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O Contexto de surgimento do Estatuto da Vítima 18

II. Delimitação do objeto, objetivos e estrutura da dissertação 9

2. O Contexto de surgimento do Estatuto da Vítima 18

A partir da segunda metade do século XX a vítima do crime passou a assumir um papel de relevo na comunidade científica, surgindo no âmbito da disciplina da Criminologia11, a Vitimologia12,

como ciência autónoma.

O Conselho da Europa, criado no final da II Guerra Mundial, em 1949, por impulso de Winston Churchill, com a incumbência de aglutinar os países defensores da civilização e cultura ocidental e do ideal democrático, tomou a dianteira na chamada de atenção para as vítimas de crimes com a Recomendação (85) 11, sobre a posição da vítima no Processo Penal, a Recomendação nº (87) 21, sobre a assistência às vítimas e prevenção da vitimização, e a Recomendação nº (85) 4 sobre violência familiar.

A nível internacional, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Declaração de princípios fundamentais de justiça relativos às vítimas da criminalidade e às vítimas do abuso de poder, em 1985. Aí expressamente se afirmava nessa data a “necessidade de adopção, a nível nacional e internacional, de medidas que visem garantir o reconhecimento universal e eficaz dos direitos das vítimas da criminalidade e de abuso de poder”, e adoptavam princípios básicos de justiça, nomeadamente: 1) um conceito lato de vítima que incluía as pessoas que tivessem sofrido um prejuízo ao intervirem para prestar assistência, 2) o tratamento com compaixão e respeito pela sua dignidade, 3) o direito ao acesso às instâncias judiciárias, e a uma rápida reparação do prejuízo por si sofrido através de procedimentos, oficiais ou oficiosos, que sejam rápidos, equitativos, de baixo custo e acessíveis, 4) o direito à informação das vítimas dos direitos que lhes são reconhecidos para obter reparação por estes meios, 5) medidas para prestar assistência às vítimas e minimizar as dificuldades por estas encontradas, proteger a sua vida privada e garantir a sua segurança, bem como a da sua família e das suas testemunhas, preservando-as de manobras de intimidação e de represálias, utilizando práticas de mediação e arbitragem, quando adequadas a facilitar a conciliação e obter a reparação em favor das vítimas, 6) reparação do prejuízo causado às vítimas pelos autores

11 MAURICE CUSSON, Criminologia, Casa das Letras, 3ª edição, para uma visão da evolução da ciência criminológica através dos tempos. 12 MAURICE CUSSON, idem; CLAUS ROXIN, Derecho Penal parte general, tomo I, fundamentos, la estrutura de la teoria del delito, Civitas, 2001, página

562: “La victimología, es decir, la teoria criminológica de la influencia de la conducta de la víctima en la delincuencia, há comenzado recentemente a irradiar su influencia sobre la dogmática del Derecho Penal”. ISABEL FALCÃO CORREIA, Concertos e Desconcertos na Procura de um mundo concertado: crença no mundo justo, inocêrncia da vítima e vitimização secundária, Fundação Calouste Gulbenkian, FCT, Ministério da Ciência ecdo Nesino Superior, 2003, página 13 e ss.

do crime que deve englobar a restituição de bens, 7) indemnização pelo prejuízo ou pelas perdas sofridas, 8) reembolso das despesas como consequência da vitimização, 9) prestação de serviços e restabelecimento de direitos, 10) asseguramento de indemnização financeira por parte do Estado às vítimas de dano corporal ou atentado importante à sua integridade física ou mental em consequência de atos criminosos graves, quando não seja possível obtê-la do delinquente, 11) prestação de assistência material, médica, psicológica e social e fácil acesso à mesma, 12) formação adequada que sensibilize para as necessidades das vítimas para todos os profissionais das polícias, justiça, serviços de saúde e serviços sociais e 13) dispensa de atenção às vítimas com necessidades especiais em razão da natureza do prejuízo sofrido ou de fatores como a raça, cor, sexo, idade, língua, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou outras, crenças ou práticas culturais, situação económica, nascimento ou situação familiar, origem étnica ou social ou capacidade física.

Importa, ainda, referir, no âmbito da União Europeia, a Resolução 95/C 327/04 do Conselho da União Europeia de 23-11-1995 sobre a proteção de testemunhas no âmbito da luta contra a criminalidade organizada, que convidou os Estados-Membros a garantir a proteção apropriada das testemunhas, de acordo com linhas de orientação que delineou, abrangendo no conceito de testemunha todas as pessoas que possuam informações importantes para o processo e suscetíveis de pôr as pessoas em perigo em caso de divulgação, efetuou o incremento da cooperação judiciária permitindo a obtenção de provas à distância através de meios audiovisuais, proteção contra todas as formas de ameaça, pressão ou intimidação, direta ou indireta, possibilidade de não revelar os elementos de identificação da testemunha, possibilidade de mudança de identidade, possibilidade de depor em local separado do arguido através de meios audiovisuais, etc.

Seis anos após, surge a Decisão – Quadro nº 2001/220/JAI, do Conselho de 15-3-2001, em que o Conselho da União Europeia vem novamente preocupar-se com a vítima em Processo Penal, na linha da prioridade conferida à criação de um espaço de liberdade, segurança e justiça com a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão, nesse mesmo ano de 2001.

O Estatuto da Vítima, que se consagra pela primeira vez para todas as vítimas de crimes no direito interno português, com a Lei n.º 130/2015 de 4-9, deflui naturalmente da Diretiva 2012/29/EU do Parlamento Europeu e do Conselho de 25-10-2012 que foi obrigatoriamente transposta para o direito interno, substituindo a anterior Decisão – Quadro nº 2001/220/JAI, do

Conselho de 15-3-2001, estabelecendo as normas mínimas para o estatuto da vítima em Processo Penal, considerada muito tíbia e sem resultados práticos13.

Todavia, não se pode afirmar que o Direito Penal e Processual Penal português não tinha preocupações vitimológicas. Efetivamente, a vítima sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial, como já se referiu, “passou então a ser alguém a quem deveria ser atribuída dignidade no âmbito do direito penal”, referindo-se, desde logo, no preâmbulo do Decreto-Lei nº 400/82 que “a vítima passa a ser um elemento, com igual dignidade, da tríade punitiva: Estado-delinquente-vítima”14.

Neste sentido, veja-se, por exemplo, a Constituição da República Portuguesa (CRP), enquanto “direito processual penal aplicado”, no artigo 32º, nº7, aditado pela Lei Constitucional nº 1/97, onde se confere legitimidade ao assistente para intervir no processo. Este direito envolve, como claramente esclarece Gomes Canotilho e Vital Moreira15: “o direito (poder) de acusar, o poder de

requerer a instrução (no caso de arquivamento dos autos por deliberação do MP), o poder de recorrer da sentença absolutória”.

E já antes se verificava uma procura de equilíbrio entre a salvaguarda dos direitos e interesses da vítima e os direitos e interesses do presumível agente do facto ilícito típico.

Efetivamente, é notório como o direito português se preocupava com a vítima, atendendo, desde logo, ao teor de vários artigos consagrados na Constituiçãocda República Portuguesa (CRP) e no Código de Processo Penal (CPP).

Assim, por exemplo, a CRP consagra o direito à segurança no artigo 27º, nº1: “Todos têm direito à liberdade e à segurança”. Também relevante é o artigo 32º, nº4, que estabelece os atos da reserva do juiz enquanto garante da salvaguarda dos direitos fundamentais no Processo Penal: “Toda a instrução é da competência de um juiz, o qual pode, nos termos da lei, delegar noutras entidades

13Vide proposta de lei 343/XII/4ª (GOV) do CSM, 2015: “Os relatórios de execução sobre a (…) Decisão- Quadro – de 2004 a 2009- concluíram que

a legislação da União Europeia tinha sido ineficaz para garantir a proteção adequada às vítimas em toda a UE”. MARIA DOLORES BLAZQUEZ PEINADO, “La Directiva 2012/29/EU. Un paso adelante en matéria de protección a las víctimas en la Unión Europea?”, Revista de Derecho Comunitario Europeo, número 46, Madrid, septiembe/ diciembre (2013), pags 897-934.

14 MIGUEL CARMO, “Anotação ao artigo 17º da Lei 104/2009 de 14-9”, página 269, in PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE e JOSÉ BRANCO (org.),

Comentário das Leis Penais Extravagantes, volume 1, Universidade Católica Editora, 2010: “A reforma penal operada no ordenamento jurídico nacional através do Decreto-Lei nº 400/82 de 29-9, deu eco, pela primeira vez, às questões relacionadas com a problemática da vítima. Esta, fundamentalmente, depois da 2ª Guerra Mundial, começou a ser objecto de estudos de natureza criminológica que alertaram para a forma, por vezes pouco ou nada cuidada, como era encarada, quer pela comunidade, quer ainda pela doutrina do direito Penal. A vítima passou então a ser alguém a quem deveria ser atribuída dignidade no âmbito do direito penal. O preâmbulo do Decreto-Lei nº 400/82 refere que: «a vítima passa a ser um elemento, com igual dignidade, da tríade punitiva: Estado-delinquente-vítima».

a prática dos atos instrutórios que se não prendam diretamente com os direitos fundamentais”. Estão aqui abrangidos todos os atos que constituiriam ofensas a direitos fundamentais se não fossem praticados no âmbito do processo, como a aplicação de medidas de coação, reconhecimento e interrogatório de arguidos, buscas domiciliárias, interceção e gravação de conversas telefónicas, exame de correspondência, acesso a ficheiros informáticos de dados pessoais, exames violadores da privacidade, que podem por em causa também a vítima e terceiros, para além do arguido, como aponta Gomes Canotilho16.

Na mesma linha, importa atentar no n.º 7 do artigo 32.º: “O ofendido tem o direito de intervir no processo nos termos da lei”, aditado pela Revisão Constitucional de 1997, bem como no artigo 206º da CRP: “As audiências dos tribunais são públicas, salvo quando o próprio tribunal decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da dignidade das pessoas e da moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento”, e ainda ao reforço do estatuto do assistente no CPP de 1987 expresso no regime da suspensão provisória do processo17. Note-se que ao elencar

as injunções e regras de conduta aplicáveis ao arguido começa o Código por enumerar a indemnização do lesado e a prestação de satisfação moral adequada. Sublinhe-se, ainda, que o nº7 do artigo 281º do CPP relativamente aos processos por crime de violência doméstica, não agravada pelo resultado, prevê a suspensão provisória do processo pelo MP, com a concordância do juiz de instrução e do arguido, “mediante requerimento livre e esclarecido da vítima”. Também nos processos por crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual de menor, não agravado pelo resultado, o Ministério Público, com a concordância do juiz de instrução e do arguido, determina a suspensão provisória do processo, “tendo em conta o interesse da vítima”. Aqui a lei não exige a constituição de assistente para defesa dos interesses da pessoa objeto do crime. Esta redação do artigo 281º do CPP resulta da Lei nº 20/2013 de 21-1.

De igual forma, o artigo 82º-A do CPP, prevê a possibilidade de o tribunal, em caso de condenação, e não tendo sido deduzido pedido de indemnização civil, arbitrar uma quantia a título de reparação pelos prejuízos sofridos “quando particulares exigências de proteção da vítima o imponham”. Esta norma foi introduzida pela Lei n.º 59/98 de 25-8, constituindo um arbitramento oficioso que já existiu no nosso ordenamento jurídico, nomeadamente no artigo 34º do CPP de 1929

e no artigo 13º do DL 605/75 de 3-11. Manifesta notória preocupação com a proteção da situação económica da vítima decorrente dos danos sofridos com a conduta criminosa e típica.

Ao nível do Direito da União Europeia, com a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão em 2001, foi conferida prioridade à criação de um espaço de liberdade, segurança e justiça. Em 2009 com o Tratado de Lisboa, o desenvolvimento desse espaço converteu-se em preocupação fundamental da União Europeia. Estabeleceu-se o reconhecimento mútuo18 de decisões judiciais em

matéria penal, expressamente consagrado no artigo 82º do TFUE: 1- “A cooperação judiciária em matéria penal na União assenta no princípio do reconhecimento mútuo das sentenças e decisões judiciais e inclui a aproximação das disposições legislativas e regulamentares dos Estados- membros nos domínios a que se referem o nº2 do artigo 83º (…). 2- Na medida em que tal seja necessário para facilitar o reconhecimento mútuo das sentenças e decisões judiciais e a cooperação policial e judiciária nas matérias penais com dimensão transfronteiriça, o Parlamento Europeu e o Conselho, por meio de diretivas adoptadas de acordo com o processo legislativo ordinário, podem estabelecer regras mínimas. Essas regras mínimas têm em conta as diferenças entre as tradições e os sistemas jurídicos dos Estados- Membros. Essas regras mínimas incidem sobre: a) A admissibilidade mútua dos meios de prova entre os Estados- Membros; b) os direitos individuais em processo penal; c) os direitos das vítimas da criminalidade; (…)”.

Assim, nesta sede, realçamos a adoção por parte do Conselho da Decisão- Quadro 2001/220/JAI, de 15 de Março de 20011, relativa ao estatuto da vítima em Processo Penal; o Programa de Estocolmo, adoptado pelo Conselho Europeu, que convidou a Comissão e os Estados Membros a analisar a forma de melhorar a legislação e medidas de apoio concretas para proteger as vítimas, dando especial atenção ao apoio a todas as vítimas, incluindo as vítimas de terrorismo, e ao seu reconhecimento; o Roteiro de Budapeste, onde o Conselho afirmou a necessidade de se tomarem medidas ao nível da União para reforçar os direitos, o apoio e a protecção das vítimas da criminalidade; a Resolução do Parlamento Europeu, de 26 de Novembro de 2004, sobre a eliminação da violência contra as mulheres, segundo a qual os Estados Membros foram exortados a melhorarem a sua legislação e as suas políticas de luta contra todas as formas de violência contra as mulheres e a tomarem medidas para combater as causas dessas violência, nomeadamente, através de medidas de prevenção, tendo a União sido chamada a assegurar o direito à assistência e ao apoio a todas as

18 ANABELA MIRANDA RODRIGUES, O Direito Penal Europeu Emergente, Coimbra Editora, 2008, página 67 e ss. RICARDO JORGE BRAGANÇA DE

vítimas de violência; a Resolução de 5 de Abril de 2011 sobre a prioridade e definição de um novo quadro político da União em matéria de combate à violência contra as mulheres, onde o Parlamento Europeu propôs uma estratégia para combater a violência contra as mulheres, a violência doméstica e a mutilação genital feminina como base para a criação de futuros instrumentos de direito penal contra a violência baseada no género, incluindo um quadro para combater a violência contra as mulheres que deverá ser seguido de um plano de ação da União; a Diretiva 2011/99/EU do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de Dezembro de 2011, relativo à decisão europeia de protecção, a qual estabeleceu um mecanismo para reconhecimento mútuo das medidas de proteção em matéria penal entre os Estados Membros; a Directiva 2011/36/EU do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril de 2011, relativa à prevenção e luta contra o tráfico de seres humanos e à protecção de vítimas; a Diretiva 2011/93/EU do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de Dezembro de 2011, relativa à luta contra o abuso e a exploração sexual de crianças e a pornografia infantil e, a Decisão Quadro 2002/475/JAI do Conselho, de 13 de Junho de 2002, relativa à luta contra o terrorismo, que reconheceu que este constitui uma das violações mais graves dos princípios em que a União se baseia, incluindo o princípio da democracia, confirmando, ainda, que o terrorismo constituiu, entre outros, uma ameaça ao livre exercício dos direitos humanos.

Por fim, salientamos o artigo 82.º, n.º 2 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia que prevê a possibilidade da União estabelecer regras mínimas aplicáveis aos Estados Membros com o objectivo de facilitar o reconhecimento mútuo das sentenças e decisões judiciais e a cooperação policial e judicial nas matérias penais com dimensão transfronteiriça, em especial no que diz respeito aos direitos das vítimas de criminalidade.

No seguimento de tal desiderato, pretendeu-se com a Diretiva 2012/29/EU do Parlamento Europeu e do Conselho de 25-10-2012 estabelecer normas mínimas relativas aos direitos, ao apoio e à protecção de vítimas da criminalidade, substituindo e alargando, por conseguinte, a Decisão- Quadro 2001/220/JAI, do Conselho, de 15 de Março de 2001, visando, ainda, promover, o direito a um julgamento equitativo, sendo certo que deixa em aberto aos Estados Membros a possibilidade de reforçarem os direitos aí previstos a fim de proporcionar um nível de protecção mais elevado.

A Diretiva 2012/29/EU do Parlamento Europeu e do Conselho de 25-10-2012 foi transposta para o ordenamento jurídico português, como se impunha, através da Lei n.º 130/2015, de 4 de

Relativamente às alterações no CPP, procedeu-se à introdução do artigo 68.º-A, de acordo com o qual se definiu vítima para efeitos de Processo Penal e que corresponde na íntegra ao disposto no já citado artigo 2.º da Diretiva.

No mais, realce-se que é hoje possível a constituição de assistente no prazo de interposição de recurso de sentença, nos termos do disposto no artigo 68.º, n.º 3 alínea c) do Código de Processo Penal; nos casos de revogação e substituição de medidas de coação o juiz deve, sempre que necessário, ouvir a vítima mesmo que esta não se tenha constituído assistente, tal como prescrito pelo artigo 212.º, n.º 4 do CPP; no âmbito da instrução, o juiz ouve a vítima, mesmo que esta não se tenha constituído assistente, quando o julgar necessário e sempre que esta o solicitar, conforme plasmado no artigo 292.º, n.º 2 do CPP; quanto à aferição do cumprimento das condições que estiveram na génese da suspensão da execução de pena de prisão, impõe o actual artigo 495.º, n.º 2 do CPP que, o juiz antes de decidir por despacho, ouça a vítima, sempre que necessário e mesmo que esta não se tenha constituído assistente.

No entanto, a nível processual, se é verdade que a vítima em sentido amplo foi ganhando importância, o certo é que, quanto à concreta vítima de crimes, e acompanhando Arménio Sottomayor, “atendendo especialmente à fase preliminar do processo penal, não tem sido concedida à vítima a importância a que teria jus, havendo de considerar-se tímidas as concessões que neste campo lhe vão sendo feitas” 19. Efetivamente, como bem lamentava, em 1980, Manuel Costa

Andrade: “Recebemos uma estrutura processual que reduz a vítima a uma testemunha da lesão dos interesses do soberano e a quem se nega a consideração autónoma dos seus interesses” 20.

19 ARMÉNIO SOTTOMAYOR, “A Voz da Vítima”, in JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, IRENEU CABRAL e outros (org), “Estudos em Homenagem a Cunha

Rodrigues- I”, Coimbra Editora, 2001, página 842.

3. A vítima, a/o ofendida/o, a/o assistente e a/o lesada/o: novas (re) configurações no direito