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SOCIOECONÔMICO E POLÍTICO DAS CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO NO BRASIL

2.3 O contexto do mercado de trabalho de Natal-RN

A instabilidade econômica verificada no Brasil no período compreendido a partir dos anos 1970 e, aprofundada, principalmente, entre as décadas de 1980 e 1990, contribuiu, profundamente, para o agravamento de problemas relacionados à estrutura econômica do país, que reflete, sobretudo, no mercado de trabalho – seja nacional, regional ou local – através do elevado crescimento do desemprego e de novas formas de trabalhos, que se realizam de forma desregulamentada e precarizada. Nesse sentido,

[...] é importante reportar-se ao fato de que nos anos [19]90 ocorreu na economia brasileira, e na de Natal em particular, um processo de modernização tecnológica com conseqüências nefastas para o mercado de trabalho. Nesse sentido, os investimentos realizados pelas empresas foram, em grande parte, destinados à modernização tecnológica, com impactos expressivos na produtividade e no emprego. Assim, por exemplo, o processo de modernização do parque industrial da Região Metropolitana de Natal, notadamente do parque têxtil, bem como do setor bancário, de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica, com geração de desempregados ou de empregos terceirizados, foram responsáveis, em parte, pelo desempenho do mercado de trabalho da cidade na década passada (FREIRE, 2005, p. 35).

Nessa perspectiva, Araújo (2009) pontua que, em decorrência das mudanças ocorridas neste período, na esfera internacional e nacional, a cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, também passou por profundas transformações. Estas dizem respeito, principalmente, à reprodução de algumas

39 tendências análogas às ocorridas nas grandes cidades, como por exemplo: o acelerado crescimento demográfico; o desemprego; a marginalização social; a precarização do trabalho; e a expansão das atividade informais.

Até meados da década de 1950, Natal-RN exibia um processo de urbanização incipiente e em desenvolvimento, o qual era impulsionado, sobretudo, pela concentração populacional e de serviços. A instalação da base americana – durante a Segunda Guerra Mundial – em Parnamirim, causou significativas mudanças nas feições da cidade de Natal e na dinâmica populacional e econômica. Desse período em diante, a cidade passou por outros surtos de urbanização, principalmente entre as décadas de 1970 e 1980, seguindo a tendência nacional de industrialização e crescimento urbano (PESSOA, 2015).

Conforme aponta Araújo (2009), no que concerne à densidade demográfica, Natal/RN cresce de forma assustadora. Em 1970 havia atingido a soma de mais de 1.500 hab./km². Já em 1991, somavam-se mais de 3.500 e, em 2000, atingiu a marca de mais de 4.200 hab./km² (Tabela 2).

Tabela 1: Densidade demográfica dos munícipios que compõem a região metropolitana de Natal-RN - 1970/2000. Municípios Período 1970 1980 1991 2000 Ceará Mirim 52,22 55,22 71,81 85,95 Extremoz 66,75 65,3 110,92 145,30 Macaíba 59,47 63,84 88,71 112,05 Monte Alegre 52,02 65,77 75,54 89,83 Natal 1.563,45 2.465,36 3.588,92 4.212,40 Nísia Floresta 30,15 31,97 44,63 60,99 Parnamirim 115,00 209,06 502,08 988,82 São G. do Amarante 72,27 118,22 174,51 266,55 São J. do Mipibu 59,07 69,74 96,05 119,11 RMN - - - 383,31 Fonte: ARAÚJO, 2009.

40 Essas altas taxas de crescimento demográfico são responsáveis pelo acelerado processo de concentração populacional em um limitado espaço territorial. Diante disso, surgem – de forma, altamente concentrada, no espaço e no tempo – vários problemas inerentes à demanda especificamente urbana, dentre esses a absorção insuficiente no mercado de trabalho formal (ARAÚJO, 2009). A isso,

[..] deve-se acrescentar que a exemplo do restante do país e da região, também no Rio Grande do Norte as funções de “amortecedores sociais” de muitos dos subsetores do terciário [...] foram ampliadas no período de 1970 a 1989, devido não apenas ter sido um período de crise permanente na economia nacional, que desaqueceu os investimentos industriais, mas, também, por conta do intenso processo de urbanização pelo qual passou as grandes regiões do país; e pelos anos de seca, sobretudo na década de 1970, que contribuíram para a migração da população de muitos estados nordestinos em direção às cidades de porte médio, notadamente suas capitais (ARAÚJO, 2009, p. 256).

Nessa perspectiva, a migração da população rural, no âmbito potiguar, deve- se ao fato de que mais de 90% do território do Rio Grande do Norte encontra-se no semiárido, e, desta forma, verifica-se neste poucas faixas de terras férteis, uma agricultura, preponderantemente, de subsistência, e uma pecuária que depende significativamente de projetos sociais elaborados pelo Estado e por alguns municípios. Diante da ineficácia das políticas de manutenção do homem no campo aliada à falta de condições mínimas – por parte dos municípios – para atender as suas populações, esses fatores acabam se constituindo como propulsores da migração em direção à capital do estado – Natal – e aos munícipios vizinhos.

Isto porque nestes espaços, principalmente na capital, a população interna encontra uma melhor infraestrutura e oferta de serviços, embora haja a tendência à deteriorização de quantidade e qualidade (ARAÚJO, 2009). Além disso, deve-se levar em consideração que

[..] a política macroeconômica praticada na década de 1990 atingiu a economia nacional em sua totalidade. Por conta dessa política, algumas estruturas produtivas do estado do Rio Grande do Norte sofreram o impacto da reestruturação a que foram submetidas, o que, por sua vez, fez com que parte da mão-de-obra, anteriormente empregada migrasse [...] sobretudo a capital do estado, em busca de alguma forma de subsistência (ARAÚJO, 2009, p. 283).

Outro fator importante, no que concerne à migração para a capital do estado no período compreendido entre as décadas de 1970 e 1990, era a demanda de mão-de-obra para a construção de conjuntos habitacionais na cidade, que acabavam contribuindo para a elevada concentração demográfica em Natal-RN. Esses trabalhadores induzidos à capital, a partir da oferta de emprego, fixavam

41 residência na cidade para trabalhar nessas construções. Contudo, após a conclusão destas, esses trabalhadores, por não terem qualificação adequada para outros tipos de empregos e devido à elevada concentração demográfica, acabavam não sendo absorvidos pelo mercado de trabalho e ficavam desempregados.

Nesse sentido, tornou-se comum ver trabalhadores de rua criando e/ou recriando novas atividades informais. Um exemplo disso é a atividade exercida pelos flanelinhas/guardadores de carros nos espaços públicos dos centros urbanos das grandes, médias e pequenas cidades (IDALINO, 2012). No caso dos flanelinhas/guardadores de carros da cidade de Natal-RN, podemos inferir – com base na (Tabela 3), que os inclui na categoria “biscateiros” – que boa parte dos sujeitos que compõem essa atividade são aqueles oriundos da migração rural- urbana verificada no estado, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, conforme já apontado.

42 Tabela 2: Densidade dos tipos sócio-espaciais em relação às categorias sócio-

ocupacionais em Natal-RN e região metropolitana – 2000. CATEGORIAS SÓCIO-OCUPACIONAIS TIPOS SÓCIO-ESPACIAIS

SUPERIOR MÉDIO POPULAR-OPERÁRIO AGRÍCOLA

Grandes Empregadores 2,9 0,3 0,3 0,1

Dirigentes do Setor Público 2,5 0,4 0,5 0,2

Dirigentes do Setor Privado 3,3 0,2 - 0,2

Profissionais Autônomos de Nível Superior 2,3 0,6 0,4 0,1 Profissionais Estatuários de Nível Superior 2,6 0,5 0,2 0,2 Profissionais Empregados de Nível Superior 3,0 0,3 0,1 0,1 Professores de Nível Superior 2,5 0,5 0,3 -

Pequenos Empregadores 2,2 0,6 0,3 0,2

Artistas e Similares 1,4 0,9 0,6 0,3

Ocupações de Supervisão 1,5 0,9 0,4 0,1

Ocupações de Escritório 1,5 0,8 0,7 0,5

Ocupações Técnicas 1,7 0,8 0,3 0,1

Ocupações da Saúde e Educação 1,0 1,0 1,4 0,7 Ocupações da Justiça, Segurança Púbica e Correios 1,4 1,0 0,5 0,2

Trabalhadores do Comércio 0,9 1,1 0,7 0,4

Prestadores de Serviços Especializados 0,7 1,2 0,9 0,6 Trabalhadores da Indústria Moderna 0,5 1,3 0,9 0,4 Trabalhadores da Indústria Tradicional 0,5 1,2 1,1 0,9 Operários da Construção Civil 0,4 1,2 1,4 0,9

Trabalhadores dos Serviços Auxiliares 0,5 1,3 0,8 0,7

Prestadores de Serviços Não Especializados 0,4 1,3 0,9 0,8

Ambulantes e Biscateiros 0,8 1,0 1,2 1,6

Trabalhadores Domésticos 0,7 1,2 0,8 0,8

Agricultores 0,1 0,4 4,5 8,4

Fonte: PESSOA, 2015.

Analisa Freire (2005) que na década de 1990, a cidade de Natal-RN foi marcada por um intenso processo de precarização do mercado de trabalho. Entre 1991 e 2000, o número de pessoas desempregadas em Natal mais que triplicou. O número de pessoas procurando emprego, por sua vez, com base nos censos de

43 1991 e 2000, saltou de aproximadamente 18,5 mil para mais de 57 mil indivíduos. Em função disso – e do fato que o número de pessoas desocupadas cresceu num ritmo maior que o de pessoas ocupadas – a taxa de desocupação da cidade subiu de 7,78% no ano de 1991 para 18,08% em 2000.

Podemos concluir que, nesse período, de cada dois (2) trabalhadores que entraram no mercado de trabalho de Natal, um (01) o fez na condição de ocupado e o outro ingressou nesse mercado na condição de procurando emprego. “Isso significa dizer que a expansão do emprego na cidade no decorrer dos anos 1990 foi suficiente para criar ocupações para apenas metade das pessoas que estavam entrando no mercado de trabalho” (FREIRE, 2005, p. 14).

Para Freire (2005), neste período, o mercado de trabalho da cidade de Natal- RN, foi marcado pelo acentuado crescimento das ocupações por “conta própria”, que acenderam num ritmo bem mais acentuado que o das ocupações de “empregados”. Este trabalho por conta própria se qualifica, sobretudo, pelas longas jornadas de trabalho, pela inexistência de garantias sociais e pelas baixas remunerações. Com isso, podemos dizer que o tipo de postos de trabalhos gerados na década de 1990 em Natal-RN, se caracterizava, principalmente, pelo seu caráter de precariedade.

A crescente precarização do mercado de trabalho da cidade de Natal-RN evidencia-se nos seguintes indicadores: “em 1991 cerca de 27,75% da PEA de Natal estava desocupada ou em ocupações por conta própria; em 2000 esse número saltou para 39,32%” (FREIRE, 2005, p. 15) (Tabela 4).

44 Tabela 3: Indicadores do mercado de trabalho de Natal-RN (1991/2000)

1991 2000 VARIAÇÃO ABSOLUTA VARIAÇÃO RELATIVA VARIAÇÃO ANUAL PEA 237.593 318.820 81.227 34,19 9.025 Ocupados 219.104 261.171 42.067 19,20 4.674 Desocupados 18.489 57.649 39.160 211,80 4.351 Taxa de Desocupação (%) 7,78 18,08 Empregados 167.035 192.798 25.763 15,42 2.863 Empregadores 7.389 9.584 2.195 29,71 244 Conta Própria 43.765 55.485 11.720 26,78 1.302 Outra Condição 915 3.304 2.389 261,09 265 Empregados (%) 76,24 73,82 Empregadores (%) 3,37 3,67 Conta Própria (%) 19,97 21,24 Outra Condição (%) 0,42 1,27 Fonte: FREIRE, 2005.

Freire (2005) aponta para outro aspecto que se destaca no mercado de trabalho de Natal-RN, na virada do século XX para o século XXI. Este diz respeito à quantidade de mão-de-obra ocupada com base na categoria de ocupação (Tabela 5). Constatou-se que nesse período a maioria absoluta dos trabalhadores ocupados encontrava-se na situação de “empregados”. Depois, tínhamos a categoria de trabalhadores por “conta própria”, que eram responsáveis por, aproximadamente, 1/5 dos postos de trabalho da cidade neste período. Já a categoria “empregadores”, apresentava um percentual baixo, ficando apenas em terceiro lugar.

45 Tabela 4: Pessoas com 10 anos ou mais de idade ocupadas na semana de referência da pesquisa (censo 2000) por posição na ocupação e grupos de anos de

estudo.

GRUPOS DE ANOS DE ESTUDO