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O contexto que legitima a ação do empreendedor

3.1. A falência do Estado do bem-estar social e o fortalecimento das empresas É de conhecimento geral que a história do pensamento econômico, desde Adam Smith (1723-1790), é fortemente dominada por uma visão utilitarista, baseada na troca, na qual o indivíduo era visto como um agente econômico racional. Sua teoria estava calcada sobre a concepção de que todos os atos egoístas, isolados e calculados de cada indivíduo conduziriam a uma auto-regulação, ignorando-se a interdependência social. Smith também acreditava em uma economia de mercado, apregoando o laissez-faire, sem a intervenção do Estado na economia, já que a livre concorrência seria por natureza benéfica e harmoniosa, crença até hoje defendida por economistas neoclássicos.

Por coincidência, “foi apenas algumas décadas depois que Adam Smith publicou

A Riqueza das Nações em 1776, que estabelecia os princípios básicos da economia no

mercado, que Jean-Baptiste Say identificou o papel especial dos empreendedores”. (Bornstein, 2004, p. 124). Vale lembrar que, de acordo com Hunt (1981), o economista francês Jean-Baptiste Say (1767-1832) considerava-se discípulo de Adam Smith.

Portanto, se é inegável que a origem do empreendedor está imbricada com a história do pensamento econômico na perspectiva neoclássica, aceita por muitos até hoje, resta saber como isso veio a ocorrer. Em que momento, e de que maneira, esta teoria econômica, com sua perspectiva utilitarista, baseada na troca e na maximização dos lucros, consolida-se como elemento natural da realidade, sobrepondo-se à estrutura e à cultura das antigas sociedades não-capitalistas? Para responder a essa questão, será feito a seguir um breve retrospecto histórico, tendo como ponto de partida a formação social primitiva, de acordo com o pensamento do filósofo alemão Jürgen Habermas.

Para Habermas, na formação social primitiva, o cerne das relações se dá pelo sistema de parentesco. “Visões do mundo e normas são escassamente diferenciadas entre si; ambas são construídas em torno de rituais e tabus que não requerem sanções independentes.” (Habermas, 2002, p. 31). A legitimação da realidade, portanto, advém de interpretações míticas ou religiosas, aceitas incondicionalmente pelos indivíduos, sem questionamento.

No estágio seguinte, que abrange a formação social tradicional, a organização tem como base a forma política de dominação de classe. O sistema de parentesco deixa de ser considerado como núcleo de poder, transferindo suas funções para o Estado. “...a família perde todas as suas funções econômicas e algumas das suas funções de socialização.” (Habermas, 2002, p. 32). Neste sistema de classes, a exploração é viabilizada por meio de um sistema organizado de trabalho forçado, onde a riqueza socialmente produzida é apropriada pela classe privilegiada.

Mais tarde, com o surgimento da formação social liberal capitalista, na época da industrialização, a relação capital–trabalho assalariado torna-se a base de um sistema de trocas, com o respaldo do direito civil. A propriedade privada, a produção, o comércio e a livre circulação de bens e mercadorias são assegurados pelo Estado, em prol do processo de acumulação do capital. “O novo princípio organizacional abre um largo espectro para o desenvolvimento das forças produtivas e das estruturas normativas.” (Habermas, 2002, p. 35). O crescimento econômico passa a ser o maior imperativo, generalizando interesses e servindo como ideologia para unir todos perante o mesmo objetivo, valendo-se de uma ideologia que oculta diferenças de classe.

Já no capitalismo avançado, organizado ou regulado pelo Estado, ampliam-se os processos de concentração econômica, liderados por empresas multinacionais, sendo que “...o Estado interfere no mercado quando cresce um hiato funcional.” (Habermas, 2002, p. 48). Ou seja, a atuação do Estado é pontual e utilizada apenas para assegurar as condições necessárias para que a acumulação de capital continue ocorrendo, visando corrigir as eventuais “distorções do mercado”.

Enquanto o planejamento global manipula as condições de limite das decisões, feitas pela empresa privada a fim de corrigir o mecanismo de mercado e em relação aos efeitos disfuncionais secundários do mercado, o Estado de fato substitui o mecanismo de mercado, sempre quando crie e melhore as condições para realização de capital: através do ‘fortalecimento da capacidade competitiva da nação’, ao organizar blocos econômicos supranacionais, assegurando-lhe estratificação internacional, por meios de imperialistas etc.; através de consumo governamental improdutivo (por exemplo, armamentos, exploração espacial); através da condução de acordo com a política estrutural, do fluxo do capital rumo a setores negligenciados por um mercado autônomo;

através da melhoria da infra-estrutura material (transporte, educação, saúde, recreação, planejamento urbano e regional, construção imobiliária etc.); através da melhora da infra-estrutura material (promoção geral das ciências, investimentos e pesquisa e desenvolvimento, estabelecimento de patentes, etc.); através da elevação da produtividade do trabalho humano (sistema geral de educação, escolas vocacionais, programas para treinamento e reeducação etc.); através do alívio de custos sociais e materiais resultantes da produção privada (compensação do desemprego, previdência social, reparação de danos ecológicos). (2002, p. 50)

Neste contexto, como explica Habermas, o orçamento governamental acaba sendo sobrecarregado e os custos adicionais, que requerem fontes de financiamento, são socializados por todos, por meio do aumento de impostos. Assim, com esta manobra, o Estado consegue novamente fazer a partilha dos recursos, evitando crises no sistema, sendo capaz de mantê-lo dentro de parâmetros estáveis de funcionamento. Desta forma, o capital pode prosseguir o processo de acumulação, que, conforme dizia Marx, resulta da crescente apropriação da mais-valia do empregado, para que lucros cada vez maiores possam ser auferidos pela classe dominante, embora exista uma aparência de que, neste processo, todos ganhem, de acordo com a visão econômica neoclássica.

Acontece que, mesmo com a intervenção governamental, o sistema não está imune a crises, que surgem sempre que o processo de acumulação de capital é subitamente interrompido. É próprio do sistema capitalista a ocorrência de desequilíbrios e oscilações entre a oferta e a demanda, visto que os agentes econômicos adotam estratégias díspares, cujos interesses não são coincidentes, tampouco convergem em prol do bem comum. Nas palavras de Habermas,

A crise econômica é o primeiro (e talvez único) exemplo na história mundial de uma crise sistêmica caracterizada do seguinte modo: a saber, que a contradição dialética entre membros de uma sociedade transforma-se em contradições sistêmicas ou problemas de condução estruturalmente insolúveis. Através deste deslocamento de conflitos de interesse, ao nível de condução do sistema, as crises sistêmicas ganham uma objetividade rica em contraste. Ela tem a

aparência de catástrofes naturais, que irrompem do centro de um sistema de ação racional proposital. (2002, p. 45)

Para analisar este argumento, é preciso levar em consideração um importante aspecto que veio subsidiar o pensamento econômico, acompanhando a própria evolução do capitalismo, que envolve a cientificação da técnica. Conforme já visto, a busca incessante pela ampliação da produtividade, iniciada com a revolução industrial e intensificada até os dias de hoje, carrega consigo o pressuposto de que as inovações tecnológicas são condições neutras no contexto do progresso natural da sociedade. Não se questiona o modo pelo qual estas técnicas foram inseridas no mundo do trabalho, muitos menos a serviço de quem elas estiveram historicamente a favor.

Inclusive, é necessário lembrar que as ciências modernas tiveram uma participação muito expressiva neste processo, contribuindo para o avanço das técnicas, dirigindo o foco de suas pesquisas para a descoberta de alternativas para aumentar a produtividade, como pôde ser observado no próprio surgimento da psicologia industrial, que buscava soluções para os problemas práticos advindos do cotidiano das fábricas.

Neste processo, em prol do progresso, em um sistema estruturado de forma eminentemente racional, a dimensão da subjetividade e do impacto do avanço das técnicas sobre o empregado foi significativamente relegado. O indivíduo foi tratado como se fosse uma peça integrante de um conjunto de engrenagens de uma máquina, restrito ao cumprimento de ordens, selecionado de acordo com a prerrogativa do “homem certo para o lugar certo”, condenado a seguir normas, regulamentos e manuais, sob supervisão cerrada.

Enquanto isto, o progresso alavancado pela tecnologia vinha sendo cada vez mais disseminado socialmente, de maneira ideológica, sendo considerado um avanço que promoveria melhorias que beneficiariam a todos, e, portanto, como algo que devesse ser colocado no topo das descobertas humanas, como a nova maravilha do mundo. Era como se houvesse uma perfeita harmonia dos interesses dos capitalistas, dos empregados, como se o conflito de classes não existisse, tendo todo o respaldo da própria ciência. Um exemplo clássico, porém atual, que serve bem para ilustrar este momento histórico, pode ser visto no filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, que faz uma sátira a esta racionalidade do homo economicus, deslumbrado com a

tecnologia, mostrando o quanto esta áurea em torno dela escondia uma significativa alienação do indivíduo.

Como diria Marx, o capitalismo deveria ter sido visto como um sistema muito mais complexo do que uma sociedade onde havia a simples produção de mercadorias. Do jeito que tem sido encarado, transmite a impressão de que todos os indivíduos são livres e estabelecem uma relação de troca consensual, permeada por um processo onde todos ganham, sem qualquer relação de poder ou subordinação. Na realidade, esta visão oculta o conflito latente entre uma pequena classe dominante detentora dos meios de produção e outra que tem como única alternativa vender sua força de trabalho, como se houvesse uma perfeita reciprocidade implícita. Como mostra Habermas (2006),

A forma privada da revalorização do capital e a chave de distribuição das compensações sociais, que garantem a lealdade da população, permanecem como tais subtraídas à discussão. Como variável independente, aparece então o progresso quase autônomo da ciência e da técnica, do qual depende de fato a outra variável mais importante do sistema, a saber, o crescimento econômico. Cria-se assim uma perspectiva na qual a evolução do sistema social parece estar determinada pela lógica do progresso científico. (2006, p. 73)

Desta forma, quando coloca-se o progresso técnico em uma relação direta com o crescimento econômico, com ambos sendo vistos como favoráveis a todos, legitima-se o sistema capitalista e ignora-se completamente sua excelente capacidade de produzir riquezas e de, ao mesmo tempo, concentrá-las nas mãos de poucos.

Para coroar este processo, outro respaldo oferecido pelo Estado diz respeito à normatização jurídica, cujas leis, embora pretensamente imbuídas de um caráter universalista, acabam sendo organizadas de modo a resguardar interesses específicos da classe dominante. A situação atual do direito moderno envolve a delegação do poder de decisão e arbitragem a uma instância externa, capaz de impor sanções, obviamente, destituída de uma perspectiva de neutralidade.

Portanto, por todos os aspectos anteriormente discutidos neste capítulo, surgem problemas relacionados à legitimidade do Estado, conforme explica Habermas (1983),

Legitimidade significa que há bons argumentos para que um ordenamento político seja reconhecido como justo e equânime; um ordenamento legítimo merece reconhecimento. Legitimidade significa que um ordenamento político é digno de ser reconhecido. Com essa definição, sublinha-se que a legitimidade é uma exigência de validade contestável; e que é (também) do reconhecimento (pelo menos) factual dessa exigência que depende a estabilidade de um ordenamento de poder. Assim, tanto no plano histórico como no analítico, esse conceito encontra aplicação sobretudo nas situações em que a legitimidade de um ordenamento torna-se objeto de polêmica: no qual, como dizemos, surgem problemas de legitimação. (1983, p. 219-220)

Seguindo este raciocínio, é possível dizer que o Estado é passível de ser questionado quanto à sua legitimidade, mas o mesmo não poderia ser dito em relação às empresas, que nitidamente expressam interesses de grupos particulares. A questão que resta na atualidade é o porquê da crescente fragilidade do Estado, que cada vez mais cede às demandas das classes dominantes, ampliando o déficit de legitimação, sobretudo nas últimas décadas, por meio de um movimento conhecido como a falência do Estado do bem-estar social.

Uma das causas que pode ser atribuída a esse fenômeno decorre justamente do acentuado progresso científico e tecnológico. Com a globalização, a partir da década de noventa, fatores como a compressão do tempo e do espaço, trouxeram retornos expressivos de produtividade para as organizações, com o uso de equipamentos de última geração e máquinas automatizadas, que possibilitaram maior dinamismo e mobilidade. O que antes muitos empregados precisavam fazer para se alcançar um resultado, com poucos se obtém um resultado superior com as descobertas nos campos da robotização, da informática e das telecomunicações. A grande facilidade criada para a circulação de informações, bens e serviços forçou a integração das economias de diversos países, assim como a criação de blocos que competem entre si. O capital não conhece fronteiras e pode migrar de um local a outro de forma instantânea.

Este tipo de facilidade atualmente disponível gera uma enorme integração e ao mesmo tempo uma grande fragilidade global, agravada ainda mais pelos movimentos especulativos. A interdependência entre as economias dos países é tamanha, que a mera iminência de mudanças bruscas no produto interno bruto, no nível de endividamento,

nas reservas financeiras, nas taxas de câmbio e de juros em um determinado país, já pode ser suficiente para promover turbulências mundiais, ocasionando, a qualquer momento, uma crise sistêmica. Assim, é possível dizer que vive-se atualmente em contexto de permanente instabilidade.

No caso das empresas, não é diferente. Os processos de fusão e aquisição têm incentivado uma crescente concentração de grupos empresariais em cada setor, que passam a responder pela maioria das transações efetuadas no planeta. Cada grupo detém diversas marcas diferentes, ampliando artificialmente as opções disponíveis, embora muitas vezes o cliente sequer perceba que está comprando produtos e/ou serviços que pertencem às mesmas empresas. Isto tem se tornado uma prática corrente em todos os setores – automotivo, bancário, têxtil, farmacêutico, hoteleiro e assim por diante.

Além disso, o movimento de abertura de capital de empresas torna a equação ainda mais complexa. Empresas, fundos de pensão e pessoas físicas compram e vendem rapidamente papéis de empresas situadas no mundo inteiro, cuja pulverização torna o sistema cada vez mais inter-relacionado e mutuamente dependente. Somando-se a isso os negócios realizados no mercado futuro, cujos mecanismos de alavancagem permitem a realização de investimentos sem o correspondente aporte de capital, amplifica-se o risco de ganhos ou perdas. Assim, problemas no setor de crédito imobiliário de um único país, por exemplo, podem imediatamente deflagrar uma crise sistêmica com conseqüências nefastas afetando a economia mundial por tempo indeterminado.

Outro desafio diz respeito ao ritmo das transformações, cada vez maior, que dificulta a tarefa de prever situações futuras, em função da diversidade de movimentos econômicos, sociais, culturais e políticos. O êxito nos negócios depende da percepção de sutilezas, da análise de diferentes cenários e articulação de múltiplas possibilidades. É necessário saber lidar com barreiras culturais entre países, ter capacidade de interpretar costumes e hábitos regionais, de tal forma que novos produtos e/ou serviços possam ser adaptados para comercialização levando-se em conta as especificidades de cada mercado.

É neste contexto que, concentrando poder financeiro, as empresas com atuação global também estão ampliando seu poder político, fazendo pressão sobre a esfera governamental para que seus interesses sejam atendidos. As grandes empresas conseguem fazer lobbies para pressionar os representantes do Governo a votarem

medidas favoráveis a elas, muitas vezes opostas aos interesses da coletividade. Cria-se, então, em um verdadeiro leilão global, onde a ameaça é utilizada como arma de negociação, com a condição de que, caso as vantagens não sejam concedidas, a empresa poderá a qualquer momento encerrar suas atividades, fechar postos de trabalho e deixar o país. Assim, o Estado enfraquece na medida em que concede cada vez mais liberdade e autonomia para as empresas, privatizando setores importantes e estratégicos, que passam a ser controlados pela iniciativa privada ao seu bel prazer, deixando a sociedade civil à mercê do processo.

Vale destacar que, embora os movimentos e organizações sociais de interesse público estejam, nas últimas décadas, crescendo e se fortalecendo, a participação da população, cobrando de maneira consciente para que seus direitos sejam respeitados, é bem menor do que a dos lobistas que trabalham a serviço das grandes empresas, tanto na dimensão econômica quanto na política. Esta reduzida capacidade de articulação e mobilização da sociedade civil em prol da defesa de seus interesses é um dos maiores problemas atuais. Mas para se compreender este aspecto, será necessário discutir o pressuposto que o embasa, que será pauta do próximo capítulo.

3.2. A ordem sistêmica / instrumental e o mundo da vida

Desde a revolução industrial, no século XVIII, com a institucionalização do trabalho assalariado e o surgimento de duas classes distintas, uma proprietária dos meios de produção e outra “livre” para vender sua força de trabalho, o capitalismo veio ganhando cada vez mais força, ancorado em sua lógica de acumulação de capital. Para que isto pudesse ocorrer, obteve o respaldo da ciência, que esteve a serviço de procurar soluções que pudessem amplificar o aumento da produtividade. Um exemplo disto pôde ser claramente observado no movimento da administração científica, também conhecido como taylorismo, que surgiu nas indústrias na transição do século XIX para o século XX.

Este exemplo serve bem para ilustrar aquilo que Habermas decidiu chamar de “racionalidade da ação dirigida a fins”. A contribuição da ciência foi essencial no estudo dos tempos e movimentos, de tal forma que os empregados das fábricas pudessem trabalhar em um ritmo mais elevado, executando movimentos da maneira mais simples possível. Levando ao extremo a divisão de tarefas, em um esquema pautado pela especialização, a eficiência foi buscada com a cisão entre engenheiros e administradores que planejavam a produção e os demais, fadados a serem meros executores, seguindo manuais e cartões de instrução.

Para que o sistema de produção funcionasse perfeitamente, só restava buscar o “homem de primeira classe”, ou seja, o indivíduo que estivesse mais bem preparado para realizar aquela atividade específica. Mais uma vez a ciência contribuiu para definir o perfil do “homem certo para o lugar certo”, criando instrumentos psicométricos para avaliação de aptidões, de tal modo a permitir a perfeita alocação do indivíduo à tarefa. Este pressuposto foi alicerçado pela concepção do homo economicus, tido como egoísta, previsível, controlável e motivado exclusivamente pelo incentivo monetário, sem qualquer alusão à dimensão da subjetividade. Como explica Habermas (2006),

Desde o final do século XIX, impõe-se cada vez com mais força a outra tendência evolutiva que caracteriza o capitalismo tardio: a cientificação da técnica. No capitalismo sempre se registrou a pressão institucional para

intensificar a produtividade do trabalho por meio da introdução de novas técnicas. As inovações dependiam, porém, de inventos esporádicos que, por seu lado, podiam sem dúvida ser induzidos economicamente, mas tinham ainda um caráter natural. Isso modificou-se, na medida em que a evolução técnica é realimentada com o progresso das ciências modernas. Com a investigação industrial de grande estilo, a ciência, a técnica e a revalorização do capital confluem num único sistema. (2006, p. 72)

Assim, o progresso técnico e científico torna-se independente da mais-valia, substituindo a necessidade de haver uma ideologia que oferecesse respaldo, uma vez que as novas condições passam a ser vistas como elementos de um processo evolutivo natural, que não é passível de questionamento. Portanto, a subordinação dos indivíduos ao sistema acentua-se cada vez mais a partir da institucionalização do trabalho assalariado, sob a forma de emprego, onde estipula-se local, tarefa, horário e prazo, controlados por supervisão cerrada, revelando assim a força da ordem sistêmica, da ação racional dirigida a fins.

A técnica, que deveria contribuir para libertar, age ao contrário, restringindo as potencialidades da maioria dos indivíduos, que se tornam meros objetos. É desta forma que as forças produtivas se transformam em forças destrutivas. Assim, a ação orientada ao êxito – instrumental – passa a ser um fim em si mesmo, sendo reforçada pela ação estratégica, onde manipula-se a vontade alheia, valendo-se de métodos de controle, criando uma relação institucionalizada de domínio. O resultado é o aumento do comportamento adaptativo, que condiciona os indivíduos a apenas a seguirem ordens,

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