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O BRASIL E A REGIÃO CONCENTRADA

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 45-48)

A análise do Brasil, desenvolvida por Santos & Silveira (2001), também é resultado de escolhas teóricas e metodológicas, ou seja, resultam de definições escalares, espaciais e temporais, que dão forma e conteúdo às interpretações geográficas. Compreender as formas naturais e sociais, passadas e presentes, reconstituindo o processo de formação e os contextos ou as funções que atualizam significados ou dão historicidade às formas é a contribuição desta proposta de regionalização e da Geografia para entender o Brasil.

A Geografia do Brasil, apresentada por estes autores, está fundamentada numa atualização, principalmente de conceitos da Geografia e das Ciências Sociais e ou Naturais. Fazemos referência, especialmente, aos conceitos-base da Geografia, espaço geográfico e território usado.

O espaço geográfico é agora compreendido enquanto “[...] um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistema de ações.” (SANTOS, 1979, p. 50). Duas palavras são essenciais nesta definição – sistema e indissociável. Não interessa, para a Geografia, os objetos

isolados, mas sim, a articulação ou a associação entre eles. Os objetos são naturais e sociais, as ações são históricas, resultam de objetivos ou necessidades sociais ou criadas, dão sentido aos objetos, representam trabalho vivo, produzem a unidade trabalho vivo e trabalho morto.

O território contém objetos e ações, não o território em si, mas o território usado, “sinônimo de espaço geográfico.” (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p. 20). O uso do território é a materialidade ou a manifestação concreta da ação humana e da dinâmica da natureza, que acontece em espaços e tempos sócio-históricos e naturais. Daí, a necessidade de periodizar, apropriar-se do processo de formação e de escalas geográficas definidoras das realidades, que são objetos de interpretação.

A análise do Brasil, com base no território usado, assume então uma periodização. Identifica numa primeira fase um meio natural, um tempo em que “[...] a natureza comandava, direta ou indiretamente, as ações humanas [...] a natureza triunfa e o homem se adapta.” (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p. 29). Numa segunda fase, marcada por sucessivas implantações de objetos ou meios técnicos, produzindo diferenciações socioespaciais, e ou sobrepondo divisões sociais e territoriais do trabalho. E ainda, uma terceira fase em que o meio, ainda mais denso, com a presença da ciência, da técnica e da informação, evidencia um tempo no qual as divisões ou as diferenças regionais assumem, com prioridade, um conteúdo social, em detrimento das variáveis naturais.

Ao identificar o Brasil do Nordeste, do Centro-Oeste, da Amazônia e de uma Região Concentrada, integrando o Sudeste e o Sul, os autores estão sintonizados com as periodizações territoriais e com a ideia de um território em movimento, usado. Reforçam essa ideia ao afirmar que:

[...] Neste ponto da história do território brasileiro, parece lícito propor, a partir das premissas levantadas aqui, uma discussão em torno da possibilidade de propormos uma divisão regional baseada, simultaneamente, numa atualidade marcada pela difusão diferencial do meio técnico- científico-informacional e nas heranças do passado. [...]. (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p.268).

A atualidade socioespacial inclui o meio técnico-científico- informacional, como a versão mais presente de espaço geográfico ou território usado. Este é um conceito definidor das desigualdades regionais ou das divisões territoriais do trabalho, acumuladas no processo de formação socioespacial. As formas e a funções acumuladas de um período natural ou técnico são as formas ou funções também atuais, acrescidas de mais densidade desses meios criados. São as formas e as funções sempre atuais o objeto primeiro da análise geográfica.

Se foi coerente num determinado contexto assumir as regiões naturais como critério de regionalização (1941), ou que em regionalização posterior fossem incluídas variáveis socioeconômicas para atender às definições regionais de macro-regiões ou de micro- regiões homogêneas (1968), ou ainda, a inclusão de elementos sócio- históricos na definição das regiões geoeconômicas (1966), será também coerente que para compreender a atualidade das diferenças regionais sejam consideradas as novas qualidades e ou quantidades do território. Assim,

[...] encontraremos no território maior ou menor presença de próteses, maior ou menor disponibilidade de informações, maior ou menor uso de tais informações, maior ou menor densidade de leis, normas e regras regulando a vida coletiva e, também, maior ou menor interação intersubjetiva. [...]. (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p. 261).

A divisão territorial do trabalho ou as diferenças sociais e regionais serão, desse modo, sinalizadas pelas zonas de fluidez e viscosidade do território, ou seja, pelas necessidades e condições de circulação dos homens, dos produtos, das mercadorias, do dinheiro, das informações e das ordens. A existência ou não de infra-estruturas de transportes e comunicações, os “sistemas de engenharias”, e o uso socialmente diferenciado desses recursos, também expressado por meio de outras adjetivações, tais como espaços da rapidez e da lentidão, espaços luminosos e espaços opacos, identificando maiores ou menores densidades técnicas e de informações, serão agora as formas de expressão socioespaciais.

Muito mais do que em períodos anteriores, o espaço geográfico atual é produto e também produtor das relações socioespaciais.

Ampliam-se as relações internas e externas e os lugares tornam-se espaços localizados da globalização. “Pode-se, de um modo geral, dizer que nas condições históricas atuais o meio técnico-científico- informacional, seja como área contínua, mancha ou ponto, constitui esse espaço da racionalidade e da globalização.” (SANTOS & SILVEIRA, 2001, p. 306). O local e ou o regional é também o global.

É no contexto dessa nova racionalidade socioespacial que a definição de Região Concentrada ganha significado. O fato de as partes Sudeste e Sul do Brasil constituírem-se na área de maior presença de ciência, tecnologia e informação também consolida uma posição de centro em relação às demais regiões do país, ao mesmo tempo em que as constituem, enquanto periferia, se assim considerarmos os pontos ou lugares de comando do mundo globalizado.

As demais regiões: o Nordeste, enquanto área mais antiga; o Centro-Oeste enquanto área periférica de ocupação recente; e a Amazônia, como área de fronteira, fazem parte da atualidade territorial brasileira. A hegemonia socioespacial, porém, está localizada na Região Concentrada.

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 45-48)