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RECORTAR O BRASIL PARA ESTUDAR O BRASIL

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 42-45)

O entendimento de que a escala geográfica é uma questão teórica e metodológica, indica a complexidade que representa responder à pergunta: qual recorte espacial é representativo da realidade ou das relações socioespaciais? A Geografia do Brasil, desenvolvida ao longo do século XX, oportunizou a realização de importantes estudos na perspectiva de produzir definições sobre as regiões ou regionalizações do território brasileiro4.

Essas regionalizações objetivavam atender à necessidade e ou à finalidade de construir uma divisão regional que, além de atender aos fins didáticos, possibilitassem também atender o que se denominou de fins práticos, ou seja, a organização das estatísticas e das ações administrativas do Estado. Nesse sentido cabe destacar a divisão regional do Brasil oficializada em 1941, conforme sistematização coordenada pelo geógrafo Fabio Macedo Soares Guimarães.

Conforme Geiger (1969), esta primeira divisão regional partiu de quatro premissas básicas: 1) a necessidade de estudos regionais, considerando a existência de diferenciações regionais; 2) a de que a divisão regional deveria ser estável e permanente para permitir comparações estatísticas; 3) a de que o melhor critério de divisão seria o das regiões naturais; 4) a de que a divisão do todo – Brasil – de unidades maiores, em grandes regiões, em regiões ou sub-regiões – as unidades intermediárias, e as zonas fisiográficas, como as unidades menores.

Assim, a opção assumida para ser a base da divisão regional foi a região natural, mesmo que por esse critério não houvesse uniformidade com a divisão administrativa dos estados e municípios. Para a Geografia, enquanto ciência, as regiões “naturais” seriam definidas com base em dois princípios geográficos: o princípio da extensão, que responde às perguntas onde e até onde, ou seja, refere-se à distribuição dos fenômenos na superfície terrestre; e o princípio da conexão, que estabelece as inter-relações entre os fenômenos que ocorrem num mesmo local. Daí o entendimento de que:

4 Ainda no século XIX, os estudos de regionalização de André Rebouças e Eliseé Reclus. Já no século XX, as regionalizações propostas por Said-Ali (1905); Delgado de Carvalho (1913); Pierre Denis (1927); Betin Paes Leme (1937); Moacir Silva (1939); além de regionalizações propostas pelo próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ver mais em Guimarães (1941) e em Magnago (1995).

[...] Uma região natural só pode, pois, ser determinada, após a análise da distribuição dos fatos geográficos e das influências recíprocas que esses fatos exercem entre si numa dada extensão. Ela é definida assim, por um conjunto de caracteres (nunca por um único isoladamente) correlacionados entre si, pois tal correlação é que confere a cada região natural a sua unidade característica. [...]. (GUIMARÃES, 1941, p. 18).

O critério científico, no entanto, foi apenas considerado como base para a divisão regional do Brasil. Conforme Bernardes (1966, p. I- 4), “o postulado fundamental para que uma divisão regional como esta possa ter aplicação prática, consiste na adaptabilidade dos limites das unidades regionais aos limites das divisões administrativas.”

Na elaboração desta primeira divisão regional, considerando os fins estatísticos, administrativos e didáticos, foram definidas cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste, além de 30 regiões intermediárias, 79 sub-regiões e mais 228 Zonas Fisiográficas.

O desenvolvimento da produção, circulação e consumo estabelece novas necessidades de organização e de relações espaciais. Daí que as divisões regionais existentes não mais atendem às necessidades para as quais foram elaboradas. Uma nova divisão regional precisaria estar baseada também em critérios geo-econômicos. Conceitos como os de espaços hegemônicos e espaços polarizados, fixos e fluxos passam a fazer parte dessas reflexões sobre as definições regionais. Constrói-se o entendimento sobre a necessidade de elaborar regionalizações para responder ao novo estágio de desenvolvimento.

Em 1968 é publicada a Divisão do Brasil em Micro-Regiões Homogêneas. São definidas 361 unidades, as quais passaram a ser a base para a tabulação dos dados estatísticos, em substituição às antigas Zonas Fisiográficas. E, em 1972, ocorre a publicação da Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas, cuja finalidade é organizar a funcionalidade das ações administrativas a partir de uma hierarquia da rede urbana. Em 1990 é acrescentado a essas definições regionais, a Divisão do Brasil em Mesorregiões, com uma elaboração combinada às micro-regiões homogêneas. Esta escala das mesorregiões também objetiva atender à organização das informações e às ações de planejamento e intervenção do Estado no processo de desenvolvimento. É oportuno observar que todas essas regionalizações são ainda oficialmente utilizadas para os fins a que foram elaboradas.

Em 1966, por meio do Atlas Nacional do Brasil (IBGE/Conselho Nacional de Geografia), Geiger publica estudo sobre a organização regional da economia. Divide o Brasil em três regiões geoeconômicas: Centro-Sul, Nordeste e Amazônia, e ainda, identifica 15 regiões ou sub- regiões.

O texto e o mapa publicados apresentam uma visão panorâmica do Brasil, sem a preocupação com a coincidência de limites desses espaços e as fronteiras administrativas dos estados e ou das regiões oficialmente publicadas. A proposta de regionalização é elaborada a partir da interpretação sobre o processo de formação das regiões, dos condicionantes naturais e humanos, em especial, os movimentos demográficos e econômicos. Conforme Geiger (1966, p. 20),

[...] Esta organização resulta da evolução econômica e social que o país atravessa nos tempos atuais, e de diferenciações regionais estabelecidas ao longo da nossa história. [...] A separação entre Amazônia, Nordeste e Centro-Sul segue também antigas linhas de clivagem, marcadas pela diversidade de ocupação do território brasileiro ao longo da história. [...].

Um detalhamento sobre a regionalização proposta é oportuno para evidenciar ainda mais o significado deste trabalho com o fim de interpretar o Brasil geográfico. Temos então:

Região Centro-Sul: identificada nas suas porções Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Nestas, as regiões mais específicas ou as sub-regiões são:

Sudeste

a) Região industrial e urbana;

b) Região desenvolvida de economia agrária – Sudeste Ocidental;

c) Região de economia agrária tradicional – Sudeste Oriental; d) Região de mineração e metalurgia.

Sul

a) Região diversificada de produção de alimentos – Planalto Meridional;

Centro-Oeste

a) Região de pecuária mercantil tropical – Centro-Oeste e Norte de Minas.

Região Nordeste: identificada nas partes do Nordeste Oriental e da Região de Economia Agro-extrativa (Meio Norte). Daí também as regiões mais especificas:

Nordeste Oriental

a) Região de economia de monocultura de produtos tropicais; b) Região de policultura comercial e invernadas – Região de faixa

de transição. Nordeste – Meio Norte

a) Região de economia agro-extrativa.

Região da Amazônia: identificada nas seguintes regiões: a) Região de economia primária diversificada;

b) Região de economia agro-pastoril; c) Região de economia extrativa;

d) Região de economia pecuária primitiva.

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 42-45)