• Nenhum resultado encontrado

Segundo a história chinesa, o chá foi descoberto, por acaso, por Shen Nong, imperador chinês que viveu há cerca de 5000 anos atrás. Conta-se que o imperador durante uma viagem pelos seus domínios parou para descansar, encostando-se debaixo de uma árvore de Camellia sinensis. Pediu aos seus servidores um pouco de água fervida para tomar. Uma folha desprendeu-se da árvore caindo na sua chávena de água ainda quente. O imperador apesar de a água ficar amarelada bebeu e gostou pelo que, a árvore da Camellia sinensis passou a ser considerada como árvore do chá (Phillips, 2007).

O termo chá, usado em Portugal, provém de um dos poucos vocábulos do cantonês, «Tchá», integrados na língua portuguesa. Este termo é associado normalmente a qualquer preparado feito com uma porção de água em ebulição, à qual se adiciona uma determinada quantidade de folhas, flores, inflorescências ou mesmo uma planta inteira, e que é deixada em infusão, por mais ou menos tempo. Rigorosamente, estas preparações deviam designar-se como tisanas sendo o termo chá reservado para as infusões das folhas da planta do chá, a Camellia sinensis, que os chineses aperfeiçoaram ao longo de milénios recorrendo a técnicas requintadas (Anónimo, 2008).

Os principais países produtores de chá são a China, a Índia, o Ceilão, a Cochinchina (região que engloba a região sul do Vietname) e as ilhas de Sunda. Na produção desta bebida, o chá ou as folhas do arbusto são secas imediatamente a seguir à colheita (chá verde) ou depois de haver uma ligeira fermentação (chá preto). O chá era desconhecido na Europa antes da segunda metade do século XVII mas o seu consumo generalizou-se rapidamente (Séguier, 2001). Actualmente o chá é uma bebida amplamente utilizada, sendo a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água (Lamarão & Fialho, 2009). A produção mundial de chá tem aumentado desde 1994 até 2007 (Tabela 1.1). Os seis maiores produtores mundiais de chá em 2007 foram: a China (1183502 toneladas), a Índia (949220 toneladas), o Quénia, o Sri Lanka, a Turquia e o Vietname. A produção de chá em Portugal é de apenas 125 toneladas, apesar de ter vindo a aumentar desde 1994, à semelhança da produção mundial (FAO, 2009a; FAO, 2009b).

Tabela 1. 1 – Produção mundial de chá (Adaptado de FAO, 2009a) Países Produção de chá (toneladas) 1994-1996 1999-2001 2005 2006 2007 África do Sul 10 784 12 421 21 780 3 328 4 200 Argentina 49 846 67 058 67 871 72 129 72 000 Azerbaijão 3 595 1 745 737 655 484 Bangladesh 50 063 51 333 57 580 58 000 58 500 Bolívia 692 830 866 872 889 Brasil 8 198 7 919 4 473 4 052 1 083 Burundi 6 499 7 681 7 500 7 500 7 700 Camarões 3 674 4 267 4 000 4 000 4 000 China 612 954 707 400 953 660 1047 345 1183 502 Colômbia 103 120 118 150

República Democrática do Congo 3 418 1 892 1 570 1 760 1 760

Equador 3 090 1 368 1 855 1 870 1 925 Etiópia 1 867 3 786 4 800 4 800 4 800 Geórgia 44 733 35 777 22 755 6 600 7 500 Guatemala 447 450 440 450 480 India 754 300 849 000 893 000 928 000 949 220 Indonésia 153 164 162 218 177 700 146 858 150 224

República Islâmica do Irão 57 352 54 240 59 180 59 180 60 000

Japão 86 567 86 167 100 000 91 800 94 100

Quénia 237 037 259 869 328 500 310 580 369 600

Coreia, República 782 1 298 1 500 1 500 1 550

República Democrática do Lao 936 272 300 300 300

Madagáscar 300 444 550 560 550 Malawi 34 708 39 233 38 000 45 009 46 000 Malásia 5 800 5 652 2 850 2 850 2 850 Mali 156 57 135 135 135 Mauritânia 3 790 1 434 1 387 1 567 1 563 Moçambique 1 549 7 032 16 000 16 256 16 256 Myanmar 15 733 19 575 25 000 26 500 27 000 Nepal 2 510 5 405 12 500 13 043 15 168 Panamá 155 110 234 141 145

Papua Nova Guiné 6 104 9 500 9 000 9 000 9 000

Peru 7 356 6 567 4 236 4 820 3 597 Portugal 62 120 112 115 125 Federação Russa 6 804 1 587 1 260 1 150 630 Ruanda 6 202 15 085 16 458 16 000 19 000 Seychelles 232 238 219 189 222 Sri Lanka 248 867 294 897 317 200 310 800 305 220

República Unida da Tanzânia 24 367 24 700 30 700 30 300 31 300

Tailândia 5 100 5 533 6 000 6 000 6 000 Turquia 117 201 160 275 217 540 201 866 206 160 Uganda 14 524 28 944 37 734 34 334 35 000 Vietname 43 000 71 967 132 525 151 000 164 000 Zâmbia 483 800 800 750 750 Zimbabwe 15 086 20 977 22 200 22 000 22 300 Mundo 2 650 455 3 037 592 3 603 197 3 646 452 3 887 308

1.1.1 - Tipos de chá

O chá é comercializado em todo o mundo e é composto por folhas secas da árvore do chá (Camellia

sinensis), pequena árvore da família das Teaceas, e dos seus híbridos. As cerca de 3000 variedades

existentes em todo o mundo diferem em sabor e características em função da área geográfica de origem, das condições atmosféricas, da variedade e até mesmo da altitude a que a planta é produzida. O chá proveniente da Camellia sinensis pode ser classificado em três tipos, segundo o seu nível de fermentação ou oxidação (Lamarão & Fialho, 2009):

• chá verde, que não sofre fermentação durante o processamento e deste modo retém a cor original das folhas, sendo amplamente consumido em países da Ásia;

• chá oolong, que é parcialmente fermentado, resultando em chá verde – preto, e cuja produção e consumo são acentuados na China;

• chá preto, cujo processo de fermentação é mais prolongado do que o do chá oolong, contribuindo assim para uma coloração escurecida, além de lhe conferir um sabor característico. Este tipo de chá é mais popular na América do Norte e Europa.

Podemos ainda diferenciar (Sharangi, 2009):

 chá branco, em que os brotos e folhas de chá jovens são colhidos pouco antes dos brotos abrirem totalmente. Em seguida as folhas são secas ao vapor e com o mínimo de processamento. Por esta razão, o chá branco conserva os níveis mais elevados de antioxidantes e os níveis mais baixos de cafeína do que qualquer outro chá da planta de Camellia sinensis (verde, preto ou oolong);

 chá pu'erh, que provém de uma grande variedade de folhas da planta de chá e pode ser colhido em qualquer época do ano. O seu tratamento é semelhante ao do chá preto. O que torna este chá único é que uma vez colhido, é empilhado e armazenado durante um período de tempo que varia entre 50 a 100 anos.

O chá vermelho ou rooibos é designado como chá mas, na verdade, deveria chamar-se tisana pois não resulta da infusão de folhas da planta Camellia sinensis mas sim de Aspalathus linearis, um arbusto originário de Cedarberg na província do Cabo Ocidental na África do Sul. Não contém cafeína e possui um número elevado de antioxidantes. Verifica-se ainda que quanto maior o grau de fermentação das folhas, menor o teor de polifenóis e maior o teor de cafeína (Fukasawa et al., 2009; Chen et al., 2013; Hong et al., 2014)

No caso dos chás produzidos no Arquipélago dos Açores, a diferenciação dos chás pretos é feita pela selecção das folhas: da primeira folha do ramo a partir do rebento é extraído o Orange Pekoe, chá muito aromático e muito leve, da segunda é extraído o Pekoe, menos aromático mas de sabor mais intenso e da terceira folha é extraído o Broken Leaf, chá de aroma e sabor mais leve e pobre em teína (Anónimo, 2011). Estes tipos de chá apresentam diferenças organolépticas a nível da cor e do aroma mas podem todos ser considerados bebidas com propriedades funcionais uma vez que contêm compostos antioxidantes, nomeadamente, catequinas.

Wang e colaboradores (2008) caracterizaram algumas variedades de chá verde, chá oolong e chá preto por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para identificação e quantificação de catequinas, e por microextracção em fase sólida associada à cromatografia em fase gasosa (SPME-GC) para caracterização de compostos voláteis responsáveis pelo aroma. Estes investigadores concluíram que, nem os teores das catequinas totais nem os teores individuais das catequinas permitiram diferenciar os vários tipos de chá, pois não apresentaram diferenças significativas. No entanto observaram que o processo de fermentação altera significativamente os perfis de compostos voláteis, e portanto o aroma

dos vários chás. Verificaram que os teores de cinco compostos voláteis, nomeadamente, o trans-2-hexenal, o benzaldeído, a 5-metil-2-heptenona, o salicilato de metilo, e o indole permitem diferenciar claramente um chá fermentado de um não fermentado, enquanto o trans-2 -hexenal e o salicilato de metilo permitem diferenciar os chá fermentados entre si (Wang et al., 2008a).

1.1.2 - O consumo de chá no mundo

Actualmente o chá é uma bebida amplamente consumida, apresentando um consumo mundial per

capita de aproximadamente 120 mL/dia (Lamarão & Fialho, 2009). Do chá produzido no mundo, 78%

é chá preto, geralmente consumido nos países ocidentais, 20% é chá verde, mais consumido em países asiáticos, e 2% é chá Oolong que é produzido (por fermentação parcial), principalmente no sul da China (Khan et al, 2007; Lima et al., 2009).

Os valores de importação e exportação de chá dos diversos países do mundo referenciados pela FAO (184 países) têm vindo a aumentar nas últimas décadas. O maior importador de chá é a Federação Russa, seguido da Grã-Bretanha, Estados Unidos da América, Paquistão, Japão, Arábia Saudita e Alemanha. Por sua vez o maior exportador de chá é o Quénia, seguido da China, Sri Lanka, Índia, Grã-Bretanha e Alemanha. Para qualquer dos países mencionados as transações são superiores a 150 milhões de dólares dos Estados Unidos ($USD). No que se refere a Portugal as suas importações e exportações de chá cresceram significativamente. De facto as importações cresceram de 505000 $USD, em 1994 para 5641000 $USD em 2007, enquanto as exportações cresceram de 49000 $USD para 1194000 $USD no mesmo período (FAO, 2009b).