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4 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE: SOBRE AS DINÂMICAS TERRITORIAS E ESTRATÉGIAS DE INFLUÊNCIA E CONTROLE NO TERRITÓRIO

4.1. Território e relações de poder

O conceito de território é construído historicamente e remete a diferentes contextos e escalas, como, por exemplo, a nação, a região, a cidade, o bairro, a casa. Sendo assim, o território é objeto de análise sob diferentes perspectivas: jurídico-política, sociológica, antropológico-cultural, bioecológica, geográfica - que aqui se pretende -, dentre outras. Cada uma concebe o território de uma maneira e, segundo, abordagens específicas (ALBAGLI, 2004).

Todavia, em qualquer sentido, o território tem a ver com a definição e delimitação de um espaço por e a partir de relações de poder. Este, de acordo com

92 Haesbaert (2007), não diz respeito somente ao tradicional "poder político". Trata-se do poder tanto no sentido mais explícito do termo, ou seja, de dominação, como, também, no sentido mais implícito ou simbólico, de apropriação. Nesse sentido, o território torna-se palco de processos e relações, onde diferentes atores sociais definem práticas espaciais de poder e territorialidades (CUNHA; SILVA, 2007).

Toda ação que a sociedade desenvolve realiza-se e materializa-se no território através de relações sociais entre os mais diversos níveis nas escalas -local, nacional e global -, intervindo na vida política, social, econômica e cultural das sociedades. Destarte, a territorialização das ações presentes no território, “conduzida” por atores sociais, é caracterizada a partir da distinção de interesses que compeliram posicionamentos diferentes ocasionando conflitos no território. Portanto, os atores sociais possuem, por meio de seus interesses, posicionamentos que delimitam seus poderes no território, definindo e redefinindo suas territorialidades (SILVA, 2009)

O território sob o viés geográfico é aquele das relações e das múltiplas materialidades sociais/territorialidades. É o território político-econômico-social- cultural, no qual as práticas, dos diferentes atores sociais, se materializam, sejam elas internas ou externas ao território. É, por excelência, a institucionalização do poder e é nele que se torna possível evidenciar os conflitos de interesses, sobretudo entre a institucionalização do poder (poder formal) e os poderes que lhes são paralelos (poder informal), os quais procuram satisfazer-se convergindo ou divergindo dele (SILVA, 2009).

O poder, nessa perspectiva, se caracteriza enquanto relações de forças que excedem a atuação do Estado e que envolvem, e estão envolvidas, em outros processos da vida cotidiana, tais como: o lugar de trabalho, as universidades, a igreja, entre outros. Significa, ainda, relações sociais conflituosas e heterogêneas que são variáveis, segundo a sua intencionalidade. Sendo assim, o território, diante da multidimensionalidade do mundo, admite múltiplos significados, a partir de territorialidades complexas, plurais e em unidade. Deste modo, os significados do território variam conforme se modifica a compreensão das relações de poder (SAQUET, 2015) e, por isso, faz-se necessário nos determos um pouco no conceito de poder antes de voltarmos, propriamente, ao território.

93 A princípio cabe destacarmos, assim como Raffestin (1993) a ambiguidade presente no termo “poder”, ainda que seja apenas devido à escrita maiúscula ou minúscula. O “Poder”, é mais familiar, mais marcante e mais habitual quando se mostra na qualidade de nome próprio. Isto porque, há uma confusão entre Estado e Poder, na qual ao considerar que o Poder é o Estado acaba-se mascarando o poder, no contexto de nome comum.

O poder, com a minúscula, se oculta atrás do Poder, com a maiúscula. Quanto maior for sua presença em todos os lugares, melhor ele se oculta. Está presente no delineamento de cada ação e em cada relação. É traiçoeiro, se beneficia de todas as fissuras sociais para assim introduzir-se até o íntimo do homem. Enquanto "Poder", nome próprio, é mais simples de circundar, pois se manifesta através dos aparelhos complexos que controlam os indivíduos, dominam os recursos e encerram o território. Consequentemente, é o mais perigoso e preocupante, incita a desconfiança pela própria ameaça que representa. Contudo, ainda mais perigoso é aquele que não se vê, ou que não mais se vê já que se acreditou tê-lo vencido, sentenciando-o à prisão domiciliar (RAFFESTIN, 1993).

De uma forma geral, o poder não se dá, não se troca e nem se retoma. Ele se exerce, ou seja, só existe em ação. Ele não é, fundamentalmente, manutenção e reprodução de relações econômicas, mas sim, e acima de tudo, uma relação de força (FOUCAULT, 1988). Ele está presente nas ações do Estado, das empresas, das instituições, dos próprios indivíduos, ou seja, nas relações sociais que se realizam na vida cotidiana, objetivando a dominação e o controle sobre os homens e as coisas. “O poder é inerente às relações sociais, que substantivam o campo de poder” (SAQUET, 2015, p. 33).

Nessa acepção, o poder transfigura-se nas relações imbrincadas no uso do território, materializado ou imaterializado por meio das formas de ação dos atores sociais. Desta maneira, o poder é uma relação instituída entre interesses divergentes com finalidades específicas de utilização do território. Por conseguinte, os conflitos gerados a partir desta divergência nos interesses e fins do uso do território também se constituem como formas de poder. O poder se conforma então, como uma intencionalidade política do território, utilizado a fim de se atingir determinado objetivo, e um de seus artifícios é o convencimento do outro (SILVA, 2009).

94 Raffestin (1993) pronuncia que, no que concerne aos meios mobilizados, o poder é definido por uma combinação variável de informação e energia. A partir da presença destes dois elementos, é possível dizer que existem poderes com forte componente informacional ou, inversamente, com forte componente energético. Ainda nesse sentido, o poder utiliza seus meios para visar os “trunfos”, que podem ser a população, o território ou os recursos, ou seja:

O poder visa o controle e a dominação sobre os homens e sobre as coisas. [...] colocamos a população em primeiro lugar: simplesmente porque ela está na origem de todo o poder. Nela residem as capacidades virtuais de transformação; ela constitui o elemento dinâmico de onde procede a ação. [...]. O território não é menos indispensável, uma vez que é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia. Os recursos, enfim, determinam os horizontes possíveis da ação. Os recursos condicionam o alcance da ação (RAFFESTIN, 1993, p. 53).

O território é, por excelência, o espaço político, o campo de ação destes trunfos. Por isto mesmo, se constitui enquanto um trunfo particular, recurso e obstáculo, continente e conteúdo, simultaneamente. Quanto à informação e à energia, elas desempenham um papel fundamental, que não pode e nem deve ser subestimado, posto que tornam complementares as duas faces da medida de todas as coisas. (RAFFESTIN, 1993).

Todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, “funcional” e “simbólico”, uma vez que as relações de poder têm no espaço um elemento indissociável tanto na realização de funções como na produção de significados. Logo, seria possível discorrer sobre:

[...] dois grandes "tipos ideais" ou referências "extremas" frente às quais podemos investigar o território: um, mais funcional, priorizado na maior parte das abordagens, e outro, mais simbólico, que vem se impondo em importância nos últimos tempos. Enquanto "tipos ideais" eles nunca se manifestam em estado puro, ou seja, todo território "funcional" tem sempre alguma carga simbólica, por menos expressiva que seja, e todo território "simbólico" tem sempre algum caráter funcional, por mais reduzido que pareça (HAESBAERT, 2007, p. 23).

A constituição, a dinâmica e a diferenciação dos territórios podem ser vistas ainda, a partir de uma variedade de dimensões interrelacionadas, tais como: física - características geoecológicas e recursos naturais e aquelas resultantes dos usos e das práticas dos atores sociais; sociopolítica - meio para dinâmicas sociais e relações de poder e dominação; econômica - formas de organização espacial dos processos sociais de produção, consumo e comercialização; e simbólico/cultural - a

95 apropriação simbólica de uma parcela do espaço por determinado grupo, ou, ainda, um conjunto especifico de relações culturais afetivas e identitárias entre um grupo e lugares particulares (ALBAGLI, 2004).

O território também é marcado por limites e fronteiras que são produtos e ferramentas da construção de territorialidades. Entretanto, os territórios não são simplesmente áreas contíguas e estáveis, separadas por limites e fronteiras. No território verificam-se, também, superposições e instabilidades dentro de seus próprios limites, através de territorialidades diversas.

4.2 Influência e controle no território: sobre a definição e teoria da