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O ARTESANATO ELETRÔNICO E A ESTÉTICA DO FAZER E DO TOCAR

A respeito do caráter artesanal dos sintetizadores, a obra O artífice do sociólogo Richard Sennett (2008) representa uma contribuição através da sua definição de artesanato como a busca de um trabalho bem feito como um fim em si mesmo, de maneira que finalidades instrumentais, como o sustento financeiro, ficam em segundo plano. Até o momento, e ao longo do trabalho, refiro-me aos construtores abordados como artesãos, e aos seus trabalhos como artesanais. Com esse termo, busquei diferenciá-los dos grandes fabricantes industriais, visando denotar o caráter manual da prática aqui descrita. Um termo bastante utilizado na internet para classificar os equipamentos que aqui investiguei é “handmade”, que pode ser traduzido como “feito à mão”. Busquei, então, com o termo artesanal e artesão, basicamente denotar o fato dos sintetizadores serem feitos à mão, em contraste com aqueles construídos em série e escala numa fábrica.

Entretanto, o livro de Sennett (2008) traz várias discussões acerca do trabalho artesanal que vão além do simples fato dele ser feito com as mãos, tais como a busca por qualidade e capacitação, e a maestria, que transforma trabalhos técnicos em formas de expressão. Dessa forma, ao abordar os conceitos formulados por esse autor, utilizei a noção de “artífice”, utilizando o termo “artesão” para me referir aos construtores manuais de maneira geral.

Gilbert Simondon (1998) também traz ideias que ajudam a refletir sobre o que move tais construtores. Em uma carta a Jacques Derrida, ele defende que há uma forte ligação entre a técnica e a estética nos objetos tecnológicos, sendo que a experiência estética da qual ele fala está mais presente no manejo do que na observação da aparência de tais objetos. Há um “prazer sensório-motor” (SIMONDON, 1998 p. 255) envolvido na comunicação entre ser humano e matéria proporcionado pelo uso de ferramentas. A partir de Simondon (1998), busquei primeiramente investigar a “tecnoestética” presente nos sintetizadores artesanais, ou seja, a arte envolvida na construção desses equipamentos musicais, mais do que questões relacionadas ao som que eles produzem.

Muitos construtores, principalmente os iniciantes, interessados na ideia do faça você mesmo e nos chamados kits e projetos “do it yourself”, parecem realizar a prática como um hobby, sem compromisso profissional e sem obter uma renda com isso. Há muitas pessoas que, como meu interlocutor Dante, constroem sintetizadores em casa quase que por diversão. Outros,

como Arthur Joly e Václav Pelousek, iniciaram a prática por gostar de tocar esses equipamentos e não ter o dinheiro necessário para adquiri-los, chegando, posteriormente, a vender as suas criações.

Mesmo os que trabalham profissionalmente com esses instrumentos eletrônicos, como os tchecos da Bastl ou Schneider, fundador da loja Schneider’s Buero, parecem ter um interesse com a coisa que vai além do lucro, inclusive por se tratar de um nicho de mercado que não é particularmente rentável. Compreendo que o que move essas pessoas é um interesse pela música, em particular, a música eletrônica e seus principais instrumentos, que são os sintetizadores. O termo artesanal também faz eco à maneira que marcas como a RecoSynth, a Doepfer, a própria Bastl, além de outras já citadas aqui, fabricam seus produtos, prezando pelo máximo de qualidade na concepção e na construção, uma vez que, entre outras questões, tais fabricantes se interessam profundamente pelos sintetizadores.

O sociólogo estadunidense Richard Sennett (2008) dá pistas para o entendimento acerca do artesanato e do que move as pessoas a realizarem atividades dessa maneira em O artífice, no qual é exibido o resultado de uma pesquisa acerca desse tipo de prática. A obra se trata de um esforço no sentido de compreender o que ele chama de “cultura material” (SENNETT, 2008, p. 18), observando as formas como construímos as coisas e o que elas revelam sobre nós mesmos. Do que leva as pessoas a procurarem fazer trabalhos bem feitos independente de retorno financeiro, abordando tanto a motivação quanto a capacitação necessária para tal. O autor traz exemplos da história assim como de locais de trabalho na contemporaneidade para mostrar que há uma baixa na motivação e na busca pela capacitação, promovida por uma série de fatores. O texto aborda também a maneira como, no trabalho artesanal, a mão e a cabeça estão ligadas, ou os efeitos que as atividades manuais trazem para o pensamento. Acerca do artesanato, Sennett (2008) afirma:

Habilidade artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho benfeito por si mesmo. Abrange um espectro muito mais amplo que o trabalho derivado de habilidades manuais; diz respeito ao programa de computador, ao médico e ao artista. (SENNETT, 2008, p. 19).

Os artífices buscam, de certa forma, a arte pela arte, o trabalho bem feito é um fim em si mesmo. O cuidado artesanal ao realizar uma tarefa não a torna mais rentável, muitas vezes ocorrendo o contrário, quando, por exemplo, tal forma de trabalhar torna a produção mais lenta.

Portanto, são atividades práticas que não têm um fim instrumental prioritário. Como afirma o autor, “com certeza é possível se virar na vida sem dedicação”. (SENNETT, 2008, p. 30). Entretanto os artífices se dedicam apaixonadamente aos seus trabalhos.

O artesanato abordado por Sennett (2008) é também uma atividade de alto nível de capacitação técnica. Enquanto uma pessoa que se inicia numa prática busca simplesmente fazer as coisas funcionarem, um mestre de um ofício é capaz de refletir e buscar as formas mais sublimes de fazer seu trabalho. Neste sentido:

Em seus patamares mais elevados, a técnica deixa de ser uma atividade mecânica; as pessoas são capazes de sentir plenamente e pensar profundamente o que estão fazendo quando o fazem bem. É no nível da mestria, como demonstrei, que se manifestam os problemas éticos do artesanato. (SENNETT, 2008, p. 30).

Creio que essa situação pode ser observada no contexto da construção de sintetizadores. Muitas pessoas, como o paulistano Arthur Joly, iniciam-se nessa prática adquirindo kits “faça você mesmo” para poder construir os primeiros sintetizadores simples. Pessoas que já possuem maior conhecimento e prática em eletrônica podem construir a partir de projetos, buscando os componentes por conta própria. Porém, entendo que, tanto as pessoas que não possuem experiência com eletrônica e lutam para aprender a soldar, quanto aquelas que já dominam essa técnica, ao construir os primeiros sintetizadores buscam apenas fazê-lo funcionar, fazer com que a pequena caixinha faça algum som a partir dos controles configurados.

Ao evoluir na prática, o iniciante pode deixar do lado os kits e trabalhar com os projetos, buscando os componentes em sua cidade, ou mesmo realizando adaptações frente à falta de algum deles. Adquirindo ainda mais capacitação, o artesão pode buscar projetos mais complexos, construindo sintetizadores mais arrojados. Entretanto, compreendo que projetar um sintetizador, ou mesmo um simples módulo, é uma atividade muito mais complexa e se aproxima ainda mais das questões que envolvem o artesanato.

Um exemplo de proficiência nesse sentido é o construtor Václav Pelousek, responsável por desenvolver os projetos e criar os protótipos dos sintetizadores da marca tcheca Bastl Instruments. Inspirando-se em equipamentos clássicos do passado ou mesmo desenvolvendo criações totalmente originais, compreendo que essa atividade requer não só um alto nível de conhecimento da engenharia eletrônica, como também muito saber e experiência com sintetizadores.

O fabricante Arthur Joly, por exemplo, só desenvolveu seu primeiro sintetizador, o MOD77, após sete anos trabalhando com projetos que adquiria na web65. Compreendo que isso não diminui o trabalho anterior de Joly, artífice responsável pela construção de sintetizadores como o Jolymod, sistema modular de alta complexidade, descrito anteriormente nessa dissertação. Entretanto, essa distinção entre construtores e desenvolvedores, mesmo havendo convergências entre essas atividades, é importante para compreendermos o trabalho de artífice nos sintetizadores.

Na construção de projetos, muitos artesãos recebem contribuições dos colegas internautas, quando compartilham suas ideias buscando a opinião dos mesmos. Anteriormente, citei o projeto do francês Julien Delgoulet: um sistema modular inspirado no sintetizador Minimoog, compartilhado no fórum Muff Wiggler, e para o qual ele recebeu diversas sugestões dos membros desse fórum. Dessa forma, trata-se de um projeto desenvolvido em parceria mediada pela internet, na qual a experiência e o conhecimento de diferentes artífices espalhados pelo mundo se conjugaram.

Outra questão acerca da prática artesanal, abordada exaustivamente por Richard Sennett (2008), é a capacitação do artífice, as maneiras através das quais as pessoas podem chegar ao nível de mestria numa prática. O sociólogo traz exemplos da história, tais como as oficinas e guildas artesanais dos mestres de ofícios da Idade Média, assim como algumas atividades manuais de alta sofisticação, como a técnica dos insufladores de vidro e o estudo da música, sendo o próprio autor um violoncelista.

A partir das suas experiências enquanto músico, e algumas questões que envolvem a educação musical, no que diz respeito a aprender a tocar um instrumento, Sennett (2008) tece algumas reflexões sobre a prática no aperfeiçoamento da técnica do artífice. Uma necessidade básica na capacitação, visando qualquer prática, é a repetição. Segundo o autor, quando se tem o interesse pela melhora de uma técnica, a repetição deixa de ser uma atividade mecânica e entediante, tornando-se a narrativa desse aperfeiçoamento. Outra questão discutida por ele é a importância do erro. Falando sobre sua experiência pessoal com o violoncelo, o autor relata:

Tenho um padrão de referência que me diz o que estou buscando, mas meu compromisso com a verdade reside no simples reconhecimento de que cometo erros. No debate científico, às vezes, esse reconhecimento é reduzido ao clichê ‘aprender com os próprios erros’. A técnica musical mostra que a questão não

é tão simples. Devo dispor-me a cometer erros, tocar notas erradas, para eventualmente acertar. (SENNETT, 2008, p.180).

A prática de tocar um instrumento musical possui uma relação interessante com o erro. Pela minha experiência como guitarrista, mas também através dos relatos de Sennett (2008), entendo que essa relação é de muita importância para o avanço de qualquer técnica artesanal, inclusive a da construção dos sintetizadores. Na música, é importante praticar à exaustão para evitar que erros sejam cometidos em alguma apresentação. Entretanto, também é fundamental compreender que erros ocorrem e que é necessário seguir em frente com a execução. Como coloca Sennett (2008, p. 281), “diminuir o medo de cometer erros é de vital importância em nossa arte, pois o músico no palco não pode interromper-se, paralisado, se cometer um erro”.

O autor nos fala também da necessidade de observar o erro para aprender a superá-lo: “para corrigir, temos de aceitar – mais que isto, desejar – permanecer um pouco mais de tempo no erro para entender plenamente o que havia de errado na preparação inicial”. (SENNETT, 2008, p. 182). Quando se pratica assim, tendo um objetivo claro e visando a melhoria de uma técnica, a repetição deixa de provocar o tédio para promover um estado de alerta. Essa observação do erro está relacionada à ligação entre a solução e detecção de problemas, que Sennett (2008) coloca ao abordar o Linux. Analisando os seus erros e melhorando a preparação a partir dessa análise, um instrumentista, ou um artífice de qualquer área, pode aperfeiçoar sua capacitação.

Compreendo que, para construir um sintetizador com um bom funcionamento, é necessário construir primeiro vários defeituosos. Trata-se de uma atividade de alto nível de sofisticação que requer muita precisão técnica, que só é atingida após muita repetição. Ao observar os erros visando a melhoria, o construtor de sintetizadores, pode também compartilhar as suas experiências com os colegas artesãos presentes nos diversos fóruns online, para que todos juntos possam analisar essas situações e propor alternativas visando o aperfeiçoamento.

Outra questão envolvendo o erro na construção artesanal de sintetizadores foi despertada a partir de uma fala do construtor Peter Edwards no documentário acerca da Bastl Instruments. Falando sobre a sua parceria com essa empresa na construção de alguns equipamentos, Edwards afirma que um dos benefícios de trabalhar em parceria com eles é a liberdade para cometer erros. Ele coloca essa questão comparando com o trabalho que ele realizava anteriormente, comandando sozinho a Casper Electronics, quando, segundo ele dá a entender, cometer erros muito graves poderia lhe causar prejuízos irrecuperáveis.

Independente da capacidade financeira da empresa ou do construtor artesanal, entendo que essa disposição para cometer erros está ligada também a uma abertura na própria maneira de trabalhar. Grupos como a Bastl, que, como colocado anteriormente, abre espaços lisos na sua produção, possuem uma relação com o erro mais próxima àquela do artífice, se comparados com grandes empresas industriais, como a Moog, por exemplo. Fabricantes artesanais em geral também possuem essa capacidade de trabalhar com erros e mesmo compartilhá-los com os outros artesãos conectados à web para que todos possam aperfeiçoar os equipamentos e a técnica dos construtores envolvidos.

Isso se deve ao fato de que os artesãos, tanto aqueles que constroem para eles mesmos tocarem, quanto os que visam comercializar seus produtos, não estão ligados a uma visão capitalística de mercado que preza por trabalhar com produtos considerados vendáveis, ou rentáveis, primando pelo capital social em detrimento do financeiro. Além disso, essas empresas pequenas e construtores individuais estão livres da hierarquia presente nas grandes companhias, que faz com que os funcionários obedeçam aos dirigentes, que por sua vez obedecem aos acionistas e investidores da empresa.

Um exemplo que, a meu ver, ilustra essa questão é o do sintetizador modular Jolymod, construído por Arthur Joly, da marca Reco-Synth. Trabalhando como produtor musical, Joly, apesar de comercializar módulos e sintetizadores por anos, não tira seu sustento da construção dos mesmos, e construiu o sintetizador citado, que ocupa uma parede inteira e foi montado de uma forma que, segundo o seu criador coloca em entrevista66 para o canal do YouTube Trip TV67, o mesmo não poderia passar pela porta do estúdio em que está instalado, caso precisasse ser movido de lá. Compreendo que tal equipamento foi construído unicamente para o uso pessoal do seu criador, entretanto, trata-se de um exemplo de trabalho de um artífice muito capaz e que certamente não tem receio de ousar, de procurar superar os seus limites, buscando o aperfeiçoamento da arte, mesmo que isso venha a ter um alto custo e pouco ou nenhum retorno financeiro.

Em O Artífice, Richard Sennett (2008), ao abordar a capacitação dos artesãos e as maneiras como repassam ou não seus conhecimentos, debate algumas questões sobre o que ele chama de “especialista sociável ou o antissocial”. (SENNETT, 2008, p. 274). O antissocial está

66 Entrevista disponível em vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=DaQ5pQ0JHLk. Acesso em: 1 de março de 2018.

67 Confira a página do canal em: https://www.youtube.com/channel/UCKMHx6oql3OUKzG20D2YM9Q. Acesso em: 1 de março de 2018.

fechado às maneiras como aprendeu suas técnicas, não estando aberto para aprender com a prática, nem a ensinar. Um exemplo dado pelo autor é o do médico recém-formado, que tem todas as instruções da faculdade gravadas na cabeça, buscando sintomas e patologias, mas é incapaz de perceber às pessoas como um todo, por não ter experiência nem abertura para o contato com as pessoas.

Uma característica fundamental do especialista, ou artífice, sociável é a sua abertura para o contato com as pessoas. Visando o aperfeiçoamento, o mesmo mantém, em seu ofício, diversas conexões: com os mestres da profissão, com seus colegas, com os clientes. Na obra aqui discutida, Richard Sennett (2008) aborda, em alguns momentos, as dificuldades que os artífices encontram na atualidade. Em um desses momentos o autor traz a seguinte pergunta: “como pode um especialista agir de maneira sociável se carece de uma forte comunidade profissional, de uma guilda muito presente?”. (SENNETT, 2008, p. 275). Na pesquisa para essa dissertação, encontrei, na prática dos construtores de sintetizador algumas situações que remetem a essas questões.

Compreendo que através do artesanato, os fabricantes desses instrumentos vão de encontro ao contexto atual, no qual, de acordo com Sennett (2008), tal perícia vem sendo desestimulada, tanto nas escolas quanto nos postos de trabalho. Pelo que pude observar acerca dos artesãos e das suas discussões e bases de informação na internet, há um interesse em realizar um trabalho bem feito, ou seja, construir sintetizadores que possuam um bom funcionamento, qualidade sonora e distinção. Em vídeo do canal KetelOneBrasil68 no YouTube, Arthur Joly coloca que busca a singularidade, procura construir sintetizadores únicos, tanto visualmente quanto no que diz respeito ao som que eles produzem. Já na entrevista ao canal Trip TV ele conversa sobre como enxerga os sintetizadores que constrói mais como obra de arte do que como instrumento musical.

Outra característica desses construtores que remete ao artesanato aberto, ou “sociável”, como coloca Sennett (2008), tem a ver com a sua conectividade, como já discutimos a partir da ideia de “associabilidade”. (TAKEUTI, 2016). Na web, os artesãos se comunicam com os seus colegas, compartilhando projetos e recebendo ou dando sugestões na construção dos equipamentos. Muitos construtores estão abertos também quanto a instrumentistas e possíveis

68 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6FxGErdwNFc. Acesso em: primeiro de março de 2018. Confira a página do canal em: https://www.youtube.com/channel/UCATBMNRwC7DJpn4Pm06xdtw. Acesso em: 1 de março de 2018.

compradores, como ocorre através das listas de desejos presentes em fóruns como o Muff Wiggler.

Mesmo os pioneiros norte-americanos do sintetizador, Robert Moog e Don Buchla, ao construírem seus primeiros instrumentos, trabalharam em diálogo com músicos e compositores, o primeiro, através do parceiro Hebert Deutsch, enquanto o segundo mantinha contato com o grupo San Francisco Tape Music Center. Compreendo que esse modo de desenvolver os produtos em contato com músicos, mas também a forma dos construtores conectados à web, em contato com colegas e clientes, vai de encontro à operação de grandes empresas, que seguem uma visão mercadológica ditada pela mesa diretora e seus acionistas, buscando construir produtos a partir de demandas como, por exemplo, as tendências da música pop.

Contrariamente à lógica capitalista de produção, vejo que prepondera, nos sintetizadores, a busca de uma realização estética intimamente ligada ao valor técnico e funcional dos equipamentos. Trabalho com a hipótese de que se trata da maior preocupação entre os construtores desses equipamentos, assim como uma das grandes motivações que os levam a realizar essa atividade manual. Para refletir sobre a conexão entre a estética e a técnica nos sintetizadores, trago uma noção esboçada por Gilbert Simondon (1998), que visa, justamente unir os dois conceitos.

No ano de 1998 foi publicada uma carta enviada por Simondon (1998) ao filósofo Jacques Derrida, com o título “Sobre a tecnoestética: Carta a Jacques Derrida. O texto, que, no início, aborda a criação de um colégio internacional de filosofia, traz, como proposta, o esboço de um conceito de “tecnoestética”, que consistiria no cruzamento das categorias técnica e estética, entretanto, refletidas em sensações presentes na experiência humana.

O autor traz como exemplo inicial de cruzamentos teco estéticos algumas obras arquitetônicas que, em suas características, mesclam as duas funções. A torre Eiffel, em Paris, é citada, por, além de possuir a função estética enquanto torre e belvedere, é, segundo Simondon (1998), a torre de telecomunicações mais eficiente do país. Outro exemplo é o viaduto Garabit, construído em uma área de floresta e que, de acordo com o autor, “atravessa a natureza e é atravessado por ela”. (SIMONDON, 1998, p. 255). Uma obra de difícil execução, de muita utilidade, enquanto viaduto, e de beleza arquitetônica singular, segundo o pensador francês:

Trata-se propriamente de uma obra tecnoestética, perfeitamente funcional, inteiramente bem-sucedida e bela, simultaneamente técnica e estética, estética

porque técnica, técnica porque estética. Há fusão Inter categórica. (SIMONDON, 1998, p. 255).

Compreendo que, já nesse primeiro sentido, os sintetizadores possuem uma carga tecnoestética, ao unirem funcionamento e valor estético. É notável que muitas marcas, tais como a Bastl e a Recosynth, prezam por um projeto gráfico arrojado, ou mesmo bem-humorado, no caso da primeira, em seus produtos. Mesmo marcas que se utilizam de visuais mais sóbrios,

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