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Capítulo 1 Marco Teórico

1.3. Teoria de Jogos

1.5.4. O contrato didático

A finalidade do professor é lograr a aprendizagem de seus alunos, modificar ou ampliar os seus sistemas de conhecimento. Para isto, se faz necessário avaliar e comprovar em que medida esta aprendizagem está se dando, ou seja, em que medida os objetivos educativos propostos, os procedimentos e os recursos adotados estão sendo alcançados. A informação que se tem desta avaliação proporcionará ao professor referências para que o mesmo adote medidas de mudanças, seja na apresentação dos conteúdos, nas escolhas das técnicas de ensino ou, por exemplo, nas atitudes tanto dele e dos alunos.

Nesta perspectiva, entendemos que quem melhor explicará esse processo de avaliação e mudanças será o contrato didático, visto por Brousseau (1986) como um conjunto de propostas, intenções didáticas usadas para ajudar o estudante a compreender melhor a disciplina estudada. Em um contexto geral, o contrato didático é concebido em dois sentidos diferenciados, mas inter- relacionados: como produto para lograr o ensino-aprendizagem e como processo do próprio ensino-aprendizagem, no tocante às atividades de planejamento, supervisão e regulação desse processo.

O Contrato Didático (CD) se refere à relação entre professor e aluno, de forma a estabelecer o conjunto de comportamentos que o professor espera do aluno e o conjunto de comportamentos que o aluno espera do docente. O sentido deste contrato leva a necessidade de explicar, em detalhes, as regras implícitas e explícitas das relações na sala de aula entre o professor, o aluno e o saber.

Para Brousseau (Op. cit.), estas regras procuram, de alguma maneira, estabelecer as responsabilidades que cada um tem perante o outro, com o objetivo de viabilizar práticas que possibilitem a apropriação do conhecimento constituído ou em via de constituição, pelo aluno. Com este pensamento Brousseau define contrato didático como:

A relação que determina - explicitamente por uma pequena parte, mas, sobretudo implicitamente - aquilo que cada participante, professor e aluno tem a

responsabilidade de gerir e do qual ele será, de uma maneira ou de outra, responsável diante do outro.(Brousseau, 1986, p. 16).

Parafraseando Brousseau, Henry (1991) acrescenta que o CD é “o conjunto de comportamentos do professor que são esperados pelo aluno, e o conjunto de comportamentos do aluno que são esperados pelo professor” (p.49). Este é um aspecto relevante se considerarmos que as expectativas dos participantes fazem parte ou se encontram previstos nas “cláusulas” estabelecidas em cada contrato, que pode ser constantemente renovado, adaptado e repactuado a cada nova etapa, em função da aquisição do saber. (Henry, 1991).

O CD também delimita os papéis a serem representados pelo professor e pelos alunos na relação didática, cabendo ao professor criar as condições para o aluno se apropriar dos conhecimentos, e ao aluno, satisfazer tais condições de apropriação; ao professor aceitar a responsabilidade dos resultados e assegurar os meios efetivos para aquisição do conhecimento; ao aluno, a responsabilidade de resolver problemas dos quais não lhe foi ensinada a solução. Contudo, o professor não pode fornecer todos os recursos necessários à assimilação de determinado conteúdo, cabendo uma "parcela" desse processo ao aluno, sob pena de o ensino não se concretizar. De modo geral, a adesão ou aceitação das regras é uma condição para a existência do contrato didático.

No ambiente escolar as regras para aceitação do CD nem sempre são facilmente identificadas, devido ao fato de que muitas delas estão implícitas no processo e isso altera toda a dinâmica do ensino e da aprendizagem, fazendo-se necessário que o professor saiba e tenha consciência de que existe um contrato entre ele o seu aluno.

Ao falar de contrato didático, nos interessa particularmente entrar na questão relativa à ruptura do contrato e suas consequências. Assim, para Brousseau (1986) o contrato didático normalmente se manifesta (ou é melhor percebido) quando há uma transgressão por um dos integrantes da relação didática, ou seja, quando não há o cumprimento de uma determinada regra. Segundo esse teórico, em muitos destes casos é preciso que haja a ruptura e a posterior negociação e renegociação do mesmo para que haja avanço do aprendizado, acrescentando que o mais importante não é tentar explicar a totalidade das regras que constituem um CD, mas delinear alguns de seus possíveis pontos de ruptura.

Em particular, as cláusulas de ruptura e de realização do contrato não podem ser descritas com anterioridade ou a priori, o conhecimento será justamente o que resolverá a crise nascida destas rupturas, que não podem estar pré-definidas. Não obstante, no momento destas rupturas tudo passa como se um contrato implícito unira o professor ao aluno: surpresa do aluno que não sabe resolver o problema e que se rebela porque o professor não lhe ajuda a ser capaz de resolvê-lo; surpresa do professor que estima suas prestações razoavelmente suficientes; rebelião; negociação; busca de um novo contrato quedepende do novo estado dos saberes adquiridos e apontados. Assim, pois, não deve haver um conceito (bom ou mau, verdadeiro ou falso) para um contrato, mas sim o processo da busca de um contrato hipotético. (Brousseau, 1986, p. 68).

Assim, a ruptura do contrato sempre leva a uma tomada de consciência tanto por parte do professor, como dos alunos das normas que estão em jogo na construção do saber e, portanto, pode ser visto como um ponto positivo, já que deveria levar a reformulações do conhecimento.

Pais (2001, p.80-82) nos apresenta alguns exemplos de ruptura de um contrato: 1) quando o aluno não adquire um novo saber que foi proposto pelo professor. Assim, abrem-se dois processos: o aluno não fez o que esperava o professor e o professor não fez o que teria que ser feito. É necessário, entretanto, que o professor aceite a responsabilidade dos resultados e que assegure ao aluno os meios efetivos da aquisição de conhecimentos. Esta segurança é falsa, mas indispensável para permitir ao aluno se fazer responsável. Do mesmo modo, é necessário que o estudante aceite a responsabilidade de resolver os problemas, cujas soluções não lhe foram ensinadas, ainda que não veja, a priori, as opções que lhe propõem e as suas consequências; 2) quando o professor propicia um novo conhecimento e o aluno se apropria dele, rompe-se o contrato antigo já que o mesmo cumpriu a sua função; 3) quando há desinteresse ou não envolvimento do aluno pelas atividades e problemas propostos; 4) quando, por exemplo, a atividade proposta pelo professor não é compatível com o nível dos alunos.