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O contratualismo de Immanuel Kant

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 51-54)

2 O CONTEXTO DA OBRA DE JOHN RAWLS

2.4 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS DOUTRINAS

2.4.4 O contratualismo de Immanuel Kant

Para sair do estado de corrupção em que se encontra, a única maneira seria estabelecer uma sociedade fundamentada no contrato. A concepção do contrato em Rousseau é caracterizada como um contrato histórico, para o futuro da humanidade. O Estado seria concebido como garantidor do pleno exercício da liberdade civil e o contrato social como o único acordo válido para criar o poder político.

no ato do pacto e na vontade coletiva que está identificada pela razão. Assim, a liberdade originada do contrato passa a ser definida como a autorização de não obedecer a nenhuma lei exterior a não ser àquelas a que o indivíduo, através do pacto, deu seu consentimento. A liberdade natural kantiana é entendida como a ausência de leis externas e coercitivas no estado de natureza, enquanto que na liberdade civil, moral ou política (liberdade como autonomia) é entendida como a obediência à lei da própria razão. “Minha liberdade exterior (jurídica) deve antes ser definida assim: ela é autorização de não obedecer a nenhuma lei exterior a não ser àquelas a que pude dar meu assentimento41”.

Conforme argumenta Norberto Bobbio, podemos constatar que existem diferenças fundamentais em relação aos contratos vistos até agora. O entendimento do contrato em Kant vai ser diferente dos propostos por Locke e Rousseau:

Kant, afirmando que o contrato social é uma idéia pura da razão, opõe-se tanto a Locke quanto a Rousseau. Contra Locke, ele afirma que qualquer Estado que se adeque ao ideal do consenso, ou seja, qualquer Estado no qual emanam dos governantes somente aquelas leis que estão em conformidade com o espírito público, é um Estado que se inspira na idéia do contrato originário, ainda que de fato o contrato social não tenha nunca existido; contra Rousseau, ele nega que o consenso esteja na base somente do Estado futuro, que deverá ser instaurado através da efetiva estipulação de um contrato social, mas admite que este é o fundamento possível de qualquer Estado cujos governantes administrem a coisa pública segundo a razão, independentemente do fato de que o consenso dos cidadãos seja expressamente manifestado42.

Para Rousseau, o contrato social é um ato de alienação dos direitos naturais em favor do Estado. Em Locke, o pacto vai originar um ato de limitação recíproca dos direitos naturais.

Já em Kant, existe o reconhecimento de que o Estado deve estar fundamentado na autonomia dos indivíduos. Outra característica fundamental do contrato kantiano diz respeito à conservação da lei natural, tendo como fim a liberdade política.

A autonomia em Kant está na liberdade dos cidadãos. Em relação às leis, devem ser obedecidas apenas aquelas que foram objeto de consenso. A liberdade está em se submeter às leis que eu mesmo formulei. Kant define sua liberdade como autonomia, colocando que a definição de liberdade externa (jurídica) seria a faculdade de não obedecer a outras leis externas, a não ser aquelas a que pode dar seu consentimento.

41 KANT, Immanuel. A paz perpétua. p. 34.

42 BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emmanuel Kant. 2. ed. Brasília: Editora UNB, 1992.

O conceito de autonomia é de fundamental importância para o entendimento da filosofia moral e política de Kant. O conceito de moralidade como autonomia surge como uma categoria nova e passa a ser destaque na história do pensamento ocidental. Esta moralidade passa a ser o centro da lei que os seres humanos impõem a si próprios. Lei que deve necessariamente ser obedecida pelos cidadãos envolvidos no consenso. Os agentes em conformidade com a lei, passam a ser autogovernados e chamados de autônomos.

Em resumo, Kant busca por meio do recurso do acordo original, estabelecer como o direito deve ser para que corresponda a um ideal de justiça como liberdade externa. Na transição do pacto do estado de natureza para o estado civil, estabelece-se uma decisão de todos os envolvidos. Irão eles abandonar a condição de liberdade natural para, agora, receberem na condição de cidadãos, uma liberdade civil resultante da vontade dos membros que formam o corpo político.

Esta é para Kant a liberdade, entendida como autônoma. Ela visa a garantir a expressão máxima da liberdade individual sendo, no entanto, compatível com iguais liberdades dos demais. Aqui podemos ver melhor que sua autonomia está condicionada à obediência aos princípios morais universalmente válidos, ou seja, em conformidade com o imperativo categórico descrito por ele dizendo que devemos agir somente de acordo com a máxima em que o resultado de nossas ações possa ao mesmo tempo servir de lei universal.

Nossa autonomia deve estar alocada no respeito aos outros. Não pode cada um querer determinar seus próprios princípios morais. Nossa ação deve estar em conformidade com a ação de outros seres racionais. A razão deve ser nossa referência para nossa ação. Assim nosso dever passa a ser guiado por ações racionais. O valor moral de nossa ação fica condicionado à aceitabilidade moral da regra de acordo como as outras pessoas agem. Desta forma, uma ação possui valor moral somente se for executada por um agente com boa vontade fazendo com que uma razão moralmente válida justifique a ação.

Para finalizar, devemos acrescentar que a Constituição em um sentido kantiano, é concebida segundo princípios da liberdade dos membros envolvidos em uma sociedade. Será ela, em conformidade com a dependência de todos em relação a uma única legislação comum e segundo a lei da igualdade entre todos os cidadãos, derivado da idéia de um contrato originário. A Constituição republicana fica fundamentada na concepção do contrato originário

que vai assim garantir a tão desejada paz perpétua. Esta Constituição e suas demais conseqüências são exigências advindas do consentimento de todos os cidadãos. Em seu primeiro artigo definitivo para a Paz Perpétua, quando fala da Constituição Civil, Kant coloca que:

A constituição instituída primeiramente segundo os princípios da liberdade dos membros de uma sociedade(como homens), em segundo lugar segundo princípios da dependência a uma única legislação comum(como súditos) e; terceiro, segundo a lei da igualdade dos mesmos(como cidadãos) – a única que resulta da idéia do contrato originário, sobre a qual tem de estar fundada toda legislação jurídica de um povo – é a constituição republicana43.

O contrato social em Kant tem ramificações mais profundas. Parte do Estado e se estende a toda sua administração contendo um ideal de legislação do próprio governo e da justiça pública. É no contrato que vai se fundamentar toda a legislação jurídica de um povo tendo como fim ideal a Constituição republicana.

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 51-54)