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PRINCÍPIO DA DIFERENÇA

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 70-74)

3 JUSTIÇA DISTRIBUTIVA EM JOHN RAWLS

3.3 PRINCÍPIO DA DIFERENÇA

cooperação social. Ou melhor, o resultado final deve ser satisfatório a todos oportunizando não uma igualdade nos ganhos, mas sim o bem-estar geral. As vantagens são concretas para os mais e para os menos afortunados.

O princípio da diferença é concebido como um sistema perfeitamente justo e serve a nosso propósito na constituição de uma sociedade bem-ordenada e razoavelmente justa, no que diz respeito à distribuição de renda. As expectativas dos menos favorecidos estão neste caso maximizadas. Compreende-se que as expectativas de todos os mais favorecidos de qualquer forma vão contribuir para o bem-estar dos menos favorecidos. Se os ganhos dos mais favorecidos fossem diminuídos, as perspectivas dos menos favorecidos cairiam de forma proporcional. “Recordemos que, de acordo com o princípio da diferença, só são moralmente legítimas as desigualdades sociais e econômicas estabelecidas para melhorar a sorte daqueles que se encontram na posição inferior da escala de quinhões distributivos53”.

Neste sistema de cooperação social, ocorre uma articulação em torno de idéias recíprocas. O resultado em uma sociedade bem-ordenada beneficia a todos, seja na forma de bens ou na forma de cargos. A viabilidade deste projeto já foi definida em sua origem quando pessoas razoavelmente justas concordaram com os termos de cooperação social. Cooperação que bem estruturada vai oferecer as condições para um sistema auto-suficiente ordenando de forma justa à vida dos cidadãos. E o que é importante de se dizer, é que a perspectiva dos menos favorecidos seja respeitada. As desigualdades continuam a acontecer na sociedade rawlsiana. Mas o que determina uma diferença fundamental é que colocando em prática o princípio da diferença, as desigualdades passam a ser bem vindas, pois seu propósito sempre será o de beneficiar os menos favorecidos. Conforme destaca Álvaro de Vita em seus estudos:

Os que estão na posição mais desfavorável não têm nenhuma queixa razoável a fazer a desigualdades que elevam seu quinhão distributivo. A preocupação fundamental, quando o que está em questão são as bases institucionais para uma convivência em termos mutuamente aceitáveis, não é quanto cada um possui – de renda, de riqueza e bens matérias. O que importa é avaliar se o quinhão de recursos que cabe a cada um é suficiente para que cada pessoa possa se empenhar na realização de seu próprio plano de vida e concepção do bem e, dessa forma, desenvolver um sentido de auto-respeito.54

53 VITA, Álvaro de. A justiça igualitária e seus críticos. São Paulo: Editora UNESP, 2000. p. 255.

54 VITA, Álvaro de. A justiça igualitária e seus críticos. 2000. p. 256 e 257.

As diferenças de renda e riqueza não devem chegar a um grau indesejável e que cause desconforto à população. Sendo assim, não se constitui como uma objeção razoável ao princípio da diferença. Em uma sociedade construída com este espírito de cooperação, justificar moralmente diferenças será uma tarefa razoável. A estrutura básica desta sociedade vai ter extensão na psicolo gia social coletiva. A auto-estima de todos tende a se elevar, pois as riquezas serão distribuídas eqüitativamente. O princípio da diferença constitui-se, assim, como um caminho que define uma sociedade harmonizada em todos os seus aspectos. Seria quase similar a uma concepção de justiça distributiva oferecendo uma interpretação para um igualitarismo não-invejoso.

A unidade social está condicionada a uma concepção pública e compartilhada de justiça apropriada à concepção de cidadãos de um Estado democrático, identificadas como pessoas livres e iguais. É um sistema social que determina vantagem a todos os envolvidos no processo. Todos são beneficiados pela cooperação social, principalmente os menos favorecidos. A idéia básica é a de que nenhuma das partes fique desprotegida. Todo o investimento gerado pelo Estado, ou mesmo o investimento privado, causa em últimas circunstâncias o aumento do rendimento financeiro e a melhoria nas condições de vida.

Para Rawls, chega-se à igualdade democrática por meio da comb inação do princípio da igualdade eqüitativa de oportunidades com o princípio da diferença, e este se caracteriza como um princípio de justiça. Segundo ele, “o princípio da diferença é um critério muito especial: aplica-se em primeiro lugar à estrutura básica da sociedade através dos indivíduos representativos cujas expectativas devem ser estimadas por uma lista ordenada de bens primários55”.

O princ ípio da diferença regula a distribuição geral dos bens primários e elimina a indefinição ostentada pelo princípio da eficiência. Este coloca que a eficácia de uma organização social decorre da simetria da repartição, na medida em que acolhe a predileção por uma posição particular a partir da qual as desigualdades da estrutura básica da sociedade devem ser julgadas. A preferência manifestada no princípio da diferença que tem como estratégia maximizar a expectativa dos menos favorecidos, tem uma fundamentação razoável.

A escolha deriva do fato de Rawls vislumbrar que os indivíduos que fazem parte de uma

55 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. p. 89.

sociedade real encontram-se divididos em classes sociais as quais proporcionam diferentes perspectivas de vida. As contingências sociais outorgam aos indivíduos o direito de escolherem seus projetos de vida. Justificam-se assim desigualdades iniciais entre os cidadãos que compõem classes sociais diferentes que traduzem resultados de opções feitas por seus antepassados. O construtivismo rawlsiano, a partir da posição original, se coloca como uma tentativa de solucionar o problema. Na visão de Möller:

Indivíduos que estivessem postos naquela situação hipotética, sob as restrições peculiares que envolvem um componente que lhes retira a capacidade de tomarem conhecimento sobre a posição que ocupam na sociedade (véu da ignorância), e sob a orientação dos princípios da escolha racional, escolheriam um método distributivo que assegurasse aos cidadãos menos favorecidos (piores condições) expectativas de ascensão social, ou seja, que lhes permitissem galgar melhores posições na sociedade56.

A situação inicial imaginá ria de Rawls assinala que pessoas racionais e imparciais adotariam, durante o procedimento de escolhas dos termos eqüitativos de cooperação social, uma estratégia eqüitativa que realizasse em um primeiro momento (hipotético) uma repartição simétrica dos bens básicos com a finalidade de permitir pontos de partida parecidos. Em uma segunda fase (real), ao longo do tempo, ocorreria uma nova redistribuição dos bens que se faz necessária com o objetivo de equilibrar o contexto social favorecendo as expectativas dos menos favorecidos. Aparece aqui a formulação do princípio da diferença que para Rawls57 é, uma estratégia distributiva que implica escolhas de alternativas cujo pior resultado sempre será superior aos demais.

Não é demais relembrar que, de acordo com o princípio da diferença, só são moralmente legítimas as desigualdades sociais e econômicas estabelecidas para melhorar a sorte dos que se encontram na posição inferior da escala social. Para Rawls o princípio da diferença é especialmente um princípio de justiça.

56 MÖLLER, Josué Emilio. A justiça como eqüidade em John Rawls, p. 77.

57 RAWLS. Uma teoria da justiça, p. 88.

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 70-74)