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5. OS MECANISMOS DE PREVENÇÃO DAS EMPRESAS PRIVADAS QUE ATUAM

5.2 A UTILIZAÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO AMBIENTAL PELAS EMPRESAS

5.2.1. O conceito e as características gerais do contrato de seguro

No ordenamento jurídico brasileiro, o Código Civil de 2002 (CC/02) prevê a celebração do contrato de seguro nos arts. 757 a 802, divididos em disposições gerais, seguro de dano e seguro de pessoa. De acordo com o art. 757 do CC/02, no contrato de seguro, o seguradora se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra riscos predeterminados.

Portanto, conforme definição legal do artigo retro mencionado, o contrato de seguro é um pacto que tem como partes a seguradora e o segurado. Cabendo ao segurado o pagamento do prêmio para, como contraprestação, a seguradora assumir os riscos da atividade econômica e pagar indenização em caso de danos. Logo, verifica-se que este contrato objetiva a proteção de coisa, risco ou interesse segurável, o que garante as condições socioeconômicas das partes envolvidas, principalmente do segurado268.

268 “A importância socioeconômica dos contratos de seguro nos dias atuais resulta da imensa quantidade de contratações de várias modalidades, pois estes garantem aos seus consumidores tranquilidade e segurança, uma vez que, ocorrido o sinistro coberto pelo contrato de seguro, o prejuízo do segurado será suportado pelo seguradora, pois, com o recebimento dos prêmios de seus segurados, este forma um fundo que propicia o pagamento das indenizações.” (MANUEL, Caio Oliveira et al. O Modelo Brasileiro do Contrato de Seguro Ambiental na Indústria

O contrato de seguro tem como elementos a seguradora, o segurado, o risco, o prêmio, a apólice, o sinistro e a liquidação. O primeiro elemento se refere à seguradora, o qual é uma das partes contratantes que se obriga a assumir o risco da atividade em decorrência do recebimento do prêmio, sendo fundamentalmente uma pessoa jurídica. Com isso, na conjectura de um sinistro, ele tem a obrigação de indenizar o segurado. Já o segurado é o outro contratante que transfere o risco ao seguradora através do pagamento do prêmio, o qual pode ser pessoa natural ou pessoa jurídica em nome de quem for expedida a apólice269.

O risco é o evento futuro e incerto previsto no contrato de seguro, em que não se tem certeza sobre a sua realização ou ao momento em que acontecerá, todavia, o seu acontecimento acarretará dano ao segurado, ao seu patrimônio ou a outrem que tenha que repará-lo. Em outras palavras, o risco é a incerteza em relação à perda ou a possibilidade de que um agente consciente incorra em perda, sendo algo que independe do conhecimento do agente, por pertencer à realidade exterior e sua existência inerente à própria natureza270.

Outro elemento é o prêmio, o qual é o pagamento de valor realizado pelo segurado – independente da contraprestação da seguradora –, sendo calculado em função do risco e será maior ou menor de acordo com a sua probabilidade e sua gravidade. Com a quantia dos prêmios arrecadados de todos os segurados, a seguradora forma um fundo que possibilita a sua atuação no mercado de seguros.

A apólice é o instrumento escrito do contrato de seguro, que apresenta as suas regras gerais e específicas, sendo o principal documento de prova do seguro. Segundo o art. 758 do CC/02, o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. Além disso, a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco (art. 759 do CC/02). Ainda, a apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos,

do Petróleo e Gás Natural. In: NOBRE JÚNIOR, Edílson Pereira et al (org.). Direito ambiental aplicado à

indústria do petróleo e gás natural. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2005. p. 275).

269

“As partes do contrato de seguro são o segurado e o seguradora. O primeiro é aquele que possui interesse em preservar a coisa, ou a pessoa, e para isso contrata com o segundo, aquele que irá suportar o risco, que é o acontecimento futuro e incerto, que poderá prejudicar o segurado em termos patrimoniais, o que será evitado pelo contrato de seguro mediante o pagamento do prêmio, ou seja, a importância pecuniária que assegurará o recebimento da indenização, que é a importância paga pelo seguradora ao segurado, para que seja compensado do prejuízo econômico advindo do sinistro devidamente assumido como risco pela apólice do seguro.” (Op. Cit. p. 277.) 270 Op. Cit. p. 288.

o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário, consoante o art. 760 do CC/02.

Já o sinistro é a ocorrência do dano previsto no contrato, ou seja, a efetivação do risco da atividade, gerando o cumprimento da obrigação da seguradora em realizar a indenização. Logo, cabe a seguradora investigar as causas do dano para verificar se este encontra configurado conforme as condições contratuais. No caso dos seguros de danos, é feita uma perícia do objeto danificado, sendo apresentado um laudo.

Com o sinistro, o segurado deve dar ciência do evento à seguradora para apurar os prejuízos e, posteriormente, realizar a liquidação – último elemento deste contrato – do sinistro mediante o pagamento da indenização a quem tem direito. Nesse contexto, consoante o art. 769 do CC/02, o segurado é obrigado a comunicar a seguradora, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. Assim, sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro a seguradora, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar as consequências (art. 771 do CC/02).

Ressalta-se que, em observância à classificação dos contratos, o contrato de seguro é caracterizado como: (i) bilateral – ambas as partes adquirem obrigações; (ii) sinalagmático – para que uma das partes exija seus direitos, em contrapartida, ela deve cumprir com as suas respectivas obrigações; (iii) oneroso – oferece vantagens para ambas as partes através de um sacrifício patrimonial ou um proveito almejado; (iv) consensual – é realizado com base no acordo de vontades; (v) de execução sucessiva ou continuada – possui uma certa duração; (vi) de adesão – as cláusulas contratuais são preestabelecidas pelo seguradora; e (vii) de boa-fé – agir segundo as regras de conduta, principalmente de confiança e veracidade.

Dentre os tipos de contratos de seguros, como o seguro de dano e seguro de pessoa, está se tornando mais comum o uso do seguro ambiental nas atividades econômicas, especificamente na Indústria do Petróleo. Tal fato se verifica em decorrência de ser, em tese, uma das alternativas mais eficazes de prevenção ao invés das sanções impostas, visto que permite o atendimento das obrigações reparatórias e indenizatórias por parte do agente poluidor, bem como preserva a solvabilidade da empresa.

5.2.2 O Contrato de Seguro Ambiental nas fases de exploração e produção de petróleo

O seguro ambiental concede a cobertura para as atividades de empresas que apresentam um alto índice de risco ambiental, o qual é caracterizado pela incerteza quanto à ocorrência de fatores que possam provocar consequências ao meio ambiente, constituindo ameaça de mudanças físicas ou químicas danosas. Dessa forma, o objeto do contrato de seguro ambiental é relativo aos danos ambientais decorrentes de poluição súbita, isto é, o dano é repentino e imprevisível, como ocorre nas situações de explosão, vazamento ou incêndio271.

No seguro ambiental, tem-se que a seguradora somente concede a cobertura após averiguar que o segurado adotou as medidas de prevenção para impedir a ocorrência do sinistro, ou seja, exige o cumprimento das normas ambientais por parte da empresa petrolífera, tendo em vista que o valor do prêmio é proporcional à gestão ambiental desta. Essa exigência contratual garante que tal contrato seja um instrumento efetivo de prevenção contra a poluição marinha272. Dessa forma, a celebração do seguro é um estímulo a uma postura mais responsável por parte dos agentes potencialmente causadores de danos.

Além disso, com essa atuação da seguradora, se constata a existência de um compartilhamento da atribuição fiscalizatória destas com o Estado, já que são preocupadas em garantir que os segurados cumpram com as condições contratuais e, assim, pratiquem as melhores técnicas preventivas em suas atividades. Com a celebração do contrato, a seguradora adquire o direito-dever de fiscalizar o objeto do contrato, garantindo que as operações sejam executadas em conformidade com os requisitos legais e normativos, bem como de acordo com a melhor técnica da indústria. Portanto, a seguradora tem todo o interesse e o direito de monitorar constantemente

271 Ressalta-se que o dano ambiental resultante da poluição súbita é diferente da poluição gradual, conforme a seguinte explicitação: “Danos ambientais podem ocorrer de duas maneiras: gradual ou subitamente. No primeiro caso, tem-se um processo nocivo que persiste por um tempo razoavelmente longo e cujos efeitos são, em maior ou menor escala, previsíveis. É o que tecnicamente se conhece pela designação de ‘poluição gradual’. No segundo caso, o da ‘poluição súbita’, o dano é repentino, praticamente instantâneo quando comparado com a duração da ‘poluição gradual’ e absolutamente imprevisível.” (MANUEL, Caio Oliveira et al. O Modelo Brasileiro do Contrato de Seguro Ambiental na Indústria do Petróleo e Gás Natural. In: NOBRE JÚNIOR, Edílson Pereira et al (org.). Direito

ambiental aplicado à indústria do petróleo e gás natural. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2005. p. 289.)

272 “Ora, ao se exigir do segurado a preservação do bem, objetivando a minorar o risco do sinistro com a adoção de medidas de proteção, o que se tem é uma contribuição direta e efetiva na redução dos danos ambientais. Esse papel de prevenção do qual as seguradoras não podem abrir mão é um dos mais geniais e espetaculares instrumentos contra o dano ambiental: dúplice proteção – prevenção e cobertura.” (SHIH, Frank Larrúbia. Esse estranho chamado seguro ambiental. Revista de Informação Legislativa. Brasília, v. 160, p. 131-135, out./dez, 2003. p. 133.)

os processos do segurado no intuito de verificar se a operação transcorre de acordo com as condições preestabelecidas273.

Em decorrência da sua importância para a prevenção de danos ambientais, o seguro ambiental está cada vez mais sendo utilizado na Indústria do Petróleo. No plano internacional, o contrato de seguro ambiental é vastamente utilizado pelas empresas petrolíferas na Europa e nos EUA274, conforme as particularidades de seus respectivos sistemas jurídicos, pois garante a capacidade financeira das empresas em desenvolver suas atividades de alto potencial poluidor ao oferecer a cobertura para as despesas resultantes de prejuízos causados a terceiros. Nessa esteira, o beneficiário do contrato é o próprio segurado ao evitar que sofra gastos que seriam despendidos na circunstância de pagar a indenização devida à terceiro, causando um desfalque patrimonial na empresa.

Destarte, o objeto do seguro ambiental nas fases de exploração e produção de petróleo se refere aos assuntos pecuniários decorrentes dos danos ambientais causados pelas atividades do segurado. Salienta-se, entretanto, que tal objeto se restringe à indenização a terceiros, não podendo ser empregado na cobertura da reparação dos danos, visto que retiraria do segurado a obrigação de agir de acordo com as normas ambientais e, consequentemente, a sua preocupação em aplicar medidas preventivas contra a poluição marinha por óleo.

Apesar de sua vantagem econômica, o uso do seguro ambiental encontra várias barreiras para a sua aplicabilidade na área petrolífera, inclusive no Brasil, tendo em vista a complexidade para a definição dos riscos, a fixação do prêmio e a sua posterior liquidação. Esse contexto é resultante da dimensão das atividades petrolíferas e os diversificados biomas comprometidos por esta indústria, bem como da inexistência de regras – tanto nacionais, como internacionais – que

273 MANUEL, Caio Oliveira et al. O Modelo Brasileiro do Contrato de Seguro Ambiental na Indústria do Petróleo e Gás Natural. In: NOBRE JÚNIOR, Edílson Pereira et al (org.). Direito ambiental aplicado à indústria do petróleo

e gás natural. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2005. p. 290.

274 “No plano internacional, apesar da recusa do Governo Americano em assinar o Protocolo de Quioto, causando consternação internacional, a legislação ambiental norte-americana é considerada uma das mais avançadas, merecendo destaque o Environmental Law Reporter (1971) e o National Environment Policy Act – NEPA, que descentraliza a diversos órgãos a competência para o trato de questões ambientais. Na Holanda, adota-se uma Comissão que tem ampla independência e capacitação técnica; na França, a análise de impactos ambientais é criteriosa e tecnicamente complexa (EIA); no Canadá, a ação estatal é descentralizada em diversas agências, mas suas atividades são revisionadas pela Federal Environment Assesment and Review Office – FEARO. Em regra, as nações civilizadas dispõem de legislação e estrutura administrativa para a coalização da eficiência na prevenção e reparação de danos ambientais.” (SHIH, Frank Larrúbia. Esse estranho chamado seguro ambiental. Revista de

estipulem um modelo de seguro ambiental próprio para a exploração e produção de petróleo

offshore.

Diante da atual conjuntura em torno do seguro ambiental, tem-se que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, por ser um estudo amplo sobre a atividade a ser desenvolvida no local e seus respectivos impactos ambientais, se tornaria uma ferramenta importante para a análise dos riscos necessários para a celebração do contrato de seguro. Sendo assim, a questão de se estabelecer os riscos ambientais estaria finalizada, uma vez que “ao utilizar-se do EIA/RIMA como paradigma na fixação dos riscos, a seguradora teria elementos suficientes para desenvolver normalmente suas atividades”275

.

Com a constituição dos riscos ambientais, se facilitaria, consequentemente, a fixação do prêmio, o qual é determinado a partir da probabilidade de tais riscos276. Todavia, verifica-se a problemática em relação ao valor exato da cobertura a ser concedida pela apólice, pois os danos ambientais decorrentes das atividades petrolíferas são irreversíveis e de grande escala, o que enseja o pagamento de indenizações em grandes quantias. Nesse caso, seria imprescindível que a legislação brasileira regulamentasse o teto máximo, com base nos valores das multas e condenações previstas na Lei nº 9.605/1998.

A partir de todas essas considerações, tem-se a conclusão de que o âmbito das relações contratuais nas fases de exploração e produção de petróleo também se encontra importantes mecanismos para a efetiva prevenção contra a poluição marinha por óleo. Isso porque a inserção da responsabilidade nos contratos representa a atuação direta das empresas privadas na proteção ambiental durante suas atividades, principalmente ao estimular o comportamento destas em conformidade com as normas ambientais, tanto internas como estrangeiras.

275 MANUEL, Caio Oliveira et al. O Modelo Brasileiro do Contrato de Seguro Ambiental na Indústria do Petróleo e Gás Natural. In: NOBRE JÚNIOR, Edílson Pereira et al (org.). Direito ambiental aplicado à indústria do petróleo

e gás natural. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2005. p. 300.

276 “Dentro de um contrato de seguro, objetiva-se, também, o máximo de equilíbrio entre o prêmio pago e a cobertura oferecida. Para tanto, situações como a margem lucrativa da seguradora e o impacto sobre as suas finanças no momento da ocorrência do sinistro são exemplos de elementos condicionantes para fixação do prêmio, os quais serão objetivamente traçados na atividade petrolífera, desde que sejam observadas as particularidades da indústria e do local a serem instaladas as atividades seguradas.” (Ibidem.)

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto maior o risco ambiental de uma atividade econômica, proporcionalmente igual é a necessidade de instrumentos de proteção para impedir ou minimizar os danos ambientais, como é o caso da exploração e produção de petróleo offshore. No Brasil, iniciaram-se a atividades exploratórias nas reservas de petróleo na camada pré-sal, a qual possui enorme potencial de reservatórios e boas perspectivas de recuperação. Com esse contexto, se tornou constante a cautela de instituir e efetivar mecanismos existentes para a diminuição da degradação ambiental decorrentes do mercado petrolífero.

Nesse sentido, o ordenamento jurídico brasileiro prevê certas medidas preventivas específicas contra incidentes resultantes da poluição marinha por óleo, como a Lei nº 9.966/2000 e o Decreto nº 4.136/2002, nas quais, respectivamente, estabeleceu normas de prevenção, de controle e de fiscalização no que concerne ao derramamento de óleo em águas sob jurisdição nacional, além das sanções aplicáveis quando tais regras são descumpridas pelos agentes envolvidos. Outras normas imprescindíveis são as Resoluções CONAMA nº 23/1994, nº 398/2008, nº 472/2015, bem como a Resolução ANP nº 44/2009.

No ano de 2013, houve a promulgação do Decreto nº 8.127/2013 que criou o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional, representando um dos maiores avanços pelo Estado brasileiro na prevenção contra acidentes por derramamento de óleo. Tal decreto fixa responsabilidades, estabelece sua estrutura organizacional e define diretrizes, procedimentos e ações, com o objetivo de permitir a atuação coordenada de órgãos da administração pública e entidades públicas e privada para ampliar a capacidade de resposta em incidentes de poluição por óleo.

Mesmo diante desse marco regulatório, se tem a ausência da efetiva proteção do meio ambiente e o desenvolvimento das atividades exploratórias de forma sustentável, uma vez que faltam estratégias de prevenção e de gestão para dar efetividade às normas internas existentes no sentido de retirar as suas deficiências atuais. Como se depreende para ampliar o seu marco regulatório e preencher as lacunas legislativas, é essencial a aplicação de normas de tratados internacionais relativos Direito Internacional do Mar que foram ratificados pelo Brasil, principalmente aqueles que tratam sobre proteção do ambiente marinho durante a exploração e produção de petróleo offshore.

Com fundamento no princípio da primazia do direito internacional, este tem superioridade sobre o direito interno, tendo em vista que o artigo 27 da Convenção de Viena de 1969 determina que uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Para que se tenha a aplicabilidade deste princípio de superioridade das normas internacionais, estas dependem que a Constituição do Estado Parte determine o seu posicionamento na hierarquia de normas jurídicas internas. Com a incorporação dos tratados internacionais, tem-se a sujeição dos Estados as suas normas sem afetar a sua autodeterminação e soberania perante outros Estados. Nesse sentido, no âmbito nacional de cada Estado soberano, deve-se haver a coexistência das ordens jurídicas (interna e internacional), com a finalidade de se ter a efetividade quanto à proteção do meio ambiente marinho.

Com base no princípio da superioridade do Direito Internacional, configura-se a obrigatoriedade do Estado brasileiro na aplicação dos tratados internacionais ratificados sobre a proteção do meio marinho contra a poluição marinha por óleo, sendo necessários mecanismos práticos que implementem de forma efetiva as normas internacionais no seu território.

Em primeiro lugar, o primeiro tratado internacional ratificado é a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982, na qual a sua Parte XII regulamenta sobre a proteção e preservação do meio marinho, ao estabelecer que os Estados tenham a obrigação de proteger e preservar tal meio. Outro ponto importante foi o direito de soberania para aproveitar os seus recursos naturais de acordo com a sua política em matéria de meio ambiente e de conformidade com o seu dever de proteger e preservar o meio marinho.

Além disso, a Convenção de Montego Bay incentivou a cooperação entre os países ao estabelecer que: (i) os Estados devem tomar todas as medidas necessárias para garantir que as atividades sob sua jurisdição ou controle se efetuem de modo a não causar prejuízos por poluição a outros Estados e ao seu meio ambiente; (ii) notificação de danos iminentes ou reais para outros Estados que possam ser afetados; (iii) elaboração de plano de emergência contra poluição no meio marinho; (iv) assistência científica e técnica, entre outros.

Tem-se, ainda, que a Lei do Mar dispõe sobre o controle sistemático dos riscos de poluição ou os seus respectivos efeitos no meio marinho com a procura e a análise desses riscos e seus efeitos mediante métodos científicos reconhecidos, na medida do possível e tomando em consideração os direitos de outros Estados. Como também, prevê que cabe à legislação nacional dos Estados estipular leis e regulamentos para prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio

marinho, proveniente direta ou indiretamente de atividades relativas aos fundos marinhos sob sua jurisdição; bem como tomar outras medidas, práticas e procedimentos que possam ser necessárias para a prevenção e controle de poluição (tanto de caráter nacional, como de internacional).

A Convenção de Montego Bay representa as normas gerais sobre a proteção e preservação do meio marinho, sem substituir os tratados internacionais vigentes ou que vierem a ser adotados, sendo reconhecida como um tratado mais amplo que coexiste com outros atos internacionais e menos solenes firmados em complementação. Destarte, ressaltam-se os seguintes tratados internacionais ratificados pelo Brasil que têm como objetivo de se buscar medidas de