto pelo fato de que a letra U/u exercia as funções do que hoje são as letras V/v e U/u e a letra I/i do que hoje são o I/i e o J/j.

Vejamos as letras individualmente:

A a – lê-se como o nosso “a” aberto, não nasal, como em “amor”, “casa”. B b – como o nosso “b” em “boca”.

C c – na pronúncia reconstituída, o “c” sempre se lê como uma consoante

oclusiva3 [k], e nunca como uma fricativa [s]. Assim, Cicero lê-se sempre “kíkero”,

e não “síssero”.

3 Uma consoante oclusiva é uma consoante que, para ser produzida, requer que haja fechamento completo da passagem do ar pela boca e soltura posterior. São oclusivas, por exemplo, as consoantes [d, t, p, b, k], entre outras, enquanto as fricativas são consoantes que requerem passagem constante do ar pela boca, com alguma constrição (que nunca é completa) em algum local, como com a língua perto dos dentes superiores, o que produz os sons [s] e [z], ou com os dentes superiores no lábio inferior, que produz os sons [f] e [v].

D d – como o nosso “d” em “dedo”. A regra que transforma o “d” antes de “i” em

alguns dialetos do português em [dj] não se aplica em latim.

E e – o “e” breve (ĕ) lê-se como o “e” aberto em português, como em “pé”. O “e”

longo (ē) lê-se como o “e” fechado em português, como em “cabelo”.

F f – como o nosso “f” em “flor”.

G g – assim como o “c”, o “g” em latim era sempre oclusivo, como em “gato”.

Assim, genus deveria ser lido como [guênus] em português, e não como [jênus].

H h – o “h” latino era sempre uma consoante fricativa aspirada e, portanto, era

sempre pronunciado. Assim, o “h” em hodie deveria ser pronunciado como uma consoante, aspirado na garganta, e não como o “h” em “hoje”, que não é pro- nunciado. O “h” era pronunciado aspirado mesmo quando logo após consoantes oclusivas, como em philosophia (lido com um “p” seguido da soltura do ar entre os lábios antes da produção da vogal), e thalamus (com a soltura do ar antes da vogal depois da pronúncia do “t”), por exemplo.

I i – essa letra em latim representava tanto o “i” vocálico quanto o “i” semivo-

cálico (que aparece imediatamente antes ou depois de uma outra vogal, funcio- nando como uma ditongação da vogal – um exemplo em português é o “i” em “pai”, que não é pronunciado como uma vogal plena, e sim como uma semivogal, ou seja, algo intermediário entre a vogal “i” e a consoante “j”). Assim, o “i” latino se pronuncia como o “i” em “ilha” (vogal) ou como o “i” em “ioiô” (semivogal). Pos- teriormente, o “i” semivocálico latino transformou-se no “j” do português. Assim, de Iuppiter em latim temos “Júpiter” em português. Não havia em latim o som que representamos pela consoante J/j em português, embora alguns dicionários e edições de textos latinos apresentem a semivogal latina grafada como J/j e a vogal grafada como I/i, por questões didáticas.

K k – assim como o “k” em português, o “k” latino era usado em palavras em-

prestadas de outras línguas, em especial do grego. Assim, o “k” em kalendas se pronuncia como o “c” em “calendário”.

L l – como o “l” em “lua”.

M m – antes de vogal e em posição intervocálica, como em “mel”. Em fim de

palavra, ocorria nasalização da vogal anterior, assim como em “amaram”.4

4 Há controvérsias entre os teóricos sobre se o “m” final representava apenas a nasalização da vogal anterior ou se era pronunciado como consoante oclusiva bilabial nasal, ou seja, com o fechamento completo dos lábios e a produção de um “m” como o de “minha”. Sigo aqui a teoria de que o “m” final nasaliza a vogal anterior em virtude de que, em métrica latina, uma sílaba final de uma palavra pode sofrer o processo chamado de “crase” quando termina em vogal + “m” e a palavra seguinte inicia-se por vogal, o que indica que o “m” possivelmente não era consonantal em final de palavra. Outra

N n – antes de vogal e em posição intervocálica, como em “nariz”. Em fim de

palavra, diferentemente do “m”, o “n” era pronunciado como consoante plena, e não como nasalização da vogal. Por exemplo, o “n” sublinhado em nomen est é pronunciado da mesma forma que o “n” sublinhado em “benefício”.

O o – assim como o “e”, o “o” breve (ŏ) era pronunciado como o “o” aberto em

“ódio” e o “o” longo (ō) era pronunciado como o “o” fechado em “orelha”.

P p – como o “p” em “pipoca”.

Q q – o “q” em latim era sempre seguido da semivogal “u”, de forma que

sempre era pronunciado como o [kw] de “aquário” [akwário], e nunca como o [k] de “quente” [kente].

R r – o “r” latino nunca era pronunciado como o “r” aspirado fricativo de “rua”

[hua], e era sempre pronunciado como o “r” em “era” ou, ainda, como o “r” vibran- te de alguns dialetos do Sul do Brasil, que é como se fosse uma sequência rápida de vários “r” como o de “era”.

S s – como o “s” em “silêncio”. O “s” latino nunca era pronunciado sonorizado

como o “s” de “casa”, mesmo quando em final de palavra. Não ocorre em latim o processo de sonorização que ocorre em português. Em português, o “s” em final de palavra antes de outra palavra que comece com vogal ou com conso- ante sonora sofre sonorização, e assim a pronúncia de “casas”, por exemplo, tem [s] ou [z] pronunciados no final, a depender do que vem depois. Dessa forma, temos [kazas] em “casas quadradas” e [kazaz] em “casas azuis” ou “casas vermelhas”.

T t – como o “t” em “tatu”. A regra que transforma o “t” antes de “i” em alguns

dialetos do português em [tch] não se aplica em latim.

U u – essa letra em latim representava tanto o “u” vocálico quanto o “u” se-

mivocálico (que aparece imediatamente antes ou depois de uma outra vogal, funcionando como uma ditongação da vogal – um exemplo em português é o “u” em “mau” [maw], que não é pronunciado como uma vogal plena, e sim como uma semivogal, ou seja, algo intermediário entre a vogal “u” e a consoante “v”; outro exemplo é o som do “w” em “kiwi”). Assim, o “u” latino se pronuncia como o “u” em “uva” (vogal) ou como o u em “auê” (semivogal). Posteriormente, o “u” semivocálico latino transformou-se no “v” do português. Assim, de uita em latim temos “vida” em português. Não havia, em latim , o som que representamos pela consoante V/v em português, embora alguns dicionários e edições de textos la- tinos apresentem a semivogal latina grafada como V/v e a vogal grafada como U/u por questões didáticas.

X x – sempre como o encontro [ks] em português, assim como no estrangei-

Y y – como o “ü” francês ou alemão, ou seja, trata-se de uma vogal como “i”,

mas pronunciada com os lábios arredondados para produzir um “u”. Estrangei- rismos como “Müller” exemplificam o som dessa vogal, de origem grega no alfa- beto latino.

Z z – Assim como o “x”, o “z” era pronunciado como consoante dupla, e devia

ser lido como [dz].

Os ditongos em latim são apenas os seguintes:

ae (também grafado æ)

 como o ditongo “ai” no português “pai”.

oe (também grafado œ)

 como o ditongo “oi” no português “foi”.

ei

 como o ditongo “ei” no português “andei”.

ui

 como o ditongo “ui” no português “fui”.

au

 como o ditongo “au” no português “mau”.

eu

 como o ditongo “eu” no português “cresceu”.

No documento Língua Latina (páginas 30-33)