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CAPÍTULO 4: O TEAR OU O FIO DE ARIADNE

4.1 O campo da pesquisa e os sujeitos implicados

A pesquisa aconteceu em 2012, no Centro Educacional 08 da rede pública de ensino da região administrativa do Gama, que fica a 40 km de Brasília, Distrito Federal (DF). Está situado na região sul da cidade e oferece os anos finais do Ensino Fundamental (8º e 9º ano) e as três séries do Ensino Médio. Os alunos são moradores dos arredores da escola, mas

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também da região do Entorno Sul do DF, em municípios pertencentes ao estado de Goiás (Novo Gama, Valparaíso e Cidade Ocidental).

A escola está organizada em seis blocos, todos térreos, divididos em salas de aula, salas para o trabalho administrativo e pedagógico, cantina e banheiros; tem situação física precária, necessitando de reformas estruturais. Não possui auditório, os eventos coletivos são realizados em um pátio descoberto, possui uma sala de informática sem uso, uma biblioteca, uma sala de vídeo e uma mecanografia para atender aos alunos, em dois turnos, matutino e vespertino.

Nesse ano, a escola atendeu 1.069 alunos, sendo 779 no período matutino e 290 no vespertino. No matutino foram sete turmas na 1ª série, sete na 2ª e cinco na 3ª; no vespertino foram quatro turmas no 8º ano, cinco no 9º ano do Ensino Fundamental e três turmas na 1ª série do Ensino Médio.

A escolha desse centro educacional se deu em função da adesão da professora Cecília30 à pesquisa, que foi transferida para essa escola no final de 2011. Ela mostrou-se receptiva desde o primeiro contato que mantivemos ainda no início de 2011, o mesmo acontecendo com todos os membros da escola. Nós a escolhemos para ser nossa colaboradora porque já conhecíamos o seu trabalho, sabíamos o quanto era comprometida com a educação e como era competente como professora de língua portuguesa. Além disso, sabíamos de seu bom relacionamento com os alunos e de seu entusiasmo para abraçar propostas inovadoras, pois já havíamos trabalhado juntas.

A professora colaboradora (doravante professora) fez magistério no Ensino Médio, cursou Letras (português e literatura) no Ensino Superior e Especialização para Professores do Ensino Médio do Distrito Federal, na área de linguagens, códigos e suas tecnologias e trabalha no Ensino Médio há sete anos.

Em 2012, ela lecionou para cinco turmas da 3ª série e para uma da 1ª série do ensino médio, sendo seis aulas semanais para cada uma, assim distribuídas: quatro aulas de Língua Portuguesa e duas aulas de PD – parte diversificada do currículo -, que foram reservadas para produção de texto, no turno matutino. Cabe lembrar que a PD destina-se a atender às características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela, complementando a base nacional comum e é definida em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar.

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A fim de preservar a identidade da professora colaboradora, optamos por utilizar, na tese, um nome fictício. Em relação aos alunos, utilizamos apenas as iniciais de seus nomes.

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Nesta escola, especificamente, a PD foi destinada ao aprofundamento de cada disciplina, pois todos os professores dão horas-aulas nessa modalidade, a fim de complementar sua carga horária semanal de 30 horas em sala de aula. Não há um projeto comum a toda a escola, cada disciplina trabalha de uma maneira. Dessa forma, a PD da nossa professora, em duas turmas da 3ª série, foi destinada à pesquisa de Educação Ambiental nas Aulas de Língua Portuguesa, desenvolvido pela professora pesquisadora (doravante pesquisadora) durante todo o ano letivo, o que possibilitou uma integração perfeita com a escola, ou, em outras palavras, a implicação tão necessária em uma pesquisa como essa. Nesse sentido, assumimos as duas turmas em seus horários normais, em duas aulas semanais, com as obrigações de uma rotina escolar: realização da chamada, de avaliações, de registros de notas, entre outras.

Ressalte-se, por outro lado, que não era nossa intenção inicial trabalhar em um projeto à parte, mas na disciplina LP. No entanto, um pesquisador que adota a pesquisa-ação tem que estar aberto à delineação das estratégias de intervenção no coletivo. Não podíamos impor nenhuma condição nesse nível de organização da escola e esta tinha sido a forma que a instituição havia definido como sendo a melhor. Deveríamos esperar a mudança de atitudes, de práticas, de situações, de condições, de produtos e de discursos à medida que desenvolvêssemos a pesquisa e as incursões no cotidiano escolar.

A inserção da pesquisadora na escola deu-se em fevereiro de 2012, quando fez contato com os diretores para combinar como seria realizada a pesquisa, haja vista que o entendimento com a professora acontecera no ano anterior, quando ela ainda estava em outra escola. Nessa ocasião, entreguei-lhes uma carta de apresentação da universidade e o projeto da pesquisa a ser desenvolvida na escola. Posteriormente, também solicitamos aos participantes da pesquisa a assinatura de um termo de consentimento, firmando nossa parceria ou contratualização por escrito.

Destacamos o fato que durante o ano letivo a escola passou por três direções, a primeira foi exonerada, a segunda assumiu interinamente por dois meses e a terceira foi eleita e empossada no último bimestre, fatos que dificultaram muito o trabalho. A cada direção que iniciava tínhamos que reapresentar a proposta da pesquisa e relatar em que pé estávamos. Além da questão da gestão, ainda houve uma greve de 52 dias, iniciada em 08 de março e encerrada em 02 de maio de 2012. Só após esse período, pudemos, de fato, iniciar a pesquisa de campo. Todos esses contratempos colaboraram para o alto índice de transferência da

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escola, fazendo com que a turma A, que iniciou com 41 alunos matriculados, terminasse com 24; enquanto que a turma B, iniciada com 38 alunos, terminou com 35.

Essa situação foi tão grave que só conseguimos conversar com todos os professores do turno matutino no dia 13 de junho, quando estavam reunidos para discutir assuntos gerais da escola e obtivemos um espaço para expor nossa proposta. Antes disso, eles estavam sempre muito ocupados resolvendo questões sobre a reposição da greve, a destituição da direção e a remodulação dos horários de aula. Assim, nossos contatos, até aquele momento, tinham sido ocasionais, quando estávamos na sala dos professores. Mesmo assim, todos agiram com muita simpatia ao projeto da pesquisa.