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CAPÍTULO 4 MODELAGEM "SOFT" DE ESTRUTURAÇÃO

4.3 O APOIO À DECISÃO

A atividade de apoio à decisão tem sido definida por Roy (1993) nos seguintes termos:

Apoio à decisão é a atividade daqueles que, por caminhos que chamamos científicos, ajudam a obter elementos de resposta às perguntas formuladas pelos atores envolvidos em um processo de decisão. Esses elementos ajudam a clarificar essa decisão, fornecendo aos atores as condições o mais favoráveis possíveis para o tipo de comportamento que aumente a coerência entre a evolução do processo, por uma parte, e, por outra parte, os objetivos ou

sistemas de valores nos quais operam esses atores. (ROY, 1993, p. 187)

Diferentemente das metodologias da chamada ciência da decisão, o objetivo do apoio à decisão não consiste na procura de soluções para os problemas, mas em desenvolver conhecimento e convicções por parte dos atores respeito do contexto decisório, na perspectiva dos sistemas de valor, preferências e percepções desses próprios atores. Segundo Roy (1990), podem ser identificadas duas preocupações cruciais no arcabouço do apoio à decisão:

(a) O objetivo principal é construir ou criar alguma coisa que, por definição, não preexiste. Essa entidade a ser criada ou construída é vista como apropriada para ajudar um ator que forma parte do processo de decisão para:

• conformar e/ou debater e/ou transformar suas preferências, ou • tomar a decisão em conformidade com seus objetivos.

(b) Os esforços dos pesquisadores são orientados na direção de conceitos, propriedades e procedimentos, os quais são, por conseguinte, susceptíveis de serem usados para os seguintes propósitos:

• extrair da informação disponível o que parece ser realmente significativo (na perspectiva do que necessita ser construído) • ajudar a iluminar o comportamento do decisor oferecendo-lhe

argumentos capazes de fortalecer ou debilitar suas próprias convicções. (ROY, 1990, p. 328)

Roy (1993) analisa três 'caminhos' percorridos pelos praticantes da PO na busca de dar sentido aos conhecimentos gerados: o caminho do realismo, o axiomático e o do construtivismo.

Segundo este autor:

Tomar o caminho do construtivismo consiste em considerar conceitos, modelos, procedimentos e resultados como sendo chaves capazes (ou não) de abrir certas fechaduras que provavelmente (ou não) sejam apropriadas para organizar ou promover o desenvolvimento de uma situação. Esses conceitos, modelos, procedimentos e resultados são vistos aqui como ferramentas apropriadas para desenvolver convicções e permitir que elas evoluam, assim como para comunicar-se em relação as bases

dessas convicções. O objetivo não é descobrir uma verdade existente, envolvida no processo, externa aos atores, senão construir um 'conjunto de chaves' que possam abrir portas aos atores e permitir progredir de acordo com seus objetivos e sistemas de valores. (ROY, 1993, p. 194)

Em um contexto de apoio à decisão, o construtivismo sustenta a existência de múltiplas vias para a criação de conhecimento, e que estas devem ser construídas em um processo de interação entre os atores e o analista ou facilitador. O resultado deste processo é o desenvolvimento de convicções que possibilitam a formulação de hipóteses de trabalho respeito de como melhorar o desempenho do sistema organizacional segundo as percepções dos decisores. Estas hipóteses de trabalho constituem as bases do que Roy chama de 'recomendações', atribuindo a esse termo um caráter mais fraco que o de 'prescrições', derivadas estas últimas de abordagens de tipo axiomático.

O conteúdo da recomendação deve ser somente o produto da convicção construída no curso do processo, necessitando varias interações com a participação da variedade de atores envolvidos no complexo ambiente gerencial. Esta recomendação não deve ser vista como a única solução possível, e sim como uma especialmente bem fundamentada. (ROY, 1993, p. 195)

Segundo Bana e Costa (1995), o processo de apoio à decisão está composto por dois subsistemas inter-relacionados: o sistema dos atores e o sistema das ações.

Em relação ao primeiro desses subsistemas, o apoio à decisão parte da rejeição do conceito idealizado de "tomador de decisões" próprio da Pesquisa Operacional tradicional. As decisões são só excepcionalmente implementadas por um único indivíduo, e normalmente constituem processos nos quais participam um conjunto de atores, com diferentes sistemas de valor, interesses e aspirações em relação ao contexto decisional (BANA E COSTA, 1995, p. 10). Os atores ou

stakeholders de um processo de apoio à decisão podem ser agrupados em dois

tipos: os intervenientes, que participam diretamente no processo decisório, e os agidos, que sofrem passivamente as conseqüências da decisão. Estes últimos podem, não obstante, atuar indiretamente, exercendo pressões sobre os intervenientes. Dentro do grupo dos intervenientes, podem-se distinguir os decisores, depositários do poder de decisão, e, quando for o caso, os representantes ou demandeurs, designados pelos decisores para representá-los no processo. A eles deve acrescentar-se o facilitador, que desempenha a função de apoiar os decisores no processo, por meio do uso de modelos e outras ferramentas que permitam melhorar o conhecimento em relação ao contexto (ENSSLIN ET AL, 2001, p. 18-19).

O subsistema das ações está formado pelo conjunto de representações de eventuais contribuições para a decisão global, susceptíveis de serem tomadas de forma autônoma (BANA E COSTA, 1995, p. 15). O conceito de ação no apoio à decisão é diferente da noção de alternativa da Pesquisa Operacional tradicional em dois aspectos fundamentais:

1. Ao contrário da PO tradicional, a definição de ação não envolve nenhuma idéia de viabilidade ou realismo. Ou seja, podem existir ações "inventadas" durante o processo de apoio à decisão com a finalidade de estimular a criatividade dos decisores e gerar um melhor entendimento do contexto decisório.

2. Também contrariamente à Pesquisa Operacional tradicional, o conjunto de ações potenciais não é considerado necessariamente estável: ações podem ser incluídas e excluídas ao longo do processo de Apoio à Decisão. (ENSSLIN ET AL, 2001, p. 6)

A atividade de apoio à decisão baseia-se em duas convicções fundamentais (ENSSLIN et al, 2000, p. 80-81; BANA E COSTA, 1993, p. 12):

• Convicção da interpenetração e inseparabilidade dos elementos objetivos, próprios das ações, e subjetivos, próprios dos sistemas de valor dos atores. O modelo a ser construído para facilitar o melhor entendimento do contexto e promover a comunicação entre os atores deve, então, necessariamente incorporar explicitamente os dois tipos de elementos; • Convicção do construtivismo, que postula a necessidade de desenvolver

um processo participativo, de interação entre facilitador e decisores, visando gerar um processo de aprendizado em relação ao contexto decisório. A partir deste processo de aprendizado é construído um modelo de preferências, baseado nos valores explicitados pelos decisores. Esse modelo, pela sua vez, poderá ser usado para a formulação de hipóteses de trabalho que conduzam a recomendações para melhorar o desempenho do contexto decisório.

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