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1. A PREVISÃO CONSTITUCIONAL SOBRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS

1.2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS

1.2.4 Princípio do Poluidor Pagador

Outro importante princípio constitucional ambiental é o poluidor pagador, que foi, inicialmente, formalizado no plano internacional através da Recomendação C(72) 128, do Conselho Diretor da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)39, em 26 de maio de 1972. Esta recomendação trata de princípios orientadores relativos aos aspectos econômicos internacionais das políticas ambientais, incluindo, dentre eles, o princípio do poluidor pagador.

39 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem como objetivo ajudar os Estados a promoverem a prosperidade e combaterem a pobreza através do crescimento econômico e estabilidade financeira, bem como que a considerarem as implicações ambientais do desenvolvimento econômico e social. Assim, o trabalho da OCDE se baseia no constante monitoramento de eventos econômicos de seus países membros, principalmente no que se refere às projeções regulares da evolução econômica de curto e médio prazo. O Secretariado da OCDE recolhe e analisa dados econômicos e financeiros, os quais, posteriormente, são repassados para as comissões discutirem a questão política que envolve tais informações. Em seguida, o Conselho Diretor toma as decisões cabíveis ao caso, e então os governos implementam recomendações. Para mais informações, acessar o site: <http://www.oecd.org/>.

Segundo o ponto 2 do anexo do documento supracitado, os recursos ambientais em geral são limitados e o seu uso na produção e nas atividades de consumo podem levar a sua deterioração. Quando o custo desta deterioração não é devidamente avaliado no sistema de preço, o mercado não reflete a escassez de tais recursos, tanto a nível nacional como internacional. Nessa perspectiva, medidas públicas são necessárias para reduzir a poluição e atingir uma melhor distribuição dos recursos, garantindo que os preços das mercadorias, dependendo da qualidade e/ou quantidade dos recursos ambientais, reflitam mais de perto sua escassez relativa e que os agentes econômicos em causa reajam em conformidade40.

A partir desse contexto econômico e ambiental, no ponto 4 do seu anexo, a Recomendação C(72) 128 estabeleceu que o princípio poluidor pagador é aquele em que o poluidor deve suportar, além dos custos de prevenção da poluição de sua atividade, as despesas de aplicação das medidas de incentivo de uso racional dos recursos ambientais escassos decididas pelas autoridades públicas para garantir que o ambiente se mantenha em um estado aceitável. Ou seja, o custo dessas medidas deve se refletir no custo de bens e serviços que causam a poluição na produção e/ou consumo. Tais medidas não devem ser acompanhadas de subsídios que criariam distorções significativas no comércio internacional e investimento41.

Diante dessa conceituação fixada em documento internacional, conclui-se que o princípio poluidor pagador tem como objetivo tornar o poluidor como primeiro pagador dos danos resultantes do seu produto, de modo que o obriga a desembolsar no preço final deste em decorrência dos custos ambientais. Dessa forma, deve-se pagar quem se beneficia com a poluição, conforme os benefícios recebidos e os danos ambientais gerados. Assim, tem como finalidade

40 Tradução livre do texto: “2. Environmental resources are in general limited and their use in production and consumption activities may lead to their deterioration. When the cost of this deterioration is not adequately taken into account in the price system, the market fails to reflect the scarcity of such resources both at the national and international levels. Public measures are thus necessary to reduce pollution and to reach a better allocation of resources by ensuring that prices of goods depending on the quality and/or quantity of environmental resources reflect more closely their relative scarcity and that economic agents concerned react accordingly.”

(Disponível em: <http://webnet.oecd.org/OECDACTS/Instruments/ListByTypeView.aspx>. Acesso em: 02 de dezembro de 2015.)

41 Tradução livre do texto: “4. The principle to be used for allocating costs of pollution prevention and control measures to encourage rational use of scarce environmental resources and to avoid distortions in international trade and investment is the socalled "Polluter Pays Principle". This principle means that the polluter should bear the expenses of carrying out the abovementioned measures decided by public authorities to ensure that the environment is in an acceptable state. In other words, the cost of these measures should be reflected in the cost of goods and services which cause pollution in production and/or consumption. Such measures should not be accompanied by subsidies that would create significant distortions in international trade and investment.”

(Disponível em: <http://webnet.oecd.org/OECDACTS/Instruments/ListByTypeView.aspx>. Acesso em: 02 de dezembro de 2015.)

afastar o ônus do custo econômico da sociedade para direcionar ao poluidor que se beneficia economicamente com os recursos ambientais.

Ressalta-se que tal princípio não representa uma compensação dos danos resultante da poluição de determinada atividade – a falsa ideia de gerar o “direito de poluir” –, mas sim um pagamento pelos custos da proteção ambiental que se incluem os gastos com precaução e prevenção dos danos ambientais; bem como pelo uso dos recursos naturais que se tornam cada vez mais escassos resultantes da atividade econômica.

O art. 225, §2º da Constituição Federal dispõe, conforme já exposto no início deste capítulo, que aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. Como se observa, a Carta Magna estabeleceu o dever do poluidor de restaurar o meio ambiente em conformidade com o uso e a exploração dos recursos naturais.

Já no âmbito infraconstitucional, a Lei 6.938/1981 prevê que um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente é a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos, consoante o seu art. 4º, VII. Convém notar, portanto, a adoção do princípio do poluidor pagador no ordenamento jurídico brasileiro, tanto em nível constitucional como infraconstitucional, demostrando o reconhecimento da importância deste princípio na proteção ambiental.

Para que todos os princípios constitucionais ambientais sejam efetivados, é imprescindível uma atuação conjunta de todos os entes federativos. Nessa esteira, a Constituição Federal fixou as competências ambientais da União Federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de modo que não haja uma superposição destas e se consiga alcançar a proteção do meio ambiente e a sua prevenção contra atos de poluição.

1.3 A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR A MATÉRIA AMBIENTAL CONFORME A