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A transversalidade da questão ambiental

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 64-68)

1.4 OS TEMAS GEOGRÁFICOS PARA ESTUDAR O BRASIL

1.4.7 A transversalidade da questão ambiental

Apreender, abstrair e interpretar a realidade é a finalidade do saber científico. Mas, a realidade é complexa e assim precisa ser entendida pelas diversas áreas do conhecimento, na medida em que essas áreas reproduzem as suas especificidades, os seus objetos de estudo. Daí que a atualidade inclui a necessidade de efetivar práticas multidisciplinares ou interdisciplinares. Mas é necessário compreender o significado dessas interações disciplinares. Conforme Santos (1978, p.104),

[...] Quando se fala em multidisciplinaridade se está dizendo que o estudo de um fenômeno supõe uma colaboração multilateral de diversas disciplinas, mas isso não é por si mesmo uma garantia de integração entre elas, o que somente seria atingível através da interdisciplinaridade, isto é, por meio de uma imbricação entre disciplinas diversas ao redor de um mesmo objeto de estudo. [...]

Esse é o caso das questões ambientais, as quais não constituem objeto específico da Geografia, assim como não são os das outras áreas científicas. Suertegaray (2004, p. 192), expressa esse entendimento afirmando que o ambiental “[...] é uma problemática transversal e nenhuma ciência teria plena capacidade de desvendar esta questão isoladamente [...].” É essa incompletude das interpretações disciplinares sobre o tema ambiental que faz a necessidade da contribuição transversal e multidisciplinar para a compreensão desse enfoque de análise da realidade.

Com esse sentido, as questões ambientais adentram o saber geográfico, reivindicam interpretações da Geografia, porque são partes da complexidade da sociedade e da natureza, estão presentes no espaço geográfico. Para a Geografia, o ambiental é parte do espaço geográfico, dos objetos e das ações naturais e sociais. A análise geográfica inclui essas dimensões e os temas da Geografia do Brasil terão essas transversalidades.

O meio é o lugar, pode ser a região, o território, as paisagens, ou o espaço geográfico. O ambiente é formado pelas condições naturais e pelas condições humanas ou sociais de um lugar. O meio ambiente pode ser, então, o meio ou o espaço geográfico. É essa a dimensão conceitual do olhar geográfico para a denominada questão ambiental.

Assim, as transformações no meio geográfico, proporcionadas pela intensificação dos meios técnicos-científicos-informacionais, produzem novas condições de espaço e tempo para as relações locais, regionais, nacionais e internacionais, e para a interpretação da totalidade sociedade e natureza. Novas divisões territoriais do trabalho constituem novos parâmetros ambientais. Para Becker (1995, p. 293), nesse novo contexto social e tecnológico,

[...] configura-se a questão tecno(eco)lógica, envolvendo conflito de valores quanto à natureza. O ar, a água, as florestas têm valor de existência como estoque de vida e condições de bem-estar. Simultaneamente, as novas tecnologias alteram a noção de valor até então associada a bens obtidos através do trabalho e a natureza passa a ser vista como capital de realização futura. A apropriação de territórios e ambientes como reserva de valor, isto é, sem uso produtivo imediato, é uma forma de controlar o capital natural para o futuro, sobretudo o controle da biodiversidade, na medida em que é a fonte de conhecimento dos seres vivos, o que vale dizer, fonte de poder.

Por esse entendimento explicam-se as guerras, nas quais a disputa por territórios vem associada a reservas naturais de petróleo ou, em futuro breve, talvez a reservas de água, ou então, referidos à biodiversidade, como é o caso da Amazônia brasileira.

Os avanços das tecnologias de informações e comunicação permitiram às ciências naturais um conhecimento de toda a Terra, mas também um conhecimento das possibilidades e probabilidades de esgotamento da natureza. A crise ambiental tem o pressuposto dos limites da natureza e também da humanidade. A concepção do desenvolvimento sustentável, enquanto um procedimento de harmonização das relações entre o econômico e o ecológico, atende aos interesses hegemônicos da globalização capitalista. A temática do desenvolvimento precisa ser compreendida no seu conteúdo político, o que inclui o ambiental como um produto das relações de sujeitos sociais e históricos que socializam a natureza e produzem o espaço geográfico. Assim, os estudos da Geografia serão ambientais ou socioambientais, que é o mesmo que dizer socioespaciais.

2 O ENSINO DE GEOGRAFIA DO BRASIL, UM CAMINHO PERCORRIDO

Inventor, fundador ou precursor, a acção do grande homem é suposta olhar para o futuro. Anuncia, precede, inaugura. Mas uma conversão do olhar mostraria que o fundador também é o herdeiro, visto que utiliza, desvia e reutiliza uma multidão de idéias e de materiais já disponíveis na sua época. (PIERRE LÉVY, 1996).

O desenvolvimento da Geografia Escolar no Brasil, durante o século XX, e neste inicio do século XXI, tem o livro didático como recurso essencial. O uso do livro didático, na condição de manual, é parte da nossa realidade educacional e, por isso, esses materiais constituem a referência mais evidente para o resgate e a análise desta prática de ensino.

Outra referência importante é a própria trajetória da organização do sistema de ensino. A Reforma do Ensino, promovida pela Lei n. 4.024/61, mantém o oferecimento dos cursos primário, secundários – ginásio, clássico ou científico, e colegial. O curso primário, com duração de cinco anos letivos, o ginásio com quatro anos letivos, e os demais cursos secundários com mais três anos letivos. Em 1971, com a nova lei nº 5692/71, passamos a ter o ensino de 1º grau com a duração de oito anos letivos e o de 2º grau com três anos letivos.

Na organização curricular, no que se refere à parte dos conteúdos programáticos, as mudanças acompanharam essa reestruturação. No caso da disciplina de Geografia, tivemos algumas mudanças assim situadas: uma Geografia com informações sobre o Universo e sobre a Terra, sobre a nossa Pátria – o Brasil, sobre o nosso continente – a América e sobre o Mundo representava o conteúdo proposto para o quinto ano primário. Nas primeiras e segundas séries do curso ginasial estudava-se uma Geografia Geral, com uma parte da Geografia Física e uma Geografia dos Continentes. Já para a terceira e quarta séries ficava reservado o estudo da Geografia do Brasil, primeiro uma Geografia Geral e, a seguir, uma Geografia Regional do Brasil.

Com a instituição dos níveis de 1º e 2º graus no ensino brasileiro a partir de 1971, podemos apontar uma correspondência aproximada entre as quatro séries finais do primeiro grau (quinta a oitava série) com a quinta série do curso primário e mais as quatro séries do curso ginasial

em vigor até esse momento. E, a seqüência do curso secundário, teria, então, correspondência com o nível de 2º grau. Nessa nova estrutura organizacional e curricular, o ensino da Geografia do Brasil vem antes do ensino de uma Geografia Mundial ou dos Continentes. Nas quintas e sextas séries é, então, estudado o Brasil geral e regional; nas sétimas e oitavas séries, os continentes. Para o 2º grau desenvolve-se um estudo de Geografia Geral, seguido de uma Geografia do Brasil.

Essas definições de conteúdos curriculares foram novamente alteradas a partir da definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), atendendo a uma determinação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/94). Inclusive, vamos ter aí novamente uma mudança nas denominações de 1º grau para Ensino Fundamental, agora com nove anos letivos, e de 2º grau para Ensino Médio, mantendo a duração de três anos letivos (Lei 11.274/2006). Nos itens a seguir vamos detalhar mais essa trajetória.

2.1 A GEOGRAFIA DE DELGADO DE CARVALHO A AROLDO

No documento A Geografia do Brasil na educação básica (páginas 64-68)